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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Deus-conosco para sempre - Rede Celebra



APROFUNDAMENTO DO TEXTO BÍBLICO (Marcos 28, 16-20)

O Evangelho condensa toda cristologia e eclesiologia de Mateus. Compreende o último encontro de Jesus com seus discípulos e suas palavras finais à comunidade. A montanha e a Galiléia são lugares de revelação. Distante do centro do poder religioso, Jesus se encontra com toda a comunidade, testemunha de sua ressurreição. Nos vv. 18b-20 são resumidos temas importantes do Evangelho:
  • 1) A autoridade suprema foi dada a Jesus pelo Pai; e com essa autoridade Ele envia toda a comunidade para a missão universal, não mais limitada aos judeus. Não vão ter discípulos próprios, mas fazer discípulos de Jesus.
  • 2) O seguimento de Jesus é partilhado com todas as nações, incentivo à comunidade de Mateus, constituída de judeus; como rito de consagração indica o batismo em nome da Trindade.
  • 3) Jesus ressuscitado é o Deus-conosco para sempre, até o fim do mundo.
Nos evangelhos, a ressurreição é o fim da vida de Jesus e a duração é de apenas um dia. Nos Atos dos Apóstolos, a ressurreição é o começo da missão, com duração de 40 dias, quando Jesus fala do Reino de Deus. O número 40 é simbólico e designa preparação, reeducação, discernimento, e também crise e tentação.
Na Ascensão Jesus não se retira; é exaltado, glorificado. A parusia não é o retorno de um ausente, mas a manifestação gloriosa de Jesus sempre presente na comunidade. A ascensão não significa o fim da história desejada pelos discípulos. É começo da missão em Jerusalém, em toda a Judéia, na Samaria e até os confins da terra.

ATUALIZANDO
A montanha representa o programa da comunidade que é o mesmo de Jesus. É necessário mexer-se, descer da montanha, baixar os olhos para as realidades deste mundo, indo ao encontro de Jesus na "Galiléia", anunciando suas palavras e ações em favor dos excluídos, exercendo a mesma autoridade dele, que quer salvar a todos. O Ressuscitado é o Emanuel que está no meio de nossas comunidades; sua glória é estar conosco e nós o glorificamos quando o reconhecemos e o aceitamos como Senhor único e absoluto, única Cabeça da Igreja, razão de nossa esperança.

A PALAVRA DE DEUS NA CELEBRAÇÃO
Com Jesus, somos elevados, introduzidos na intimidade do Pai e confirmados na missão como suas testemunhas. Comendo sua carne e bebendo seu sangue, comungamos seu corpo glorioso e já estamos em ascensão, antecipando na esperança a vida plena e definitiva. 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

PENTECOSTES: Como minha avó a soprar brasas - Edmilson Schinelo


                                           O que o grupo seguidor de Jesus estava celebrando?

Ampliar imagemPentecostes, em Israel, era a festa que marcava o final da colheita dos cereais. Era uma festa agrária, na qual se louvava a Deus pelos primeiros frutos da terra em cada ano. O povo judeu a chamava e ainda a chama de ShavuotFesta das Semanas, por ser celebrada no primeiro dia, depois de transcorridas sete semanas desde a Páscoa. Por isso o nome grego Pentecostes - qüinquagésimo dia (Dt 16,9-10). Mais tarde, as comunidades judaicas associaram a festa agrária com uma data também histórica, recordando, nesse dia, a entrega das tábuas do Decálogo no Monte Sinai (Ex 19-20).
Como o texto de At 2 foi escrito pelo menos 50 anos depois, já houve tempo para que as comunidades e o redator final elaborassem uma narrativa muito mais cheia de sentido simbólico, que nos ajuda ainda hoje em nossa leitura e em nossa caminhada de fé.  Anunciando a chegada do Espírito Santo na festa da antiga lei, estão a nos dizer que a nova aliança é agora selada com o próprio sopro divino.
(O pentecostes, disponível em www.jesusmafa.com)
Sobre quem pousa o Espírito Santo?
Há várias maneiras de se ler o texto de At 2. Bastante comum entre nós é um tipo de leitura que quase dispensa o próprio texto bíblico. Trata-se da leitura feita a partir dos quadros artísticos, nos quais vemos línguas de fogo pousando sobre o grupo dos Doze, quase sempre tendo Maria ao centro, fechados em uma sala bastante luxuosa. Por mais que respeitemos essa leitura, é importante que digamos que a mesma não corresponde à narrativa bíblica: "tendo-se completado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar (At 2,1).
"Todos quem?", devemos nos perguntar. Pouco antes, podemos ler que "o número das pessoas reunidas era de mais ou menos cento e vinte" (At 1,15). Tendo em vista que não houve nenhuma indicação de mudança de grupo, é evidente que o "todos" do texto imediatamente seguinte refere-se a esse grupo de cento e vinte pessoas. Ou seja, o Espírito Santo é derramado sobre todas as pessoas da Igreja nascente (o número é rico em simbologia) e não apenas sobre algumas de suas lideranças. Não é por acaso que o relato evoca as palavras do profeta Joel: "Derramarei o meu espírito sobre todas as pessoas (literalmente: sobre toda carne), vossos filhos e vossas filhas profetizarão" (Jl 3,1; At 2,17). Esta lembrança é de importância fundamental, pois significa a reafirmação de um princípio óbvio de nossa fé: ninguém pode se apossar do Espírito Santo.
Um espírito que se manifesta na casa e não no templo!
Outro aspecto a ser observado tem a ver com o local da manifestação do Espírito divino. O texto inicia dizendo que "estavam todos reunidos no mesmo lugar". Que lugar seria esse? O texto grego fala de "mesmo lugar". Traduções mais antigas gostavam de usar a palavra "cenáculo", que  literalmente significa "o lugar onde a gente janta", faz a ceia - a cena. Traduziam assim provavelmente por dedução a partir do último lugar especificamente citado: a "sala superior" para onde o grupo havia voltado e onde costumava ficar (At 1,13). Logo em seguida, entretanto, fala-se da reunião dos "quase cento e vinte irmãos", na qual se procede à escolha de Matias no lugar de Judas Iscariotes (At 1,15-26). E do ruído, que, como o agitar do vento, enche toda a casa onde se encontravam (At 2,2).
Muita gente quis interpretar que se tratava de um lugar muito grande para reunir tanta gente. O mais importante, porém, não é discutir o tamanho do lugar, visto que a cultura judaica chama de casa o espaço do clã (como em culturas africanas e indígenas, a casa verdadeira é a sombra das árvores, o quintal, onde a vida acontece). O que precisamos considerar é que, por mais que o Livro dos Atos valorize o templo (cf. At 2,46), é no espaço da casa que o Espírito se manifesta. A casa é o espaço aberto, enquanto o templo se fechava às mulheres, aos estrangeiros, aos "impuros". A casa é o lugar da acolhida e, ao mesmo tempo, da partilha: o lugar da ceia comum (Lc 24,13-35). Assim como o pão se reparte, também o Espírito se reparte a todas as pessoas da casa. E se no templo, apenas os homens querem ter poder, na casa, é comum que este poder se exerça de forma também mais partilhada. Como podemos ler, ali "todos eles se reuniam sempre em oração, com as mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e os irmãos dele" (At 1,14).
Como minha avó a soprar as brasas
Muitas imagens são evocadas no texto, a maioria delas buscada no Primeiro Testamento. Além da casa e do número 12 X 10, é expressiva a imagem do vento, das línguas e do fogo.
O vento lembra o sopro de Deus que abriu o Mar (Ex 14,21). As línguas lembram Babel (Gn 11,1-9), onde Deus também prefere a diversidade das línguas. Também agora, cada pessoa ouve as maravilhas de Deus na sua própria língua (At 2,11). O fogo lembra a sarça ardente (Ex 3,1-10), lembra a coluna de nuvem (Ex 13,21). E toda a cena lembra especialmente a conclusão da Aliança no Sinai (Ex 19,16-19).
Mas o vento e o fogo também lembram minha avó, enchendo suas simpáticas bochechas para acender fogo na fornalha ou no fogão de lenha, tarefa que exigia cuidado e, ao mesmo, tempo expressa exercício de poder. Essa é a imagem que faço de Pentecostes: a divindade, com suas grandes bochechas, a soprar em nossas brasas, quando querem se apagar. Às vezes, uma brisa leve (a Ruah divina) é suficiente para que nossas brasas se acendam. Outras vezes, faz-se necessário um sopro bem mais forte, ventania até, para que sejamos sacudidas e sacudidos em nossa inércia!
Que neste Pentecostes, possam as bochechas divinas nos despertar de nossa acomodação, especialmente aquela que nos deixa inertes em nossos templos, em nossos cultos e nossas missas! Que possamos louvar o Espírito lá onde ele se manifestou primeiro, no cotidiano das pessoas, em suas próprias casas. Mas especialmente na vida das pessoas empobrecidas cujo espaço muitas vezes nem mesmo podemos chamar de casas. Pois é para isso que o mesmo Espírito de Pentecostes nos conclama: "O  Espírito do Senhor está sobre mim, ele me ungiu para levar uma notícia alegre aos pobres" (Is 61,1; Lc 4,18).
Edmilson Schinelo (schinelo@terra.com.br)


