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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

É do coraçao que saem as coisa boas



por Fonte: http://www.paulinas.org.br. Elaboração de Ir. Patrícia Silva, fsp
É DO CORAÇÃO QUE SAEM AS COISAS BOAS
LEITURA ORANTE
Mc 7,1-8.14-15.21-23

Alguns fariseus e alguns mestres da Lei que tinham vindo de Jerusalém reuniram-se em volta de Jesus. Eles viram que alguns dos discípulos dele estavam comendo com mãos impuras, quer dizer, não tinham lavado as mãos como os fariseus mandavam o povo fazer - Os judeus, e especialmente os fariseus, seguem os ensinamentos que receberam dos antigos: eles só comem depois de lavar as mãos com bastante cuidado. E, antes de comer, lavam tudo o que vem do mercado. Seguem ainda muitos outros costumes, como a maneira certa de lavar copos, jarros, vasilhas de metal e camas).
Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram a Jesus: - Por que é que os seus discípulos não obedecem aos ensinamentos dos antigos e comem sem lavar as mãos? Jesus respondeu: - Hipócritas! Como Isaías estava certo quando falou a respeito de vocês! Ele escreveu assim: 'Deus disse: Este povo com a sua boca diz que me respeita, mas na verdade o seu coração está longe de mim. A adoração deste povo é inútil, pois eles ensinam leis humanas como se fossem mandamentos de Deus'. E continuou: - Vocês abandonaram o mandamento de Deus e obedecem a ensinamentos humanos.
Jesus chamou outra vez a multidão e disse: - Escutem todos o que eu vou dizer e entendam! Tudo o que vem de fora e entra numa pessoa não faz com que ela fique impura, mas o que sai de dentro, isto é, do coração da pessoa, é que faz com que ela fique impura.  Porque é de dentro, do coração, que vêm os maus pensamentos, a imoralidade sexual, os roubos, os crimes de morte, os adultérios, a avareza, as maldades, as mentiras, as imoralidades, a inveja, a calúnia, o orgulho e o falar e agir sem pensar nas consequências. Tudo isso vem de dentro e faz com que as pessoas fiquem impuras.

LEITURA ORANTE
1) Leitura (Verdade) - O que diz o texto de hoje? Ler novamente, na Bíblia, o texto Mc 7,1-8.14-15.21-23, e observe pessoas, palavras, relações, lugares, atitudes, ações.
Em volta de Jesus estão os fariseus e os mestres da Lei. Os fariseus observavam estritamente a Lei e, ainda, ampliavam a aplicação das leis. Isto tornava muito difícil observá-las. Este rigorismo fazia com que se perdesse de vista o "espírito" das normas ou leis.
É o que diz Jesus no Evangelho, quando afirma: "com a sua boca diz que me respeita, mas na verdade o seu coração está longe de mim". Os doutores da Lei, também chamados rabis ou mestres, interpretavam a Lei e a aplicavam ao dia-a-dia.Jesus não havia freqüentado nenhuma escola rabínica, mas os discípulos o chamavam de Mestre.
No Evangelho ele se revela um verdadeiro Mestre. Não se deixa dominar pelo legalismo farisaico, por aqueles que se julgavam os mais entendido, sabedores de tudo, preocupados com o formalismo. Diz com firmeza que é de dentro do coração que saem as impurezas e maldade:" os maus pensamentos, a imoralidade sexual, os roubos, os crimes de morte, os adultérios, a avareza, as maldades, as mentiras, as imoralidades, a inveja, a calúnia, o orgulho e o falar e agir sem pensar nas conseqüências". Em outras palavras, Jesus diz que o importante é a conversão do coração.


2. Meditação (Caminho) - O que o texto diz para mim, hoje?
Jesus, no Evangelho de hoje, nos convida a não nos iludir, buscando pureza exterior e aparências de pessoas que tudo explicam e entendem, inferiorizando os irmãos e lhes impondo observâncias que nada significam em termos de conversão para Deus. A conversão é um dos aspectos do discípulo missionário, que acontece só após um encontro com Jesus Cristo. Como cultivo a minha observância religiosa: procuro ser fiel a Deus, vivo em contínua conversão, ou me preocupo com práticas rotineiras, sem muita transformação de vida?


3. Oração (Vida) - O que o texto me leva a dizer a Deus? Rezar, espontaneamente, com salmos ou outras orações e concluo:

Vem, ó Espírito Santo, e dá-me um coração novo. 
Dá-me um coração puro, treinado no amor, 
um coração grande, 
aberto à Palavra de vida, 
"um coração grande e forte, 
para a todos amar, a todos servir, com todos sofrer; 
um coração feliz de palpitar com o coração de Deus." 
Ó Jesus Mestre, Verdade, Caminho e Vida, tem piedade de nós.


4. Contemplação (Vida e Missão) - Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
"Somos chamados a encarnar o Evangelho no coração do mundo". Como vou viver esta exigente missão? Meu novo olhar, em vista desta missão, é de grande humildade para perceber o que em mim deve mudar para que o Evangelho possa antes fazer parte da minha vida e depois , pelo meu testemunho ser proclamado ao mundo Ó Jesus Mestre, Verdade, Caminho e Vida, tem piedade de nós.


Bênção 
- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém. 
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém. 
- Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém. 
- Abençoe-nos Deus misericordioso. Amém.

BÍBLIA NA VIDA - conheça a campanha!






                                                           BÍBLIA NA VIDA - conheça a campanha!

"Precisamos fazer uma interpretação que ajude o povo
a reapropriar-se da Bíblia como livro que lhe pertence"
(Carlos Mesters)

Com esta frase de frei Carlos Mesters, que sintetiza o trabalho de Leitura Popular da Bíblia, o Centro de Estudos Bíblicos - CEBI lança campanha inédita de captação de recursos.
BÍBLIA NA VIDA é a campanha que tem por objetivo a mobilização de recursos para a ampliação dos projetos do CEBI de Leitura Popular e Comunitária da Bíblia. Sua proposta é convidar as comunidades, paróquias e congregações a destinar as ofertas do segundo domingo de setembro, ou outro dia do mês, para o trabalho de formação bíblica.
Como o CEBI presta serviço a muitos grupos, espera-se contar com a solidariedade desses mesmos grupos para a ampliação do trabalho, para que a Palavra de Deus chegue a mais pessoas.

A Bíblia pode ajudar a superar as injustiças sócio-ambientais
A Leitura Popular da Bíblia é a Bíblia a serviço da vida, revelando o rosto de Deus como caminho de transformação no meio das pessoas empobrecidas, na superação das desigualdades e na busca da justiça socioambiental. O trabalho do CEBI é desenvolvido, em sua grande maioria, por pessoas voluntárias e está espalhado por todo o Brasil. Os recursos financeiros são provenientes da venda de livros, da oferta de cursos e de doações.
Há mais de 30 anos, o CEBI atua capacitando pessoas na interpretação de textos bíblicos, auxiliando direta e indiretamente na transformação das injustiças sociais. Veja aqui alguns algumas atividades.


Como as duas moedinhas da viúva...
Em carta de apresentação da Campanha, Frei Carlos Mesters, um dos fundadores do CEBI, e Adeodata Maria dos Anjos, atual diretora nacional, lembram que "o pouco que partilhamos é como as duas moedinhas da viúva (Mc 12,42)". Veja a íntegra da carta.
No texto, ambos reafirmam "a certeza de que a partilha é sempre mais forte do que o individualismo que muitos desejam que reine em nossos dias". O pouco que partilhamos é como as duas moedinhas da viúva (Mc 12,42).

Os recursos arrecadados podem ser depositados no Banco do Brasil, agência 2904-1, conta corrente 25200-X, em nome do Centro de Estudos Bíblicos.

Sobre o puro e o impuro (Mc 7,1-23) - Carlos Mesters e Mercedes Lopes



SOBRE O PURO E O IMPURO
JESUS REALIZA O GRANDE DESEJO DO POVO:
ESTAR EM PAZ COM DEUS
MARCOS 7, 1-23




O evangelho deste final de semana é comprido. Fala dos costumes religiosos da época de Jesus, muitos dos quais já tinham perdido seu sentido e até atrapalhavam a vida do povo, ameaçando as pessoas com castigo e inferno. Enxergavam pecado em tudo! Por exemplo, comer sem lavar as mãos era considerado pecado. Mesmo assim, estes costumes eram conservados e ensinados, ou por medo, ou por superstições. Vamos conversar sobre isso!

SITUANDO
Neste círculo, olhamos de perto a atitude de Jesus frente à questão da pureza. Anteriormente, Marcos já tinha tocado neste assunto da pureza: em Mc 1,23-28, Jesus expulsou um espírito impuro. Em Mc 1,40-45, ele curou um leproso. Em Mc 5,25-34, curou uma mulher considerada impura. Em vários outros momentos, ele tocou em doentes e deficientes físicos, sem  medo de ficar impuro. Agora, aqui no capítulo 7, Jesus ajuda o povo e os discípulos a aprofundar este assunto da pureza e das leis da pureza.
Desde séculos, os judeus, para não contrair impureza, eram proibidos de entrar em contato com os pagãos e de comer com eles. Mas nos anos 70, época de Marcos, alguns judeus convertidos diziam: "Agora que somos cristãos temos que abandonar estes costumes antigos que nos separam dos pagãos convertidos!" Outros, porém, achavam que deviam continuar a observar as leis de pureza. A atitude de Jesus, descrita no evangelho de hoje, ajudava-os a superar o problema.

