Menu

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Os termos da discussão ecológica atual. Artigo de Leonardo Boff



"A Rio+20 mostrou que os países industrializados não querem abdicar da sua posição; os países emergentes querem alcançar os industrializados; e os países pobres querem ser emergentes. Enquanto não houver entendimento acerca dos limites do planeta, inútil pensar em justiça social e desenvolvimento econômico. Por conseguinte, o ambiente é mais importante que o social e o econômico, já que sem ele não se pode encontrar solução para os outros dois. Por outro lado, o conceito de ecodesenvolvimento parece ser o mais correto enquanto tática e estratégia", escreve Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor, ao reproduzir um artigo de Arthur Soffiati.
Eis o artigo.
A Rio+20 provocou vasta discussão sobre questões ecológicas. Nem todos entendem os termos técnicos da temática. Publicamos aqui um artigo do mais conhecido ecologista do estado do Rio de Janeiro, Arthur Soffiati, de Campos de Goytacazes-RJ, fundador do Centro Norte Fluminense para a Conservação da Natureza e publicada no dia 14 de maio de 2012 na Folha da Manhã daquela cidade. Eis a palavras principais: ecodesenvolvimento, desenvolvimento sustentável, economia verde, pegada ecológica, antropoceno.
Há cerca de 11 mil anos, a temperatura da Terra começou a se elevar naturalmente, produzindo o derretimento progressivo da última grande glaciação. Grande parte da água, passando do estado sólido para o líquido, elevou o nível dos mares, separou terras dos continentes, formou ilhas, incentivou a formação de florestas e de outros ambientes. Os cientistas deram a esta fase nova o nome de Holoceno.
Nesses últimos 11 mil anos, restou dos Hominídeos apenas o “Homo sapiens”, que se tornou soberano em todo o planeta. Com um cérebro bem desenvolvido, ele foi desafiado pelas novas condições climáticas e domesticou plantas e animais, inventando a agropecuária, criou tecnologia para polir a pedra, inventou a roda, a tecelagem e a metalurgia. Logo a seguir, criou cidades, impérios, represas, drenagem e irrigação. Várias civilizações ultrapassaram os limites dos ecossistemas em que se ergueram, gerando crises ambientais que contribuíram para o seu fim.
Entra, então, o conceito de pegada ecológica. Ele se refere ao grau de impacto ecológico por um indivíduo, um empreendimento, uma economia, uma sociedade. A pegada ecológica das civilizações anteriores à civilização ocidental sempre teve um caráter regional, sendo reversíveis ou não. O ocidente foi a civilização que calçou as botas mais pesadas conhecidas até o momento. O peso começou com o capitalismo, que transformou o mundo.
A partir do século XV, a civilização ocidental (leia-se europeia) passou a imprimir marcas profundas com a expansão marítima. Impôs sua cultura a outras áreas do planeta. O mundo foi ocidentalizado e passou também a pisar fundo no ambiente.
Veio, então, outra grande transformação com a revolução industrial, cuja origem localiza-se na Inglaterra do século XVIII. Ela se expandiu pelo mundo, dividindo-o em países industrializados e países exportadores de matéria prima. A partir dela, começa a se criar uma outra realidade planetária, com emissões de gases causadores do aquecimento global, devastação de florestas, empobrecimento da biodiversidade, uso indevido do solo, urbanização maciça, alterações profundas nos ciclos de nitrogênio e fósforo, contaminação da água doce, adelgaçamento da camada de ozônio e extração excessiva de recursos naturais não renováveis, que, por sua vez, produz quantidades inauditas de lixo.
Os cientistas estão demonstrando que, dentro do Holoceno (holos = inteiro + koinos = novo), a ação humana coletiva no capitalismo e no socialismo provocou uma crise ambiental sem precedentes na história da Terra porque gerada por uma só espécie. Eles estão denominando o período pós-revolução industrial do século XVIII de Antropoceno, ou seja, uma fase geológica construída pela ação coletiva do ser humano (antropos = homem + koinos = novo).
Em função dessa grande crise ou dessa nova época é que a Organização das Nações Unidas vem promovendo grandes conferências internacionais, como as Conferências de Estocolmo (1972), Rio-92 e, proximamente, a Rio+20. O objetivo é resolver os problemas do Antropoceno, seja conciliando desenvolvimento econômico e proteção do ambiente, seja buscando outras formas de desenvolvimento. A Rio-92 adotou a fórmula do desenvolvimento sustentável, que ganhou diversos sentidos, inclusive antagônicos ao original.
A Conferência Rio+20 pretende colocar em pé de igualdade as dimensões ambiental, social e econômica. A palavra mágica, agora, é economia verde, cujo conteúdo não apresenta clareza. Supõe-se que, no mínimo, signifique a substituição progressiva de fontes de energia carbono-intensivas por fontes renováveis de energia, bem como a substituição de recursos não renováveis por renováveis.
A Rio+20 mostrou que os países industrializados não querem abdicar da sua posição; os países emergentes querem alcançar os industrializados; e os países pobres querem ser emergentes. Enquanto não houver entendimento acerca dos limites do planeta, inútil pensar em justiça social e desenvolvimento econômico. Por conseguinte, o ambiente é mais importante que o social e o econômico, já que sem ele não se pode encontrar solução para os outros dois. Por outro lado, o conceito de ecodesenvolvimento parece ser o mais correto enquanto tática e estratégia.
----------------------------------.