terça-feira, 29 de maio de 2012

O espírito no cosmos, no ser humano e em Deus. - Artigo de Leonardo Boff



"Numa época, particularmente, anêmica de espírito", "importa suplicar ao Espírito: Vem, Espírito Criador! Renove a face da Terra, aqueça nossos corações e rasgue um horizonte de sentido e de esperança para a nossa realidade humana desumanizada", escreve Leonardo Boff, teólogo, um dos redatores da Carta da Terra e escritor.



Eis o artigo.



Vivemos numa época, particularmente, anêmica de espírito. A cultura do consumo afogou o espírito na materialidade opaca. E sem espírito perdemos o que há de melhor em nós: a comunicação livre, a cooperação solidária, a compaixão amorosa, o amor sensível e a sensibilidade cordial pelo outro lado de todas as coisas, de onde nos vem mensagens de beleza, de grandeza, de admiração, de respeito, de veneração e de transcedência.
Neste domingo, dia de Pentecostes, os cristãos celebram a irrupção do Espírito sobre amentrontados seguidores de Jesus. Transformou-os em corajos mensageiros de sua mensagem libertadora, alcançando-nos a nós até os dias de hoje. Nesta oportunidade, cabe uma reflexão sobre o espírito em minúsculo e sobre o Espírito em maiúsculo.
O espírito: primeiro no universo depois em nós
Somos, singularmente, portadores de grande energia. É  o espírito em nós. O espírito, na perspectiva da nova cosmologia, é tão ancestral quanto o cosmos. Espírito é aquela capacidade que os seres, mesmo os mais originários, como os hádrions, os topquarks, os prótons e os átomos de se relacionarem, trocarem informações e de criarem redes de inter-retro-conexões, responsáveis pela unidade complexa do todo. É próprio do espírito criar unidades cada vez mais altas e elegantes.
O espírito, primeiramente, está no mundo, somente depois está em nós. Entre o espírito de uma árvore e nós a diferença não é de princípio. Ambos são portadores de espírito. A diferença reside no modo de sua realização. Em nós seres humanos, o espírito aparece como aucoconsciência e liberdade.
Espírito humano é aquele momento da consciência em que ela se sente parte de um todo maior, capta a totalidade e a unidade e se dá conta de que um fio liga e re-liga todas as coisas, fazendo que sejam um cosmos e não um caos. Como se relaciona com o Todo, o espírito em nós nos faz sermos um projeto infinito, uma abertura total, ao outro, ao mundo e a Deus.
A vida, a consciência e o espírito pertencem, portanto, ao quadro geral das coisas, ao universo, mais concretamente, à nossa galáxia, à Via-Láctea, ao sistema solar e ao planeta Terra. Para que tivessem surgido, foi preciso uma calibragem refinadíssima de todos os elementos, especialmente, das assim chamadas constantes da natureza (velocidade da luz, as quatro energias fundamentais, a carga dos elétrons, as radiações atômicas, a curvatura do espaço-tempo entre outras). Se assim não fosse não estaríamos aqui escrevendo sobre isso.
Refiro apenas um dado do último livro do astrofísico e matemático Stephen HawkingUma breve história do tempo”(2005): ”Se a carga elétrica do elétron tivesse sido ligeiramente diferente, teria rompido o equilíbrio da força eletromagnética e gravitacional nas estrelas e, ou elas teriam sido incapazes de queimar o hidrogênio e o hélio, ou então não teriam explodido. De uma maneira ou de outra a vida não poderia existir” (p.120). A vida pertence, pois, ao quadro geral.
O princípio andrópico fraco e forte
Para conferir alguma compreensão a esta refinada combinação de fatores se criou a expressão “princípio andrópico” (que tem a ver com o homem). Por ele se procura responder a esta pergunta que naturalmente colocamos: por que as coisas são como são? A resposta só pode ser: se fosse diferente nós não estaríamos aqui. Respondendo assim não cairíamos no famoso antropocentrismo que afirma: as coisas só têm sentido quando ordenadas ao ser humano, feito centro de tudo, rei e rainha do universo?

