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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Dia da Reforma: um marco na história das religiões


Reportagem é de Moisés Sbardelotto.

Martinho Lutero, nascido em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, iniciou sua formação aos 18 anos, na Universidade de Erfurt. Aos 21 anos, tornou-se doutor em filosofia. Em 1505, completou o curso de artes. Com 22 anos, entrou para o mosteiro dos Eremitas Agostinianos. Em setembro de 1508, aos 24 anos de idade, mudou-se para Wittenberg, onde pretendia continuar seus estudos. Nove anos mais tarde, em 1517, conta a história que ele pregaria na porta da igreja do castelo de Wittenberg suas 95 teses desafiando os ensinamentos da Igreja sobre a penitência, a autoridade do papa e a utilidade das indulgências e com um convite aberto ao debate sobre elas, o que marcaria o início da Reforma Protestante.
Afirmava Lutero, na abertura de suas Teses: "Por amor à verdade e no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o seguinte em Wittenberg, sob a presidência do reverendo padre Martinho Lutero, mestre de Artes e de Santa Teologia e professor catedrático desta última, naquela localidade. Por esta razão, ele solicita que os que não puderem estar presentes e debater conosco oralmente o façam por escrito, mesmo que ausentes. Em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém."
A partir da publicação-protesto do "Debate para o esclarecimento do valor das indulgências", o texto foi traduzido do latim para o alemão, o holandês e o espanhol em menos de um mês, iniciando-se aí um forte processo de divulgação e estudo das Teses. Em 1518, Lutero foi considerado herege pela Igreja Católica e, em 1521, a bula papal de Leão X "Decet Romanum Pontificem" determinava a excomunhão do monge.
Lutero foi então exilado no Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde permaneceu por cerca de um ano. Durante esse período, trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, publicando o Novo Testamento em setembro de 1522.
Assim, começaram a ocorrer renúncias ao voto de castidade e do celibato, ao mesmo tempo em que outros tantos atacavam os votos monásticos, além da eliminação das imagens nas igrejas. O casamento de Lutero com a ex-freira cisterciense Catarina von Bora incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Em janeiro de 1521 foi realizada a Dieta de Worms, que teve um papel importante na Reforma. Nela, em vez de Lutero desmentir as suas teses, como lhe era pedido, defendeu-as e pediu a reforma, o que ficou registrado na história pela suas palavras: "Hier stehe ich. Ich kann nicht anders" (Aqui estou. Não posso renunciar).
Para responder a esse processo, a Igreja Católica realizou o Concílio de Trento (1545-1563), que resultou no inicio da Contra-Reforma ou Reforma Católica. A Inquisição e a censura exercidas pela Igreja foram a resposta para evitar que as idéias reformadoras encontrassem divulgação em outros países. Foi nesse período que ocorreu o Massacre da Noite de São Bartolomeu, na França, em 24 de agosto de 1572, tendo se estendido por vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas, vitimando entre 70 mil e 100 mil protestantes franceses, os chamados huguenotes.
A Reforma, ao longo do tempo, foi se firmando em quatro pilares principais: somente a Escritura (sola scriptura), somente a graça de Deus (sola gratia), somente Jesus Cristo (solus Christus) e somente a fé (sola fide). Com isso, afirmava-se que a Escritura revela a verdade da salvação eterna através de Jesus Cristo, e nenhum outro livro ou mensagem pode tornar-nos capazes para a salvação. Daí vem o propósito de Lutero de traduzir essa verdade para a língua do seu povo. A Reforma também defendeu que, em seu grande amor e misericórdia, Deus tomou a iniciativa de salvar o homem. Porém, como foi concebido em pecado, o homem não tem forças para se salvar. Por isso, Jesus Cristo, por causa do sacrifício feito na cruz e por causa da sua ressurreição, é o Único que pode salvar o ser humano dos inimigos que o aprisionam. Assim, a Reforma está baseada na Escritura como regra ou norma única de fé e vida, e sobre a fé somente em Jesus como Salvador da humanidade.
A primeira tentativa de estabelecer uma igreja protestante no Brasil foi em 1555, que pretendia dar refúgio aos calvinistas franceses, perseguidos pela Inquisição européia. A segunda tentativa foi em 1630, quando os holandeses tomaram Recife, Olinda e parte do Nordeste, registrando a presença do protestantismo. Após a expulsão dos holandeses, em 1654, o Brasil fechou as portas aos protestantes por mais de 150 anos.
Com a chegada da família real, em 1808, abriu-se uma brecha no monopólio católico, permitindo a presença de outras religiões. Os protestantes estrangeiros, no entanto, não podiam pregar nem construir igreja com torre, mais podiam reunir-se e cultuar a fé, comercializar a Bíblia e até distribuí-la.
O luteranismo foi trazido ao Brasil pelos primeiros imigrantes alemães que desembarcaram em São Leopoldo, no Vale do Sinos, no Rio Grande do Sul, em 1824.

VISITA PASTORAL DO BISPO DIOCESANO!