História da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil


  primeiros passos do anglicanismo no brasil


Os anglicanos celebram a sua liturgia em terras brasileiras desde 1810, através de várias capelanias espalhadas pelo país e subordinadas à Igreja da Inglaterra. Essas foram as primeiras igrejas não-romanas est abelecidas nestas terras.
Entretanto, a igreja voltada especialmente para os brasileiros começou intencionalmente em 1890. Foi nesse ano que dois missionários americanos, Lucien Lee Kinsolving e James Watson Morris, organizaram a missão em Porto Alegre. O primeiro culto foi realizado na tarde do dia 1o de junho de 1890, Domingo da Trindade, em Porto Alegre, na Rua Voluntários da Pátria, 387, numa ampla casa alugada, que ficou conhecida como Casa da Missão. Na época, a cidade tinha aproximadamente 60 mil habitantes. No ano seguinte, chegaram os missionários William Cabell Brown, John Gaw Meem e a professora Mary Packard. Esses cinco missionários podem ser considerados como os verdadeiros fundadores da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) em solo brasileiro. Em seguida, estabeleceram missões em Santa Rita do Rio dos Sinos (hoje Nova Santa Rita), Rio Grande e Pelotas. Essas três cidades e a capital do Estado logo se transformaram em importantes pontos estratégicos e centros irradiadores da expansão e do desenvolvimento da nascente igreja.

Desde o início, os missionários contaram com a imprescindível participação de muitos brasileiros. Entre esses intrépidos pioneiros e destemidos arautos do evangelho estão Vicente Brande, o primeiro a acolher os missionários em Porto Alegre; Américo Vespúcio Cabral, grande pregador e por isso conhecido como o "São João Crisóstomo brasileiro"; Antônio Machado Fraga, que ajudou a fundar a então Capela de Redentor em Pelotas, hoje catedral diocesana, e depois ele mesmo fundou o trabalho em São Leopoldo e Montenegro; Boaventura de Souza Oliveira, que se juntou aos missionários ainda em São Paulo para vir ao sul com a família; Júlio de Almeida Coelho, que trabalhou a maior parte de seu ministério em Jaguarão e São Gabriel; Antônio José Lopes Guimarães, fundador da igreja em Bagé; e Carl Henry Clement Sergel, um ex-bancário inglês que ajudou William Cabell Brown a estabelecer a igreja no Rio de Janeiro e que construiu as igrejas de Santa Maria e Santana do Livramento. Esses pioneiros clérigos nacionais ajudaram também a implantar a igreja em Viamão (1895), Jaguarão (1898), Santa Maria (1900), Bagé (1903), São Leopoldo (1904), São Gabriel (1906), Rio de Janeiro (1908) e em muitas outras cidades e zonas rurais, principalmente no Rio Grande do Sul, onde se concentra a maior parte.

Muitos outros vieram depois e implantaram igrejas e capelas em vários lugares do território nacional, seguindo um movimento de expansão em direção ao norte.

o ministério episcopal no brasil
Em 1899, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil teve seu primeiro bispo na pessoa do Revmo. Lucien Lee Kinsolving. Agora, o tríplice ministério da Igreja (bispos, presbíteros e diáconos) estava completo. Em 1907, a nova missão brasileira se transformou em distrito missionário, vinculado à Conv enção Geral da Igreja Episcopal dos Estados Unidos. Em 1925, a Igreja teve o seu segundo bispo : o Revmo. William Matthew Merrick Thomas, um missionário que havia chegado ao Brasil em 1904. Primeiro como bispo sufragâneo e depois como bispo diocesano, Thomas consolidou o trabalho desbravado por Kinsolving. Mas o primeiro bispo brasileiro só veio em 1940, com a sagração do Revmo. Athalício Theodoro Pithan como bispo sufragâneo, quando a Igreja Episcopal completou 50 anos de atividades no Brasil. Com a aposentadoria do Bispo Thomas, foi sagrado nos Estados Unidos o Revmo. Louis Chester Melcher para ser nosso bispo coadjutor.

A Igreja crescia e as distâncias entre as comunidades locais aumentavam, dificultando o atendimento das paróquias e missões espalhadas por todo o país. Era preciso reorganizar o distrito missionário. Deu-se o início ao processo que resultou na divisão do distrito em três dioceses. Isso foi em 1950. A nova divisão era formada por três regiões eclesiásticas: Diocese Meridional, com sé em Porto Alegre (RS); Diocese Sul-Ocidental, com sé em Santa Maria (RS); e Diocese Central (hoje denominada Diocese Anglicana do Rio de Janeiro), com sé na ex-capital federal.
Em um primeiro momento, Dom Melcher assumiu a Diocese Central e Dom Pithan, a Diocese Meridional. Para a Sul-Ocidental, foi sagrado o Revmo. Egmont Machado Krischke. Já com três dioceses, deu-se o primeiro Sínodo, reunido em Porto Alegre, em 1952.
A aposentadoria do Bispo Pithan e a resignação do Bispo Melcher levaram à sagração de mais dois bispos: o Revmo. Plínio Lauer Simões, em 1956 e o Revmo. Edmund Knox Sherrill, em 1959. Ao primeiro, coube a Diocese Sul-Ocidental (já que Dom Krischke havia sido transladado para a Diocese Meridional com a aposentadoria de Dom Pithan) e ao segundo, a Diocese Central. Já estavam trilhados os passos que levariam à autonomia provincial do Anglicanismo brasileiro.

