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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

                         NATAL – O DIVINO SE TORNOU HUMANO!


Natal encarnação de Deus na humanidade. O Divino se torna humano para o humano se tornar divino. Deus se manifestou a mulheres e homens trazendo a novidade da plenitude da vida. “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância”. (Jo,10;10). Para que o filho de Deus se manifestasse ao mundo muitas pessoas foram desafiadas a enfrentar seus medos, romper paradigmas, romper preconceitos, romper distâncias, reinventar caminhos desafiando autoridades e colocando-se em movimento, sonhando sonhos que para Deus nada é impossível. Maria ouviu o anjo que lhe disse, “Não tenha medo Maria, porque você encontrou graça diante de Deus”. (Lc 1;30). “Para Deus nada é impossível”. (Lc 1;37). Maria acreditou que era possível e se pôs a caminho... José era homem justo diz o texto de Mt 1;19, não queria denunciar Maria como era o costume da época... Sonhou com o anjo que lhes disse, “não tenha medo de receber Maria como esposa”. (Mt 1;21). Ao sonhar com o anjo José coloca-se a caminho e vai ao encontro de Maria sonhando que era possível. Maria e José colocam-se a caminho! Jesus no ventre e na fé de Maria chega a Belém, com toda dificuldade de uma gestante em final de gravidez Maria faz a caminhada. Mas na cidade não encontraram um lugar, mas com o sonho de que para Deus nada é impossível encontram um lugar humilde onde o Divino pudesse resgatar com seu nascimento toda forma de vida de sua criação. O divino quer manifestar-se a humanidade, o anjo vai novamente ao encontro dos pastores, pessoas simples que na época viviam nos campos pastoreando ovelhas, homens e mulheres, pessoas empobrecidas. Os pastores e as pastoras também tinham medo! O Anjo vem ao encontro deles e diz “Não tenham medo! Eu anuncio a vocês a grande alegria para todos os povos” (Lc 2;10). Temos ainda os magos que acreditaram em uma estrela diferente e colocaram-se a caminho e no meio da caminhada precisaram reinventar o caminho para desviar dos que tinham em suas mãos o poder e sentiam-se ameaçados com na manifestação de Deus. 
O caminho para o nascimento de Jesus foi feito de sonhos, de fé no acreditar de mulheres e homens que para Deus nada é impossível. Hoje celebramos esse acontecimento, Natal! Mas com o passar dos tempos perdeu seu sentido, desapareceu a fé o crer que é possível desafiar sistemas, colocar-se a caminho, fazer diferente. Temos medo! O medo parece estar nos paralisando. 
Talvez não seja o medo, mas o conformismo. Conformamo-nos em deixar as coisas como estão. Ganhamos nosso salário e deixamos os donos do poder do nosso tempo destruir toda criação de Deus, o que se tornou humano para que o humano se tornasse divino. Vamos para nossas Igrejas e celebramos o nascimento do filho de Deus totalmente fora do contexto pelo qual Deus se tornou humano. Criamos para nós mesmos um deus que caiba dentro de nossa omissão, conformismo e descompromisso. Ficamos paralisados, paralisadas olhando para o anjo, talvez! Diferentes de Maria, José, Pastores e magos que colocaram-se a caminho reinventando, recriando, e crendo. E nós? Estamos aí sem movimento e parados esperando que o anjo faça por nós? 
Será que não é hora de olharmos para a criação de Deus a nossa volta que pede socorro? Será que não é hora prestarmos atenção ao “anjo” nos dizendo, “Não tenha medo, você encontrou graça diante de Deus, Para Deus nada é impossível? Ou sonharmos com José que é possível reinventar e fazer diferente? Ou ainda escutar como os pastores “não tenham medo eu trago uma boa notícia”? Ou ainda, reinventar outro caminho como os magos? Será que vamos continuar com um natal de comércio e do lucro? Precisamos aprender que a festa do nascimento de Jesus foi de partilha de sonhos, ousadias e caminhos. Precisamos também nós que celebramos o nascimento de Jesus nos colocar em movimento. Não podemos nós perder a essência do projeto da manifestação de Deus para a humanidade. 
Revda Lucia Dal Pont Sirtoli
Foto: NATAL – O DIVINO SE TORNOU HUMANO!

