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terça-feira, 27 de novembro de 2012

ADVENTO 2012 - Palavra do Bispo



Promover a paz, eliminar a violência e reconciliar a todos.

Embora os muitos avanços em diferentes áreas, estamos vivendo um tempo bastante inquietante, marcado pela violência que com origem diversa, seja econômica, política ou consequência da situação de injustiça social e, até mesmo, por questão religiosa ou expressão da sexualidade humana, nos afetam fortemente. Não menos preocupante é a questão ambiental transformando “nossa casa comum” em situação limite, que trás consequências muito danosas para a vida.  O individualismo exacerbado, carregado com as dificuldades nas relações e respeito humano, grupos reclamando atitudes éticas (nos outros), mas, ao mesmo tempo, agindo com atitudes antiéticas, desvelando incoerência. Com facilidade e naturalidade se expõe a situação do outro, como algo usual e corriqueiro, inclusive em redes sociais, independentemente de quem seja.
A Igreja, não fica muito distante dessa realidade, está no mundo e por ele, muitas vezes, é “atingida”. Recentemente, movimentos bem identificados com atitudes cismáticas, lembram o que era comum em outras instituições. O mesmo individualismo e a incompreensão da inclusividade anglicana, percebemos em algumas experiências. Com frequência percebemos comunidades que se expressam mais como clube (uma sociedade) do que uma experiência do “ser parte do Corpo de Cristo”. Considerada, outras vezes, aparentemente, “reduto” (propriedade), deste ou daquele lider religioso ou laico. Se, dono, tudo posso fazer, e faço! Perdendo-se o senso comunitário e os votos que todos fazemos (às vezes só declarado verbalmente outras com nossa assinatura), em diferentes niveis, de sermos fiéis (ou de nos conformarmos) “ao culto, doutrina e disciplina da igreja”. Mas por muito pouco, tudo isso é deixado de lado, como se nada valesse!
Apesar dessa rápida análise, um tanto quanto negativa, temos em nossas comunidades, nas suas relações e testemunho, muitos sinais de esperança, com esforço visível de adorar e servir (lema histórico da UMEAB), de testemunhar e de agir na busca da justiça e da paz. Creio que esta Igreja, a IGREJA EPISCOPAL ANGLICANA DO BRASIL, tem uma grande missão em nosso país, e no mundo, como Comunhão Anglicana. Precisamos manter nosso foco no que é essencial. Cuidar do que é essencial na vida e missão da Igreja, zelando por nossa identidade e nossa instituição, plenamente cientes que existimos para servir. Servir a maneira de Jesus Cristo.
Para vivermos a maneira de Jesus Cristo, temos como referência, além de muitos outros textos Bíblicos teológicos, a compreensão Anglicana de Missão com suas cinco marcas, que valem a pena serem lembradas, a saber:
- anunciar a Boa Nova do Reino;
- ensinar, batizar e nutrir novos crentes;
- responder às necessidades humanas com serviço amoroso;
- procurar transformar as estruturas injustas da sociedade;
- esforçar-se para salvaguardar a integridade da criação e sustentar e renovar a vida da terra.
E, recentemente,  o Conselho Consultivo Anglicano, aprovou uma sexta marca a compreensão Anglicana de Missão, que é: promover a paz, eliminar a violência e reconciliar a todos.
Convido a comunidade diocesana para que no ADVENTO,  reflita sobre as marcas da Missão, com apoio dos textos dos Evangelhos dos domingos desse tempo litúrgico,  dando especial atenção a sexta marca de Missão. Jesus, o Filho de Deus, habitou entre nós para nos reconciliar com Deus, com os demais e com toda a criação e, nos entregou o ministério da reconciliação (2ª Cor. 5)  A nossa responsabilidade com esse Deus Encarnado, deve nos comprometer com a busca, fortalecimento e avanço da paz, com a eliminuição da violência em todos os niveis e com o ministério da reconciliação.

Novembro é também separado para avaliação e planejamento. A luz do que foi estabelecido no planejamento da comunidade, considerando as marcas da Missão anglicana e os desafios evangélicos do tempo de Advento, avaliemos nosso trabalho comunitário e planejemos nosso ano vindouro. Tendo bem presente que tudo o que temos e somos, sejam recursos humanos, recursos físicos (salões paroquiais, templos), financeiros, enfim, tudo,  para ter sentido, deve estar a serviço da Missão.


Desejo a todos e todas um abençoado Advento, com minhas orações e bênção,


+Naudal, Curitiba






sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Meu Reino não é deste mundo?