novos horizontes

Em 1965, veio a autonomia administrativa, quando a Igreja brasileira se transformou na 19a Província da Comunhão Anglicana e elegeu o seu primeiro bispo primaz na pessoa do Revmo. Bispo Egmont Machado Krischke. O processo de emancipação da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, até então dependente da igreja americana, se completou com a independência financeira adquirida em 1982.
Novas dioceses foram criadas após o desmembramento: Diocese Sul-Central (atual Diocese Anglicana de São Paulo) em 1969, Diocese Setentrional (atual Diocese Anglicana do Recife) em 1976, Diocese Missionária de Brasília (atual Diocese Anglicana de Brasília) em 1985, Diocese Anglicana de Pelotas em 1988, Diocese Anglicana de Curitiba em 2003 e Diocese Anglicana da Amazônia em 2006. Há, ainda, o Distrito Missionário do Oeste.
Mulheres começaram a ser ordenadas em 1985, após a decisão favorável à ordenação feminina do Sínodo de 1984. Atualmente, cerca de 30% do clero é composto por mulheres, as quais ocupam o diaconato e o presbiterado. Não há ainda mulheres-bispos, embora os cânones não impeçam sua existência.
Hoje, a IEAB tem templos, missões e instituições educacionais e assistenciais em mais de 150 diferentes localidades do país, boa parte localizada no Sul do Brasil. Ao longo de sua já centenária história, a Igreja do Brasil acumulou uma relação de mais de 100 mil membros batizados e 45 mil confirmados.
-
Adaptado dos livros “Notas para uma história da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil” de Oswaldo Kickhöfel e “A Igreja Militante”, de N. Duval da Silva























história do anglicanismo

dos primórdios até a idade média

As raízes da Igreja Anglicana estão na primitiva igreja cristã surgida na Inglaterra desde os tempos dos Pais da Igreja. Foram eles que disseminaram a mensagem do evangelho aos mais diferentes e longínquos lugares do mundo. Um desses lugares foram as Ilhas Britânicas, onde o Cristianismo chegou por volta do final do segundo e início do terceiro séculos da era cristã. Ali, se desenvolveu de maneira local e independente (a chamada Igreja Celta). No final do século VI, um grupo de 40 monges, chefiados por Santo Agostinho de Cantuária, chegou ao Reino de Kent – localizado no atual Sul da Inglaterra – para converter os anglo-saxões. Ao chegar lá, ele foi recebido por cristãos celtas da Igreja de São Martinho (a qual recebeu esse nome em homenagem a São Martinho de Tours), em Cantuária.
A Igreja Celta tinha simplesmente evitado as heresias cristológicas dos séculos IV e V, 
que foram sedimentadas no Concílio de Niceia, Efeso e Calcedônia. Em 603 d. C., Santo Agostinho chamou representantes da Igreja Celta numa tentativa de convencê-los a se submeter às práticas e disciplinas romanas, mas eles se recusaram. Santo Agostinho morreu em 605, mas a questão das diferenças entre a Igreja Britânica e a Igreja Romana continuou sendo motivo de controvérsias. Finalmente em 664, em Whitby, na Nortúmbria, a questão foi resolvida em Concílio, por votação, e através do decreto do rei Oswy.
A obra missionária iniciada por Santo Agostinho foi consolidada por Teodoro de Tarso, monge grego que foi enviado pelo Papa em 669 para tornar-se o sucessor de Agostinho como o segundo Arcebispo de Cantuária. Ele foi enviado para remover as características peculiares do cristianismo céltico e convocar o primeiro Sínodo nacional da Igreja na Inglaterra: O Concílio de Hertford (673).
Durante toda a Idade Média a Igreja Inglesa estava submetida à Igreja Romana. A Inglaterra, como os demais países da Europa, fazia parte e dava sustento ao sistema papal vigente, contudo devido à distância que a separava de Roma, desenvolveu-se desde muito cedo uma Igreja com características estatais e nacionalistas. A Igreja na Inglaterra sempre reclamou a sua independência histórica, e mesmo que durante 850 anos ela tenha sido nominalmente romana, a sua relação com o papado sempre foi conflituosa. Henrique VIII apenas separou a igreja autônoma que lá existia da tutela de Roma.