Natal encarnação de Deus na humanidade. O Divino se torna humano para o humano se tornar divino. Deus se manifestou a mulheres e homens trazendo a novidade da plenitude da vida. “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância”. (Jo,10;10). Para que o filho de Deus se manifestasse ao mundo muitas pessoas foram desafiadas a enfrentar seus medos, romper paradigmas, romper preconceitos, romper distâncias, reinventar caminhos desafiando autoridades e colocando-se em movimento, sonhando sonhos que para Deus nada é impossível. Maria ouviu o anjo que lhe disse, “Não tenha medo Maria, porque você encontrou graça diante de Deus”. (Lc 1;30). “Para Deus nada é impossível”. (Lc 1;37). Maria acreditou que era possível e se pôs a caminho... José era homem justo diz o texto de Mt 1;19,  não queria denunciar Maria como era o costume da época... Sonhou com o anjo que lhes disse, “não tenha medo de receber Maria como esposa”. (Mt 1;21). Ao sonhar com o anjo José coloca-se a caminho e vai ao encontro de Maria sonhando que era possível. Maria e José colocam-se a caminho! Jesus no ventre e na fé de Maria chega a Belém, com toda dificuldade de uma gestante em final de gravidez Maria faz a caminhada. Mas na cidade não encontraram um lugar, mas com o sonho de que para Deus nada é impossível encontram um lugar humilde onde o Divino pudesse resgatar com seu nascimento toda forma de vida de sua criação. O divino quer manifestar-se a humanidade, o anjo vai novamente ao encontro dos pastores, pessoas simples que na época viviam nos campos pastoreando ovelhas, homens e mulheres, pessoas empobrecidas. Os pastores e as pastoras também tinham medo! O Anjo vem ao encontro deles e diz “Não tenham medo! Eu anuncio a vocês a grande alegria para todos os povos” (Lc 2;10). Temos ainda os magos que acreditaram em uma estrela diferente e colocaram-se a caminho e no meio da caminhada precisaram reinventar o caminho para desviar dos que tinham em suas mãos o poder e sentiam-se ameaçados com na manifestação de Deus. 
O caminho para o nascimento de Jesus foi feito de sonhos, de fé no acreditar de mulheres e homens que para Deus nada é impossível. Hoje celebramos esse acontecimento, Natal!  Mas com o passar dos tempos perdeu seu sentido, desapareceu a fé o crer que é possível desafiar sistemas, colocar-se a caminho, fazer diferente. Temos medo! O medo parece estar nos paralisando. 
Talvez não seja o medo, mas o conformismo. Conformamo-nos em deixar as coisas como estão. Ganhamos nosso salário e deixamos os donos do poder do nosso tempo destruir toda criação de Deus, o que se tornou humano para que o humano se tornasse divino. Vamos para nossas Igrejas e celebramos o nascimento do filho de Deus totalmente fora do contexto pelo qual Deus se tornou humano. Criamos para nós mesmos um deus que caiba dentro de nossa omissão, conformismo e descompromisso. Ficamos paralisados, paralisadas olhando para o anjo, talvez! Diferentes de Maria, José, Pastores e magos que colocaram-se a caminho reinventando, recriando, e crendo. E nós?  Estamos aí sem movimento e parados esperando que o anjo faça por nós?  
Será que não é hora de olharmos para a criação de Deus a nossa volta que pede socorro? Será que não é hora prestarmos atenção ao “anjo” nos dizendo, “Não tenha medo, você encontrou graça diante de Deus, Para Deus nada é impossível? Ou sonharmos com José que é possível reinventar e fazer diferente? Ou ainda escutar como os pastores “não tenham medo eu trago uma boa notícia”? Ou ainda, reinventar outro caminho como os magos? Será que vamos continuar com um natal de comércio e do lucro? Precisamos aprender que a festa do nascimento de Jesus foi de partilha de sonhos, ousadias e caminhos. Precisamos também nós que celebramos o nascimento de Jesus nos colocar em movimento. Não podemos nós perder a essência do projeto da manifestação de Deus para a humanidade. 
Revda Lucia Dal Pont Sirtoli

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014



      


PARÓQUIA DE SÃO LUCAS
 LONDRINA PR - DAC/IEAB
NATAL! ACOLHIDA E HOSPITALIDADE!