 (João 18,33-37) - Edmilson Schinelo e Ildo Bohn Gass

por Centro de Estudos Bíblicos (CEBI)

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Para Jesus, a morte se mostrava iminente. Talvez lhe restasse apenas uma saída: fazer o jogo do poder, oferecido por Pilatos. Isso significaria abandonar o projeto que tinha assumido e proposto a seu grupo de seguidoras e seguidores. A conversa é tensa e Jesus pouco fala. O mundo de Pilatos não é o seu.
É assim que a comunidade joanina nos descreve o confronto entre dois projetos: o "mundo" e o "Reino". Ao ser indagado, Jesus assume a sua realeza. Mas esclarece: "Meu Reino não é como os reinos deste mundo" (João 18,36).
Na história da interpretação dos textos joaninos, com certeza essa é uma das frases que mais serviu para manipular a proposta de Jesus. Muitos a interpretaram como a afirmação de que a missão de Jesus foi "salvar almas para depois da morte" e não salvar vidas. Seu Reino foi jogado apenas para o céu (o pós-morte), como se Jesus não tivesse dito em sua oração: "venha o teu reino, seja realizada na terra a tua vontade, como é realizada nos céus" (Mateus 6,10).
           
Meu Reino não é como os reinos deste mundo                       
Nos escritos joaninos, o termo mundo significa tudo o que se opõe ao projeto de Deus. Uma tradução mais adequada da resposta de Jesus a Pilatos poderia ser: Meu reino não é como (de acordo com, conforme) este mundo. Ora, as comunidades joaninas sabiam muito bem como era o mundo de Pilatos, representante do Império Romano na Judeia. O mundo do Império impunha seu poder pela força das armas e pelas negociatas e artimanhas, entre relações desleais, corruptas e corruptoras. A proposta de Jesus é outra, seu Reino não compactua com este mundo.
O Reino de Jesus se apoia no poder serviço (João 13), que não busca prestígios, mas que doa sua vida até a morte na cruz para que a vida aconteça em plenitude (João 10,10). 
  
Jesus é rei, mas de outro projeto político
Muitas vezes, a frase em questão também é utilizada para justificar a postura de gente que afirma que "política e religião não se misturam". No intuito de justificar seu comportamento religioso teoricamente apolítico, pessoas e grupos também "espiritualizam" a leitura do movimento de Jesus: enquanto "rei espiritual" dos judeus, o Mestre almejava anunciar uma mensagem de paz totalmente espiritual e religiosa. Infelizmente, não raras vezes, muitos dos que defendem essa postura, se líderes religiosos, vivem atrelamentos vergonhosos com políticos e empresários. E, se políticos ou empresários, quase sempre pedem as bênçãos de um líder religioso para suas ações e seus empreendimentos financeiros. Justificar o sistema com elementos e símbolos religiosos não seria, portanto, juntar religião e política. Questionar o sistema por meio da fé, isto seria.  
A proposta de Jesus é uma proposta religiosa, de vivência de uma espiritualidade radical, que não se contenta com a superficialidade, mas vai até raízes mais profundas. Por essa razão, uma proposta altamente política. Ele mesmo, no capítulo 17, roga ao Pai pelos seus: "Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo. Mas não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno" (João 17,14b-15).

Quem é da verdade, escuta minha voz  
A concepção hebraica de verdade difere da mentalidade greco-romana. Enquanto para Aristóteles "a verdade é a adequação do pensamento à realidade", para um hebreu autêntico, verdadeira é a pessoa fiel ao projeto de seu Deus e de sua comunidade. Verdade é sinônimo de fidelidade.
Em sua conversa com Pilatos, Jesus não tem receio de afirmar: "Vim ao mundo para dar testemunho da verdade" (João 18,37). Testemunhar a verdade é doar a vida até as últimas consequências. É fidelidade ao projeto amoroso do Pai.
"E quem é da verdade, escuta a minha voz". Quem decide viver a verdade, o amor fiel, adere ao projeto de vida que vem do Pai, tal como a ovelha, ao ouvir a voz do seu pastor, segue-o pelo caminho (João 10).
Para a comunidade joanina, romper com os reinos deste mundo é assumir uma forma de espiritualidade que estimule relações alternativas, de justiça e de ternura, de partilha e de paz. A paz, fruto da justiça e não a paz imposta pelas armas dos impérios deste mundo (João 14,27).

Rowan Williams se entristece com a rejeição à ordenação de mulheres para o bispado


por A reportagem é publicada no sítio Religión Digital. Tradução Cepat.