variabilidade litúrgica e teológica

A reforma inglesa do século XVI havia produzido três partidos ou tendências na Igreja da Inglaterra: o Broad Church Party (igreja ampla), o High Church Party (igreja alta) e o Low Church Party (igreja baixa).
A igreja alta foi revigorada no século XIX pelo Movimento de Oxford. Os anglo-católicos buscaram restaurar elementos teológicos e litúrgicos da Igreja Britânica Pré-Reforma. Usavam no culto público o uso de imagens, velas, crucifixo, incenso, água benta, invocação aos santos e confissão auricular. Foramvitais no renascimento das ordens monásticas anglicanas.
A igreja baixa primava pela simplicidade do cerimonial litúrgico e espírito evangélico de evangelização. Teologicamente, eram protestantes clássicos, reconhecendo certos elementos católicos como os sacramentos e o episcopado histórico. Os anglo-evangélicos foram os grandes responsáveis pelo reavivamento evangélico na Inglaterra e em outros países, com forte preocupação missionária.
 A igreja ampla era, de início, um grupo minoritário, mas muito influente devido às suas posições moderadas. Sempre foram o fiel da balança entre o ritualismo anglo-católico e o despojamento evangélico. Hoje, pode-se dizer que boa parte de nossas paróquias enquadra-se na igreja ampla.

 O Anglicanismo também é caracterizado por sua flexibilidade teológica. Por ser uma igreja não-confessional, é permitido aos anglicanos discordar em assuntos não-essenciais de nossa fé, descrita nos credos históricos. Também não possuímos um teólogo de vulto ou grande reformador, centrado no qual traçamos nossa teologia. Pelo contrário, lançamos mão do que escreveram grandes homens e mulheres cristãos, não necessariamente anglicanos, ao longo da história da Igreja.
O chamado tripé Escritura-Tradição-Razão é o cerne do modo de se fazer teologia anglicano. Simboliza que esses três elementos devem estar em equilíbrio constante, a fim de perceber o que o Espírito Santo está a dizer para a Igreja.

uma família de igrejas autônomas

Com a colonização da América, a a Igreja da Inglaterra (ou Igreja Anglicana) foi estabelecida em muitas colônias como a Igreja Estatal. A Igreja Episcopal Escocesa também havia desenvolvido vida própria. Depois que os Estados Unidos se tornaram independentes, a Igreja Anglicana naquele país se tornou uma denominação livre do poder civil, criando dioceses, paróquias e instituições, e tomando o nome de Igreja Episcopal dos Estados Unidos. Tanto a Igreja da Inglaterra quanto a Igreja Episcopal dos Estados Unidos iriam patrocinar diversos trabalhos missionários ao redor do mundo.
Com o surgimento de diversas províncias e igrejas nacionais na tradição anglicana, tornou-se necessário definir uma Comunhão Anglicana: uma família de igrejas anglicanas e episcopais em comunhão histórica com a Igreja da Inglaterra e especificamente com a Sé de Cantuária. A palavra anglicana, antes de significar inglês, representa uma grande família cristã internacional. Tal comunhão foi formada pelo desmembramento de trabalhos missionários e ex-colônias do mundo britânico, formando 44 igrejas nacionais ou regionais ao redor do mundo, e compreendendo mais de 160 países. Com cerca de 80 milhões de membros, a Comunhão Anglicana é a terceira maior denominação cristã do mundo, depois da Igreja Católica Romana e das Igrejas Ortodoxas.

Há atualmente três Instrumentos de Comunhão para a Comunhão Anglicana:
·         A Conferência de Lambeth, que se reúne a cada 10 anos, e é um ponto de encontro para os bispos da Comunhão Anglicana. Seu primeiro encontro foi em 1867.
·         Os Encontros dos Primazes são reuniões regulares para os arcebispos e bispos primazes das 38 províncias, os quais se reuniram pela primeira vez em 1979.
·         O Conselho Consultivo Anglicano se reúne a cada 3 anos aproximadamente, e inclui bispos, membros do clero e laicato, selecionados pelas 38 províncias da Comunhão Anglicana. Reuniu-se pela primeira vez em 1971.
O Arcebispo de Cantuária é o Foco para a Unidade desses três Instrumentos de Comunhão e é, consequentemente, um foco único de unidade anglicana. Ele conclama a Conferência de Lambeth uma vez a cada década, encabeça o Encontro dos Primazes e é o presidente do Conselho Consultivo Anglicano. O Reverendíssimo Rowan Williams é o 104o Arcebispo de Cantuária. Ele foi entronizado na Catedral de Cantuária no dia 27 de fevereiro de 2003.

-
Texto adaptado dos artigos “Apontamentos de História da IEAB”, de Oswaldo Kickhofel e “Reforma Anglicana”, de Gecionny Pinto, e do site da Comunhão Anglicana























Estrutura

A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil é uma igreja hierárquica, organizada estruturalmente segundo a mais antiga e tradicional divisão em dioceses, encabeçadas por um bispo.
Entretanto, nossa Igreja também prima por ser um espaço democrático, onde o laicato toma papel ativo no processo de administração eclesial.
A estrutura básica da IEAB é a seguinte:
Parte superior do formulário

terça-feira, 19 de junho de 2012

Mensagem do Arcebispo de Cantuária sobre a Conferência Rio+20 Filled under: Archive for Junho, 2012


A grande questão que enfrenta a Rio +20: que tipo de mundo nós queremos deixar de legado para nossas crianças? E não é só uma questão de materialidade ambiental que nós queiramos deixar – as respostas para essa questão, de um certo modo, são muito simples: nós queremos um mundo que seja livre de poluição, um mundo onde todo mundo tenha acesso a água tratada, um mundo onde haja segurança alimentar,  um mundo onde as pessoas tenham aprendido métodos sustentáveis de agricultura e desenvolvimento.