Madrugada camponesa faz escuro ainda no chão (...) faz escuro, mas eu canto porque a manhã vai chegar.   (Thiago de Mello)

Mas uma vez é tempo de advento. O Natal está chegando. Uma alegria, uma Espiritualidade e uma ternura inexplicáveis surgem no coração de quem vive o Natal com os olhos da fé! Como diz o poeta Thiago de Melo: “Faz escuro, mas eu canto porque a manhã vai chegar”! Pode ser madrugada ainda escura, pode ser que ainda não consigamos enxergar nada direito, mas de um momento para outro pode raiar o dia, como uma luz crescendo, uma vela acesa em uma sala escura. A luz vai crescendo e rompe a escuridão e a noite se faz dia.

Tempo de advento, preparação para chegada do Deus menino que não encontrou hospitalidade para ser acolhido em sua manifestação humana. Seu abrigo foi uma estrabaria fora da cidade, acolhido e hospedado por animais, na casa dos animais. Seus primeiros visitantes foram os pastores pobres, cuidadores dos animais.

A mensagem para nós neste Advento é de acolhida e hospitalidade, receber, hospedar em nossa casa, vida, toda novidade, mudança, novo modo de viver que vem com a Criança Divina que se fez humana. Receber alguém em nossa casa gera desconforto sair de nossa comodidade e preparar a casa para acolher quem vai chegar. É assim no Advento, precisamos olhar para dentro de nós, limpar, arrumar e nos preparar para receber e celebrar no Natal a Palavra viva que hoje tem voz através de nossas vozes, tem corpo através de nossos corpos, põem-se em movimento através de nossos movimentos.

Vamos nos colocar em Movimento para acolher e hospedar “O Menino”. Não tornamos o nosso Natal uma fonte de renda, ou simplesmente em consumo. Como disse nosso Bispo Primaz, ”estamos vivendo a síndrome de Herodes: o interesse de Herodes de ver o Menino não era para adorá-lo como disse aos Magos”. Assim também o mercado não quer saber de Jesus, quer saber de lucro, de consumo. O que menos importa é o Menino. Aliás, muitos meninos e meninas, como Jesus, estão jogados à própria sorte em nossa sociedade. Meninos e meninas não interessam, a menos que sejam consumidores!

Irmãs e irmãos da Paróquia de São Lucas, rendamos graças a Deus por mais um ano que passamos, não foi fácil, tivemos muitos encontros e desencontros. Assim é a vida, precisamos aprender cada dia a vivermos firmes na fé mesmo diante das dificuldades.

Quero agradecer a todas as pessoas que contribuíram de uma forma ou de outra para levar adiante no dia a dia da Paróquia, aquilo que nos é colocado como desafio, como forma de viver a vida em comunidade! 
Obrigada por sua contribuição, e vamos continuar contribuindo para que 2015 seja ainda melhor!

Que o Deus Menino nos ajude a sermos pessoas sempre mais acolhedoras de toda manifestação da vida, da criação de Deus. É necessário que haja respeito para vivermos em harmonia!

Convidamos para Celebrar o Natal de Jesus no dia 24 de Dezembro, às 20:00 hs e, no  dia 31 de Dezembro, às 20:00 hs , Celebração de Ação de Graças pelo ano de 2014!
Que 2015 venha cheio da energia do amor Divino Criador e Redentor!

                   FELIZ NATAL!