Há esse risco. Por isso os cosmólogos distinguem o princípio andrópico forte e fraco. O forte diz: as condições iniciais e as constantes cosmológicas se organizaram de tal forma que, num dado momento da evolução, a vida e a inteligência deveriam necessariamente surgir. Esta compreensão favoreceria a centralidade do ser humano. O princípio andrópico fraco é mais cauteloso e afirma: as precondições iniciais e cosmológicas se articularam de tal forma que a vida e a inteligência poderiam surgir. Essa formulação deixa aberto o caminho da evolução que demais a mais é regida pelo princípio da indeterminação de Heisenberg e pela autopoiesis de Maturana-Varela.
Mas olhando para trás, nos bilhões de anos, constatamos que de fato assim ocorreu: há 3,8 bilhões de anos surgiu a vida e há uns quatro  milhões de anos, a inteligência. Nisso não vai uma defesa do “desenho inteligente” ou  da mão da Providência divina. Apenas que o universo não é absurdo. Ele vem carregado de propósito. Há uma seta do tempo apontando para frente. Como afirmou o astrofísico e cosmólogo Feeman Dyson: ”parece que o universo, de alguma maneira, sabia que um dia nós iríamos chegar” e preparou tudo para que pudéssemos ser acolhidos e fazer o nosso caminho de ascensão no processo evolucionário.
O universo autoconsciente
O grande matemático e físico quântico Amit Goswami, que muito vem ao Brasil,  sustenta a tese de que o universo é autoconsciente (O universo autoconsciente, Record 2002). No ser humano ele conhece uma emergência singular, pela qual o próprio universo através de nós se vê a si mesmo, contempla sua majestática grandeza e chega a uma certa culminância.
Cabe ainda considerar que o cosmos está em gênese, se autoconstruindo e em expansão contínua. Cada ser mostra uma propensão inata a irromper, crescer e irradiar. O ser humano também. Apareceu no cenário quando 99,96% de tudo já estava pronto. Ele é expressão do impulso cósmico para formas mais complexas e altas de existência.
Alguns aventam a idéia: mas não seria tudo puro acaso? O acaso não pode ser excluído, como mostrou Jacques Monod no seu livro O acaso e a necessidade, o que lhe valeu o prêmio Nobel em biologia. Mas ele não explica tudo. Bioquímicos comprovaram que para os aminoácidos e as duas mil enzimas subjacentes à vida pudessem se aproximar, constituir uma cadeia ordenada e formar uma célula viva seriam necessários trilhões e trilhões de anos. Portanto mais tempo do que o universo e a Terra possuem que é de 13,7 bilhões de anos.
Talvez o recurso ao acaso mostre apenas nossa incapacidade de entender ordens superiores e extremamente complexas como a consciência,  a inteligência, o afeto e o  amor. Neste sentido a visão de Pierre Teilhard de Chardin do universo que mais e mais se complexifica e assim permite a emergência da consciência e da percepção de um ponto Ómega da evolução na direção do qual estamos viajando, seja mais adequada para expressar a dinâmica mesma do universo.
Não seria melhor  calarmos reverentes e respeitosos diante do mistério da existência e do sentido do universo?
Depois destas reflexões já estamos habilitados a abordar a dimensão teológica do espírito como  Espírito Criador.
O Espírito Criador e a cosmogênese
Como não podia deixar de ser, Deus também é incluido na dimensão do espírito. E por excelência. Está presente na primeira página da Bíblia quando se narra a criação do céu e da terra. Diz-se que sobre o touwabohu, isto é, sobre o caos, melhor, sobre as águas primitivas “soprava um ruah (um vento, uma energia) impetuoso” (Gn 1,2). Daquele caos tirou todas as ordens: os seres inanimados, os animados e o ser humano. A este, tirado do pó como todos os demais, Deus “soprou-lhe nas narinas o ruah de vida, o espírito, e ele tornou-se um ser vivo”  (Gn 2,7). É no capítulo 37 de Ezequiel que irrompe, de forma insuperavelmente plástica, a força vital do espírito. Quando este vem, os ossos ressequidos ganham carne e se transformam em vida.
Também as expressões mais altas do ser humano são atribuidos à presença do espírito nele, como a sabedoria e a fortaleza (Is 11,2), a riqueza de idéias (Jo 32,28), o senso artístico (Ex 28,3), o desejo ardente de ver Deus e o sentimento de culpa e a consequente penitência (Ex 35,21; Jr 51,1; Esd 1,1; Es 26,9; Sl 34,19; Ez 11,19; 18,31).
Deus “tem” espírito
Esta força criadora e vivificadora é eminentemente possuida por Deus. As Escrituras falam com frequência do espírito de Deus (ruah Elohim). Ele é dado a Sansão para ter força portentosa (Jz 14,6; 19,15), aos profestas para terem coragem de denunciar em nome dos pobres da Terra as injustiças que padecem, para enfrentar o rei, os poderosos e anunciar-lhes o juizo de Deus.
Especialmente no judaismo inter-testamentário se esperava para os fins dos tempos a efusão do espírito sobre toda a criatura (Jl 2,28-32; At 2, 17-21). O Messias será “forte no espírito” e virá dotado de todos os dons do espírito (Is 11,1ss).
É neste contexto do judaismo tardio que surge a tendência de personificar o espírito. Ele continua sendo uma qualidade da natureza, do ser humano e de Deus. Mas sua ação na história é tão densa que começa a ganhar autonomia. Assim se diz, por exemplo, que “o espírito exorta, se aflige, grita, se alegra, consola, respousa sobre alguém, purifica, santifica e enche o unverso”. Jamais se pensa nele como criatura, mas algo do mundo de Deus que, quando se manifesta na vida e na história, tudo transforma.
O Espírito é Deus
A compreensão começou a mudar quando se cunhou uma expressão decisivia:”espírito de santidade” ou “espírito santo”. Esta formulação guarda certa ambiguidade, pois pode-se dizer espírito santo para se evitar dizer o nome de Deus (coisa que  os judeus até hoje, por respeito, evitam) como pode-se significar o próprio Deus. “Santo” para a mentalidade hebraica, é o nome por excelência de Deus o que equivale dizer na compreensão grega Deus como  transcendente, distinto de todo e qualquer ser da criação.
Em resumo podemos afirmar: pela palavra espírito (ruah) aplicado a Deus (Deus “tem” espírito, Deus envia o seu espírito, o espírito de Deus) os judeus expressavam a seguinte experiência: Deus não está atado a nada; irrompe onde quer; confunde planos humanos; mostra uma força à qual ninguém pode resistir; revela uma sabedoria que torna estultície todo o nosso saber. Assim Deus se mostrou aos líderes políticos, aos profetas, aos sábios, ao povo, especialmente, em momentos de crise nacional (Jz 6,33; 11, 29; 1 Sam 11,6).
Assim como é dado ao rei para que governe com sabedoria e prudência, no caso o rei Davi (1 Sam 16,13) será dado também ao servo sofredor, destituido de toda pompa e grandiloquência (Is 42,1) Em Is 61,1 se diz explicitamente:”o espírito de Javé está sobre mim porque Javé me ungiu… para anunciar a libertação dos cativos e a boa-nova para os pobres”, texto que Jesus aplicará a si na sua primeira aparição na sinagoga de Nazaré (Lc 4, 17-21). Por fim, o espírito de Deus não sinaliza apenas sua ação inovadora no mundo, mas aponta para o próprio ser de Deus. O espírito é Deus. E Deus é  Espírito. Como Deus é santo, o Espírito será  o Espírito Santo.
O Espírito Santo penetra tudo, abarca tudo, está para além de qualquer limitação. “Para onde irei para estar longe de teu Espírito? Aonde fugirei para estar longe de tua face? Se eu escalar os céus, ai estás, se me colocar no abismo, também ai estás”(Sl 139,7) Até o mal não está fora de seu alcance. Tudo o que tem a ver com mutação, ruptura, vida e novidade tem a ver com o espírito. O Espírito Santo está tão unido à história que ela de profana se transforma em história santa e sagrada.
O Espírito num mundo sem espírito e em degradação
Hoje sentimos a urgência da irrupção do Espírito Santo como na primeira manhã da criação.  A Carta da Terra, face à crise mundial ecológica, com energias negativas que nos podem arrastar ao abismo, afirma:”Como nunca antes da história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal…Temos ainda muito que aprender  a partir da busca conjunta por verdade e sabedoria (final).
Cabe ao Espírito iluminar nossa mente e transformar nosso coração. Se fizermos esta conversão dificilmente escaparemos das ameaças que pesam sobre o sistema-vida e sistema-Terra. Cabe ao Espírito a capaciadade de transformar o caos destrutivo em caos criativo, como operou no primeiro momento do big bang. Ele pode transformar a tragédia possível numa crise acrisoladora que nos permite dar um salto de qualidade rumo a uma nova ordem, mais alta, mais humana, mas cordial, mais amorosa e mais espiritual. O universo, a Terra e cada um de nós somos templos do Espírito. Ele não permitirá que seja desmantelado e destruido.
Importa suplicar ao Espírito: Vem, Espírito Criador! Renove a face da Terra, aqueça nossos corações e rasgue um horizonte de sentido e de esperança para a nossa realidade humana desumanizada.
Leonardo Boff é coteólogo, um dos redatores da Carta da Terra e escritor.

SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS

A semana de Oração da Unidade dos Cristãos em Londrina foi celebrada durante todos os dias da semana

de 20 a 27 de maio. Foram momentos animados e comprometedores na caminhada Ecumênica.






















terça-feira, 22 de maio de 2012

Carta Pastoral


IGREJA EPISCOPAL ANGLICANA DO BRASIL

DIOCESE ANGLICANA DE CURITIBA

 “Estamos construindo uma grande Diocese...”




Carta Pastoral ao 8º Concilio Diocesano, reunido em Londrina, na Paróquia de São Lucas,  de 18 a 20 de maio de 2012, AD.

Em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo. Amem.

Igreja a gente vive com paixão! (do hino Em Missão do Francisco Esvael)

“Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão, porque eles estavam como ovelhas sem pastor” São Marcos 6.34


       Com alegria, entusiasmo e grande expectativa, nós nos reunimos como igreja diocesana.  Encontrar-se, celebrar, partilhar, fazer recomendar ações, sugerir e tomar decisões são partes da programação, porem, dependendo de cada um, pode ser muito mais. Esperamos que assim seja, para que fortaleçamos, ainda mais, o senso de pertença a família diocesana, para que nos animemos mutuamente e nos comprometamos novamente com os votos, as promessas, com o cumprimento da Aliança Batismal.   

       Continuamos com a motivação de sermos e vivermos igreja “com paixão”, levando em consideração as 5 marcas da compreensão anglicana de missão – proclamação, nutrição, cuidado com os necessitados, transformação da sociedade e cuidado com a criação de Deus.  Essas marcas da missão, tem a ver com nosso culto, com nosso testemunho, com a justiça e paz no mundo e a forma como estamos gerenciando os dons da criação de Deus. A fé leva a adoração, esta leva ao cuidado amoroso do nosso próximo. Nosso testemunho busca conseqüências, como transformar a sociedade e suas estruturas a bem de todos e todas – é a Aliança Batismal tomando forma - e, ainda, somos sensibilizados ao cuidado com as pessoas, com a natureza, com a justiça climática – o cuidado com nossa casa comum, a irmã e mãe Terra.