Mas igualmente importante é uma questão de que tipo de hábitos ou que estilo de vida nós queremos deixar para nossas crianças – que tipo de habilidades nós queremos ver elas desenvolverem para viver sustentavelmente neste mundo.

Isso significa, como em muitas áreas, que nós temos que começar modestamente, começar localmente. Grandes mudanças vem porque pequenas mudanças acontecem. E no trabalho que eu faço, eu tenho o privilégio de ver muitas mudanças pequenas em processo.  Ano passado no Quênia, eu pude ver o trabalho feito pela Igreja Anglicana  de lá desenvolvendo métodos de agricultura chamado Umoja, métodos que possibilitam que as pessoas saiam da agricultura de subsistência para uma produção real sustentável para eles mesmos,  e muita capacitação em informação nutricional para que o desenvolvimento agrícola, segurança alimentar e atendimento à saúde possam andar juntos.

Há muitos outros projetos locais como esse, e eu fiquei profundamente impressionado pelo modo como as pessoas localmente no mundo tem desafiado e resistido algumas das depredações feitas pelas indústrias extrativistas, em muitas áreas uma das grandes ameaças a um futuro sustentável.

Os Governos podem, obviamente, e devem, fazer sua parte nisso tudo. Os Governos precisam oferecer incentivos fiscais para o “desenvolvimento verde”. Eles precisam promover programas que encorajem a todas/os a reduzir nossos desperdício. Eles precisam “tornar verde nossa economia, tanto em casa quanto no mundo todo. E nós, todas/os nós, não “somente as comunidades de fé, precisamos colaborar nisso e apoiar os governos nessa visão.

Mas na raiz, a questão permanece a mesma: que tipo de mundo nós queremos entregar? Imagino que você tenha o aniversário de sua/seu filha/o ou netas/os chegando. Você desejo dar um presente a elas/es. Você gostaria de dar alguma coisa que genuinamente signifique algo para elas/es, que enriqueça suas vidas, que faça parte do seu crescimento e bem-viver. E isso é o que nos desafia aqui. É um desafio que eu penso que vai repercutir em todo mundo, no mundo todo. Simplesmente isso: que presente nós queremos oferecer? O presente de um mundo que seja livre da poluição, um mundo onde o futuro seja mais seguro, um mundo onde mais pessoas tenham acesso a alimentação, água limpa e atendimento à saúde? Sim. Mas também um mundo onde nós possamos transmitir a sabedoria de como habitá-lo, como viver num meio ambiente limitado com graça, liberdade, confiança.

Todas as pessoas religiosas entendem o mundo como um presente de Deus. E todas as pessoas religiosas são portanto comprometidas a perguntar: se este é o presente que nos foi dado, como nós transformamos ele num presente para todas as pessoas, para a próxima geração? Como nós fazemos justiça pelas/os nossas/os filhos/as e netas/os? Como nós fazemos para agir com justiça por elas/es? Estamos oferecendo um presente, tanto material como espiritual, que realmente as/os fará viver bem, viver com felicidade, para que o seu futuro seja seguro e que elas/es também tenham um presente para dar para seus/as filhas/os e netas/os?

Assista o video  da mensagem do Arcebispo  de Cantuária

 Dr. Rowan Williams

igreja_anglicana_-_rowanwilliams-_canterbury.jpg

IEAB no Intercâmbio de Jovens Construtores da Paz em Londres


Entre os dia 02 a 10 de Julho, a Aliança Anglicana realizará um encontro para trocas de experiências e formação com o tema “Construtores da Paz”, em Londres.

O encontro será destinado aos jovens de diversos países  e dividido em duas etapas. A primeira  em Londres, discutirá como explorar o desafio do conflito como uma barreira para o desenvolvimento e levará em conta as realidades de países e de pessoas em situação de vulnerabilidade. A segunda acontecerá na cidade de Belfast (Irlanda) e terá três principais temas: o papel das mulheres como mantenedoras da paz, a questão das armas pequenas e leves e a necessidade das Igrejas para desenvolver uma plataforma mais eficaz de alerta precoce para os conflitos.

A América Latina e Caribe será representada pelo Brasil com duas representantes, ambas jovens e envolvidas no serviço da Igreja. A primeira é a estudante de serviço social, Ana Caroline Macedo, da comunidade Cidade do Deus, no Rio de Janeiro. Ela é membro em plena comunhão da Paróquia do Cristo Rei/DARJ, onde há algum tempo são oferecidos projetos sociais. A outra é a estudante de jornalismo, Yvi Leíse Rosa Calvani, da Paróquia de São Lucas, em Londrina – Paraná. Yvi é professora da escola dominical e colaboradora na CIN UJAB.

 
yvi.jpg
Yvi Calvani

A programação já está pronta e promete ser intensa, com uma visita ao Palácio de Lambeth e ao Arcebispo de Cantuária, oficinas, estudos bíblicos, discussão com líderes comunitários e visita a comunidades que já são construtoras da paz.