COMENTANDO
Marcos 7,1-2: Controle dos fariseus e liberdade dos discípulos
Os fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalém, observavam como os discípulos de Jesus comiam pão com mãos impuras. Aqui há três pontos que merecem ser assinalados: 1) Os escribas são de Jerusalém, da capital! Significa que tinham vindo para observar e controlar os passos de Jesus. 2) Os discípulos não lavam as mãos para comer! Significa que a convivência com Jesus os levou a criar coragem para transgredir normas que a tradição impunha ao povo, mas que já não tinham sentido para a vida. 3) O costume de lavar as  mãos, que, até hoje, continua sendo uma norma importante de higiene, tinha tomado para eles um significado religioso que servia para controlar e discriminar as pessoas.
Marcos 7,3-4: A Tradição dos Antigos
A "Tradição dos Antigos" transmitia as normas que deviam ser observadas pelo povo para ele conseguir a pureza exigida pela lei. A observância da pureza era um assunto muito sério. Eles achavam que uma pessoa impura não poderia receber a bênção prometida por Deus a Abraão. As normas de pureza eram ensinadas para abrir o caminho até Deus, fonte da paz. Mas, na realidade, em vez de ser uma fonte de paz, elas eram uma prisão, um cativeiro. Para os pobres, era praticamente impossível observá-las. Eram centenas de normas e leis. Por isso, os pobres eram desprezados como gente ignorante e maldita que não conhece a lei (Jo 7,49).
Marcos 7,5: Escribas e fariseus criticam o comportamento dos discípulos de Jesus
Os escribas e fariseus perguntam a Jesus: Por que os teus discípulos não se comportam conforme a tradição dos antigos e comem o pão com as mãos impuras? Eles fingem estar interessados em conhecer o porquê do comportamento dos discípulos. Na realidade, criticam Jesus por ele permitir que os discípulos transgridam as normas de pureza. Os fariseus formavam uma espécie de irmandade cuja principal preocupação era observar todas as leis de pureza. Os escribas eram os responsáveis pela doutrina. Ensinavam as leis referentes à observância da pureza.
Marcos 7, 6-13: Jesus critica a incoerência dos fariseus
Jesus responde citando Isaías: Este povo me honra só com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Insistindo nas normas de pureza, os fariseus esvaziavam os mandamentos da lei de Deus. Jesus cita um exemplo concreto. Eles diziam: o fulano que oferecer ao Templo os seus bens não pode usar esses bens para ajudar os pais necessitados. Assim, em nome da tradição esvaziavam o quarto mandamento, que manda amar pai e mãe. Até hoje, tais pessoas parecem muito observantes, mas é só por fora. Por dentro, o coração delas fica longe de Deus! Como diz o canto: "Seu nome é Jesus Cristo e passa fome, e vive à beira das calçadas. E a gente quando vê passa adiante, às vezes para chegar depressa à Igreja!" No tempo de Jesus, o povo, na sua sabedoria, não concordava com tudo que se ensinava. Esperava que, um dia, o  messias viesse indicar um outro caminho para alcançar a pureza. Em Jesus se realiza esta esperança.
Marcos 7,14-16: Jesus abre um novo caminho para o povo se aproximar de Deus
Ele diz para a multidão: "Não há nada no exterior do ser humano que, entrando nele, possa torná-lo impuro!" (Mc 7,15). Jesus inverte as coisas: o impuro não vem de fora para dentro, como ensinavam os doutores da lei, mas sim de dentro para fora. Deste modo, ninguém mais precisa se perguntar se esta ou aquela comida ou bebida é pura ou impura. Jesus coloca o puro e o impuro num outro nível, no nível do comportamento ético. Ele abre um novo caminho para chegar até Deus e, assim, realiza o desejo mais profundo do povo.
Marcos 7,17-23: Em casa, os discípulos pedem explicação
Os discípulos não entenderam bem o que Jesus queria dizer com aquela afirmação. Quando chegaram em casa, pediram uma explicação. Jesus estranhou a pergunta dos discípulos. Pensava que eles tivessem entendido a parábola. Na explicação aos discípulos, ele vai até ao fundo da questão da pureza. Declara puros todos os alimentos! Ou seja, nenhum alimento que de fora entre no ser humano pode torná-lo impuro, pois não vai até o coração, mas vai para o estômago e acaba na fosse, e, conforme o pensamento da época, o que entrava na fossa não era considerado impuro. Mas o que torna impuro, diz Jesus, é aquilo que de dentro do coração sai para envenenar o relacionamento humano. E ele enumera: prostituição, roubo, assassinato, adultério, ambição, etc.
Assim, de  muitas maneiras, pela palavra, pelo toque e pela convivência, Jesus foi ajudando as pessoas a conseguir a pureza. Pela palavra, purificava os leprosos, expulsava os espíritos impuros e vencia a morte, que era a fonte de toda a impureza. Pelo toque em Jesus, a mulher excluída como impura ficou curada. Sem medo de contaminação, Jesus comia junto com as pessoas consideradas impuras.

ALARGANDO
As leis da pureza no tempo de Jesus
O povo daquela época tinha uma grande preocupação com a pureza. A lei e as normas de pureza indicavam as condições necessárias para alguém poder comparecer diante de Deus e se sentir bem na presença dele. Não se podia comparecer diante de Deus de qualquer jeito. Pois Deus é Santo. A Lei dizia: "Sede santos, porque eu sou santo!" (Lv 19,2). Quem não era puro não podia chegar perto de Deus para receber dele a bênção prometida a Abraão.
A lei do puro e do impuro (Lv 11 a 16) foi escrita depois do cativeiro da Babilônia, cerca de 800 anos depois do Êxodo, mas tinha suas raízes na mentalidade e nos costumes antigos do povo da Bíblia. Uma visão religiosa e mítica do mundo levava o povo a apreciar as coisas, as pessoas e os animais a partir da categoria da pureza (Gn 7,2; Dt 14,13-21; Nm 12,10-15; Dt 24,8-9).
No contexto da dominação persa, nos séculos V ou IV antes de Cristo, diante da dificuldade para reconstruir o templo de Jerusalém e para a própria sobrevivência do clero, os sacerdotes que estavam no governo do povo da Bíblia ampliaram as leis de pureza e a obrigação de oferecer sacrifícios de purificação pelo pecado. Assim, depois do parto (Lv 12,1-8), da menstruação (Lv 15,19-24) ou da cura de uma hemorragia (Lv 15,25-30), as mulheres tinham que oferecer sacrifícios para recuperar a pureza. Pessoas leprosas (Lv 13) também deviam oferecer sacrifícios. Uma parte destas oferendas ficava para os sacerdotes (Lv 5,13).
No tempo de Jesus, tocar um leproso, comer com publicano, comer sem lavar as mãos, etc, tudo isso tornava a pessoa impura, e qualquer contato com esta pessoa contaminava os outros. Por isso, as pessoas "impuras" deviam ser evitadas. O povo vivia acuado, sempre ameaçado pelas tantas coisas impuras que ameaçavam a vida. Era obrigado a viver desconfiado de tudo e de todos.
Agora, de repente, tudo mudou! Através da fé em Jesus, era possível conseguir a pureza e sentir-se bem diante de Deus sem que fosse necessário observar todas aquelas leis e normas da "Tradição dos Antigos". Foi uma libertação! A Boa Nova anunciada por Jesus tirou o povo da defensiva, do medo, e lhe devolveu a vontade de viver, a alegria de ser filho e filha de Deus, sem medo de ser feliz!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Brasil é o quarto país mais desigual da América Latina



por A reportagem é de Felipe Werneck e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O Brasil é o quarto país mais desigual da América Latina, atrás apenas de Guatemala, Honduras e Colômbia. É o que indica o relatório "Estado das Cidades da América Latina e do Caribe 2012 - Rumo a uma nova transição urbana", divulgado ontem pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat). A região ainda tem 111 milhões de pessoas vivendo em moradias precárias (um quarto da população).
O órgão admite, no entanto, que houve melhora na distribuição de renda nos últimos anos. Em 1990, o Brasil encabeçava a lista dos piores. O país da região com menor índice de desigualdade atualmente é a Venezuela. "Para as Nações Unidas, o principal desafio é desenvolver estratégias para combater a desigualdade. Isso é o mais importante. Sabemos que as cidades latino-americanas têm riqueza suficiente para reduzir essa situação", disse o representante do ONU-Habitat, Erik Vittrup.


Favelas
O relatório internacional divulgado ontem mostra também que um quarto da população da América Latina é pobre, ou seja, vive com menos de US$ 2 por dia, conforme critério adotado pela ONU. São 124 milhões de pessoas, das quais 111 milhões moram em moradias precárias, incluindo favelas. Em 20 anos (1990-2010), aumentou em 5 milhões o número de habitantes nos chamados assentamentos precários.

No Brasil, o porcentual de moradores desses locais (28%), com deficiências estruturais, falta de saneamento e de água, é um pouco maior do que a média latino-americana, de 25%. "As favelas deveriam ser um foco prioritário", diz Vittrup.

O porcentual de pessoas sem saneamento adequado na região chegou a 16% da população, ou 74 milhões de pessoas. Em relação ao abastecimento de água, a situação é melhor: 92% da população urbana tem acesso a água encanada. Mas a qualidade e o custo do serviço ainda são questionáveis.


Violência
Sobre a questão da violência urbana, o representante da ONU disse que o problema é tão generalizado na região que foi apontado como principal prioridade em uma consulta a prefeitos. "Nesse quesito, a situação é mais crítica no México e na Guatemala", disse Vittrup. De acordo com o relatório, as cidades da região apresentam altos níveis de violência e insegurança, que "parecem superar a capacidade de resposta de vários governos".

Entre as recomendações, o relatório aponta a necessidade de padrões de crescimento urbano mais sustentáveis e sugere que se aproveitem investimentos públicos para o benefício da população. Também destaca a necessidade de um planejamento mais ordenado e de se "orientar" os mercados imobiliários. "O parâmetro fundamental de desenvolvimento urbano deve ser o interesse coletivo", ressalta Erik Vittrup.

Condenado pela morte de Dorothy é solto no Pará


por A reportagem é de Aguirre Talento e foi publicada pelo jornal Folha de S. Paulo.
Acusado de ser um dos mandantes do assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, em 2005, Regivaldo Pereira Galvão, conhecido como Taradão, foi solto na tarde de ontem no Pará, por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal). O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, concedeu na última segunda uma decisão liminar (provisória) favorável à soltura, em resposta a um pedido de habeas corpus.
Segundo seu advogado, Jânio Siqueira, Galvão estava "abatido" e foi direto para sua casa, que fica em Altamira (a 900 km de Belém). Galvão foi condenado, em maio de 2010, a 30 anos de prisão em regime inicialmente fechado. Há um recurso da defesa, ainda em tramitação, tentando anular a condenação.

O ministro do STF entendeu que Galvão só pode ser preso quando o processo contra ele transitar em julgado (não couber mais recursos). Ainda de acordo com o ministro, não há provas de que, em liberdade, ele ofereça risco ao andamento do processo. O advogado de Galvão já havia pedido a liberdade ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), sem sucesso.

A missionária Dorothy Stang foi morta em fevereiro de 2005 na região de Anapu (a 766 km de Belém). O motivo, segundo a Promotoria, foi a disputa por terras com fazendeiros da região.