Ponto de Pregação em Lerroville





                 Jantar de casais na Paróquia São Lucas com reflexão sobre : Vida de Casal No século XXI




     















                                                     Celebração Paróquia São Lucas Londrina
















Mateus 5,1-12: As bem-aventuranças como caminho de santidade - Ildo Bohn Gass


"Felizes os que são pobres no espírito, porque deles é o reino dos céus"
(Mateus 5,3).
(Ildo Bohn Gass)



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Todas as pessoas são chamadas à santidade, a fim de serem bem-aventuradas. "Sede santos, porque eu, Javé vosso Deus, sou santo" (Levítico 19,2). A comunidade de Mateus faria uma releitura desse chamado da seguinte forma: "Sede perfeitos, como o Pai celeste é perfeito" (Mateus 5,48). Coerente com sua experiência com o Deus da misericórdia, a comunidade de Lucas formula assim o mesmo convite: "Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso" (Lucas 6,36).
Dia 02 de novembro é um dia especial em que milhões de pessoas refletem sobre todas as pessoas bem-aventuradas e que já se encontram na glória do Pai. Para nós, que ainda peregrinamos neste mundo na promoção de vida digna, Jesus nos propõe um caminho de santidade e que já começa nesta vida. Conforme a comunidade de Mateus, as oito bem-aventuranças são esse caminho.
Quando Mateus apresenta Jesus fazendo cinco grandes discursos (Mateus 5-7; 10; 13,1-52; 18; 24-25), sua intenção é apresentá-lo como o novo Moisés, a quem eram atribuídos os cinco livros da Lei, o Pentateuco. A Lei era considerada a expressão da vontade de Deus. No tempo de Jesus, muitos fariseus estavam preocupados em viver a Lei em todos os seus pormenores. Jesus, porém, vive e anuncia essa vontade de Deus indo além da letra da Lei. Diz que, mais que a letra, é o espírito da Lei que interessa. Disse ainda que o espírito da Lei consiste na vivência do amor a Deus e ao próximo como a si mesmo (Mateus 22,34-40). Assim, o amor passa a ser a orientação fundamental para o nosso agir (cf. Mateus 12,1-8; 23). Mateus chama essa vontade de Deus de justiça do Reino (cf. Mateus 6,33). Se Moisés era o antigo mestre da Lei, Jesus é o novo mestre da justiça a nos ensinar o caminho de Deus, o caminho da santidade no amor.
O primeiro grande ensinamento do mestre da justiça, o Sermão da Montanha (Mateus 5-7), é um conjunto de orientações para a boa convivência na comunidade. Tal como Moisés escrevera as palavras da Lei estando sobre um monte, Jesus dá as novas orientações também numa montanha (Êxodo 34,28; Mateus 5,1).
As bem-aventuranças (Mateus 5,1-12) são a porta de entrada ao Sermão da Montanha (Mateus 5-7). São um programa de vida para trazer felicidade plena a quem adere à Boa-Nova de Jesus.
A justiça do Reino dos Céus (= de Deus), isto é, a vontade de Deus, é o carro-chefe das bem-aventuranças. O Reino é o projeto na primeira e na oitava bem-aventurança. E, no centro, estão a busca da justiça (do projeto do Reino) e a busca da misericórdia (ter o coração voltado para quem está na miséria). Uma vez realizada a justiça de Deus, os empobrecidos deixarão de ser oprimidos, pois haverá partilha e solidariedade. Por isso, Jesus os declara felizes.
A primeira bem-aventurança é a mais importante. As demais são desdobramentos desta. Os pobres são aqueles que choram, são os mansos ou humildes (no Salmo 37,11, texto-base para esta bem-aventurança, são chamados de anawim, isto é, de pobres), os que têm fome, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz e as pessoas perseguidas por causa da justiça. E as dádivas para os empobrecidos são: o Reino de Deus, o conforto, a terra partilhada, a fartura, a misericórdia, a contemplação de Deus e a filiação divina (agir à imagem e semelhança de Deus ou ter as mesmas atitudes de Deus).
Porém, ser pobre não é suficiente. Está claro que os empobrecidos são os preferidos de Deus, justamente porque ele não pode ver nenhum de seus filhos e nenhuma de suas filhas passando por necessidades. Ainda mais, quando a pobreza é fruto da injustiça humana. É interessante notar que esta mesma bem-aventurança, no Evangelho segundo Lucas, reza assim: "Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus" (Lucas 6,20).
Quando a comunidade de Mateus acrescentou "no espírito" à primeira bem-aventurança de Jesus (Mateus 5,3), também estava preocupada com o fato de que há pobres com coração e mente impregnados com o espírito de rico, buscando o sentido mais profundo para a vida na riqueza e no poder. Por isso, quis deixar bem claro para seus destinatários que não basta ser pobre, mas que é preciso ser "pobre no espírito", isto é, viver de acordo com o espírito do próprio Deus. É possível que a comunidade de Mateus, ao acrescentar à parábola do banquete a presença de um homem sem a veste nupcial (Mateus 22,1-14; comparar com Lucas 14,16-24), queira justamente se referir à necessidade de também ser pobre no espírito, ou seja, livre de tudo que escraviza. Ser pobre no espírito também é a opção pelo projeto da justiça e da misericórdia, é viver na total confiança e dependência de Deus, é confiar na partilha, na vida simples e na fraternidade.
Aliás, são justamente as pessoas que buscam a felicidade no consumismo, na acumulação e no individualismo que perseguem aos que lutam pela justiça do Reino, pela paz e pela partilha. Foi assim que, no passado, os poderosos perseguiram os profetas (Mateus 5,10-12).
E hoje, Jesus renova o convite para nós: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo" (Mateus 6,33). E o caminho da justiça do Reino, o caminho da santidade está na prática do espírito da Lei proposto nas orientações fundamentais para a vida, e que Jesus sintetiza nas bem-aventuranças.