O arcebispo da Cantuária, Rowan Williams, manifestou sua "profunda tristeza" pela rejeição à ordenação de mulheres para o bispado, no Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra.Williams, que neste ano, após uma década de serviço, deixa seu posto como primaz da Igreja Anglicana, desejou "o melhor" para o seu sucessor Justin Welby, para que "resolva" esta situação.
Ontem (20/11), a Igreja da Inglaterra rejeitou a ordenação de mulheres bispos, após um intenso debate entre o setor conservador e o reformista, que já dura vinte anos, desde que foi aprovada a entrada de mulheres no sacerdócio. "É claro que esperava e rezei para que esta situação mudasse, antes que saísse, e me dá uma profunda tristeza pessoal que não seja assim", destacou Williams.

Não obstante, o saliente Arcebispo da Cantuária afirmou que esta decisão "não é o fim da história", já que "ao redor de três quartos do Sínodo votaram ‘sim'" e "ainda existe vontade" para que a proposta seja aprovada.

"Assim, a Igreja da Inglaterra precisa encontrar uma forma de seguir adiante", apontou Williams. Por apenas seis votos, a proposta não conseguiu ser apoiada pelos dois terços das três câmaras que formam o órgão executivo da Igreja anglicana, formada por bispos, clérigos e leigos, não alcançando, assim, a maioria requerida entre os leigos.

"Ninguém quer continuar falando disto indefinidamente. Acredito que uma das coisas que mais dá o que pensar sobre a votação é a de que nos compromete um longo processo, quando muita gente gostaria de falar e fazer outra coisa", sublinhou Williams.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Dia 20 de Novembro: Dia da Consciência Negra. A presença dos Negros (as) nos textos Bíblicos



por Contato: valdecideoliveira@hotmail.com
"Não sois vós para mim, ó filhos de Israel,
como os filhos dos etíopes (NEGROS)?" (Amós 9,7).


Ao completar 50 anos do Concilio Vaticano II, CEBI, traz algo de novo e esclarecedor, são as novas formas de se ler a Palavra de Deus, frente ao mundo desafiado que está ai, a nossa fente, diante de nossos olhos. Uma dessas formas é a Leitura Étnica da Bíblia, que marca a presença firme e forte dos Negros (as) nas Sagradas Escrituras. Esta é uma pequena contribuição que o CEBI presta aos nossos irmãos (as) Negros (as) nesta data reflexiva.
Então, você sabia que o profeta Sofonias era negro (Sf 1, 1)? E que também era negra Zípora (Nm 12,1), esposa de Moisés? Que textos bíblicos falam disso?
Há várias referências que falam do papel da África na salvação da vida. Moisés foi salvo do rio por uma mulher negra, filha do faraó do Egito: "Êxodo 2,10"; Jeremias foi salvo de um poço (no qual havia sido jogado por ordem do rei Zedequias) pelo etíope Ebede-Meleque (Jeremias 38,7-9). A família de Jesus também buscou abrigo na África, escondendo-se no Egito, quando Herodes queria matar as crianças (Mateus 2,13-19). Mas a gente esquece que Egito é um país do norte da África, não é?
Os próprios egípcios se denominavam como o país de Kemet, "o país negro". E em todos os livros do Antigo Testamento, a palavra "cuxi" (ou "cusi") designa sempre africano, etíope, negro, alguém originário das terras de Cuxi. Os cuxitas, que os gregos denominaram "etíopes" - palavra que significa "pele queimada" - correspondiam aos habitantes das regiões ao sul do Egito, a partir da Núbia, atual Sudão. Assim, o profeta Sofonias, filho de Cuxi (conforme Sf.1,1) era, também, um homem negro.
Qual é a reação das pessoas quando você destaca a presença de personagens negros na Bíblia? É de surpresa. Há pessoas que ficam indignadas quando sabem, por exemplo, que Moisés era casado com uma negra. Mas há, também, reações de emoção e gratidão. Para o resgate da autoestima, é importante saber que o Evangelho chegou à África antes da Europa. Em Atos dos Apóstolos 8,26-39, um etíope, tesoureiro ou ministro da rainha da Etiópia, é o marco inaugural da expansão do Reino de Deus para fora dos limites judaicos. Esta ação não foi por iniciativa de Paulo ou Felipe, mas sim movida e impulsionada pelo próprio Espírito Santo. O primeiro não judeu a ser batizado, passando a fazer parte do povo de Deus, FOI UM NEGRO!
É interessante lembrar, também, que os hebreus nutriam um sentimento de grande admiração pela Etiópia, descrita como uma nação poderosa e ameaçadora, de homens altos, forte; verdadeiros guerreiros (Isaías 18,1. 2.7). E no decorrer da história narrada pela Bíblia, percebemos um cuidado bastante especial da parte de Deus para com o povo etíope: "Não sois vós para mim, ó filhos de Israel, como os filhos dos etíopes (NEGROS)?" (Amós 9,7).
Como você avalia a participação do (a) negro (a) nas Igrejas Cristãs e, especialmente, na Igreja de Cristo? A Igreja ainda tem que despertar para as ideologias que foram feitas para manter baixa a autoestima do negro e justificar a dominação européia. Afinal, a ideologia é como óculos que a gente põe para enxergar a sociedade. O que a Igreja de Cristo pode fazer para combater a discriminação racial dentro de suas pastorais e fora também? O estabelecimento de uma política de cotas nas Universidades também seria uma prova da consciência de uma igualdade racial e social como um primeiro caminho para inclusão social.
 Ora, quando Zaqueu teve um encontro com Jesus e se arrependeu de seus pecados, ele prometeu restituir quatro vezes mais o que havia roubado (Lc 19,1-8). Os países lucraram e continua lucrando com a mão-de-obra escrava e os filhos (as) dos escravos (as) ainda estão esperando o pagamento dessa dívida.
  O Testemunho de uma pessoa pertencente à Matriz Afro-brasileira do Candomblé: "Não sou descendente de escravo. Eu descendo de seres humanos que foram escravizados" (Makota Valdina- mulher Negra, professora, líder comunitária e religiosa).
É dia de valorizar a cultura negra, denunciar a discriminação e louvar a Deus pela diversidade e pluralidade religiosa!
* Valdeci de Oliveira-Biro.  Coordenador do CEBI-VR membro fraterno do CONIC: Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil sede em Brasília.  Assessor Bíblico da Área Pastoral Norte-Volta Redonda-RJ. 