OUTROS ACUSADOS
Com a decisão do Supremo, Galvão será o segundo dos cinco condenados pela morte da missionária a ser colocado em liberdade. O outro que está livre, Clodoaldo Batista -acusado de coautoria no crime-, está foragido desde fevereiro do ano passado.

Além de Galvão, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, também foi condenado sob a acusação de ser o outro mandante do assassinato. Amair Feijoli da Cunha foi acusado de ser intermediário. Já Rayfran das Neves Sales, de ser o autor do crime.

Sem a luz do Espírito não se entendem estas palavras (Jo 6, 60-69)

 Mesters, Lopes e Orofino

JOÃO 6, 60-69

Aqui termina o discurso de Jesus na sinagoga de Cafarnaum. Muitos discípulos achavam: Jesus está indo longe demais! Está acabando com a celebração da Páscoa! Está se colocando no lugar mais central da nossa religião! Por isso, muita gente se desligou da comunidade e não ia mais com Jesus. Jesus reage dizendo: "É o espírito que dá vida, a carne para nada serve. As palavras que vos disse são espírito e vida". Não devem tomar ao pé da letra as coisas que ele diz. Só mesmo com a ajuda da luz do Espírito Santo é possível entender o sentido de tudo que Jesus falou (Jo 14,25-26; 16,12-13).
No fim sobram só os doze. Jesus diz a eles: "Se quiserem, podem ir embora!" Jesus não faz questão de ter muita gente. Nem muda o discurso quando a mensagem não agrada. Jesus fala para revelar o Pai e não para agradar a quem quer se seja. Prefere permanecer só do que estar acompanhado por pessoas que não se comprometem com o projeto do Pai.
A resposta de Pedro é bonita: "A quem iremos? Você tem palavras de vida eterna!" Mesmo sem entender tudo, Pedro aceita Jesus e crê nele. Apesar de todos os seus limites, Pedro não é como Nicodemos que queria ver tudo bem claro de acordo com as suas próprias ideias. E, mesmo assim, entre os onze havia gente que não aceitava a proposta de Jesus.

ALARGANDO
Os discípulos rejeitam Jesus - João 6, 59-66
Em seu discurso Jesus se apresentou como um alimento que sacia a fome e a sede de todos aqueles e aquelas que buscam a Deus. A mesma privação por que passou o povo no deserto (Ex 16 e 17), quando faltaram comida e água. Diante da provação o povo caiu na tentação, duvidando da presença de Deus caminhando com eles.
Nesta mesma tentação caem os membros da comunidade do Discípulo Amado, duvidando da presença de Jesus na partilha do pão. Diante das palavras de Jesus "comer minha carne e beber o meu sangue", muitos da comunidade rejeitaram Jesus, murmurando igual ao povo do deserto (Jo 6,60). Eles tomam a decisão de romper com Jesus e com a comunidade, "voltando atrás e não andavam mais com ele" (Jo 6,66).

A profissão de fé de Pedro - João 6,67-71
Diante da crise provocada por suas palavras e seus gestos, Jesus se volta para seus amigos e amigas mais íntimos, aqui representados pelos doze, e lhes pergunta se também o abandonarão (Jo 6,67). Pedro toma a palavra em nome do grupo e professa sua fé no pão partilhado e na palavra. Jesus é a palavra e o pão que saciam o novo povo de Deus (Dt 8,3). Mas mesmo neste círculo mais íntimo existe um adversário (Jo 6,70-71) "que come do meu pão, mas levanta o calcanhar contra mim" (Sl 41,10; Jo 13,18).

DIA DOS PAIS



celebração do dia dos Pais, Culto Eucarístico e confraternização!






















quarta-feira, 15 de agosto de 2012

15 DE AGOSTO DIA DA BEM - AVENTURADA VIRGEM MARIA


E encheu de bens os famintos (Lc 1, 39-56)

por CEBI Publicações

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Para muitas igrejas, a Palavra evangélica proposta para a liturgia do próximo final de semana é a visita de Maria a Isabel (Lucas 1,39-56), que faz parte dos relatos da Infância de Jesus segundo Lucas (Lucas 1-2). Essas narrativas, mais do que dizerem como os fatos aconteceram, indicam para realidades mais profundas que iluminem a caminhada das comunidades a quem se destinam. Em resumo, o primeiro capítulo do Evangelho da Infância mostra como é reconhecida a ação de Deus em meio ao povo excluído, mas cheio de esperança, representado por Zacarias, Isabel e Maria. Dois eram idosos, uma era estéril e a outra ainda não havia tido relações sexuais com homem. Portanto, eram pessoas de quem não se esperava que pudesse nascer vida nova, que pudessem dar à luz uma criança.
A narrativa proposta pode ser dividida em três momentos. O primeiro descreve a ida de Maria à casa de Isabel e de Zacarias, próxima de Jerusalém (Lucas 1,39-41), uma caminhada de mais de 100 km. De um lado, essa saída de casa faz-nos lembrar de tantas jovens que também precisam deixar seus povoados quando engravidam, a fim de encontrar apoio em familiares que moram distante. De outro lado, quando foi chamada para ser a mãe do Messias, Maria havia se disponibilizado para estar a serviço da Palavra de Deus (Lucas 1,38). Agora, ela já está a caminho para servir, para ser solidária com outra mulher, também grávida. É a solidariedade entre as mães que reconhecem em seus corpos o agir do Espírito divino, pois ambas receberam a graça da fecundidade de forma misteriosa. Mas não é somente o encontro de duas mulheres. É também o encontro de duas crianças ainda no útero de suas mães. É o encontro do Precursor com o Salvador. João alegra-se com a visita de Jesus (Lucas 1,41). Ainda no ventre materno, já aponta para seu primo como aquele que vem socorrer o seu povo num momento de forte repressão do império romano.
A segunda parte desta narrativa é a saudação que Isabel faz a Maria (Lucas 1,42-45). Impulsionada pelo Espírito, a mãe de João Batista reconhece Maria como a mãe do Messias. Ao mesmo tempo em que elogia a sua fé (Lucas 1,45), a declara abençoada, bem-aventurada, assim como o fruto do seu ventre (Lucas 1,42). Essa saudação faz lembrar outras mulheres que também foram chamadas de benditas. São os casos de Jael (Juízes 5,24) e de Judite (Judite 13,18), ambas libertadoras de seu povo ameaçado por exércitos poderosos. Em Lucas 1,56, podemos ler que Maria ficou três meses com Isabel. Mais uma vez, os autores do texto fazem memória das Escrituras de Israel e querem nos apresentar Maria como a nova Arca da Aliança, pois em seu útero carrega o Emanuel, o Deus que está em nosso meio. É que, da mesma forma como Maria ficou os três meses com Isabel, também a antiga Arca da Aliança havia ficado durante três meses na casa de Obed-Edom (2 Samuel 6,2-11; cf. v. 11). Em outras palavras: os representantes da antiga Aliança, Zacarias (Javé se lembrou) e Isabel (Deus é plenitude), reconhecem a ação de Deus em Maria (a amada) e Jesus (Javé salva), representantes da nova Aliança. João (Javé é misericórdia) anuncia que a misericórdia de Deus na antiga Aliança vem se realizar plenamente em Jesus de Nazaré. Por isso, seus pulos de alegria no ventre de Isabel (Lucas 1,41.44), acolhendo o novo que está por nascer.
A terceira parte do relato é a reação de Maria à saudação de Isabel, é o cântico de Maria conhecido como Magnificat (Lucas 1,46-55). Ele está recheado de memórias da história de Israel, especialmente do canto de Ana, a mãe do profeta Samuel (1 Samuel 2,1-10). Entre outros textos, recorda também a profecia de Sofonias em favor dos pobres de Javé, o resto fiel a Deus (cf. Sofonias 2,3; 3,11-13).
Maria é a legítima representante de todos os pobres que têm esperança. Da mesma forma como o profeta Habacuc (Hab 3,18), ela percebe a presença de Deus e se alegra com sua grandeza (Lucas 1,46-47). E o motivo dessa alegria é que, tal como na experiência libertadora do Êxodo (Êxodo 3,7-8), Deus viu a humilhação dos pobres e exerce sua misericórdia para com eles, estando a seu lado para libertá-los (Lucas 1,49-50; Salmo 103,17).
Qual é a força capaz de promover essa libertação? É a força do braço de Deus, isto é, a força de sua justiça, que consiste e um projeto revolucionário que subverte relações desiguais. Se antes os poderosos humilhavam os pobres a partir de seus tronos, agora os famintos são exaltados e comem pão com fartura (Lucas 1,51-53). Mais que ser uma mulher submissa e alienada dos conflitos sociais de seu tempo, Maria é uma mulher de luta pela igualdade e pela superação de todas as injustiças. Ela é subversiva porque subverte as relações de humilhação propondo a acolhida e a igualdade. Não é por acaso que seu filho seguiu os passos dela nesse caminho. É no engajamento pela superação de todas as formas de opressão que revelamos a misericórdia divina em nossa prática. A justiça de Deus se revela em seu agir na defesa dos fracos e contra todos os sistemas que os oprimem, sejam eles políticos ou econômicos, culturais ou religiosos. Nesse agir libertador se manifesta a aliança fiel e misericordiosa esperada desde as origens do povo hebreu (Lucas 1,54-55; Miqueias 7,20).
O Magnificat celebra a esperança na realização da vontade de Deus que liberta. E mais. Convida a todas as pessoas discípulas de Jesus a nos juntarmos a Maria para colocar-nos a serviço desse projeto de Deus, de modo que também em nós se realize a sua Palavra (cf. Lucas 1,38). A ação divina em Maria foi possível por que ela acreditou (Lucas 1,45), ela deu a sua contribuição, colocando-se a serviço de Deus na solidariedade. Mais adiante, quando uma mulher também declarara Maria feliz, Jesus dirá a ela que "felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática" (cf. Lucas 11,27-28). E essa bem-aventurança soa forte para nós ainda hoje.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

MISSÃO DOS PAIS



Quando Deus te dá um filho, outorga-te a solene missão de moldar a argila mole, que animou com o milagre de seu sopro divino.
Nos sete primeiros anos de vida, tens de dar-lhe forma; dos sete aos quatorze, polimento.
Durante toda a sua vida, tens de depositar em seu interior o líquido da sabedoria e da temperança.
Tens de ensinar-lhe o valor do amor, da lealdade, dos sentimentos nobres, para que ele possa conhecer uma vida feliz e significativa.
Tens de despertar-lhe o interesse pelas coisas de Deus, para que ele não seja esmagado pelas coisas humanas .
Tens de transmitir-lhe o significado da vida, para que ele não subordine a sua existência ao temor à morte.
Ele é a semente que plantarás. o teu cuidado com ele irá refletir em tua colheita.
Se lhe deres instantes, farás dele um conhecido. Se lhe deres tempo, farás dele um amigo. Se o quiseres comprar favores materiais, ele verá em ti uma fonte de ganhos fáceis.
Se o conquistares com amor, serás para ele um PAI.
"Aquilo que o homem semear, isto também ceifará."
Gálatas 6:7
QUE DEUS TE DÊ SABEDORIA E GRAÇA NA TUA MISSÃO DE PAI!


