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segunda-feira, 7 de maio de 2012

IGREJA ANGLICANA


Bispo negro é favorito para o cargo de Primaz da Igreja Anglicana

Quinta-feira, 3 de maio de 2012 - 21h06min
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Um bispo negro, John Sentamu, de 62 anos, é o candidato favorito para substituir como arcebispo de Canterbury Rowan Williams, que anunciou que se afastará em dezembro. Após uma década no cargo, o liberal Williams, de 61 anos e arcebispo de 77 milhões de anglicanos, deixará o posto em dezembro para trabalhar na Universidade de Cambridge.
A nomeação do novo arcebispo anglicano corresponde em última instância à rainha Elizabeth II, líder da Igreja da Inglaterra, sem que o período de eleição tenha uma data determinada.
A responsabilidade da escolha do novo arcebispo recai sobre a Comissão de Candidaturas da Coroa (CNC, em inglês), na qual 16 membros têm direito a voto e que nesta sexta disse que selecionará um sucessor "no seu devido tempo". Essa comissão apresenta o nome do candidato preferido e uma segunda opção ao primeiro-ministro, que é constitucionalmente responsável por oferecer assessoria à rainha.
Após a aprovação do candidato por Elizabeth II e a aceitação dele, Downing Street - escritório oficial do primeiro-ministro - anunciará o nome do eleito, que também deve ser confirmado por uma comissão de bispos diocesanos. O novo arcebispo deve prestar homenagem à rainha e tomar posse em uma cerimônia solene que será realizada na Catedral de Canterbury.
A lista de nomes para ocupar o cargo à frente da Igreja da Inglaterra é liderada pelo arcebispo de York, John Sentamu, um ex-advogado e juiz que poderá se tornar o primeiro arcebispo negro de Canterbury. Sexto de 13 irmãos e de ideologia conservadora, Sentamu chegou ao Reino Unido em 1974 vindo da Uganda, seu país de origem, onde era crítico às posturas do ditador Idi Amin. Sua popularidade o levou a ser nomeado como "homem do ano" no condado de Yorkshire, no norte da Inglaterra, em 2007.
Sentamu se manifestou publicamente contra os banqueiros, aos quais culpou pela crise financeira, apoiou as Forças Armadas e se manifestou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Casado e com dois filhos, o aspirante favorito foi designado para arcebispado de York em 2005 em cerimônia embalada por música africana contemporânea, na qual ele mesmo tocou tambor. Como bispo da região de Stepney, no leste de Londres, Sentamu fez campanha contra as armas de fogo, as facas, as drogas e os bandos criminosos.
Além do arcebispo de York, os outros candidatos principais são os bispos de Londres, Richard Chartres; de Bradford, Nick Baines; e de Leicester, Tim Stevens. Chartres, de 64 anos, foi o responsável por ler o sermão durante o casamento real entre o príncipe William e Kate Middleton em 29 de abril na Abadia de Westminster e é conhecido por suas campanhas em assuntos ambientais. Já Nick Baines, de 54 anos e apelidado de "bispo blogueiro", alia seu entusiasmo pela tecnologia com uma forte formação acadêmica. E Tim Stevens, de 65 anos, lidera atualmente os bispos da Igreja da Inglaterra na Câmara dos Lordes.

Alguns anglicanos são contra a eleição de um primaz negro
"Na Igreja da Inglaterra há uma corrente racista que deseja impedir que John Sentamu seja o novo primaz anglicano". Se for considerado que o religioso em questão, o arcebispo de York, tem a pele negra e que nasceu em Uganda, a acusação é muito pesada. No domingo passado, em Londres, aparecia tranquilamente no "Sunday Telegraph"; e não era uma voz qualquer que pronunciava isto, mas a de Arun Arora, o reverendo que acaba de ser eleito o novo responsável pela comunicação da "Church of England". Na realidade, essas palavras haviam sido escritas em seu blog, algumas semanas atrás, antes de assumir o cargo; no entanto, provocaram muitas consequências, justamente em meio a corrida para a substituição de Rowan Williams, arcebispo da Cantuária, que há algumas semanas confirmou que antes do final do ano deixará seu posto.
A polêmica sobre a cor da pele de John Sentamu poderia fazer com que fique em segundo plano o seu verdadeiro perfil. Um religioso muito comprometido com as questões relacionadas à paz e justiça (é muito famoso o vídeo em que ele retira o colarinho em protesto contra o ditador de Zimbawe, Robert Mugabe). Porém, ele também é conhecido por suas claras posturas em relação à ética sexual. Por exemplo, há alguns meses, pronunciou-se contra o projeto de lei para o casamento entre pessoas do mesmo sexo, questão delicadíssima nestes dias na Grã-Bretanha. E também sobre o tema da fecundação assistida. Algum tempo atrás, ele havia advertido sobre os perigos desta prática, pela qual se pretende "prescindir do pai". Inclusive, sobre o multiculturalismo, o arcebispo africano também advertiu sobre os excessos da integração que invalidam as raízes do país de origem.

No entanto, o debate em torno da figura de John Sentamu é um retrato emblemático do anglicanismo atual. Na realidade, com seus 26 milhões de fiéis, a Churh of England é uma minoria: Nigéria e Uganda têm maior número de fiéis anglicanos do que a Inglaterra. Isto sem considerar países como Tanzânia, Sudão ou Quênia. Trata-se de um dado não somente geográfico, mas também relacionado a posições doutrinais: as Igrejas anglicanas da África e da Ásia estão, de fato, menos dispostas a aceitar aberturas liberais sobre temas como as ordenações de bispos declaradamente homossexuais. São os tipos de rupturas que Rowan Williams está sendo obrigado a enfrentar durante seu ministério como arcebispo da Cantuária. Agora, poderiam não ser consideradas na hora de eleger seu sucessor.

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