      Buscamos no Evangelho de São Marcos cap. 6, a partir do verso 30, a primeira multiplicação dos pães e peixes, que na edição que utilizamos hoje tem um sub titulo muito significativo: “O banquete da vida” celebrado por Jesus e seus seguidores, em contraposição com o “banquete da morte”, protagonizado pelo rei Herodes.

      Observemos nessa perícope, versos 30 a 44, quais são as atitudes de Jesus, para que, ao identificá-las, conscientemente as assumamos vivendo igreja na missão, com paixão!
  1. Jesus vê a multidão, as pessoas,
  2. Olha com um olhar diferente, olhar de compaixão,
  3. Colocando-se no lugar dela, sente que estão desorientadas, “como ovelhas sem pastor”,
  4. Jesus ensina,
  5. A atitude dos discípulos “despede esse povo, já é tarde”,
  6. Porém, Jesus observa de quem é a responsabilidade, “vocês é que tem que lhes dar de comer”,
  7. Os discípulos fazem as contas, “devemos gastar meio ano de salário para comprar comida”,
  8. Jesus vai além, mais perguntas, “o que vocês tem? O que possuem?”, como normalmente o que possuímos é pouco, com os discípulos não foi diferente, temos “cinco pães e dois peixes”,
  9. Organizem as pessoas, foi a ordem de Jesus, formem grupos de cem e de cinqüenta,
  10. Jesus abençoa os pães e peixes, e os distribui,
  11. Todos comeram e ficaram saciados.

Seria conveniente tomarmos cada um desses passos\atitudes\gestos de Jesus e interpretá-los um a um, observando a Sua ética e a ética de seu Reino, comparando isso tudo com aquilo que estamos fazendo como Igreja em Missão, que estamos fazendo com discípulos\as de Jesus...teremos certamente orientações para nosso trabalho, nosso testemunho. Nossas comissões e pastorais todas teriam o verdadeiro conteúdo para seus planejamentos e ações.

Como vamos ter Marcos bem presente em nossas liturgias e estudos neste Ano Litúrgico “B”, que, por ser um calendário ecumênico, também outras igreja o terão em pauta, animo a todos e todas para que aprofundemos os estudos desse Evangelho.

      Considero muito importante que ao “olharmos o mundo, a multidão”, tenhamos presente a palavra e motivação que o bispo tem afirmado, “ouvindo” as inquietações das pessoas da igreja e observando a realidade que nos envolve, dando especial cuidado ao que segue:
             Foram desafios para último ano porém, meu pedido é de que continuemos firmes nesses propósitos:
  1. Cuidado com a criação de Deus - se torna cada vez mais atual, importante e crucial nossa ação como pessoas e comunidades, como cidadãos e cristãos. Desde ações simples as mais complexas e desafiadoras devemos participar!
  2. Cuidado com as crianças e jovens - abrir nossos espaços, nossas celebrações litúrgicas, nossa mobilização e ação política a favor desses pequeninos do Reino não e demais ressaltar. Eles, juntamente com outros segmentos da nossa sociedade e país, precisam de nossa ação, nosso cuidado e hospitalidade, nosso compromisso, nossa voz profética!
  3. Entusiasmo renovado para, criativamente, “mudarmos os alicerces da Igreja, levando-a, como se tivesse rodas, onde as pessoas estão” (conforme nos desafia o Côn. Odilon Silva).
  4. Comunicação – Cada vez mais se afirma a importância da  comunicação. Um blog, uma rede social, uma faixa, um informativo paroquial, uma placa de identificação, um site, etc.
  5. Sustento – É crucial que cada membro da igreja contribua com seus talentos-dons, com seu tesouro (seu dinheiro) e com seu tempo. Temos que avançar muito mais para atingirmos a autonomia financeira das comunidades e o sustento da Missão da Igreja;

Para este ano de 2012, reafirmando os desafios anteriores, peço que observemos:
  1. Cuidado com a formação do povo de Deus –  Somos episcopais anglicanos. Não somos católicos romanos, luteranos, metodistas, batistas, evangélicos ou pentecostais, nem fundamentalistas e nem radicais. O que somos e cremos, está expresso na nossa adoração, escrita em nossos ritos litúrgicos, está na nossa liturgia. Fundamentados na Bíblia, nos sacramentos, nos credos, na história da igreja, na razão e na atitude acolhedora e dialogal – na inclusividade. Necessitamos, clérigos e leigos, da formação continuada, assim esperamos que uma grande maioria participe do processo que estamos desejosos que ocorra.
  2. Compromisso com o discipulado – aprofundar os compromissos da Aliança Batismal como base da compreensão do ser discípulo, discípula de Jesus Cristo diariamente.
  3. Compromisso com o crescimento – Os desafios anteriores fazem referência a qualidade da nossa vocação e testemunho cristão. Este, diz respeito ao crescimento quantitativo. Embora o acréscimo de membros por confirmações e recebimentos nos últimos dois anos, meu convite é de que juntos, como comunidade reflitamos sobre o tema, planejemos estratégias e ações em vista do nosso crescimento.


Em tudo, irmãos e irmãs, tenhamos compaixão uns pelos outros, tenhamos compaixão com nosso próximo. Ter compaixão, é agir como Jesus agiu, olhar como Jesus olhou, amar como Jesus amou... A compaixão, leva a um olhar diferente, e este a acolhida, hospitalidade, a estar junto com o outro, a ensinar – partilhar o conhecimento e o mútuo aprendizado – leva a organização, o trabalho em grupo,  leva a partilha solidária, leva a satisfação de todos e todas.

Em Jesus de Nazaré, amém.

+Naudal

Igreja a gente vive com paixão!    