O caminho para acreditar em Jesus - José Pagola


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 6, 41-51 que corresponde ao XIX Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto
Segundo o relato de João, Jesus repete de forma cada vez mais aberta que vem de Deus para oferecer a todos um alimento que gera vida eterna. As pessoas não podem continuar escutando uma coisa tão escandalosa sem reagir. Elas conhecem seus pais. Como ele pode dizer que vem de Deus?
Ninguém fica surpreendido com sua reação. É razoável acreditar em Jesus Cristo? Como podemos crer que nesse homem concreto, nascido pouco antes de morrer Herodes o Grande e conhecido pela sua atividade profética na Galileia dos anos 30 da era Cristã, encarnou-se o Mistério insondável de Deus?
Jesus não responde a suas objeções. Ele vai diretamente à raiz de sua incredulidade: "Parem de criticar". É um erro resistir à novidade radical de sua pessoa obstinando-se em pensar que já sabem tudo a respeito de sua verdadeira identidade. Ele lhes indicara o caminho que podem seguir.
Jesus pressupõe que ninguém pode crer nele se não se sente atraído pela sua pessoa. É verdade. Talvez, desde nossa cultura, o entendemos melhor que aquelas pessoas de Cafarnaum. Cada vez torna-se mais difícil acreditar em doutrina ou ideologias. A fé e a confiança se despertam em nós quando nos sentimos atraídos por alguém que nos faz bem e nos ajuda a viver.
Mas Jesus adverte-nos de algo muito importante. "Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o atrai". A atração para Jesus é Deus mesmo quem a produz. O Pai que o enviou ao mundo desperta nosso coração para que nos aproximemos de Jesus com gozo e confiança, superando dúvidas e resistências.
Por isso devemos escutar a voz de Deus em nosso coração e nos deixar conduzir por ele para Jesus. Deixar-nos ensinar com docilidade por esse Pai, Criador da vida e Amigo da pessoa humana. "Todo aquele que escuta o Pai e recebe sua instrução, vem a mim".
A afirmação de Jesus resulta revolucionária para os hebreus. A tradição bíblica dizia que o ser humano escuta no seu coração o chamado de Deus a levar adiante com fidelidade a Lei. O profeta Jeremias tinha proclamado a promessa de Deus desta forma: "Eu colocarei minha Lei dentro de vossos corações e a escreverei em vosso coração".
As palavras de Jesus nos convidam a viver uma experiência diferente. A consciência não é somente o espaço oculto e privilegiado onde podemos ouvir a Lei de Deus. Se no íntimo de nosso ser nos sentimos atraídos pelo bom, pelo formoso, pelo nobre, por aquilo que faz bem ao ser humano, por aquilo que constrói um mundo melhor, facilmente nos sentiremos convidados por Deus a nos sintonizar com Jesus. É o melhor caminho para acreditar nele.

Quem se abre para Deus aceita Jesus e a sua propota (Jo 6, 41-51)


JESUS É O PÃO DA VIDA
JOÃO 6, 41-51

O fragmento do evangelho de João (Jo 6,41-51) é continuação do Discurso do Pão da Vida que começamos a refletir na última semana. Por meio desse discurso, Jesus procura abrir os olhos do povo para ele descobrir o rumo certo que deve tomar na vida. Dá olhos novos para ler os fatos e ver melhor as necessidades. Acompanhe!

COMENTANDO
JOÃO 6, 41-51: 4º Diálogo - Quem se abre para Deus aceita Jesus e a sua proposta
A conversa se torna mais exigente. Agora são os judeus, os líderes do povo, que murmuram: "Esse não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como é que ele pode dizer que desceu do céu?" Eles pensam conhecer as coisas de Deus.
Na realidade, não é nada disso. Se fossem realmente abertos e fiéis a Deus, sentiriam dentro de si o impulso de Deus atraindo-os para Jesus e reconheceriam que Jesus vem de Deus (Jo 6,45).
Na celebração da Páscoa, os judeus lembravam o pão do deserto. Jesus os ajuda a dar um passo. Quem celebra a Páscoa lembrando só o pão que os pais comeram no passado, vai acabar morrendo como todos eles!
O verdadeiro sentido da Páscoa não é lembrar o maná que caiu do céu, mas sim aceitar Jesus como Pão da Vida e seguir pelo caminho que ele ensinou. Não é comer a carne do cordeiro pascal, mas sim comer a carne de Jesus, que desceu do céu para a vida do mundo!

ALARGANDO
O discurso sobre o Pão da Vida (Jo 6,22-58)
Este longo discurso feito na sinagoga de Cafarnaum está relacionado com o capítulo 16 do livro do Êxodo. Vale a pena ler todo este capítulo de Êxodo, percebendo as dificuldades que o povo teve que enfrentar na sua caminhada, para podermos compreender os ensinamentos de Jesus aqui no capítulo 6 do Evangelho de João. Quando Jesus fala de "um alimento que perece" (Jo 6,27), ele está lembrando Ex 16,20. Da mesma forma, quando os judeus "murmuram" (Jo 6,41), fazem a mesma coisa que os israelitas no deserto, quando duvidam da presença de Deus junto com eles durante a travessia. A falta de alimentos fazia com que o povo duvidasse que Deus estivesse com eles, de que Deus fosse Javé, resmungando e murmurando contra Deus e contra Moisés. Aqui também os judeus duvidam da presença de Deus em Jesus de Nazaré (Jo 6,42).


Há 70 anos morria Edith Stein, a santa judia


por A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No dia 9 de agosto, há 70 anos, Edith Stein, a judia que havia se tornado irmã carmelita, era morta em Auschwitz. Em 1933, ela escreveu ao papa sobre as perseguições contra os judeus.

Há 70 anos, morria em Auschwitz a Irmã Teresa Benedita da Cruz, ou Edith Stein, filósofa. Ela nascera em uma família judaica, havia se batizado e, depois, entrara no mosteiro das Carmelitas de Colônia, na Alemanha. Em 1939, encontrava-se no Carmelo de Echt, na Holanda, e foi capturada em julho de 1942, durante as blitz nazistas que se seguiram à carta de denúncia das deportações, assinada pelos bispos católicos dos Países Baixos e lida em todas as igrejas. Até aquele momento, os nazistas haviam poupado os judeus batizados: foram capturados cerca de 300 religiosos de origem judaica.

Cristiana Dobner, em um artigo publicado pela agência SIR, lembra que o jornalista Van Kempen conseguiu contatá-la no campo de triagem e se encontrou diante de "uma mulher espiritualmente grande e forte". Ela não quis fugir nem receber um tratamento diferente dos outros judeus. "Ela me disse: 'Eu jamais poderia acreditar que os homens pudessem ser assim e que os meus irmãos tivessem que sofrer tanto!'. Quando não havia mais dúvidas de que ela seria transportada para outro lugar, eu lhe perguntei se eu poderia ajudá-la (tentar libertá-la); novamente, ela me sorriu suplicando-me que não. Por que abrir uma exceção para ela e para o seu grupo? Não seria justiça tirar vantagem do fato de ser batizada! Se não pudesse participar do destino dos outros, a sua vida estaria arruinada: 'Não, não, isso não!'".

Edith Stein repetia que não havia traído o seu povo ao reconhecer Jesus como Messias. Ela seria proclamada bem-aventurada por João Paulo II em 1987 e santa em 1998. No ano seguinte, também copadroeira da Europa. No dia 12 de abril de 1933, Stein escreveu uma carta ao Vaticano, dirigida ao Papa Pio XI. Ela a enviou através do arquiabade beneditino de Beuron, Raphael Walzer, ao cardeal secretário de Estado, Eugenio Pacelli.

"Padre Santo! Como filha do povo judeu, que pela graça de Deus é há 11 anos filha da Igreja Católica, me atrevo a expressar ao pai da cristandade o que preocupa milhões de alemães. Há semanas, somos espectadores, na Alemanha, de acontecimentos que envolvem um total desrespeito da justiça e da humanidade, sem falar do amor ao próximo. Durante anos, os líderes do nacional-socialismo pregaram o ódio contra os judeus. Agora que conquistaram poder e armaram os seus seguidores - entre os quais há conhecidos elementos criminosos - recolhem o fruto do ódio semeado".

Depois de falar dos muitos casos de suicídio de judeus submetidos a vexações pelos nazistas, Edith Stein acrescentava: "Pode-se considerar que os infelizes não tivessem suficiente força moral para suportar o seu destino. Mas se a responsabilidade em grande parte recai sobre aqueles que os levou a tal gesto, ela também recai sobre aqueles que se calam".

"Tudo o que aconteceu e o que acontece cotidianamente vem de um governo que se diz 'cristão'. Não só os judeus, mas também milhares de fiéis católicos da Alemanha e, creio, de todo o mundo esperam e confiam há semanas que a Igreja de Cristo faça ouvir a sua voz contra tal abuso do nome de Cristo. A idolatria da raça e do poder do Estado, com a qual a rádio martela cotidianamente as massas, não é uma aberta heresia? Essa guerra de extermínio contra o sangue judeu não é uma ultrajem à santíssima humanidade do nosso Salvador, da Santíssima Virgem e dos Apóstolos? Não está em absoluto contraste com o comportamento de nosso Senhor e Redentor, que, mesmo na cruz, rezava pelos seus perseguidores?".