                                                                                                             Revda. Lucia e Revdo. Luiz.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Mc 1, 1-8: Começo do Evangelho de Jesus, o Messias, o Filho de Deus



João batizando Jesus<br>Fonte: Jesus Mafa - http://www.jesusmafa.com
O Evangelho de Marcos foi o primeiro dos quatro evangelhos canônicos a ser escrito, provavelmente pelo ano 70, ou na Síria, ou em Roma (Não existe consenso entre os peritos). Marcos tem o grande mérito de ser o criador desse gênero literário, hoje tão conhecido, chamado “Evangelho”, o que literalmente significa “Boa Nova” ou “Boa Notícia”. Porém, quando no primeiro versículo da sua obra ele se refere ao “começo do Evangelho”, ele não se refere ao gênero literário, mas à própria Boa Nova, que é a mensagem de salvação em Jesus, “o Messias, o Filho de Deus”. Pois, o escrito é somente uma das maneiras viáveis para comunicar a experiência dessa Boa Notícia, - tanto que Paulo, que nunca leu um dos quatro Evangelhos (pois morreu pelo ano 66,) pôde falar aos Gálatas do “Evangelho por mim anunciado” (Gl 1,11). Por isso, devemos sempre levar em conta que os quatro Evangelhos do Novo Testamento não se propõem a nos dar uma biografia de Jesus, nem de fazer um relatório sobre a vida d’Ele. Eles são a “Boa Notícia” de Jesus. Por isso, a pergunta que devemos ter em mente em primeiro lugar ao ler ou ouvir um trecho evangélico não é “aconteceu assim ou não?”; mas, “onde está a Boa Notícia de Jesus neste texto?”

Como parte da nossa preparação para o Natal, o texto de hoje nos apresenta a pessoa e mensagem de um dos grandes personagens da liturgia do Advento – João, o Batista. Usando uma mistura de citações do Antigo Testamento, tiradas do profeta Malaquias 3, 20, de Isaías 40, 3 e Êx 23, 20, Marcos enfatiza o papel de João como Precursor - aquele que prepara o caminho do Senhor. O fato de João estar vestido com pele de camelo faz uma ligação entre ele e o “pai do profetismo”, na tradição judaica, Elias. Assim, João é a última voz profética da Antiga Aliança, anunciando a chegada da Boa Nova na pessoa e atividade de Jesus de Nazaré.

O batismo de João era um rito conhecido naquele tempo. Significava o reconhecimento dos pecados e a conversão aos caminhos de Deus. Embora o Advento não seja primariamente tempo de penitência, mas de preparação, o texto nos lembra que não será possível a preparação para a vinda do Senhor no Natal, sem que passemos pelo processo de arrependimento, conversão e pela experiência da gratuidade de Deus no perdão dos pecados.

Mas a ênfase mesmo está na aceitação não somente do batismo de João, mas de quem viria depois dele, literalmente como ele disse, “atrás de mim”. A expressão, que denota a dignidade de quem vem atrás, como num cortejo, põe toda a importância na pessoa que vem - pois tirar as sandálias era serviço de um escravo. Jesus é o mais importante, pois com a vinda d’Ele inaugura-se o tempo de salvação, esperado naquele tempo por muitas pessoas e grupos (como os Essênios) somente para o fim dos tempos.

A voz de João ressoa de novo hoje, convidando a todos nós, pessoalmente e em comunidade, Igreja e sociedade, a preparar os caminhos do Senhor, endireitando as suas veredas! A preparação para o Natal implica a necessidade de um empenho de todos para que os males, sejam individuais ou sociais, sejam tirados, para que o Natal seja experiência real da vinda do Salvador e não somente uma festinha, vazia de sentido.

[Tomaz Hughes]

Marcos 1,1-8: Uma voz clama no deserto - Fé na ousadia de Deus!



Coroa de advento<br>Fonte: Desconhecida;
Esta reflexão é sobre o segundo domingo do Advento. Advento é tempo de reflexão diante do plano de Deus para a humanidade. É tempo de refletir como estamos orientando nossas vidas em relação ao propósito de Deus. Advento também é vinda, chegada. Ele vem. Jesus vem!