As estudantes já estão se preparando para o evento e planejando como dar continuidade ao trabalho nas comunidades latino-americanas.  É muito importante que a Família Anglicana se una em oração e no apoio ao trabalho para diminuir a violência promovendo relações de paz e de equilíbrio entre as pessoas e com a natureza. A situação de violência em nossos contextos latino americanos e caribenho é grave e chama a Igreja a tomar posição e colaborar para um mundo melhor.

 
ana.jpg
Ana Caroline

Quando Ana Caroline a Yvi voltarem  será necessário organizar um plano de ação para o envolvimento das mesmas nas atividades da Igreja bem como estabelecer um processo para que elas possam colaborar nas ações já existentes, especialmente para fortalecer o nosso Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento.

Paulo Ueti

Facilitador da Anglican Alliance  para América Latina e Caribe


ARRAIA DA PARÓQUIA SÃO LUCAS



O que vamos ter:

·        1- pipoca
2- cachorro quente
3- churrasquinho
4- bolo de milho
5- bolo de fubá
6- paçoquinha
7- jogo de argolas - com prendas
8 - pescaria - com prendas
9 - "Brechozinho" - uma "barraca" de Brechó

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A semente que cresce sozinha (Mc 4,26-34) - Mesters e Lopes




MAIS PARÁBOLAS DO REINO
"QUEM TEM OUVIDOS PRA OUVIR, OUÇA"

Ampliar imagem


   Texto extraído do livro "Caminhando com Jesus". Série A Palavra na Vida 182/183. Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes. CEBI Publicações.
Mais informações pelo endereço vendas@cebi.org.br.

A SEMENTE QUE CRESCE SOZINHA (Mc 4,26-34)
É bonito ver como Jesus, cada vez de novo, buscava na vida e nos acontecimentos elementos e imagens que pudessem ajudar o povo a perceber e experimentar a presença do Reino. No evangelho de hoje ele, novamente, conta duas pequenas histórias que acontecem todos os dias na vida de todos nós: "A história da semente que cresce sozinha" e "A história da pequena semente de mostarda que cresce e se torna grande".
A história da semente que cresce sozinha (Mc 4,26-29): O agricultor que planta conhece o processo: semente, fiozinho verde, folha, espiga, grão. Ele não mete a foice antes do tempo. Sabe esperar. Mas não sabe como a terra, a chuva, o sol e a semente têm esta força de fazer crescer uma planta do nada até a fruta. Assim é o Reino de Deus. Tem processo, tem etapas e prazos, tem crescimento. Vai acontecendo. Produz fruto no tempo marcado. Mas ninguém sabe explicar a sua força misteriosa. Ninguém é dono. Só Deus!
A história da pequena semente de mostarda que cresce e se torna grande (Mc 4,30-32): A semente de mostarda é pequena, mas ela cresce e, no fim, os passarinhos vêm para fazer seu ninho nos ramos. Assim é o Reino. Começa bem pequeno, cresce e estende seus ramos para os passarinhos fazerem seus ninhos. Começou com Jesus e uns poucos discípulos e discípulas. Foi perseguido e caluniado, preso e crucificado. Mas cresceu e foi estendendo seus ramos. A parábola deixa uma pergunta no ar que vai ter resposta mais adiante no evangelho: Quem são os passarinhos? O texto sugere que se trata dos pagãos que vão poder entrar na comunidade e ter parte no Reino.
O motivo que levava Jesus a ensinar por meio de parábolas (Mc 4,33-34): Jesus contava muitas parábolas. Tudo tirado da vida do povo! Assim ele ajudava as pessoas a descobrir as coisas de Deus no quotidiano. Tornava o quotidiano transparente. Pois o extraordinário de Deus se esconde nas coisas ordinárias e comuns da vida de cada dia. O povo entendia da vida. Nas parábolas recebia a chave para abri-la e encontrar dentro dela os sinais de Deus.


terça-feira, 12 de junho de 2012

Rio+20: Do fiasco à faísca! Dom Francisco - DSO


Ampliar imagem A última versão do documento que será apresentado para decisão na Rio+20 pelos representantes oficiais dos governos e que será o documento final da Conferência apresenta uma fragilidade conceitual preocupante. As quase setenta páginas da última versão - a oficial deverá ter cerca de 30 a 40 - são resultado de várias rodadas de negociação entre delegações internacionais que ainda não conseguiram chegar a um consenso. Interesses políticos e econômicos interferem no processo e o documento final pode se tornar uma colcha de retalhos sem uma lógica adequada entre as propostas para o futuro da humanidade. 