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Concílio Diocesano


CONCÍLIO DIOCESANO

Foram 3 dias de celebração, reflexão, avaliação, convivência e visualização de Caminhos a ser percorridos pela DAC.


























domingo, 13 de maio de 2012

Um dia de Pizza


No dia 06 de maio a Paróquia são Lucas inovou em suas

promoções, Um dia de pizza. Foi Um dia de montagem em um mutirão da comunidade.

No outro dia as pessoas vinham buscar suas pizzas. Foi uma bela experiência de trabalho em conjunto.


sexta-feira, 11 de maio de 2012

Assim como meu Pai me ama, eu amo vocês



Ampliar imagem
ASSIM COMO O PAI ME AMA, EU AMO VOCÊS
 Autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino. Mais 

Os capítulos 15 até 17 de João trazem vários ensinamentos muito bonitos, fruto da catequese nas comunidades do Discípulo Amado. O evangelista os juntou e colocou aqui no ambiente amigo do último encontro de confraternização de Jesus com os discípulos. Acompanhe.  
João 15,9-11: Permanecer no amor, fonte da perfeita alegria
Jesus permanece no amor do Pai observando os mandamentos que dele recebeu. Nós permanecemos no amor de Jesus observando os mandamentos que ele nos deixou. E devemos observá-los com a mesma medida com que ele observou os mandamentos do Pai: "Se vocês obedecem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como eu obedeci aos mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor". É nesta união de amor do Pai e de Jesus que está a fonte da verdadeira alegria: "Eu disse isso a vocês para que minha alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa".
João 15,12-13: Amar os irmãos como ele nos amou.
O mandamento de Jesus é um só: "amar-nos uns aos outros como ele nos amou!" (Jo 15,12). Jesus ultrapassa o Antigo Testamento. O critério antigo era: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lv 18,19). O novo critério é: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei". Aqui ele disse aquela frase que cantamos até hoje: "Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão!"
João 15,14-15 Amigos e não empregados
"Vocês serão meus amigos se praticarem o que eu mando", a saber, a prática do amor até a doação total de si! Em seguida, Jesus coloca um ideal altíssimo para a vida dos discípulos e das discípulas. Ele diz: "Não chamo vocês de empregados, mas de amigos. Pois o empregado não sabe o que faz o seu patrão. Chamo vocês de amigos, porque tudo que ouvi do meu Pai contei para vocês!" Jesus não tinha mais segredos para os seus discípulos e suas discípulas. Tudo que ouviu do Pai contou para nós! Este é o ideal bonito da vida em comunidade: chegarmos à total transparência, ao ponto de não haver mais segredos entre nós e de podermos confiar totalmente um no outro, de podermos partilhar a experiência que temos de Deus e da vida e, assim, enriquecer-nos mutuamente. Os primeiros cristãos conseguiram realizar este ideal durante alguns anos. Eles "eram um só coração e uma só alma" (At 4,32; 1,14; 2,42.46).
João 15,16-17: Foi Jesus que nos escolheu
Não fomos nós que escolhemos Jesus. Foi ele que nos encontrou, nos chamou e nos deu a missão de ir e dar fruto, fruto que permaneça. Nós precisamos dele, mas ele também quer precisar de nós e do nosso trabalho para poder continuar fazendo hoje o que fez para o povo na Galiléia. A última recomendação: "Isto vos mando: amai-vos uns aos outros!"

ALARGANDO
Jesus é a sabedoria de Deus
Para as primeiras comunidades, Jesus é a manifestação da multiforme Sabedoria de Deus (Ef 3,10). Ele é a Sabedoria de Deus (1Cor 1,24). Mas esta ligação entre Jesus e a Sabedoria de Deus aparece com maior evidência no Evangelho de João. Desde o Prólogo, podemos perceber como as comunidades do Discípulo Amado gostavam de contemplar Jesus como a Sabedoria que existia em Deus antes da criação do mundo (Jo 1,2-5; Sb 6,22). Como a Sabedoria, somente Jesus conhece os mistérios de Deus e os revela à humanidade (Jo 3,11-12; Sb 9,9-18). Há várias outras características da Sabedoria de Deus, acentuadas no Antigo Testamento, que são usadas no Evangelho de João para dizer quem é Jesus para nós.
  1. A Sabedoria convida o povo para um banquete (Pr 9,1-6). Ela diz: "Quem me come terá ainda mais fome e quem me bebe terá ainda mais sede" (Eclo 24,21). No Evangelho de João, Jesus diz: "Quem vem a mim nunca mais terá fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede" (Jo 6,35).
  2. A Sabedoria é "um reflexo da luz eterna" (Sb 7,26). Jesus diz: "Eu sou a luz do mundo" (Jo 1,5; 8,12; 9,5).
  3. A Sabedoria diz: "Quem me encontra, encontra a vida" (Pr 8,35). Jesus diz: "Eu sou a ressurreição e a vida!" (Jo 1,4; 11,25; 14,6).
  4. A Sabedoria é fonte de água (Eclo 24,30-31). Jesus diz: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba!" (Jo 7,37).
  5. A Divina Sabedoria é uma videira graciosa com muitos ramos, carregada de flores e frutos. Ela convida as pessoas para que venham fartar-se dos seus frutos e experimentar a doçura de seu mel (Eclo 24,17-22). Jesus diz: "Eu sou a videira, vocês são os ramos" (Jo 15,5). Quem fica unido a ele produz muitos frutos (Jo 15,8). Sobre a Sabedoria no Evangelho de João, veja Alargando no 1º Círculo deste Livro. 