"Todos nós - concluía a filósofa - que olhamos para a atual situação alemã como filhos fiéis da Igreja tememos o pior para a imagem mundial da própria Igreja, se o silêncio se prolongar ainda mais. Estamos convencidos de que esse silêncio não pode a longo prazo obter a paz do atual governo alemão. A guerra contra o Catolicismo ocorre em silêncio e com sistemas menos brutais do que contra o Judaísmo, mas não menos sistematicamente".

Como se pode ver, uma denúncia específica e clarividente, acompanhada pelo pedido de um posicionamento por parte da Santa Sé contra o nazismo. A Santa Sé respondeu à carta de Stein. O cardeal Pacelli, escrevendo em alemão, respondeu ao arquiabade beneditino Walker ainda no dia 20 de abril de 1933, informando que a carta "foi devidamente apresentada à Sua Santidade". 

Em 1937, Pio XI publicaria a encíclica Mit Brennender Sorge, na qual a ideologia nacional-socialita é condenada como pagã e anticristã.

Nós somos Pão da Vida para os outros - Raymond Gravel

por Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

O Pão da Vida, que às vezes é a Palavra de Deus e às vezes a Eucaristia, pode nos ajudar a detectar a presença discreta do nosso Deus na assembleia dominical para a qual somos convidados a cada semana. Comendo desse Pão da Vida, nós nos tornamos Pão da Vida para os outros. A reflexão é de Raymond Gravel, padre da arquidiocese de Quebec, Canadá, publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do 19° Domingo de Páscoa (12 de agosto de 2012).



Hoje entramos de vez no discurso do evangelho de João sobre o Pão da Vida. Surgem várias questões: Quem fala? A quem ele fala? De que fala? Que mensagens tirar hoje?

1. Quem fala? Muitos pregadores vão dizer hoje que foi Jesus de Nazaré quem fez esses comentários aos seus discípulos. Eles não se dão conta que fazendo isso eles desumanizam completamente o Jesus histórico, que foi um homem simples e comum, sem nenhuma pretensão e que não podia saber de antemão o que a Páscoa nos revelou. Esses mesmos pregadores vão dizer que Cristo pôde perdoar seus torturadores, mas, para nós, há perdões que são impossíveis de conceder. E ainda, se Cristo pode perdoar, só pode fazê-lo através de nós, seus discípulos, porque nós somos seu Corpo, a Igreja.

Neste discurso de São João sobre o Pão da Vida, é o Cristo da Páscoa que fala através do evangelista que exprime o fruto de uma longa reflexão teológica pós-pascal daquelas e daqueles que creram na novidade da Páscoa e que perceberam que elas/eles são a presença mesma do Ressuscitado, no seio das suas respectivas comunidades. É assim também em todos os discursos que há nos quatro evangelhos.

2. A quem ele fala? O evangelista João se dirige aos leitores cristãos que fizeram a experiência da Eucaristia e que têm necessidade de lembrar o sentido profundo desse mistério. Seus leitores cristãos, que compõem a comunidade, vêm do mundo judaico e do mundo pagão, os quais estão influenciados por correntes gnósticas que, por sua vez, desenvolveram uma aversão às realidades materiais ou carnais e que ensinavam ser a matéria o que impede de alcançar a Deus, que é a fonte de luz e de vida e do qual nós só podemos obter a salvação mediante o conhecimento da verdade.

Neste trecho do discurso de hoje o evangelista João compara seus ouvintes aos hebreus do deserto que se revoltavam contra os enviados de Deus e, através deles, contra Deus mesmo (Ex 16,2). O protesto que João atribui aos judeus - não ao povo judaico, mas aos que rechaçam o Cristo - não é pelo fato de que Jesus propõe o pão verdadeiro que nos nutre espiritualmente. O protesto surge pela origem de Cristo, enquanto todo mundo conhece a origem humana de Jesus de Nazaré: "Esse Jesus não é o filho de José? Nós conhecemos o pai e a mãe dele. Como é que ele diz que desceu do céu?" (Jo 6,42). Essa é a problemática dos cristãos do século I e mesmo dos cristãos de hoje em dia.

3. De que fala? "Eu sou o pão que desceu do céu" (Jo 6,41). O que isso quer dizer ao justo? É evidente que, no tempo do evangelista João, os primeiros cristãos criam que Jesus era Filho de Deus e que ele se tornou Cristo e Senhor na Páscoa. Por outro lado, não é negando a sua humanidade e a nossa que podemos alcançá-lo e assemelhar-nos a ele. Ao contrário, é pela sua humanidade que Jesus nos alcança e pela sua divindade que ele nos ressuscita, que ele nos dá a sua vida, que nos diviniza. No fundo, devemos guardar as duas dimensões de Cristo Jesus: a sua humanidade e a sua divindade. É pela primeira que ele nos une na sua humanidade e é pela segunda que ele nos transforma para tornarmos Ele, isto é, Cristo Ressuscitado.

É preciso então guardar o equilíbro entre os dois: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida" (Jo 6,51). A carne de Cristo é a sua humanidade em toda a sua fragilidade. Comungar é, antes de tudo, participar na sua humanidade para assumir a nossa, compartilhando-a com os outros a fim de aceder a sua divindade. Eis o pão vivo que desce do céu e que nos transforma para nos mostrar o céu: "Os pais de vocês comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. Eis aqui o pão que desceu do céu: quem dele comer nunca morrerá" (Jo 6,49-50).

Mas, atenção! Comer o pão da vida não se reduz a comer uma hóstia na missa de domingo. É comer o Cristo, nos alimentar dele, nos deixar transformar por ele para nos tornarmos Cristo. E isso não se faz a sós, mas com os outros. O exegeta quebequense André Myre, num pequeno livro saboroso intitulado Ciel! Où allons-nous? (Éditions Paulines, 1991), nos mostra que a salvação, a ressurreição não é um ato individual, mas coletivo, comunitário. Ele escreve: "É por isso que é significativo que a ressurreição seja uma realidade coletiva. O corpo ressuscitado que esperamos não é primeiramente um corpo individual, na sua materialidade; é um corpo que comunica, o corpo em relação à natureza, o corpo que reza. O corpo resume a humanidade e o cosmos. É o corpo da humanidade que ressuscitará. É por isso que a ressurreição de um só, separada dos outros, é impensável". Nós somos então responsáveis uns dos outros: "Eu contribuo para a salvação dos outros e eles para com a minha".

É o que caracteriza o homem novo que encontramos no trecho da carta aos Efésios que temos hoje. Devemos nos despojar do homem velho: "Afastem de vocês qualquer aspereza, desdém, raiva, gritaria, insulto, e todo tipo de maldade" (Ef 4,31). Precisamos nos revestir do homem novo: "Sejam bons e compreensivos uns com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou a vocês em Cristo" (Ef 4,32). No Pai nosso não é o que nós dizemos quando expressamos essa relação mútua entre o perdão de Deus e o nosso? Nós somos os filhos bem amados de Deus, o mesmo título que Jesus Cristo... Nada menos!

Para terminar, a experiência do profeta Elias, na primeira leitura de hoje, é também a nossa. Em um mundo onde a violência é onipresente, o profeta se encontra no deserto, desanimado da vida; ele pede mesmo para morrer: "Chega, Javé! Tira a minha vida, porque eu não sou melhor que meus pais" (1Re 19,4). Por outro lado, Deus, pelo seu anjo, alimenta o profeta Elias com seu Pão da Vida, isto é, da sua própria vida, para que Elias possa atravessar seu deserto, durante 40 dias e 40 noites, o tempo necessário para a conversão e a transformação para, finalmente, alcançar o Horeb, a montanha de Deus, onde Elias reencontrara Deus na brisa suave e não nas tormentas e nas grandes mudanças da vida.

Não é também a nossa experiência, neste mundo de violência onde Deus parece ausente de nossas vidas? Será que talvez nós também tenhamos os nossos desertos a atravessar? Alimentados do Pão da Vida, alimentados do Cristo Ressuscitado e vivo, sejamos atentos às brisas suaves; elas são muitas, mas discretas, de modo que podemos passar a vida toda sem nunca percebê-las. É somente aí que nós podemos reencontrar Deus. O Pão da Vida, que às vezes é a Palavra de Deus e às vezes a Eucaristia, pode nos ajudar a detectar a presença discreta do nosso Deus na assembleia dominical em que somos convidados a cada semana. Comendo esse Pão da Vida, nós nos tornamos Pão da Vida para os outros.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A razão em fase de larva e de casulo - Leonardo Boff

por Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

"O processo da borboleta nos oferece uma sugestiva metáfora. A borboleta não nasce borboleta. Ela é no início  um simples ovo que se transforma numa larva, devoradora insaciável de folhas. Depois ela se enrola sobre si mesma na forma de um casulo (crisálida). Dentro dele, a natureza tece seu corpo e desenha suas cores. Quando tudo está pronto, eis que se rompe o casulo e emerge esplêndida borboleta", escreve Leornardo Boff, filósofo, teólogo e escritor.
Segundo ele, "nós estamos ainda no estágio de larva e casulo. Larva, porque, dia e noite, devoramos a natureza; casulo, porque  fechados sobre nós mesmos, sem ver nada ao nosso redor".
Eis o artigo.
Quem leu meus últimos textos sobre ecologia e a situação dramática da Terra, colheu talvez a impressão de pessimismo. Não pode ser pessimista quem se dá conta dos reais riscos que pesam sobre nosso destino. Devemos honrar sempre a realidade. Mas, ao mesmo tempo, cumpre alargar a compreensão da realidade. Esta é maior do que se mostra pois o potencial é também parte do real. Há sempre uma reserva utópica, presente em todos os eventos. Se compreendermos a realidade assim enriquecida, não se justifica um pessimismo fechado, mas um realismo esperançador. Este capta a eventual irrupção do novo, escondido dentro do potencial e do utópico. Este novo faz então história e funda um outro estado de consciência e inaugura um ensaio social diferente.

Ademais, se tomarmos distância e medirmos nosso tempo histórico com o tempo cósmico, teremos mais razões ainda para a esperança. Se condensarmos num ano o tempo cósmico, os 13,7 bilhões de anos - a idade presumida de nosso universo -  notaríamos que como humanos existimos há apenas uma pequeníssima fracção de tempo. Assim, a 31 de dezembro às 17.00 horas nasceram nossos antepassados pré-humanos. A 31 de dezembro às 22.00 horas entrou em cena o ser humano primitivo. A 31 de dezembro às 23 horas, 58 minutos e 10 segundos surgiu o homem de hoje chamado de sapiens sapiens. A 31 de dezembro às 23.00 horas, 59 minutos e 56 segundos nasceu Jesus Cristo. A 31 de dezembro às 23.00 horas 59 minutos e 59,2 segundos Cabral chegou ao Brasil.