Os grandes limites para um documento mais proativo são a falta de consenso entre os representantes das economias ricas, emergentes e pobres e a pressão de grandes corporações que cada vez mais asssumem a retórica da chamada economia verde.
Na versão do documento até o momento há um completo silêncio acerca do clamor ecumênico de que a lógica do consumo e a exclusão dos pobres devem ser superadas veementemente.  Parece que a voz das religiões não sensibiliza os poderosos deste mundo. Nas 16 vezes que a palavra consumo aparece no documento não há nenhuma referência ao consumo justo e sustentável. Nas 23 vezes que a palavra crescimento é citada no documento, deixa claro, mesmo com a adjetivação "sustentável", que não nehuma crítica ao modelo de concentração financeira e submissão cambial às moedas e países ricos.
O Banco Central Europeu acaba de aprovar um socorro de 100 bilhões de euros para a Espanha, representando um desembolso considerável para salvar instituições financeiras, como o próprio governo espanhol reconhece. Enquanto isso, o desemprego cresce e o governo acossado pelos bancos, corta despesas sociais. Isto é uma repetição da metodologia aplicada em relação à Grécia e outros países vulnerabilizados pelas regras coercitivas de um sistema injusto.
No Brasil, se assiste a euforia de um crescimento econômico que, para além da propaganda oficial, já revela que não é tão estável assim. O esforço da propaganda oficial de revelar o ingresso do país no círculo das economias emergentes não consegue esconder as enormes deficiências na qualidade de vida de nosso povo, expressas em um sistema de saúde caótico, uma educação elitista e um infraestrutura deficiente para garantir qualidade dos serviços públicos.
A Rio+20, se depender das delegações oficiais, repetirá o fracasso de outras Cúpulas. É hora de nos mobilizarmos como sociedade para exigir mais ação e menos discursos. Exigir o primado dos direitos humanos e ambientais sobre os interesses excusos das grandes corporações que avançam ávidas de lucro sobre os recursos naturais. É hora de evitar o fiasco e acender a faísca da transformação. É hora de fazer valer o direito a vivermos um outro mundo possível! 

Deixem tudo na Mãe Terra - reportagem é de Stephen Leahy



Delegados indígenas da América do Sul se integram, a pé, em lanchas ou ônibus, à Caravana Kari-Oca, que os levará à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, onde esperam interpelar os governantes do mundo. "Representaremos milhares de comunidades aborígines da América do Sul", disse ao Terramérica o líder huaorani Moi Enomenga, momentos antes de tomar em Quito o ônibus que demorará nove dias para chegar ao Rio de Janeiro, sede da Rio+20.
Outros dirigentes indígenas se unirão a eles durante a viagem. Os huaoranis são um povo amazônico que habita o leste do Equador, em uma área de exploração petrolífera. A Rio+20 se apresenta como um espaço intergovernamental para adotar soluções para a crise mundial de sustentabilidade, que se manifesta no reiterado fracasso da economia globalizada, na carestia de alimentos, nos problemas energéticos e nos males ambientais globais, como a mudança climática e a perda de biodiversidade.

"Nós, indígenas, estivemos divididos durante anos. Agora vamos nos unir", declarou Moi, que nasceu em uma comunidade sem contato com o mundo ocidental, ou em isolamento voluntário, e atualmente preside a Associação Quehueri'ono. "Nem todos podem ouvir a voz que chega da Mãe Terra vinda da selva, e queremos levar essa voz ao Rio", acrescentou. De 14 a 22 deste mês acontecerá a Cúpula Mundial dos Povos Indígenas sobre Territórios, Direitos e Desenvolvimento Sustentável na aldeia Kari-Oca II, especialmente construída por indígenas brasileiros a cinco quilômetros da sede da conferência oficial.

"Kari-Oca" é uma palavra tupi-guarani que significa "casa de branco". Assim se referiam os indígenas da região onde hoje se encontra a cidade do Rio de Janeiro às primeiras urbanizações dos colonizadores portugueses. Daí a palavra "carioca", gentílico dos habitantes do Rio, onde há duas décadas aconteceu o encontro na primeira aldeia Kari-Oca, paralela à Cúpula da Terra de 1992. O Comitê Intertribal do Brasil, organizador do encontro, prevê a participação de aproximadamente 600 indígenas de todo o mundo, que prepararão uma mensagem e recomendações para o encontro de alto nível da Rio+20, que ocorrerá entre os dias 20 e 22.

"A situação dos povos indígenas no mundo me preocupa", ressaltou Moi. Em todas as partes, os governos ignoram seus direitos. E em todas as partes, Índia, África, América do Sul, estão à caça do petróleo e de outros recursos, acrescentou. Hortencia Hidalgo Cáceres, uma aymara chilena que integra a Rede de Mulheres Indígenas sobre Biodiversidade da América Latina e do Caribe, afirmou ao Terramérica que "é necessária uma mudança real. Queremos convidar o mundo para um futuro mais brilhante, baseado nos valores e princípios indígenas do bem viver".

Oposto à ideia ocidental de "viver melhor" - o crescimento econômico traz consigo o progresso e este leva à eliminação da pobreza -, o bem viver propõe o equilíbrio e a cooperação entre as comunidades humanas e sua integração com a natureza, da qual se retira o necessário para uma vida digna, sem o afã de acumular. Por outro lado, a "economia verde", que muitas nações querem plasmar no documento final da Rio+20, representa uma "falsa solução" para a crise de degradação ambiental e injustiça social, ponderou Hortencia.

Para Casey Box, coordenador de programas da organização não governamental Land is Life (Terra é Vida), "os povos indígenas têm muito a oferecer à comunidade internacional, que tenta abrir caminho para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável". A Land is Life, com sede nos Estados Unidos, é uma coalizão internacional de comunidades autóctones que arrecadou fundos e ajudou a coordenar a caravana e a cúpula. Segundo Casey, "será impossível alcançar os objetivos da Rio+20 sem os conhecimentos tradicionais e as práticas de manejo de recursos dos indígenas".