Bartimeu, o cego de Jericó, discípulo modelo para todos nós (Mc 10,46-52) - Mesters e Lopes



BARTIMEU, O CEGO DE JERICÓ, DISCÍPULO MODELO PARA TODOS NÓS
Marcos 10,46-52




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COMENTANDO
Finalmente, após longa travessia, chegam a Jericó, última parada antes da subida para Jerusalém. O cego Bartimeu está sentado à beira da estrada. Não pode participar da procissão que acompanha Jesus. Mas ele grita, invocando a ajuda de Jesus: "Filho de Davi! Tem dó de mim!" O grito do pobre incomoda. Os que vão à procissão tentam abafá-lo. Mas "ele gritava mais ainda!" E Jesus, o que faz? Ele escuta o grito, para e manda chamá-lo! Os que queriam abafar o grito incômodo do pobre, agora, a pedido de Jesus, são obrigados a ajudar o pobre a chegar até Jesus.
Bartimeu larga tudo e vai até Jesus. Não tem muito. Apenas um manto. Mas era o que tinha para cobrir o seu corpo (cf. Ex 22,25-26). Era a sua segurança, o seu chão! Jesus pergunta: "O que você quer que eu faça?" Não basta gritar. Tem que saber por que grita! "Mestre, que eu possa ver novamente!" Bartimeu tinha invocado Jesus com ideias não inteiramente corretas, pois o título "Filho de Davi" não era muito bom.
O próprio Jesus o tinha criticado (Mc 12,35-37). Mas Bartimeu teve mais fé em Jesus do que nas suas ideias sobre Jesus. Assinou em branco. Não fez exigências como Pedro. Soube entregar sua vida aceitando Jesus sem impor condições. Jesus lhe disse: "'Tua fé te curou!' No mesmo instante, o cego recuperou a vista". Largou tudo e seguiu Jesus no caminho para o Calvário (10,52).
Sua cura é fruto da sua fé em Jesus (Mc 10,46-52). Curado, Bartimeu segue Jesus e sobe com ele para Jerusalém. Tornou-se discípulo modelo para Pedro e para todos os que queremos "seguir Jesus no caminho" em direção a Jerusalém: acreditar mais em Jesus do que nas nossas ideias sobre Jesus! Nesta decisão de caminhar com Jesus estão a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz. Pois a cruz não é uma fatalidade, nem uma exigência de Deus. Ela é a consequência do compromisso assumido com Deus de servir aos irmãos e de recusar o privilégio.

ALARGANDO
A fé é uma força que transforma as pessoas
A Boa Nova do Reino anunciada por Jesus era como um fertilizante. Fazia crescer a semente da vida que estava escondida no povo, escondida como fogo em brasa debaixo das cinzas das observâncias sem vida. Jesus soprou nas cinzas e o fogo acendeu, o Reino desabrochou e o povo se alegrou. A condição era sempre a mesma: crer em Jesus.
A cura de Bartimeu (Mc 10,46-52) esclarece um aspecto muito importante da longa instrução de Jesus aos discípulos. Bartimeu tinha invocado Jesus com o título messiânico "Filho de Davi" (Mc 10,47). Jesus não gostava deste título (Mc 12,35-37). Porém, mesmo invocando Jesus com ideias não inteiramente corretas, Bartimeu teve fé e foi curado.
Diferentemente de Pedro (Mc 8,32-33), acreditou mais em Jesus do que nas ideias que tinha sobre Jesus. Converteu-se, largou tudo e seguiu Jesus no caminho para o Calvário (Mc 10,52). A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático, caminhando com ele no caminho do serviço, desde a Galiléia até Jerusalém.
Quem insiste em manter a ideia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai entender de Jesus e nunca chegará a tomar a atitude do verdadeiro discípulo. Quem souber crer em Jesus e fazer a "entrega de si" (Mc 8,35), aceitar "ser o último" (Mc 9,35), "beber o cálice e carregar sua cruz" (Mc 10,38), este, como Bartimeu, mesmo tendo ideias não inteiramente corretas, conseguirá enxergar e "seguirá Jesus no caminho" (Mc 10,52). Nesta certeza de caminhar com Jesus estão a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz. 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Quem tem olhos não quer enxergar (Mc 10,35-45) - Mesters e Lopes


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QUEM É CEGO QUER VER
QUEM TEM OLHOS NÃO QUER ENXERGAR
Marcos 10,35-45

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ABRIR OS OLHOS PARA VER
O texto de hoje traz a discussão dos discípulos pelo primeiro lugar. Pelo jeito, os discípulos continuavam cegos! Enquanto Jesus insistia no serviço e na doação, eles teimavam em pedir os primeiros lugares no Reino, um à direita e outro à esquerda do trono. Sinal da ideologia dominante da época tinha penetrado profundamente na mentalidade dos discípulos. Apesar da convivência de vários anos com Jesus, eles não tinham renovado sua maneira de ver as coisas. Eles olhavam para Jesus com o olhar antigo. Queriam uma retribuição pelo fato de seguir a Jesus. Vamos conversar mais sobre isto.