Fim do mundo ou mundo novo? Raymond Gravel



por Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

No final de cada ano litúrgico, os textos bíblicos que nos são propostos nos falam do fim dos tempos. Seus autores utilizam uma forma literária que chamamos apocalipse. Mas atenção! Apocalipse não é sinônimo de catástrofe, como entendem alguns contemporâneos. Ao contrário, apocalipse significa revelação, o que quer dizer: anúncio de uma Boa Nova nos momentos difíceis da vida. Hoje, nós temos dois exemplos desses eventos trágicos que servem de trampolim para suscitar a esperança dos crentes.

1.  Apocalipse de Daniel. O livro de Daniel foi escrito em circunstâncias dramáticas. Estamos no ano 164 a.C. O rei grego Antíoco IV, apoiado por um grupo de judeus helenizados, decretou o fim do judaísmo. Imaginem: depois do ano 176 a.C, no império grego, o Templo de Jerusalém foi consagrado a Zeus. A população judia que ficou fiel a Javé, o Deus da Aliança, foi perseguida. O sangue dos mártires se derrama. Então, o autor do livro de Daniel conta os fatos e os interpreta utilizando o estilo apocalíptico. Para ele, trata-se do fim dos tempos, do combate do final que acontecerá com a vitória final do Javé sobre as forças do mal, sobre as divindades pagãs.

A passagem que lemos hoje conta a intervenção divina por intermédio do arcanjo Miguel, o chefe das legiões celeste. No momento em que parece perdido, Israel será salvo por Deus. Porém, surgiu um grande problema. Vocês sabem que os judeus não acreditavam na ressurreição após a morte. Eles acreditavam em uma espécie de retribuição nesta vida, segundo o bem ou o mal que eles faziam, de maneira que, se alguém era bom, Deus abençoava a ele e a sua família. Ele o protegia do mal. Se ele era ruim, Deus o amaldiçoava por toda a vida. Mas eis que durante esse período grego muitos juízes foram martirizados por causa da sua fidelidade ao Deus da Aliança. O que acontecerá com esses que morreram mártires? Eis ali que nasce a ideia da ressurreição. Não é possível que os mártires tenham morrido em vão! O profeta Daniel escreve: "Muitos que dormem no pó despertarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha e a infâmia eternas" (Dn 12,22).