Como se depreende, somos temporalmente quase nada.

Além disso, setomamos em conta as 15 grandes dizimações que a Terra conheceu, especialmente, aquela do Cambriano, há 570 milhões de anos, na qual entre 75-90% do capital biótico desapareceu, verificamos que a vida sempre resistiu e sobreviveu. E se nos concentramos apenas no ser humano, sobreviveu sempre às muitas glaciações. Mais ainda,  ocorreu um processoaltamente acelerado de encefalização. A partir  de 2,2 milhões de anos emergiram, sucessivamente, o homo habilis, erectus, e nos últimos cem mil anos, o homo sapiens,  já plenamente humano. Seus representantes eram seres sociais, se mostravam cooperativos e manejavam a fala, característica humana.

No arco de um milhão de anos, o cérebro destes três tipos de homo duplicou em volume. Após o aparecimento do homo sapiens, surgido há 100 mil anos, o cérebro não mais cresceu. Não havia mais necessidade, pois surgiu o cérebroexterior, a inteligência artificial que é a capacidade de conhecer, criar instrumentos e artefatos para transformar o mundo e criar cultura, característica singular do homo sapiens sapiens.

A partir do neolítico, cerca de dez mil anos atrás, surgiram as primeiras cidades que deram origem à cultura elaborada, ao estado, à burocracia e também à guerra. Começou também uma sistemática utilização da razão instrumental para dominar a natureza, conquistar e subjugar os outros. Obviamente lá estavam também outros tipos de razão como a emocional, a simbólica e a cordial, mas submetidas à regência da razão instrumental  que desde então assumiu a hegemonia, até a sua culminância em nosso tempo, razão, a um tempo, criativa é também destrutiva.

O processo da borboleta nos oferece uma sugestiva metáfora. A borboleta não nasce borboleta. Ela é no início  um simples ovo que se transforma numa larva, devoradora insaciável de folhas. Depois ela se enrola sobre si mesma na forma de um casulo (crisálida). Dentro dele, a natureza tece seu corpo e desenha suas cores. Quando tudo está pronto, eis que se rompe ocasulo e emerge esplêndida borboleta.

Nós estamos ainda no estágio de larva e casulo. Larva, porque, dia e noite, devoramos a natureza; casulo, porque  fechados sobre nós mesmos, sem ver nada ao nosso redor.

Qual a nossa esperança? Que a razão rompa o casulo e emerja qual razão-borboleta. Talvez a situação atual  de alto risco force o nascimento da razão-borboleta. Ela zizagueia por ai, não é destrutiva mas cooperativa, pois poliniza as flores.

Estamos ainda em gênese. Não acabamos de nascer. Nascidos, vamos respeitar e  conviver com todos os seres. Teremos para sempre superado a fase de larva e de casulo. Como borboletas, seremos portadores da razão sensata que nos concede termos um futuro sem ameaças junto com  a Terra..

Plataforma ambiental é lançada para eleições 2012

A reportagem é de Fernanda B. Mûller e publicada pelo sítio Instituto CarbonoBrasil.

Documento apresenta os principais pontos da agenda socioambiental que precisam ser abordados pelos políticos e visa apoiar o cidadão na escolha de seus candidatos e também na cobrança de promessas. Nesta quarta-feira (1), a Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com a Frente Parlamentar Ambientalista e a Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente (ANAMMA), lançou a Plataforma Ambiental aos Municípios 2012.

O documento apresenta os principais pontos da agenda socioambiental que precisam ser discutidos, respondidos e solucionados pelos próximos dirigentes dos municípios, como o cumprimento efetivo da Lei da Mata Atlântica.

Um dos instrumentos que andam de braços dados com a Plataforma Ambiental é o Plano Municipal da Mata Atlântica, que em 2011 foi produzido em João Pessoa e Maringá, e em 2012 será construído em diversos outros municípios.

"A Plataforma é um importante instrumento de apoio ao cidadão. Os eleitores precisam cobrar de todos os candidatos uma atenção especial a uma agenda socioambiental que atenda as necessidades da população para o desenvolvimento sustentável do Brasil", afirma Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica.

Ela funciona como um instrumento do eleitor, contribuindo no momento da escolha de seu candidato e na hora de cobrar propostas e resultados; e também é útil aos candidatos, que poderão utilizá-la e incorporar os temas em seu Plano de Governo.

De acordo com os idealizadores, qualquer cidadão interessado pode participar dessa iniciativa. "A campanha convoca os eleitores a entregar o documento a seus candidatos, pessoalmente, por email ou correio, e pedir o comprometimento público deles. Hoje a internet possibilita de forma muito mais fácil o acesso de muitas pessoas a uma iniciativa. Mas o mais importante é refletir sobre o seu voto e acompanhar de perto a atuação de seu candidato, caso eleito. Só assim essas ferramentas serão realmente implantadas", finaliza Mantovani.

O documento estará disponível a partir desta quarta-feira no Portal da SOS Mata Atlântica. Nas próximas semanas, a Plataforma Ambiental também será apresentada em capitais brasileiras, como Salvador e Natal.

A Mata Atlântica, que foi  reduzida a 7,9% de sua cobertura original, abrange as áreas mais urbanizadas do país e abriga mais de 112 milhões de habitantes, 62% da população brasileira. A Lei da Mata Atlântica representa um importante passo para a proteção, conservação e utilização da vegetação nativa, bem como dos serviços ambientais e ecossistêmicos prestados pelo Bioma.

A Plataforma

O documento é composto por cinco agendas principais: Água e Saneamento, Incentivos Econômicos e Fiscais, Biodiversidade e Florestas, Mudanças Climáticas e Institucional. São dois documentos principais: uma versão da Plataforma Ambiental para o Brasil e uma específica para os Estados da Mata Atlântica, que possuem os mesmos eixos.

O documento sugere que os candidatos debatam e se posicionem para garantir que o componente ambiental seja levado em consideração em todas as áreas de políticas públicas federais, construindo uma economia para o país, que tenha o socioambiental como premissa. Sobre licenciamento ambiental, a Plataforma sugere que esses processos sejam realizados a partir de critérios técnicos, com qualidade, responsabilidade, transparência e agilidade, e que os casos de empreendimentos com grande potencial de impactos negativos sejam precedidos por uma Avaliação Ambiental Estratégica.

Também são mencionadas a importância de incentivar a redução da demanda de energia oriunda de fontes fósseis (petróleo, gás e carvão), por meio de incentivos e subsídios ao desenvolvimento de energias renováveis, a economia de baixo carbono e a criação e integração das ferrovias e hidrovias no transporte de cargas. Na área de Água e Saneamento, o documento pede a criação de políticas públicas orientadas para captação de água das chuvas e aumento da permeabilidade dos solos em todas as bacias hidrográficas do país e o fortalecimento da organização de cooperativas e/ou associações de catadores.

Nas áreas de Biodiversidade e Florestas e Incentivos Econômicos e Fiscais, a Plataforma aponta a necessidade de garantir a integralidade e proteção dos territórios das atuais unidades de conservação. Hoje, há no Congresso Nacional mais de 60 projetos para diminuir essas áreas. Há destaque ainda para o estabelecimento de medidas voltadas à proteção das espécies da flora e da fauna silvestres, especialmente as ameaçadas de extinção, a implementação da Política Nacional de Biodiversidade e incentivos econômicos e fiscais para proprietários de terra que manterem suas áreas preservadas, assim como a aprovação da Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).

Histórico

O histórico de realização de plataformas ambientais para políticas públicas pela SOS Mata Atlântica é antigo, com a primeira Plataforma Mínima para os Presidenciáveis produzida em 1989.

Em 2010, por exemplo, a Fundação lançou a Plataforma Ambiental para candidatos a cargos executivos e legislativos, oferecendo um cardápio das principais questões ambientais da atualidade.

Em 2008, a Plataforma Socioambiental trouxe 16 temas - como trânsito, áreas verdes, lixo e qualidade do ar - para o cenário da cidade de São Paulo.

Já em 2006, o Voluntariado construiu uma Agenda Voluntária, na forma de um teste que permitia verificar o nível de compromisso dos representantes políticos com a agenda socioambiental.

Os povos indígenas e a Comissão Nacional da Verdade

por Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

"O mês de julho tem sido de duros e doloridos golpes. Mortes súbitas de lutadores imprescindíveis na luta pelos direitos indígenas, em especial os Kaiowá Guarani. Reitero minha homenagem ao companheiro guerreiro Antonio Brand, ao Zezinho de Laranjeira Nhanderu, à liderança de incansáveis  lutas pelo tekoha Mbarakaí, Adelio Rodrigues. Diante da cruel Portaria 303, que o governo a revogue imediatamente e não apenas postergue seus efeitos mortíferos. Mas julho também foi um mês de esperanças. Os regionais Norte 1 e Mato Grosso fizeram emocionantes celebrações dos 40 anos do Cimi. É animador sentir o entusiasmo da companheirada, apesar dos enormes desafios que se vislumbram. Os Kaiowá Guarani realizaram importante Aty Guasu, no rancho Jacaré, e os jovens Terena fizeram sua primeira grande Assembleia. Os ventos de agosto já estão chegando. E com ele muito pó e um frio aconchegante", escreve Egon Heck, Cimi-MS, ao nos enviar o artigo que publicamos a seguir.

Eis o artigo.
"Os vários assassinatos de nossas lideranças, nosso Sangue e nossas Lágrimas, a destruição de nossos territórios, tudo não tem preço. Dinheiros algum apagarão as nossas dores e lágrimas derramadas.

Por essa razão,
Não vamos nos calar diante de assassinatos e ameaças de extinção de nossos povos e violações de nossos direitos humanos. Não negociamos nossos direitos conquistados com a nossas lutas e mortes".
(Documento da Aty Guasu do Rancho Jacaré-julho 2012)

"Sugiro a constituição de subgrupos de trabalho para algumas questões mais relevantes, dentre as quais a questão indígena. São milhares deles mortos e desaparecidos durante esse período da ditadura militar. Nunca se abordou com a merecida seriedade e profundidade  o que se tem passado com os povos indígenas neste período", disse Rose Nogueira do grupo Tortura Nunca mais, de São Paulo. O grupo liberou uma pessoa para trabalhar especificamente os documentos  que tratam das violências contra os povos indígenas neste período. Maurício reforçou a importância de se aprofundar essa questão, sendo a Comissão Nacional da Verdade, um importante instrumento para tanto. E transmitiu uma certa descrença manifestada por uma liderança indígena:"essa aí é mais uma comissão de brancos!"