COMENTANDO
1.   Marcos 10,35-37: O pedido pelo primeiro lugar
Os discípulos não só não entendem, mas continuam com suas ambições pessoais. Tiago e João pedem um lugar na glória do Reino, um à direita e outro à esquerda de Jesus. Querem passar na frente de Pedro! Não entenderam a proposta de Jesus. Estavam preocupados só com os próprios interesses. Isto reflete a briga e as tensões que existiam nas comunidades no tempo de Marcos, e que existem até hoje nas nossas comunidades.
2.   Marcos 10,38-40: A resposta de Jesus
Jesus reage com firmeza: "Vocês não sabem o que estão pedindo!" E pergunta se eles são capazes de beber o cálice que ele, Jesus vai beber e se estão dispostos a receber o batismo que ele vai receber. É o cálice do sofrimento, o batismo de sangue! Jesus quer saber se eles, em vez do lugar de honra, aceitam entregar a vida até a morte. Os dois respondem: "Podemos!" Parece uma resposta da boca para fora, pois, poucos dias depois, abandonaram Jesus e o deixaram sozinho na hora do sofrimento (Mc 14,50). Eles não têm muita consciência crítica, nem percebem sua realidade pessoal. Quanto ao lugar de honra no Reino ao lado de Jesus, quem o dá é o Pai. O que ele, Jesus, tem para oferecer é o cálice e o batismo, o sofrimento e a cruz.
3.   Marcos 10,41-44: Entre vocês não seja assim
Neste final da sua instrução sobre a cruz, Jesus fala, novamente, sobre o exercício do poder (cf. Mc 9,33-35). Naquele tempo, os que detinham o poder, não prestavam contas ao povo. Agiam conforme bem entendiam (cf. Mc 6,17-29). O Império Romano controlava o mundo e o mantinha submisso pela força das armas, e, assim, através de tributos, taxas e impostos, conseguia concentrar a riqueza dos povos na mão de poucos lá em Roma. A sociedade era caracterizada pelo exercício repressivo e abusivo do poder. Jesus tem outra proposta. Ele diz: "Entre vocês não deve ser assim! Quem quiser ser o maior, seja o servidor de todos!" Ele traz ensinamentos contra os privilégios e contra a rivalidade. Inverte o sistema e insiste no serviço como remédio contra a ambição pessoal.
4.   Marcos 10,45: O resumo da vida de Jesus
Jesus define a sua missão e a sua vida: "Não vim para ser servido, mas para servir!" Veio para dar sua vida em resgate para muitos. Ele é o Messias Servidor, anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12). Aprendeu da mãe que disse: "Eis aqui a serva do Senhor!" (Lc 1,38). Proposta totalmente nova para a sociedade daquele tempo.

ALARGANDO
A fé é uma força que transforma as pessoas
A Boa Nova do Reino anunciada por Jesus era como um fertilizante. Fazia crescer a semente da vida que estava escondida no povo, escondida como fogo em brasa debaixo das cinzas das observâncias sem vida. Jesus soprou nas cinzas e o fogo acendeu, o Reino desabrochou e o povo se alegrou. A condição era sempre a mesma: crer em Jesus.
Mas quando o medo toma conta, a fé desaparece e a esperança se apaga. Na hora da tempestade, Jesus reclamou da falta de fé dos discípulos (Mc 4,40). Eles não acreditavam, pois tinham medo (Mc 4,41). Por falta de fé dos moradores de Nazaré, Jesus não pôde fazer aí nenhum milagre (Mc 6,6). Aquele povo não quis acreditar, porque Jesus não era como eles queriam que ele fosse (Mc 6,2-3). Foi ainda a falta de fé que impediu os discípulos de expulsar "um espírito mudo" que maltratava um menino doente (Mc 9,17). Jesus os criticou: "Ó gente sem fé!" (Mc 9,19). E indicou o caminho para reanimar a fé: "Essa espécie de demônios não pode ser expulsa a não ser pela oração" (Mc 9,29).
Jesus estimulava as pessoas a ter fé nele e, por conseguinte, a criar confiança em si mesmas (Mc 5,34.36; 7,25-29; 9,23-29; 10,52; 12,34.41-44). Ao longo das páginas do Evangelho de Marcos, a fé em Jesus e na sua palavra aparece como uma força que transforma as pessoas. Ela faz receber o perdão dos pecados (Mc 2,5), enfrenta e vence a tempestade (Mc 4,40), faz renascer as pessoas e aciona nelas o poder de se curar e de se purificar (Mc 5,34). A fé consegue vencer a própria morte, pois a menina de 12 anos ressuscitou graças à fé de Jairo, seu pai, na palavra de Jesus (Mc 5,36). A fé faz o cego Bartimeu enxergar de novo: "Tua fé te salvou!" (Mc 10,52). Se você disser à montanha: "Atire-se ao mar!", ela vai cair no mar, contanto que você não duvide no coração (Mc 11,23-24). "Para quem tem fé tudo é possível!" (Mc 9,23). "Tende fé em Deus!" (Mc 11,22). Pelas suas conversas e ações, Jesus despertava no povo uma força adormecida que o próprio povo não conhecia. Assim, Jairo (Mc 5,36), a mulher do fluxo de sangue (Mc 5,34), o pai do menino epilético (Mc 9,23-24), o cego Bartimeu (Mc 10,52) e tantas outras pessoas, pela fé em Jesus, fizeram nascer vida nova em si mesmas e nos outros.

No Sínodo dos Bispos, o ''ecumenismo vive!''



por A reportagem é de John L. Allen Jr. - 2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Antigamente, não havia quase nenhum outro assunto que a Igreja Católica poderia propor e que com muita garantia provocaria temor e tremor nos outros cristãos que a "evangelização", que geralmente tinha sabor de proselitismo, de competição e de um recuo do ecumenismo - em outras palavras, ir pescar na lagoa de outra pessoa.
Do ponto de vista de muitos ortodoxos, protestantes e anglicanos, uma Igreja Católica "evangelizadora" era vista como uma ameaça.

Esse contexto torna especialmente irônico que, sem dúvida, a característica mais distintiva do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização, entre os dias 7 a 28 outubro, ao menos até agora, seja o seu sabor fortemente ecumênico. No fundo, alguns bispos estão dizendo que o que eles viram e experimentaram lhes deu um novo otimismo ecumênico - especialmente, dizem, em uma época em que o principal desafio evangélico não vem de outros cristãos, mas sim de uma cultura profundamente secular que deixa todas as Igrejas basicamente no mesmo barco.