Para os crentes desta difícil época, trata-se de uma questão de justiça: os que ficaram fiéis a Deus devem ser recompensados e os que os martirizaram devem ser punidos. O conceito de retribuição que se aplicava só para esta vida se estendeu para além da morte até a ressurreição. Essa fé na ressurreição individual será adotada pelo judaísmo de tendência farisaica, enquanto que ela será rejeitada pelos saduceus. Podemos vê-lo no evangelho de Marcos, quando os saduceus fazem uma pergunta a Jesus sobre a mulher que morre e que teve sete maridos... Com qual ficará na outra vida? (Mc 12,18-27).

Por outro lado, para os cristãos que leem o livro de Daniel, eles reconhecem o Cristo luz e mestre da justiça no versículo seguinte: "Os sábios brilharão como brilha o firmamento, e os que ensinam a muitos a justiça brilharão para sempre como estrelas" (Dn 12,3).

2. Apocalipse de Marcos. O evangelista Marcos tem também seu discurso apocalíptico não para predizer uma catástrofe, mas para anunciar um mundo novo. A volta do Senhor que Marcos anuncia, justo antes de iniciar o discurso da paixão de Jesus, é já o anúncio da Páscoa, da Ressurreição. É a vitória da vida sobre a morte; é o dia que vence a noite. É como se nós assistíssemos a um segundo nascimento do mundo, a uma nova criação, a um novo começo. E todo o cosmos participa: "Nesses dias, depois da tribulação, o sol vai ficar escuro, a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu, e os poderes do espaço ficarão abalados" (Mc 13,24-25), e toda a criação está implicada: "Ele (o Filho de Deus) enviará os anjos dos quatro cantos da terra, e reunirá as pessoas que Deus escolheu, do extremo da terra ao extremo do céu" (Mc 13,27).

Que quer dizer tudo isso? Marcos escreve seu evangelho em Roma, por volta do ano 70 a.C. O Templo de Jerusalém foi há pouco destruído pelos romanos, os cristãos são denunciados, torturados e massacrados pelos imperadores sucessivos: Nero, Cláudio, Domiciano e os outros. O que o evangelho anuncia não é uma catástrofe: trata-se do fim de um regime opressivo e desumano, e da vinda de um mundo melhor. Os astros que são vistos como divindades pelos romanos se movimentarão, e a salvação será oferecida a todos, sem exceção, dos "quatro cantos da terra, e reunirá as pessoas que Deus escolheu, do extremo da terra ao extremo do céu" (Mc 13,27). E para mostrar bem que se trata de um mundo novo, de uma vida nova que surge, a comparação com a figueira não anuncia o outono e a estação da morte, mas a primavera deste mundo novo com todas as suas promessas de vida: "Aprendam, portanto, a parábola da figueira: quando seus ramos ficam verdes, e as folhas começam a brotar, vocês sabem que o verão está perto" (Mc 13,28). Então, se Cristo ressuscitou, e de fato assim ocorreu, visto que Marcos escreve após a Páscoa, vejam que o verão está próximo e que o mundo novo já nasceu mesmo se ainda não parece.

E quanto à questão de saber o momento quando aparecerá, o Cristo do evangelho de Marcos responde: "Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém sabe nada, nem os anjos no céu, nem o Filho. Somente o Pai é quem sabe" (Mc 13,32). Isso quer dizer para todas as testemunhas de Jeová do mundo: Chega de predizer o fim do mundo! Não acontecerá absolutamente nada. Ao contrário, participem no crescimento de um mundo novo, que começa na Páscoa e que continua ainda hoje, através de nós. E a única maneira de participar nele é pelo nosso engajamento em fazer um mundo melhor, mais bonito, restabelecendo a justiça para todos, devolvendo a dignidade àquelas e àqueles que a perderam, mantendo a esperança que nos habita.

Terminando, na segunda leitura de hoje, que é continuação da leitura de semana passada, o autor da carta aos hebreus nos diz explicitamente que o sacrifício de Cristo sobre a cruz da Sexta-Feira Santa santifica àquelas e àqueles que o reconhecem: "De fato, com uma só oferta ele tornou perfeitos para sempre os que ele santifica" (Hb 10,14), e o perdão definitivo dos seus limites e dos seus pecados: "Ora, quando os pecados já foram perdoados, não é mais preciso fazer ofertas pelos pecados" (Hb 10,18). E é porque, diz o teólogo belga Jacques Vermeylen: "A partir desse texto cristológico é possível desenvolver uma reflexão sobre as práticas cristãs. O sacerdote cristão não é um especialista do sagrado como os da primeira Aliança e das outras religiões, e é por isso que falar do sacerdote dessa maneira é, pelo menos, ambíguo. Por outro lado, se for verdade que o sacrifício eficaz foi oferecido uma vez por todas por Cristo, então falar do sacrifício da missa não pode ser feito sem precauções".