Mães, mas sobretudo mulheres - Pastora Odja Barros


 

Esta é uma semana na qual a imagem da mãe é muita louvada, reverenciada e poetizada. Quantas poesias e imagens tentam retratar e expressar o valor dessa imagem feminina de mãe como um ser quase divino. É verdade que há algo de divino na maternidade. O poder de gerar vida, amor uterino, amor que vem das entranhas, do útero é de onde se origina a palavra MISERICORDIA, que significa o amor que vem das entranhas, do útero, o amor de Deus.
Mas, essa imagem "divinizada" da mãe pode também ocultar toda a mulher que existe na mãe. Somos mães, mas, sobretudo mulheres, com todas as nossas potencialidades de amor, cuidado e doação, mas também com nossos desejos, limites, fragilidades e incapacidades como todo ser humano real. Não são poucas as mulheres que se anularam completamente num ato quase "crístico" de sacrificar-se por seus maridos e filhos, esquecendo de si mesmas. Não podemos esquecer as palavras de Jesus quando nos ensina que: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo"(Mc 12:33). Isso significa que não podemos amar ao outro perfeita e saudavelmente se não amarmos a nós mesmas. Esse amor poder ser adoecedor para quem dá e para quem recebe.
De outra parte também temos mulheres impedidas biologicamente de gerar filhos/as ou ainda mulheres que decidiram que não querem ou não se sentem prontas para serem mães e por isso sofrem. Sofrem por se sentirem menos mulher ou pela pressão social que quer arbitrar sobre os seus corpos como se fosse coisa pública onde todos podem opinar. Segundo Simone de Beauvoir "o corpo da mulher é um dos elementos essenciais da situação que ela ocupa neste mundo. Mas, não é ele tão pouco que basta para defini-la." [1] portanto o definir-se mulher ou mãe está para além das funções biológicas do corpo. A maternidade não pode ser reduzida a um útero engravidado.
A maternidade pode ser vivenciada e expandida para todo corpo que acolhe e torna-se casa, abrigo, seio que ampara, cuida, integra assumindo a plenitude da experiência maternal.  Todo corpo pode ser um útero pronto para acolher e cuidar da vida. Mas, o estereótipo da grande mãe, da mãe-virgem do Salvador ou das palavras atribuídas a Paulo que dizem que "a mulher que será salva dando luz a filhos" continua pairando sobre nossas cabeças como modelos de mulheres salvadoras de si mesma. (I Tim. 2:14)  Talvez seja um bom momento para lembrarmo-nos das mulheres-mães da genealogia de Mateus 1, mulheres que contrariam esse modelo estereotipado. Apesar de estarem de alguma forma relacionada à maternidade, "mas é na contramão de ser mãe que elas se empoderam. O que as salva não é o ventre engravidado, mas o poder de decidir seus estados de gravidez"[2]
Tamar, Raabe, Rute, Bete-Seba, mulheres, mães que entram na genealogia de Jesus escapando dos esquemas e estereótipos da sua época e são lembradas não por sua superioridade ética ou por ser modelo disso ou daquilo, mas pela coragem de agir em favor se si mesmas e de sua comunidade. Também nós, a exemplo dessas mulheres, somos desfiadas a resistir à mitificação e a estereótipos, bem como a termos o direito de dizer neste dia que somos mães (se pudermos ou quisermos), mas, sobretudo somos mulheres.
Da mulher, Odja Barros


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Torre de Babel é interrompida pela dispersão (a Milton Schwantes) - Tereza Cavalcanti



Carta de Tereza Cavalcanti a Milton Schwantes. Escrita há cerca de 4 anos, ao voltar de um encontro da Bolívia. Nessa carta, afirma a autora, ficou refletida a contribuição desse meu mestre para meu trabalho como teóloga e para minha vida de fé"

            Tereza Cavalcanti é biblista e colaboradora no CEBI-RJ. 
Caro Milton,
Lembrei-me muito de você num encontro latino-americano e caribenho de CEBs que aconteceu recentemente em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. É que logo na nossa chegada ao local de alojamento, as conversas entre o povo foram sobre a diversidade dos alimentos,  e os costumes no modo de servi-los. Por exemplo, o que nós chamamos de banana, na Bolívia e outros países chamam de plátanos. Banana para eles, só as que são comidas cozidas.
O pessoal que veio do Panamá disse que estava espantado porque tínhamos água normalmente, o que lá é raro. Sentiram-se num "hotel 5 estrelas", apesar de estarmos em quartos de 2 por 3 metros, com 3 pessoas dividindo beliches.  Na celebração inicial, foi uma explosão de cores, com a indumentária indígena variadíssima e belíssima, somada às bandeiras de cada país e aos painéis com os símbolos das comunidades. O som dos cânticos ritmados e a alegria estampada nos rostos nos fazia sentirmos como num pequeno paraíso.
Em seguida, veio a exposição da situação de cada região e país, enriquecida pelos depoimentos dos delegados, sempre trazendo a luta pela sobrevivência e contra as grandes mineradoras estrangeiras, os grandes projetos de hidrelétricas e de agro-negócio, com suas desastrosas consequências ecológicas, etc..

Diversidade cultural é coisa de pobre!

Juntando tudo aquilo na minha cabeça, quando me pediram pra participar de um painel de "iluminação teológica", me veio muito clara a sua contribuição sobre o texto do Gn 11, 1-9, onde a torre de Babel é interrompida pela dispersão. A dispersão foi, como você muito bem observou, a solução da luta de  resistência contra o império. Juntei essa sua idéia com uma frase que o Téo (meu marido) ouviu de um banqueiro: "quem cria diversidade cultural são os pobres. Os ricos não criam diversidade".
Então a minha palavra no painel foi essa: eu vi naquela imensa diversidade das culturas dos pobres a melhor forma de resistência contra um império que impõe uma única língua, um único modelo de vida, um único pensamento: o império é a reprodução indefinida do MESMO. Não tolera a diversidade. Você pode ir visitar um shoppíng center em qualquer país do mundo, é tudo igual. Mesmas marcas, mesmas comidas, mesmos cheiros, mesmas roupas...
Então a saída está na recusa de reproduzirmos o mesmo! Mantenhamos nossa diversidade, que  dela virá o outro mundo possível, que aliás já está aí!
Algumas pessoas vieram após o painel me perguntar de onde eu tirei essa interpretação de Babel (especialmente os teólogos homens fazem esse tipo de perguntas às teólogas mulheres) e eu tive um grande prazer em me referir a você!
Bem, eu queria apenas partilhar com você essa experiência e te agradecer por sua constante "iluminação" em meu trabalho!
Um grande abraço pra você e pra Rose. E muito obrigada por ser quem você é!