Em grande medida, as impressões do impulso ecumênico são o resultado da presença simultânea em Roma, nesta semana, do Patriarca Ecumênico Bartolomeu I, de Constantinopla, reconhecido como o "primeiro entre iguais" do mundo ortodoxo, e do arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, chefe da Comunhão Anglicana mundial.

Williams falou ao Sínodo na quarta-feira passada, tornando-se a primeira pessoa de fora a se dirigir a esta edição do evento. Na quinta-feira, tanto Bartolomeu quanto Williams se uniram a Bento XVI em uma missa para celebrar o 50º aniversário do Concílio Vaticano II (1962-1965). Durante a liturgia, Williams usava o anel episcopal que o Papa Paulo VI deu ao seu antecessor, Michael Ramsey, em 1966.

No dia seguinte, Bartolomeu e Williams foram os convidados de honra de um almoço que Bento XVI ofereceu para todos os participantes do Sínodo dos Bispos.

Em breves discursos no almoço, Bento XVI chamou a sua presença de "um sinal de que estamos caminhando rumo à unidade" e que, "em nossos corações, estamos fazendo progressos" - expressando a esperança de que esses progressos também possam ser expressos "de maneira externa também".

Em seu discurso no Sínodo, Williams disse que o impulso para a unidade cristã é fundamental para a evangelização, porque "quanto mais nos mantivemos afastados uns dos outros como cristãos de diferentes confissões, menos convincente a mensagem da Igreja será".

Por sua parte, Bartolomeu disse que os ortodoxos "apreciaram o esforço [da Igreja Católica] pela libertação gradual da limitação do rígido escolasticismo para a abertura do encontro ecumênico".

O ethos ecumênico do Sínodo brilhou de formas grandes e pequenas.

Há 14 "delegados fraternos" que participam do Sínodo dos Bispos, representando outras Igrejas cristãs, e de certa forma eles se tornaram um pouco como pequenas celebridades. Embora as regras sinodais tecnicamente proíbem os aplausos após os discursos, as apresentações dos delegados fraternos foram seguidas de longos aplausos. Em outro sinal de deferência, alguns decidiram silenciosamente não ligar o temporizador habitual quando eles falavam, para que pudessem ultrapassar o limite de cinco minutos imposto aos bispos e a outros participantes.

Na sexta-feira, a segunda pessoa de fora a falar no Sínodo subiu ao palco - Werner Arber, um microbiologista que dividiu o Prêmio Nobel de medicina e de fisiologia de 1978 pelo trabalho que ajudou a abrir caminho para a tecnologia do DNA recombinante. Arber também é o presidente da Pontifícia Academia das Ciências e, como protestante suíço, é o primeiro não católico a ocupar o cargo.

O tema de Arber foi a relação entre ciência e fé, mas a sua presença também parecia ser, no contexto, uma espécie de declaração ecumênica.

Durante as sessões de trabalho do Sínodo, vários oradores argumentaram que a "Nova Evangelização", que em parte é dirigida a redespertar um sentido religioso em uma cultura ocidental completamente secularizada, deve ser um empreendimento ecumênico.

O cardeal Peter Erdő, da Hungria, por exemplo, disse que "uma colaboração prática geral entre as Igrejas e as comunidades cristãs da Europa está crescendo", chamando-a de um sinal de esperança para a Nova Evangelização.

"Os encontros com os representantes de todas as Igrejas ortodoxas expressaram um vasto consenso sobre a família e a vida, assim como os critérios da relação entre Estado e Igreja e a crise econômica", disse. "O espírito de fraternidade e de solidariedade está crescendo até mesmo com as comunidades protestantes na Europa".

De outra parte do mundo, o bispo auxiliar Milton Luis Tróccoli Cebedio, do Uruguai, propôs que qualquer catequese que se desenvolva para a Nova Evangelização deve ser expressa "em chave ecumênica".

Dom Petru Gherghel, bispo de Iaşi, na Romênia, disse ao Sínodo que "o fim da perseguição ateísta abriu as portas para uma primavera ecumênica promissora", e pediu que os seus colegas bispos "cultivem o ecumenismo da oração, a fim de que a unidade dos cristãos possa ajudar o mundo a crer em Cristo".

O arcebispo Józef Michalik, de Przemyśl, presidente da Conferência dos Bispos da Polônia, elogiou um recente apelo conjunto pela reconciliação e a esperança dirigida aos povos da Rússia e da Polônia, que foi assinada tanto pelo patriarca ortodoxo de Moscou quanto pelos bispos católicos da Polônia.

"Essa voz comum pela defesa da identidade da fé e da proclamação do Evangelho terá grandes possibilidades de nos tocar mais profundamente, especialmente em nossos corações", disse Michalik.

Na verdade, também houve indicações ao longo do caminho de que nem tudo são flores no fronte ecumênico. Gherghel, por exemplo, também informou que a Igreja ortodoxa na Romênia recentemente proibiu qualquer oração conjunta com os católicos, de modo que, tecnicamente, católicos e ortodoxos não podem nem rezar o Pai Nosso juntos.

Até mesmo no Vaticano, também podem ser encontradas leves sugestões de ambivalência. No fundo, dizem as fontes, havia a esperança de que, quando Bento XVI aparecesse na janela do seu apartamento com vista para a Praça de São Pedro na noite do dia 11 para se dirigir a uma multidão que celebrava o aniversário do Vaticano II, Bartolomeu e Williams poderiam estar ao seu lado, oferecendo assim uma das grandes imagens ecumênicas de todos os tempos. No fim, isso não aconteceu.