Revelações referentes ao final dos tempos - Marcel Domergue



por Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

É certo que o Cristo já veio, mas foi para fazer seus todos os nossos sofrimentos. E, fazendo-os seus, Ele os realizou, suportou-os e venceu-os. O que agora nos é anunciado é que, tendo feito seus os nossos sofrimentos, Ele vem para fazer nossa a sua própria glória.
Escatologia e apocalipses
O Evangelho de hoje, paralelo a Mateus 24 e Lucas 21, é chamado de "escatológico", ou seja, refere-se ao fim dos tempos. Este tipo de texto pode ser chamado também de "apocalíptico": apocalipse significa "revelação", desvelamento. Podemos então dizer tratar-se de revelações referentes ao final dos tempos, um gênero literário que se faz presente também no Antigo Testamento, particularmente em Ezequiel e Daniel. Alguns destes textos fazem menção de catástrofes de tipo "sobrenatural", tal como o evangelho de hoje; já outros, falam de terremotos, tsunamis, guerras generalizadas, perseguições aos que creem; ou seja, coisas de que já temos experiência. O Apocalipse de João expressa tudo isso em linguagem simbólica, fazendo desta "revelação" uma mensagem um tanto quanto obscura! Paulo não é muito dado a este gênero literário; prefere escrever, como em Romanos 8,22, "que a criação inteira geme e sofre as dores do parto". E situa estas dores, não no futuro, mas no presente. Além disso, diz tratar-se, não de destruição, mas de nascimento, do acabamento da criação. Devemos compreender que os apocalipses querem nos dizer que tudo o que temos que viver tem um sentido, uma face escondida; e que tudo se passa como se Deus, aparentemente vencido pelo mal, tomasse de fato o poder, utilizando para isso tudo o que é nocivo, tudo o que é contrário ao amor.
A alegria está à nossa porta.
Estes textos das Escrituras nos dão a impressão de que muitos males e sofrimentos nos são prometidos. Mas o que eles na realidade estão mostrando é o sentido do que já vivemos todos os dias. Em primeiro lugar, o nosso conflito com a natureza que não deixa nunca de nos pôr à prova até que, finalmente, nos reduza ao pó. Acrescente-se a isto o conflito que divide os homens devido a interesses, invejas e ciúmes ou pela vontade de dominação nascida do medo de não ser senhor da situação ou de ter que provar a superioridade... Resumindo, vivemos num universo profundamente dividido e, portanto, homicida. É inútil colocar tudo isso no futuro: o fim dos tempos já está aqui e, de qualquer modo, já se ergue no horizonte. Os textos dizem que este imenso conflito não irá se atenuar, mas vai até ao paroxismo, à medida que se aproxima de seu fim. Quanto a cada um de nós, e isto vale para todos na medida em que nos fazemos somente um, transpomos o limite que nos separa da paz final a cada vez que aceitamos fazer do amor a nossa lei. O que denominamos eternidade está, pois, às nossas portas. Ela é, de qualquer forma, o inverso do cenário com que nos deparamos neste mundo, um cenário quase sempre catastrófico. Uma vez mais ainda, é preciso dizer que tudo, até mesmo o que há de pior, é usado por Deus para nos fazer alcançar o reino da alegria. Mas atenção! Que tudo seja usado não quer dizer que tenha sido também produzido por Deus. Deus é inocente com respeito ao nosso mal. Mas faz disto um instrumento para o que chamamos "salvação". Quanto ao resto, tudo nos foi já revelado na Paixão do Cristo. E esta Paixão, que contém as paixões todas de cada um de nós, é que é o verdadeiro Apocalipse.
Através de nossas cruzes, chegamos à glória.
Os textos que lemos hoje apresentam o caos atual e o que está por vir como o lugar da vitória do Cristo. O que, numa outra linguagem, confirma o que acabamos de dizer. Tudo, portanto, "acaba bem". Quando estamos afogados no luto, no sofrimento, no absurdo, no insustentável, estamos diante da escolha entre a fé na vida, n'Aquele que é a vida, e a morte. Como diz Paulo no texto citado acima, a criação está sempre a caminho; e nós também estamos a caminho. É preciso escolher acreditar, mas a nossa fé também está a caminho e só alcançará a plenitude quando desaparecer, dando lugar à visão, à experiência. E nossa fé atual é já como que uma incursão nesse domínio radioso da verdade enfim totalmente revelada. Nossa fé não é posta em coisas, mas em Alguém. Fé e amor são, de fato, ligados (veja a expressão "fé conjugal"). Por isso, todas as passagens apocalípticas dos evangelhos falam do retorno do Cristo, ou melhor, de sua vinda, a propósito das catástrofes naturais ou humanas que descrevem. É certo que o Cristo já veio, mas foi para fazer seus todos os nossos sofrimentos. E, fazendo-os seus, Ele os realizou, suportou-os e venceu-os. O que agora nos é anunciado é que, tendo feito seus os nossos sofrimentos, Ele vem para fazer nossa a sua própria glória.