É um período especial, pois antecede o Natal, e traz nada menos que três desafios à cristandade. Esse período (1) quer nos lembrar do Advento histórico, passado. (2) Quer nos lembrar do Senhor que quer ser, hoje, nosso hóspede, portanto, o aspecto presente. (3) Finalmente, quer nos remeter ao futuro: o aspecto escatológico do mesmo.

O Advento é época de recuperar os grandes feitos de Deus. Eles são fundamentais para a nossa fé cristã e orientadores para a nossa convivência na comunidade e no mundo, em testemunho e serviço. Recuperar os fatos, no Advento, significa, conforme Isaías, novo fascínio, força e vigor para superar nossos cansaços, desesperanças, desânimo, vontade de desistir e cultivar nossa fé - esperança no Senhor. Advento é esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas. É esperança que nos forma na paciência diante das dificuldades e tribulações da vida, diante de tantas coisas que afligem nossa alma e ferem nosso corpo.

Advento é, por isso, época de não só pensar em doces e presentes, mas, acima de tudo, é convite para olhar em direção ao que realmente importa, ou seja, a oferta da vida com esperança, em Cristo Jesus. É tempo de encontrar o novo.

O "evangelho" de Jesus não vem dos palácios

Os primeiros versos do Evangelho segundo Marcos retomam a profecia do Antigo Testamento e a conduzem ao Novo, ao evento do Espírito. O Espírito perfaz o novo! Marcos ressalta que Jesus Cristo, o Filho de Deus, é a Boa Nova da salvação para a humanidade. Como o mensageiro antigo (Isaías 52,7), João Batista proclama o alegre anúncio, que culmina em Jesus (Marcos 1,14-15) e ressoa nas comunidades cristãs como apelo a anunciar a mensagem de libertação no mundo inteiro (Marcos 13,10; 14,9).

Sabe-se que, para o evangelista, as palavras e ações de Jesus são "evangelho". "Evangelho" é uma palavra que era utilizada pelas autoridades para anunciar as suas ações. Contudo, para o evangelista Marcos, o "evangelho" de Jesus não vem dos palácios, mas da periferia de Nazaré (W. Marxen). O evangelho é alegria, não é imposto, como o evangelho imperial. Aqui nos é apresentado Jesus Cristo como "Filho de Deus", uma expressão que é central para o Evangelho segundo Marcos (cf. Marcos 1,11; 15,39).

Em seguida, Marcos 1,2-8 apresenta o precursor, João Batista. Jesus está na linha da profecia! João Batista é o profeta anunciado em Isaías. Restaura Israel a partir do deserto, como Moisés o fez com o povo que saiu do Egito, como tinha sido a prática de Elias no Horebe. João Batista, o profeta, tem seu foco no deserto. Para a história de Israel, o deserto é símbolo de vida, de resistência, vida restaurada, nova.

A profecia de João Batista apela à conversão, ao arrependimento. Isso é antiga tradição profética. O arrependimento é o eixo da renovação. 

Fé na renovada ousadia de Deus e olhos fixos no futuro

O povo de Deus sempre teve os olhos fixos no futuro, com esperança na vinda definitiva do Senhor (Isaías). Marcos nos chama a olhar à nossa volta e enxergar dentro de nossa história a vinda de Deus: João é o novo Elias (1 Reis 1,8), isto é, a profecia que volta a ser proclamada, o povo se reúne e se organiza para recomeçar como nos tempos do "deserto", enquanto os poderosos se abalam por se sentirem desmascarados (Mateus 3,7). Em Jesus de Nazaré, é Deus mesmo quem opera a restauração das pessoas.

Assim como se deu com Elias, João foi perseguido e morto covardemente, mas a palavra ressurge em Jesus (Marcos 1,14-15; 6,16). Também Jesus foi perseguido e assassinado, mas a caminhada da Palavra prossegue com seus discípulos e discípulas.