No entanto, o efeito cumulativo dos toques ecumênicos da semana, tanto em termos de símbolos quanto de substância, foi impressionante.

Falando nos bastidores, um bispo ocidental comentou desta forma no sábado à tarde: "Quando eu cheguei aqui, eu tinha quase certeza de que estávamos em um grande desânimo. Agora, a única coisa que eu posso pensar é: o ecumenismo vive!".

quinta-feira, 11 de outubro de 2012


No sábado dia 06 passamos a tarde na paróquia conversando, acolhendo e dando a benção nos animais.










domingo, 7 de outubro de 2012

Não a toda forma de exclusão



Raymond Gravel.A tradução é de Susana Rocca.

Eis o texto.
Referências bíblicas:
1ª leitura: Ge 2,18-24
2ª leitura: Hb 2,9-11
Evangelho: Mc 10,2-16
Na semana, os textos da Palavra falavam sobre a exclusão: ninguém deve ser excluído. As religiões não dão nenhum direito sobre Deus ou sobre Cristo. A mão, pé e o olho devem nos servir para partilhar com o outro, para acolher o outro e para entrar em relação como ele, seja quem for. No evangelho do domingo passado vimos João, o apóstolo, um dirigente da Igreja que queria excluir alguém que não fazia parte do seu grupo, quando Jesus o repreendeu, criticando-o. Hoje, o evangelho de Marcos também fala de exclusão, desta vez, nas relações humanas, através da família, do casal, das crianças e, mais uma vez, Cristo se coloca na defesa dos excluídos... No evangelho deste domingo, temos a ocasião privilegiada para fazer uma reflexão sobre as realidades novas vividas nas relações dos casais chamados à igualdade, à unidade e à fidelidade no seu compromisso e na sua complementaridade.
1. Primeira exclusão: homem/mulher. “Perguntaram-lhe se a Lei permitia um homem se divorciar da sua mulher” (Mc 10,2). Fazer a pergunta dessa forma é já demonstrar a injustiça e a desigualdade entre o homem e a mulher, porque só o homem podia se divorciar da mulher. Na sociedade judaica do século I, o marido tinha todos os direitos sobre a mulher, de maneira que ele podia se divorciar em qualquer momento e por qualquer motivo. E ainda divorciada, a mulher continuava sendo propriedade do homem que tinha sido seu marido. O homem, por sua vez, podia voltar a casar, mas a mulher não. A lei de Moisés permitia essa injustiça; o homem só tinha que escrever a certidão de divórcio (Mc 10,4).
Como interpretar a resposta de Jesus? “Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés escreveu esse mandamento. Mas, desde o início da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, e os dois serão uma só carne. Portanto, eles já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar” (Mc 10,5-9). A Igreja utiliza este texto evangélico para dizer que o matrimônio é indissolúvel. É, sem dúvida, um ideal proposto por Cristo, e mais: se o Cristo do evangelho de Marcos se opõe à lei de Moisés sobre o divórcio é, primeiro e antes de tudo, para devolver à mulher toda a sua dignidade: “Desde o início da criação, Deus os fez homem e mulher” (Mc 10,6). Isso supõe a igualdade, a mesma dignidade, a complementaridade do ser humano que é homem e mulher. E aí é preciso se remontar no tempo, ao livro do Gênese, ao segundo relato da criação que temos na primeira leitura de hoje, para entender a dupla dimensão do ser humano: em hebraico Ish e Isha, duas palavras diferentes que falam desta realidade.
Neste segundo relato da criação, o autor nos mostra a superioridade do homem sobre toda a criação. Ele está no topo da criação. Mas o homem não pode ser homem se não há outro que lhe corresponde (Ge 2,18). O autor do livro do Gênese diz, então, que com a terra Deus forma todos os animais e todos os seres vivos e os leva ao homem para que ele possa dar-lhes nome (Ge 2,19). Isso fala da superioridade do homem sobre todos os seres vivos, porque ele tem o poder de lhes dar nome. Mas não são todos esses seres vivos que lhe permitem ao homem ser, existir; falta-lhe seu complemento para ser verdadeiramente humano. Então, o autor do Gênese descreve a criação da mulher, não como os animais que são formados com o barro do solo, mas com a carne do homem tirada da sua costela (côte), daí a expressão: cara a cara (côte-à-côte), que significa a igualdade e a complementaridade. Não é o homem que decide: ele dorme (Ge 2,21). É Deus mesmo que preside fazendo do homem um ser de relação, criando, a partir dele mesmo, um outro, diferente dele, mas que lhe faz existir como ser humano. O homem e a mulher são iguais e, juntos, se tornam um só (Ge 2,24).
Então, o que devemos nos perguntar e que os primeiros cristãos se perguntaram é o que os primeiros cristãos se perguntaram e o que o Cristo do evangelho de Marcos, por sua vez, pergunta aos fariseus: Por que Moisés permitiu a um marido se divorciar da sua mulher? Quem deu ao homem esse poder de dominação sobre a mulher? Parece-me que é por essa razão que o Cristo do evangelho de Marcos se opõe à lei do divórcio: é para devolver às mulheres a sua dignidade e a sua igualdade na obra da criação. Não pode haver nenhuma superioridade do homem sobre a mulher. O ser humano foi criado homem e mulher. Se se faz à mulher inferior ao homem, separa-se o que Deus uniu porque nessa unidade há igualdade e complementaridade.