Tawadros II, a favor da Sharia




por A reportagem foi publicada no sítio Religión Digital. A tradução é do Cepat

O novo papa da Igreja Ortodoxa Copta, o bispo Tawadros (foto), mostrou, nesta segunda-feira, que aprova a redação atual do artigo segundo, da Constituição do Egito, que estabelece que os princípios da "Sharia" são a fonte principal da legislação no país.
A redação da nova Constituição está sendo obstaculizada por causa dos conflitos surgidos entre os liberais e os islamitas na aplicação da lei islâmica. Muitos dos artigos propostos, relacionados com esta lei, são rejeitados por forças liberais e grupos de Direitos Humanos.

Mesmo assim, Tawadros se opôs ao estabelecimento de cotas para o acesso dos coptas aos cargos públicos, considerando que isto suporia uma discriminação. Por isso, defendeu a prevalência do princípio de cidadania no momento de fazer nomeações.

Neste sentido, enfatizou que seu predecessor, o papa Shenouda III, teve que desempenhar um papel político por causa da marginalização da população copta. "Acredito que isto mudou após a revolução, e agora (os coptas) podem entrar no Governo ou no Parlamento", sublinhou, segundo informou o jornal egípcio "AL Masry al Youn".

O país registrou esporádicos casos de violência sectária e durante o mês de outubro foram registrados incidentes em Alexandria, Dahshur e Rafá, onde militantes islamitas ameaçaram famílias coptas para que abandonassem suas moradias. Desde a queda do Governo de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, dezenas de coptas e muçulmanos morreram em enfrentamentos.

As tensões aumentaram durante o período de transição depois que vários partidos islamitas acusaram a Igreja Copta de mobilizar seus seguidores para eleger o ex-ministro Ahmed Shafiq como presidente na segunda volta. Shafiq, que ocupou seu posto no Executivo de Mubarak , era considerado membro do antigo regime contrário à revolução.

A população copta, que representa de 6 a 10% da população total do Egito, protestou em reiteradas ocasiões contra o que considera como discriminação em nível político e social.

Tawadros, bispo auxiliar de Beheira e auxiliar do arcebispo Pachomios, foi eleito o 118º papa da Igreja Ortodoxa, sucedendo Shenouda III, falecido no último mês de março.

O arcebispo Pachomios exerceu a função como papa desde o falecimento de Shenouda, e agora iniciará o processo de transição que se prolongará até a cerimônia do próximo dia 18 de novembro, em que o bispo Tawadros, de 60 anos de idade, assumirá oficialmente o cargo de Papa de Alexandria e de Toda África, com o nome de Tawadros (Teodoro) II.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

As bem-aventuranças: Eu sou feliz é na comunidade! (Mt 5,1-12) - Mesters, Lopes e Orofino




AS BEM-AVENTURANÇAS
EU SOU FELIZ É NA COMUNIDADE
Mateus 5,1-12



OLHAR A PRÁTICA DA NOSSA COMUNIDADE

Hoje vamos meditar sobre o começo do "Sermão da Montanha". Certa vez, vendo aquela multidão imensa de gente que o seguia, Jesus subiu num pequeno morro para que todos pudessem vê-lo e ouvi-lo. Sentado lá no alto e olhando o povo, ele disse: "Felizes os pobres". Estas palavras de Jesus fazem a gente pensar e se perguntar: "O que é mesmo a felicidade? Quem é realmente feliz?" Vamos conversar sobre isto.