Ouvir de Elias, de João, de Jesus... é ouvir falar da renovada ousadia de Deus, a ousadia da liberdade, que não aceita calar-se nunca, nem teme os poderosos do mundo. Sempre de novo a Palavra ressurge para anunciar que são possíveis "novos céus e nova terra" (2 Pedro 3,13; Marcos 1,9-13; 9,2-13). A Palavra volta a levantar-se para denunciar os obstáculos que se antepõem ao propósito de Deus e proclamar que só há uma maneira de viver nessa nova realidade: "endireitar" os caminhos, reconhecer os erros pessoais e coletivos, refazer as relações pelo perdão, a igualdade e a partilha (Lucas 3,10-14). Aí, sim, o "deserto" se transforma em larga estrada, em jardim do Senhor.

O deserto era o lugar onde frequentemente se refugiava quem se sentia à margem do sistema e se punha na oposição. Lá estavam os essênios, pessoas que romperam com o templo e se consideravam vanguarda do novo povo. Para lá se dirigia quem se proclamava profeta ou messias e pretendia organizar a resistência popular. Por lá andavam guerrilheiros (sicários, zelotas) e bandidos. O movimento de João é de protesto e resistência, por isso foi preso e morto. Herodes o temia.

Batismos e rituais de purificações eram práticas comuns no ambiente dos fariseus e dos essênios. No movimento de João não são os sacrifícios que purificam do pecado, mas a confissão e o arrependimento, a mudança de vida. O povo não peregrina em direção ao templo, mas sai das cidades, como num êxodo, em direção ao deserto. É como se fosse preciso sair de novo do Egito, "a casa da servidão". E, pelo Jordão, entrar na Terra Prometida. Sob a expressão "remissão dos pecados" está escondida a antiga esperança da "remissão das dívidas" prevista para o Ano do Jubileu (Levítico 25). O novo tempo anunciado por João é a possibilidade, com Jesus, de restauração radical da convivência do povo em sociedade, segundo os ideais da igualdade e da justiça. Para isso é que se prevê a "imersão" (batismo) no Espírito Santo. Será como passar pelo fogo (Mateus 3,11; Malaquias 3,2) que purifica e destrói, para que algo novo possa surgir. Essa novidade era esperada desde o final do exílio na Babilônia e é dela que falavam profetas e profetisas no grupo de discípulos de Isaías (Is 40-66).

Deus sabe o caminho que devemos andar

João Batista, o precursor, propõe a conversão como meio para preparar o caminho do Senhor e acelerar a chegada de um mundo novo de justiça. Deus caminha pelo deserto da história, ensinando-nos a endireitar as veredas através de gestos solidários de amor e paz.

Dietrich Bonhoeffer dizia: "Eu não entendo os Teus caminhos, Senhor. Mas Tu sabes os caminhos que devo andar!" E é verdade! Deus sabe o caminho que devemos andar. Sabe, quanto mais procuro vivenciar e entender as coisas que Deus quer de mim, mais me surpreende o quanto Deus vem ao meu, ao nosso encontro nas áreas mais essenciais e carentes da vida: "significado, pertencimento, saúde, liberdade e comunidade". É que Deus - que é um Deus de amor e, consequentemente, de salvação - vem ao nosso encontro nas áreas mais necessitadas da existência humana e comunitária.

Por isso, "Ficai atentos, preparem-se". Ficai Atentos! A Esperança não pode esmorecer, mas resistir. Esperança Teimosa! Nascida do discernimento. Construída mesmo no tempo de sofrimento e esmorecimento! O tempo que vivemos é tempo de resistir pela solidariedade ao egoísmo e ao individualismo que nos consomem. Ser sensível é ser humano! Olhar o mundo sem indiferença. Com compaixão e afeto que movam à transformação! Vivamos intensamente este Tempo do Advento! Pois o Advento nos ensina: Não canse de esperar, o que esperamos vai chegar!
 

[Odete Adriano]

 

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