Egydio Schwade, que foi o primeiro secretário executivo do Cimi, reforçou a denúncia da morte de mais de 2 mil Kiña- Waimiri Atroari, no período de 1970 a 1973, durante a construção da rodovia BR 174, que atravessou o território desse povo. Informou também que já reuniu mais de 150 documentos que comprovam esse massacre, mas manifestou sua esperança de que esse processo da Comissão Nacional da Verdade, traga luzes e divulgue para a sociedade nacional e mundial esses crimes. No decorrer do dia ele deu várias entrevistas à imprensa sobre o assunto e sentiu-se gratificado por ter encontrado muitas pessoas interessados nessa causa e que certamente irão somar nessa busca da verdade e da justiça.
Das muitas sugestões, analises e observações manifestados pelos representantes de entidades de luta pelos direitos humanos em todo o país, houve muita insistência de que a Comissão da Verdade é apenas mais um instrumento na árdua luta que a sociedade civil tem pela frente para evitar que não se repita o terrorismo do Estado e que se conheça a verdade e faça justiça.

Esse primeiro encontro realizado no anexo do Palácio do Planalto, em Brasilia, reunindo dezenas de entidades é apenas uma das inúmeras atividades que a Comissão pretende realizar nesses dois anos que tem para atuar e produzir um relatório.

Mais de cinco milhões de mortos e desaparecidos
Se a Comissão Nacional da Verdade quiser mesmo levar a sério uma investigação sobre os indígenas mortos e desaparecidos, torturados e violentados em sua dignidade, terá pela frente um enorme desafio de começar fazer justiça a esse genocídio secular e atual de povos indígenas no Brasil.

Essas não são apenas práticas e violências do regime ditatorial militar. São realidades vivenciadas pelos povos indígenas hoje, e em especial   os Kaiowá Guarani durante quatro séculos e que perdura até os dias atuais.

Embora não se possa afirmar categoricamente que os indígenas por ocasião da invasão do atual território brasileiro, eram  6 milhões de pessoas, esse é uma aproximação de população que fez Darci Ribeiro, e que nos parece ter maior consistência. O mesmo antropólogo estimou a população indígena na década de sessenta,  em menos de 100 mil.  Significa dizer que foram mais de cinco milhões de indígenas que desapareceram, pelos inúmeros mecanismos de extermínio e morte, desde as guerras justas até os envenenamentos e difusão de surtos de epidemias que dizimavam aldeias inteiras. Foram centenas de povos exterminados.

E  não é coisa do passado. Temos no Brasil mais de 70 grupos indígenas em estado de isolamento voluntário que atualmente correm sérios riscos de extermínio diante do avanço acelerado das frontes de expansão agrícola, mineral, geopolíticas... Quem sabe seria esse um momento importante de,  uma vez por todas começar a passar a limpo  a história desse país, a partir dos povos indígenas, dos negros, dos descartáveis, pelo sistema colonial e o sistema capitalista atual.

Quando a polícia quer
Na semana que passou uma boa notícia veio com a conclusão do inquérito do assassinato do cacique Nisio Gomes. A conclusão foi a que testemunhas oculares afirmaram, tanto indígenas como dos réus, de que o cacique foi morto a tiro, arrastado até uma camionete pelos assassinos e levado para algum esconderijo, no Brasil ou no Paraguai, não tendo sido localizado até hoje.

Segundo o  relatório anterior conduzido pela polícia federal regional, não haveria provas de que o cacique teria sido assassinado,  e que deveria estar escondido em algum lugar. O relatório acusa o filho de Nisio, o Valmir de ter prestado depoimentos falsos.

Aos leitores  não  restam dúvidas sobre as razões do desvirtuamento e falta da verdade contida no primeiro relatório. Fica demonstrado que quando a polícia quer, com isenção, esclarecer esse e outros tantos bárbaros crimes contra os indígenas, isso acontece. Esperamos agora que se faça justiça, que se localize o corpo do Nisio, bem como do Rolindo e que se conclua com seriedade e agilidade as dezenas de inquéritos inconclusos dos assassinatos de lideranças Kaiowá Guarani no Mato Grosso do Sul.

Que a Comissão da Verdade venha ao território Kaiowá Guarani e contribua com os processos de elucidação de centenas de assassinatos, desaparecimentos e torturas contra esse povo.

Amós, a luta contra a injustiça social e o juízo iminente

por Frei Gilvander Moreira

"O discurso de Amós menciona, talvez, um passado histórico não identificável nem pela forma e nem pelo conteúdo do texto. As pragas do tempo do Êxodo feriam o Egito, não Israel, e de uma maneira diferente da relatada no livro de Amós capítulo 4. Além do mais, as tais "pragas" eram no mundo antigo, e são ainda nas culturas rústicas, o resultado obrigado de situações críticas naturais ou políticas: a fome é o resultado de toda estiagem prolongada e peste nas plantações, assim como a morte dos jovens (Am 4,10) é o efeito de toda batalha militar, no mundo antigo e moderno", escreve Gilvander Luís Moreira, frei e padre Carmelita, mestre em Exegese Bíblica e professor de Teologia Bíblica.