SITUANDO
Aqui no capítulo 5, Jesus aparece como o novo legislador. Sendo Filho, ele conhece o Pai e o objetivo que ele, o Pai tinha em mente quando, séculos atrás, deu a Lei ao povo pela mão de Moisés. Por isso, Jesus pode nos oferecer uma nova versão da lei de Deus. O solene anúncio da Nova Lei começa aqui no Sermão da Montanha.
No Antigo Testamento, a Lei de Moisés é apresentada em cinco livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Imitando o modelo antigo, Mateus apresenta a Nova Lei que revela o sentido desta Lei. As partes narrativas, intercaladas entre os cinco Sermões, descrevem a prática de Jesus e têm como objetivo mostrar como Jesus observava a Lei e a encarnava em sua vida.

COMENTANDO
Mateus 5,1: O solene anúncio da Nova Lei
Havia apenas quatro discípulos com Jesus. Pouca gente. Mas uma multidão imensa estava à sua procura. No AT, Moisés subiu o Monte Sinai para receber a Lei de Deus. Como Moisés, Jesus sobe a Montanha e, olhando o povo, proclama a Nova Lei.
Mateus 5,3-10: As oito portas de entrada do Reino
São oito categorias de pessoas, oito portas de entrada para o Reino, para a Comunidade. Não há outras entradas! Quem quiser entrar terá que identificar-se com uma dessas oito categorias
1. os pobres de espírito                              1. deles é o Reino dos Céus
2. os mansos                                               2. herdarão a terra
3. os aflitos                                                  3. serão consolados
4. os com fome e sede de justiça                 4. serão saciados
5. os misericordiosos                                    5. obterão misericórdia
6. os de coração limpo                                  6. verão a Deus
7. os promotores da paz                               7. serão filhos de Deus
8. os perseguidos por causa da justiça         8. deles é o Reino dos Céus
A primeira e a última categoria recebem a mesma promessa: o Reino dos Céus. E a recebem desde agora, pois Jesus diz "deles é o Reino dos Céus!" Entre estas duas categorias, há três duplas às quais é feita uma promessa no futuro: 2 e 3: mansos e aflitos: dizem respeito ao relacionamento com os bens materiais, terra e consolo; 4 e 5: Fome e sede de justiça e misericordiosos: dizem respeito ao relacionamento com as pessoas na comunidade: justiça e solidariedade; 6 e 7: Coração limpo e promotores da paz: dizem respeito ao relacionamento com Deus: ver a Deus e ser chamado filho de Deus.
Em outras palavras, o Projeto do Reino, apresentado por Jesus nas bem-aventuranças, quer reconstruir a vida na sua totalidade: no seu relacionamento com os bens materiais, com as pessoas entre si e com Deus. No tempo de Mateus, este projeto estava sendo assumido pelos pobres e estes, por causa disso, estavam sendo perseguidos.

ALARGANDO
A comunidade que recebe as bem-aventuranças
Mateus tem oito bem-aventuranças. Lucas tem quatro bem-aventuranças e quatro maldições (Lc 6,20-26). As quatro da Lucas são: "vocês pobres, vocês que passam fome, vocês que choram, vocês que são odiados e perseguidos" (Lc 6,20-23). Lucas escreve para as comunidades de pagãos convertidos. Elas vivem no contexto social hostil do Império Romano. Mateus escreve para as comunidades de judeus convertidos, que vivem num contexto de ruptura com a sinagoga. Antes da ruptura, elas tinham uma certa condição e aceitação social. Mas agora, depois da ruptura, a comunidade entrou em crise e nela aparecem várias tendências brigando entre si. Alguns da linha farisaica querem manter rigor na observância da Lei a que estavam acostumados desde antes da conversão a Jesus. Mas fazendo assim, excluem os pequenos e pobres.
A nova lei trazida por Jesus pede que todos possam ser acolhidos na comunidade como irmãos e irmãs. Por isso, o solene início da Nova Lei traz oito bem-aventuranças que definem as categorias de pessoas que devem poder entrar na comunidade: os pobres em espírito, os mansos, os aflitos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os de coração limpo, os que promovem a paz, os que são perseguidos.
O que é ser pobre em espírito?
Jesus reconhecia a riqueza e o valor dos pobres. Definiu que a sua própria missão era "anunciar a Boa Nova aos pobres". Ele mesmo vivia como pobre. Não possuía nada para si, nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça. E a quem queria segui-lo ele mandava escolher: ou Deus ou o dinheiro. Então, o Pobre em Espírito quem é? É o pobre que tem este mesmo Espírito de Jesus! Não é o rico. Nem é o pobre com cabeça de rico. Mas é o pobre que diz: "Eu acredito que o mundo será melhor quando o menor que padece acreditar no menor!"