Tereza

IGREJA ANGLICANA


Bispo negro é favorito para o cargo de Primaz da Igreja Anglicana

Quinta-feira, 3 de maio de 2012 - 21h06min
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Um bispo negro, John Sentamu, de 62 anos, é o candidato favorito para substituir como arcebispo de Canterbury Rowan Williams, que anunciou que se afastará em dezembro. Após uma década no cargo, o liberal Williams, de 61 anos e arcebispo de 77 milhões de anglicanos, deixará o posto em dezembro para trabalhar na Universidade de Cambridge.
A nomeação do novo arcebispo anglicano corresponde em última instância à rainha Elizabeth II, líder da Igreja da Inglaterra, sem que o período de eleição tenha uma data determinada.
A responsabilidade da escolha do novo arcebispo recai sobre a Comissão de Candidaturas da Coroa (CNC, em inglês), na qual 16 membros têm direito a voto e que nesta sexta disse que selecionará um sucessor "no seu devido tempo". Essa comissão apresenta o nome do candidato preferido e uma segunda opção ao primeiro-ministro, que é constitucionalmente responsável por oferecer assessoria à rainha.
Após a aprovação do candidato por Elizabeth II e a aceitação dele, Downing Street - escritório oficial do primeiro-ministro - anunciará o nome do eleito, que também deve ser confirmado por uma comissão de bispos diocesanos. O novo arcebispo deve prestar homenagem à rainha e tomar posse em uma cerimônia solene que será realizada na Catedral de Canterbury.
A lista de nomes para ocupar o cargo à frente da Igreja da Inglaterra é liderada pelo arcebispo de York, John Sentamu, um ex-advogado e juiz que poderá se tornar o primeiro arcebispo negro de Canterbury. Sexto de 13 irmãos e de ideologia conservadora, Sentamu chegou ao Reino Unido em 1974 vindo da Uganda, seu país de origem, onde era crítico às posturas do ditador Idi Amin. Sua popularidade o levou a ser nomeado como "homem do ano" no condado de Yorkshire, no norte da Inglaterra, em 2007.
Sentamu se manifestou publicamente contra os banqueiros, aos quais culpou pela crise financeira, apoiou as Forças Armadas e se manifestou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Casado e com dois filhos, o aspirante favorito foi designado para arcebispado de York em 2005 em cerimônia embalada por música africana contemporânea, na qual ele mesmo tocou tambor. Como bispo da região de Stepney, no leste de Londres, Sentamu fez campanha contra as armas de fogo, as facas, as drogas e os bandos criminosos.
Além do arcebispo de York, os outros candidatos principais são os bispos de Londres, Richard Chartres; de Bradford, Nick Baines; e de Leicester, Tim Stevens. Chartres, de 64 anos, foi o responsável por ler o sermão durante o casamento real entre o príncipe William e Kate Middleton em 29 de abril na Abadia de Westminster e é conhecido por suas campanhas em assuntos ambientais. Já Nick Baines, de 54 anos e apelidado de "bispo blogueiro", alia seu entusiasmo pela tecnologia com uma forte formação acadêmica. E Tim Stevens, de 65 anos, lidera atualmente os bispos da Igreja da Inglaterra na Câmara dos Lordes.

Alguns anglicanos são contra a eleição de um primaz negro
"Na Igreja da Inglaterra há uma corrente racista que deseja impedir que John Sentamu seja o novo primaz anglicano". Se for considerado que o religioso em questão, o arcebispo de York, tem a pele negra e que nasceu em Uganda, a acusação é muito pesada. No domingo passado, em Londres, aparecia tranquilamente no "Sunday Telegraph"; e não era uma voz qualquer que pronunciava isto, mas a de Arun Arora, o reverendo que acaba de ser eleito o novo responsável pela comunicação da "Church of England". Na realidade, essas palavras haviam sido escritas em seu blog, algumas semanas atrás, antes de assumir o cargo; no entanto, provocaram muitas consequências, justamente em meio a corrida para a substituição de Rowan Williams, arcebispo da Cantuária, que há algumas semanas confirmou que antes do final do ano deixará seu posto.
A polêmica sobre a cor da pele de John Sentamu poderia fazer com que fique em segundo plano o seu verdadeiro perfil. Um religioso muito comprometido com as questões relacionadas à paz e justiça (é muito famoso o vídeo em que ele retira o colarinho em protesto contra o ditador de Zimbawe, Robert Mugabe). Porém, ele também é conhecido por suas claras posturas em relação à ética sexual. Por exemplo, há alguns meses, pronunciou-se contra o projeto de lei para o casamento entre pessoas do mesmo sexo, questão delicadíssima nestes dias na Grã-Bretanha. E também sobre o tema da fecundação assistida. Algum tempo atrás, ele havia advertido sobre os perigos desta prática, pela qual se pretende "prescindir do pai". Inclusive, sobre o multiculturalismo, o arcebispo africano também advertiu sobre os excessos da integração que invalidam as raízes do país de origem.

No entanto, o debate em torno da figura de John Sentamu é um retrato emblemático do anglicanismo atual. Na realidade, com seus 26 milhões de fiéis, a Churh of England é uma minoria: Nigéria e Uganda têm maior número de fiéis anglicanos do que a Inglaterra. Isto sem considerar países como Tanzânia, Sudão ou Quênia. Trata-se de um dado não somente geográfico, mas também relacionado a posições doutrinais: as Igrejas anglicanas da África e da Ásia estão, de fato, menos dispostas a aceitar aberturas liberais sobre temas como as ordenações de bispos declaradamente homossexuais. São os tipos de rupturas que Rowan Williams está sendo obrigado a enfrentar durante seu ministério como arcebispo da Cantuária. Agora, poderiam não ser consideradas na hora de eleger seu sucessor.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Os gays e a Bíblia -por Frei Betto, em Amai-vos


OS Gays e a Bíblia


É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos.

No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as "pessoas diferenciadas".).

Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc).

No 60º aniversário da Decclaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela "despenalização universal da homossexualidade".

A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu Catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.

Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.

São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.

A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que "quem ama conhece a Deus" (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama.).

Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?

Ora, direis ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os "eunucos de nascença" (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.

Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?

Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.

Fonte: Viomundo - http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/frei-beto-a-igreja-nao-tem-o-direito-de-encarar-ninguem-como-homo-ou-hetero.html