(Nota do autor) A pesar disso, para os romanos esse direito ao divórcio era dado também às mulheres. É por isso que São Marcos, que escreveu aos romanos do fim do século I, acrescenta: “E se a mulher se divorciar do seu marido e se casar com outro homem, ela cometerá adultério” (Mc 10,12). Não encontramos este versículo em Mateus.
Por outro lado, no contexto da igualdade entre homem e mulher, onde não há superioridade nem inferioridade, será que o divórcio é possível quando não há amor no casal? Eu penso que o evangelho não responde a esta questão explicitamente:  se o Amor de Deus se exprime na união do homem e da mulher, não havendo amor, haverá verdadeiro casamento? Será uma união querida por Deus?
Podemos ficar por lá, como faz a Igreja atualmente, e excluir todas aquelas e aqueles que não conseguiram viver esse projeto. Por outro lado, se a Bíblia é cultural, parece-me que a Palavra de Deus que deve se ler e se escrever, hoje, tem que estar e dar conta das nossas realidades. Se não for assim não seria mais do que uma palavra repetida do passado, e que desconsidera
as mulheres e os homens de hoje. Quando 50% dos matrimônios terminam em fracasso, não podemos ficar indiferentes a esta realidade contemporânea e fazer como se não existisse o problema. O amor é essencial no matrimônio; se não há amor será que ainda há matrimônio? Fica a pergunta.
É evidente que devemos nos alegrar quando os casais conseguem ter amor, fidelidade e durabilidade no matrimônio. Mas, em relação aos outros, toda atitude de julgamento, de rejeição, de condenação ou de exclusão é contrária ao evangelho. É preciso que aqueles e aquelas que fracassam não se sintam nunca rejeitados e condenados/as por ninguém, nem mesmo por Deus cujo Amor é o maior que as nossas misérias. É por isso que, como Igreja, devemos demonstrar o perdão, a misericórdia e a compaixão com os casais quebrados e as famílias reconstituídas.
2. Segunda exclusão: as crianças. Imediatamente após a exclusão da mulher do casal, o evangelista Marcos nos fala das crianças: “Alguns levaram crianças para que Jesus tocasse nelas. Mas os discípulos os repreendiam” (Mc 10,13). Assim como as mulheres, as crianças não tinham nenhum direito e é por isso que Cristo assume a sua defesa: “Vendo isso, Jesus ficou zangado e disse: ‘Deixem as crianças vir a mim. Não lhes proíbam, porque o Reino de Deus pertence a elas’” (Mc 10,14). As crianças, então, foram colocadas como modelo para os adultos, não por causa da sua doçura e da sua inocência, mas exatamente por causa da sua pobreza, da sua dependência em relação aos adultos que têm a responsabilidade sobre elas. Como as mulheres e os doentes, as crianças eram excluídas na sociedade judaica do século I. Tocando-as e impondo-lhes as mãos (Mc 10,16), Cristo lhes dá a sua dignidade e lhes concede um lugar no Reino de Deus.
3. Terceira exclusão: hoje. Não é no evangelho de Marcos, mas se eu continuo a reflexão sobre exclusão, se eu atualizo a Palavra de Deus hoje, precisamos reconhecer outras formas de exclusão em nossa Igreja. Se Cristo se colocou na defesa dos pequenos, dos pobres, dos marginalizados e dos excluídos, o que ele quer nos dizer hoje sobre as novas realidades vividas nas nossas sociedades contemporâneas? A família monoparental? O casal reconstituído? O casamento gay? A pergunta a se fazer para sermos fiéis ao evangelho é a seguinte: Essas novas realidades podem expressar o Amor de Deus pela humanidade? Deus pode unir dois homens ou duas mulheres que se amem verdadeiramente? A complementaridade é somente biológica? Pode ser psíquica e social? Deus se reconhece num casal divorciado e casado de novo? Como cristãos, como Igreja, nós devemos responder a essas perguntas com a mesma atitude que teve o Cristo do evangelho de Marcos.
O teólogo francês Gérard Bessière escreve: “Cada época tem seus problemas e seus ajustes jurídicos. Jesus não quer falar como homem da Lei. Ele rejeita essa questão machista. Ele volatiliza a armadilha das casuísticas mostrando a direção do amor humano nascido do Amor de Deus. Não temos que deduzi-lo a proibições, regras, nem a um código! O olhar de Jesus vem do alto e vai mais longe. Ele nos volta a falar do belo objetivo que esclarece o encontro respeitoso e amante dos homens e das mulheres de todos os tempos”. E terminaria simplesmente com esta frase da carta aos Hebreus que temos na segunda leitura de hoje, e que expressa bem a dignidade de todos os seres humanos, discípulos de Cristo: “Pois, tanto aquele que santifica, como aqueles que são santificados, todos têm a mesma origem. Por isso, ele não se envergonha de chamá-los irmãos” (Hb 2,11).
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Contra o poder do homem