Eis o artigo.
Provavelmente as composições mais antigas do livro do profeta Amós, na Bíblia obviamente (Amós 1-6; 7-9) datam de meados do século VIII a.C., e surgiram como literatura de protesto e resistência. "O acento principal da mensagem de Amós está na crítica social e no anúncio de um juízo iminente de Deus na história, bem como na tênue, mas clara exigência do restabelecimento da justiça como alicerce das relações sociais"[1].
Amós é um profeta precursor, radical, exemplar e paradigmático. A profecia de Amós é, em certo modo, um divisor de águas na história da profecia no sentido de que instaura um novo jeito de ser profeta. O livro de Amós está organizado em duas grandes unidades literárias: I) Am 1-6: Palavras e II) Am 7-9: Visões.
Am 4,4-13 nos ajuda a refletir sobre três aspectos fundamentais da ética profética, intimamente entrelaçados. Esses são: a) a concepção de pecado em relação ao culto; b) em relação à história; c) e os limites de uma possível reconciliação com Deus. A pergunta que se coloca na base e no fim do estudo de Am 4,4-13[2] é: Trata-se de um anúncio de punição in extremis diante da incapacidade de Israel de reagir, ou de uma velada promessa de perdão? Ou existe uma outra interpretação possível?
A declaração final de Javé - Deus solidário com os pisados e libertador dos oprimidos - ao ser humano que fecha a unidade Am 4,4-13 constitui-se quase como uma nova revelação do Sinai, que deve por fim ao conflito entre o ser humano e a divindade, em favor do ser humano. As punições didáticas de Javé deixam lugar a um esclarecimento que abre o coração do ser humano para que veja o conjunto da sua história e possa render-se conta do seu processo de endurecimento.
Am 4,4-13 evoca, portanto, uma situação na qual há certa semelhança com aquela do relato das pragas do Egito, mas não é obviamente, a recordação daqueles fatos. O discurso de Amós menciona, talvez, um passado histórico não identificável nem pela forma e nem pelo conteúdo do texto. As pragas do tempo do Êxodo feriam o Egito, não Israel, e de uma maneira diferente da relatada no livro de Amós capítulo 4. Além do mais, as tais "pragas" eram no mundo antigo, e são ainda nas culturas rústicas, o resultado obrigado de situações críticas naturais ou políticas: a fome é o resultado de toda estiagem prolongada e peste nas plantações, assim como a morte dos jovens (Am 4,10) é o efeito de toda batalha militar, no mundo antigo e moderno.
Às pragas ou punições descritas se reúnem ainda a menção a Sodoma e Gomorra. O discurso de Amós 4 quer, portanto, dar conta de toda a antiga história de Israel, também de Israel patriarcal, para aplicá-la a uma nova situação.
Um ponto particular de relação com o Êxodo é a presença do refrão "mas não retornastes a mim" que estrutura o texto de Amós 4,4-13. Assim, como no relato das pragas o endurecimento do coração do Faraó é o motivo estruturante que faz aumentar as pragas.
No relato do Êxodo, um primeiro grupo de textos, atribuídos tradicionalmente à fonte Javista (J), apresenta de fato Faraó como responsável pelo seu próprio endurecimento, como havia predito Deus (Cf. Ex 7,14.22; 8,11.15.28; 9,7.34). O outro grupo de textos (os chamados "heloístas") atribui a obstinação ora a Faraó (Ex 9,35) ora a Deus mesmo (Ex 10,20.27). O relato sacerdotal (P) o atribui habitualmente a Javé.
Esta diversidade de concepção no atribuir a responsabilidade pelo pecado aparece também em outros textos fora do Êxodo, com diferente vocabulário e problemática. Em 2º Samuel 24,1, Javé é o responsável direto pelo pecado de Davi devido ao recenseamento. Segundo 1º Crônica 21,1 a responsabilidade é, ao invés, de Satanás. O verbo hebraico usado é o mesmo: swt (= incitar, seduzir).
Tanto em Êxodo como em Am 4,4-13 se coloca um grande problema exegético e teológico: É possível e legítimo que Deus continue a aplicar punições que levam a um endurecimento sempre crescente? Não se comporta Javé assim como o pai que exagera, com sua punição, ao seu filho e força-o a se rebelar (Cf. Efésios 6,4)?
É necessário reconhecer que por trás dos textos bíblicos de endurecimento há o mistério da liberdade humana e da "onipotência" divina. Em relação a Deus, há uma consciência profética que as obras e a Palavra de Deus não podem permanecer sem efeito (Cf. Isaías 55,11), mas é sempre eficaz (não eficiente). Se não produzem imediatamente a conversão, devem amadurecer o sujeito para uma nova prova, o que, em última análise, não exclui a possibilidade de conversão.
Em relação à pessoa punida, há uma consciência do fato que a exortação à conversão, quando não ouvida, se torna uma condenação. Isto é, nada mais, nada menos, que a dinâmica das relações interpessoais. Quando duas pessoas percebem uma mútua existência começa uma comunicação humana, que pode progredir, parar ou, eventualmente, morrer. Mas enquanto existe, cada ação e reação levam à evolução ou diminuição daquela relação. Todo ato (ou omissão) nas relações interpessoais somam e cultivam a relação ou a empobrece descultivando-a. Nenhuma atitude fica neutra.
De modo semelhante, na relação do ser humano com Deus, cada ação que não melhora a relação, a piora, mas jamais a deixa igual. Se não se aceita um convite à conversão, como uma oferta de amizade, o recusa. Por um lado, esta recusa tornará mais difícil que aconteça um novo convite.[3] E de outra parte quem recusou dificilmente voltará atrás para aceitar uma nova oferta, o que implicaria em reconhecer o erro precedente, o que é mais difícil.
Em relação aos profetas e profetisas, este processo se explica na medita em que os/as  "intérpretes de Javé" sabem do paradoxo da missão deles/as. Os profetas e profetisas sabem que a palavra profética conduz, às vezes, à conversão de alguns poucos, mas na maioria das vezes leva ao endurecimento de muitos. Os oráculos de condenação no futuro, pronunciados com absoluta segurança, implicam nos profetas a consciência que a advertência seria inútil.
A consciência que os profetas e profetisas têm das três realidades descritas acima se apresenta, de modo muito claro, em Isaías 6,9-11: "Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e faze-lhe pesados os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os seus olhos, e não ouça com os seus ouvidos, nem entenda com o seu coração, nem se converta e seja sarado. Então disse eu: Até quando Senhor? E respondeu: Até que sejam desoladas as cidades e fiquem sem habitantes, e as casas sem moradores, e a terra seja de todo assolada".
Em Am 7,14, o profeta Amós se recusa a ser considerado profeta, nos termos do sacerdote Amasias, cúmplice de um poder político opressor. Amós se define como "vaqueiro" e cultivador de sicômoros. Em Am 7,15, Amós parece ser um pastor que cuida do rebanho miúdo (ovelhas e cabras), mas não um vaqueiro. Em Am 7,10-17[4] não há a intenção primeira de descrever pessoalmente a profissão do profeta, mas enfatiza o fato de que Amós foi retirado da sua vida precedente, do seu mundo, das preocupações domésticas para proclamar a Palavra de Deus.
Am 7,10-17 quer legitimar o conteúdo da profecia de Amós e ajudar a comunidade superar todos os preconceitos que possam existir contra o profeta por causa da sua origem humilde, como se fosse um "nordestino", um sem-terra, um sem-casa, um menor de rua, um portador de HIV, um homossexual etc. O relato de Am 7,10-17 quer nos dizer que a profecia vem da margem, da periferia, do meio dos marginalizados e excluídos. São estes, por excelência, os "intérpretes de Javé".
Na Bíblia este "gênero" é utilizado para descrever de maneira diferente as vocações de Moisés, Gedeão, Eliseu e Saul. Mas uma estreita relação se encontra em 2º Samuel 7,8. Natã transmite a Davi a mensagem de Javé: "Eu te tirei das pastagens, pastoreavas as ovelhas". O elemento que caracteriza estas situações não é o fato do convocado pertencer a um grupo, mas, ao contrário, o fato dele ser um "de fora", um excluído. Assim Am 7,14 quer exprimir a distância de Amós das formas institucionais da profecia e dos profetas "da corte".
O relato do confronto entre o sacerdote Amasias e Amós (com a implicada presença do rei) oferece a justificação da decisão de Javé. O povo não somente não ouviu as diversas palavras transmitidas pelo profeta Amós, mas decidiu silenciá-lo, expulsando-o para sua terra. Já não há nada mais a esperar senão o fim definitivo, e diante desse resta somente a lamentação. O profeta anuncia a necessidade de conversão; pede perdão a Deus pelo povo; pede para parar a punição. O rei (e a monarquia) e o Templo expulsam o profeta, silenciando-o. O povo sofrerá muito mais. Ai de um povo que não escuta seus profetas e profetisas, e pior ainda, que os persegue, expulsa e os silencia.
A perícope de Am 7,10-17 revela a interpretação que setores da classe dominante tinham do conteúdo da profecia de Amós. Aos olhos da elite, o profeta é um "conspirador", interessado em "golpe de estado". Para Javé e o povo empobrecido Amós é um profeta, porta voz do Deus da vida para todos e tudo. Para a elite ele é um "subversivo", um agitador.
Em Am 4,1-3 temos a seguinte profecia:
"OUVI esta palavra, vacas de Basã, que estais sobre o monte de Samaria, que oprimis os fracos, que esmagais os excluídos, que dizeis aos vossos senhores: "Trazei-nos o que beber!". O Senhor Javé jurou, pela sua santidade: sim, dias virão sobre vós, em que vos carregarão com ganchos e a vossos descendentes com arpões (de pesca). E saíreis pelas brechas que cada uma tem diante de si, e sereis empurradas em direção ao Hermon, oráculo de Javé".
Segundo uma interpretação tradicional, Am 4,1-3 seria uma investida do profeta Amós contra as mulheres ricas de Samaria, designadas como "vacas de Basã", mulheres de personagens importantes, que ocupam o tempo em luxuosos banquetes, e ao mesmo tempo são responsáveis pela opressão e exploração dos empobrecidos. A imagem de um banquete só de madames é, no mínimo, algo curioso em uma sociedade reconhecidamente machista e patriarcal, assim como atribuir às mulheres a responsabilidade pela opressão e pela injustiça.
A região de Basã, como o Líbano e o Carmelo, é famosa pela fertilidade do solo. A tristeza causada pela punição divina se manifesta na debilidade do Líbano, do Basã, do Carmelo e do Saron (Cf. Isaías 33,9). Ao contrário, a generosidade divina se expressa no nutrimento do povo com a "manteiga das ovelhas e dos touros de Basã" (Cf. Deuteronômio 32,14). O anúncio messiânico, com o qual se conclui o livro de Miquéias, inclui a promessa de um pasto abundante "em Basã e em Galaad, como nos dias antigos (Cf. Miquéias 7,14). No ambiente de louvor do Salmo 68 o "Basã" são os montes (Sl 68,16) que testemunham, junto com o Sinai e a natureza, a grandeza das obras de Javé. Logo integrar "Basã" em uma imagem depreciativa é algo estranho ao uso corrente de "Basã" na Bíblia.
De "vaca de Basã" não se fala em nenhum outro lugar no Primeiro Testamento da Bíblia. As montanhas de Basã são famosas pelos seus touros, cabritos e carneiros (mas não vacas; cf. Dt 32,14). Por isso os touros de Basã podem ser imagens dos inimigos poderosos (cf. Salmo 22,13 e, sobretudo, Ezequiel 39,18).
A expressão "vacas de Basã" adquire um sentido mais verdadeiro dentro da cultura bíblica se o termo "vacas" não for utilizado em relação a mulheres, mas a homens, aqueles que quiseram ser como os touros de Basã, pela força deles, autoridade e dignidade se tornaram "vacas", com as conotações depreciativas que as formas femininas podem ter no Primeiro Testamento.
Neste contexto, os "seus senhores" (Am 4,1b, com sufixo masculino) se referem provavelmente não aos "maridos", como propõem algumas traduções, um uso pelo qual não se tem nenhuma outra ocorrência, mas refere-se a uma pessoa de mais autoridade (política). "Senhor", além do freqüente uso como título divino, se refere a Acab (2 Reis 10,2.3.6), ao Faraó (Gênesis 40,1), ao Rei da Babilônia (Jeremias 27,4), e em casos isolados a várias pessoas: "outros senhores..." (Isaías 26,13).
Na profecia de Amós está "uma crítica veemente e contundente aos agentes e mecanismos de exploração e opressão dos camponeses empobrecidos sob o governo expansionista do rei Jeroboão II e sob as condições de um incremento de relações de empréstimos e dívidas entre pessoas do próprio povo no século VIII a.C."[5]. Em outros termos, o profeta Amós não apenas critica pessoas corruptas, mas questiona também de modo muito forte o sistema gerador de pessoas corruptas. Não somente as mazelas pessoais estão na mira do "camponês" que entrou para a história como um grande profeta. Amós tem consciência de que o problema fundamental da injustiça reinante na sociedade não é fruto somente de fraquezas e ambigüidades pessoais, mas tem como causa motriz estruturas sócio-econômico-político-cultural e religiosas que engrenam uma máquina de moer pessoas. Na mira do profeta Amós também estão relações comerciais que causam endividamento, aprisionam pessoas e escravizam, retirando a liberdade de ser pessoa humana.
Além das denúncias sociais, a profecia de Amós destaca-se com o anúncio de um juízo iminente de Javé na história do seu povo. Amós inverte as expectativas quanto a um tão sonhado "dia de Javé" (Am 5,18-20). Este não será mais uma "ideologia de segurança político-religiosa" pelos fortes de Israel. A perversão da justiça para os pobres, a opressão dos empobrecidos e a exploração das pessoas mais enfraquecidas clama pelo juízo divino. O "dia de Javé" será um "dia mau" sobre os fortes de Israel, sobre o estado tributário, suas instituições e seus agentes.
Amós critica com coragem a "corrida armamentista" de Israel. Ele anuncia que serão desmanteladas as forças militares dos estados vizinhos (Amós 1,5.8b.14b; 2,2b) e sobretudo de Israel (Amós 2,13-16; 3,11b; 5,2-3; 6,13-14).
O profeta Amós denuncia duramente também as instituições religiosas que estão justificando o processo de extorsão de tributos da população camponesa (Am 4,4-5; 5,21-23). Pelo conluio com a opressão econômica a religião oficial também será dizimada (templos) e seus agentes (Am 5,27; 7,9; 9,1).
"Odeiem o mal e amem o bem: restabeleçam no portão a justiça!" (Am 5,15). "Aqui está a exigência positiva por excelência na profecia de Amós. Os israelitas são conclamados a reconstruir as relações sociais baseadas na justiça e no direito (mishpat / sedaqah - em hebraico). Só assim será possível escapar do juízo vindouro anunciado. O futuro de um "resto" passa pela prática de Justiça"[6]. O juízo abre caminho para a justiça. A presença dos profetas e profetizas no meio do povo deixa Javé livre de qualquer responsabilidade diante da punição que o povo merece.  Não precisa nem explicitar a atualidade da profecia de Amós. Que cada leitor/a faça as atualizações necessárias.