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 10,1-12 que corresponde ao 27º Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Os fariseus fazem a Jesus uma pregunta para pô-lo à prova. Desta vez não é uma questão sem importância, mas um fato que faz sofrer muito as mulheres da Galileia e que é motivo de vivas discussões entre os seguidores de diversas escolas rabínicas: “É lícito ao homem divorciar-se da sua mulher?”
Não se trata do divórcio moderno que conhecemos hoje, mas da situação em que vivia a mulher judia dentro do matrimônio, controlado pelo homem. Segundo a lei de Moisés, o marido podia quebrar o contrato matrimonial e expulsar de casa a sua esposa. A mulher, pelo contrário, submetida em tudo ao homem, não podia fazer o mesmo.
A resposta de Jesus surpreende a todos. Não entra nas discussões dos rabinos. Convida a descobrir o projeto original de Deus, que está por cima das leis e normas. Esta lei “machista” foi imposta ao povo judeu pela “dureza de coração” dos homens que controlam as mulheres e as submetem à sua vontade.
Jesus aprofunda o mistério original do ser humano. Deus “criou homem e mulher”. Os dois foram criados em igualdade. Deus não criou o homem com poder sobre a mulher. Não criou a mulher submetida ao homem. Entre homens e mulheres não deve haver dominação por parte de ninguém.
A partir desta estrutura original do ser humano, Jesus oferece uma visão do matrimônio que via, antes de tudo, o estabelecido pela “dureza de coração” dos homens. Mulheres e homens uniram-se para “ser uma só carne” e iniciar uma vida partilhada na mútua entrega sem imposição nem submissão.
Este projeto matrimonial é para Jesus a suprema expressão do amor humano. O homem não tem direito algum de controlar a mulher como se fosse dono. A mulher não aceitou viver submetida ao homem. É Deus mesmo quem os atrai a viver unidos por um amor livre e gratuito. Jesus conclui de forma clara: “O que Deus uniu o homem não deve separar”.
Com essa posição Jesus destrói na raiz o fundamento do sistema patriarcal sob todas as suas formas de controle, submissão e imposição do homem sobre a mulher. Não só no matrimônio como em qualquer instituição civil ou religiosa.
Temos de escutar a mensagem de Jesus. Não é possível abrir caminhos para o reino de Deus e da Sua justiça sem lutar ativamente contra o sistema patriarcal. Quando iremos reagir na Igreja com energia evangélica contra tanto abuso, violência e agressão do homem sobre a mulher? Quando iremos defender a mulher da “dureza de coração” dos homens?

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Igualdade entre homens e mulheres (Mc 10,2-16) - Carlos Mesters e Mercedes Lopes


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IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES
Mc 10,2-16


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No texto de hoje, Jesus continua dando conselhos sobre o relacionamento entre homem e mulher, e sobre o relacionamento com as mães e as crianças. Naquele tempo, no relacionamento entre homem e mulher, havia muito machismo. Com os pequenos e excluídos Jesus pede o máximo de acolhimento. No relacionamento homem-mulher ele pede o máximo de igualdade. Com as crianças e suas mães, o máximo de ternura. Vamos conversar sobre isso.

COMENTANDO

Marcos 10,2: A pergunta dos fariseus: "o marido pode mandar a mulher embora?"
A pergunta é maliciosa. Ela pretende colocar Jesus à prova: "É lícito a um marido repudiar sua mulher?" Sinal de que Jesus tinha uma opinião diferente, pois do contrário os fariseus não iriam interrogá-lo sobre este assunto. Não perguntaram se é lícito a esposa repudiar o marido. Isto nem passava pela cabeça deles. Sinal claro da forte dominação masculina e da marginalização da mulher.

Marcos 10,3-9: A resposta de Jesus: o homem não pode repudiar a mulher
Em vez de responder, Jesus pergunta: "O que diz a lei de Moisés?" A lei permitia ao homem escrever uma carta de divórcio e repudiar sua mulher. Esta permissão revela o machismo. O homem podia repudiar a mulher, mas a mulher não tinha este mesmo direito. Jesus explica que Moisés agiu assim por causa da dureza de coração do povo, mas a intenção de Deus era outra quando criou o ser humano. Jesus volta ao projeto do Criador e nega ao homem o direito de repudiar sua mulher. Tira o privilégio do homem frente à mulher e pede o máximo de igualdade.

Marcos 10,10-12: Igualdade de homem e mulherEm casa, os discípulos fazem perguntas sobre este assunto. Jesus tira as conclusões e reafirma a igualdade de direitos e deveres entre homem e mulher. Ele propõe um novo tipo de relacionamento entre os dois. Não permite o casamento em que o homem pode mandar a mulher embora, nem vice-versa.

O evangelho de Mateus (cf. Mt 19,10-12) acrescenta uma pergunta dos discípulos sobre este assunto. Eles dizem: "Se a gente não pode dar uma carta de divórcio, é melhor não casar". Preferem não casar do que casar sem o privilégio de poder continuar mandando na mulher. Jesus vai até o fundo da questão. Há somente três casos em que ele permite a uma pessoa não casar: (1) impotência, (2) castração e (3) por causa do Reino. Não casar só porque o fulano se recusa a perder o domínio sobre a mulher, isto a Nova Lei do Amor já não o permite! Tanto o casamento como o celibato, ambos devem estar a serviço do Reino e não a serviço de interesses egoístas. Nenhum dos dois pode ser motivo para manter o domínio machista do homem sobre a mulher.

Marcos 10,13-16: Receber o Reino como uma criançaTrouxeram crianças para que Jesus as tocasse. Os discípulos tentaram impedir. Por que impediram? O texto não diz. Os discípulos não gostam de gente sem importância perto de Jesus. Além disso, conforme as normas rituais da época, crianças pequenas com suas mães viviam quase constantemente na impureza legal. Tocando nelas, Jesus ficaria impuro! Mas a reação de Jesus ensina o contrário. Ele diz: "Quem não receber o Reino como uma criança não vai poder entrar nele!" O que significa essa frase? 1) A criança recebe tudo dos pais. Ela não consegue merecer o que recebe, mas vive no amor gratuito. 2) Os pais recebem a criança como um dom de Deus e cuidam dela com todo o carinho. A preocupação dos pais não é dominar a criança, mas sim amá-la e educá-la para que cresça e se realize!