Estima-se que da Rio+20 participarão cerca de 50 mil pessoas, entre elas 130 chefes de Estado e de governo. Da antecessora, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992, também conhecida como Cúpula da Terra, surgiram os três dos principais tratados ambientais: as convenções sobre mudança climática, biodiversidade e desertificação. Mais de 700 povos indígenas participaram da primeira cúpula Kari-Oca, em 1992, que originou um movimento internacional pelos direitos dos povos indígenas e colocou em evidência o papel dessas comunidades na conservação e no desenvolvimento sustentável.

"Nos emociona ir ao Rio porque há um espaço para os povos indígenas, onde poderemos falar sobre nossas preocupações e compartilhar nossos conhecimentos e nossa experiência", destacou Hortencia. Participantes procedentes da austral Patagônia chilena precisarão percorrer 60 horas de estrada até La Paz, na Bolívia, onde se reunirão com Moi e outros delegados que iniciaram a viagem no Equador, passando pelo Peru. A caravana Kari-Oca demorará cerca de cinco dias para percorrer o último trecho dos Andes e atravessar Bolívia, Paraguai e o sul do Brasil até chegar ao Rio de Janeiro, às margens do Oceano Atlântico.

Os indígenas estão ansiosos para participar porque somente nessas reuniões internacionais é que têm a oportunidade de serem ouvidos pelos governantes e pelo público em geral, explicou Hortencia. "Quando voltamos para casa, essas portas estão fechadas". Moi e os demais equatorianos esperam que os governos respeitem mais os direitos e pontos de vista de suas comunidades. "Perto de onde vivo existem duas comunidades não contatadas, mas estão ameaçadas pela exploração petrolífera, eles não a querem. Para eles, tirar petróleo do solo é como tirar o sangue de seus corpos", apontou. Os delegados também esperam denunciar iniciativas governamentais que consideram nocivas.

Gloria Ushigua, presidente da Associação de Mulheres Záparas, afirmou que o Programa Sócio Floresta, do Ministério do Meio Ambiente do Equador para combater o desmatamento, causa muitos problemas para as comunidades locais. A nação zápara habita o leste da província de Pastaza, no oriente amazônico equatoriano. "Tenho a esperança de compartilhar a história da minha comunidade e de debater sobre os direitos territoriais", manifestou Gloria em um comunicado.

Na caravana também viaja Celso Aranda do povo kichwa de Sarayaku, outro território de Pastaza, que na cúpula apresentará a proposta "Kawsak Sacha" (Floresta Vivente). Esta será a resposta do Sarayaku à mudança climática e à destruição da natureza, e detalhará a forma como as comunidades nativas podem proteger os ecossistemas, mantendo práticas ancestrais de manejo da terra. "Vamos continuar trabalhando para fortalecer nossas culturas e resistir à exploração de nossos territórios. Temos uma mensagem muito clara. Deixem tudo sob a terra", resumiu Moi.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Dia do meio ambiente: cuidado com as fachadas - Bispo Francisco - DSO



 Neste dia mundial do meio ambiente gostaria de provocar uma reflexão sobre a conjuntura que vivemos hoje no Brasil e no mundo, especialmente quando nos aproximamos da Cúpula dos Povos na Rio+20.
Diante do cada vez maior clamor dos povos a respeito da necessidade de se fazer uma mudança radical no modelo econômico, as elites mundiais continuam desenvolvendo suas estratégias de dissimulação. A prova é que o documento que deve chegar à Rio+20, elaborado pelos governos e depois de muitas rodadas  de negociação, pode representar um tímido acordo entre as elites políticas. E certamente postergará para a próxima Conferência as decisões que já deveriam ter sido tomadas há uma década atrás. 
Só existe uma esperança para a Rio+20 avançar: a mobilização política da sociedade civil contra a dissimulação do sistema. 
O Capitalismo está em crise e, ao contrário do que muitos podem pensar, ele tem um enorme poder de se adequar às crises, mudar algumas máscaras e continuar sendo o que sempre foi: um predador da natureza e de vidas. A moda agora é batizar o filho bastardo de economia verde. E a capacidade de construir discursos legitimadores é tão grande que até algumas vozes críticas acabam por se encantar com essa nomenclatura.   
O que é economia verde afinal? Um rótulo diferente para um remédio antigo e amargo. A economia verde esconde por traz de suas pretensas mudanças hermenêuticas o mesmo projeto: explorar desmedidamente a natureza e os povos. O homos economus  não abre mão do seu poder de produzir mais riqueza sob a alegação de que é preciso crescer para melhorar a qualidade de vida dos povos. Este discurso já está com prazo de validade vencido há tempos!
A economia verde não propõe inversão do modelo energético. Não propõe um repensar do consumo. Não repensa a questão da concentração de riquezas. Pode até se preocupar com algumas coisas cosméticas do tipo reciclabilidade, padrões mais ambientalistas e socialmente aceitáveis, entre outras fachadas, mas não abre mão da necessidade de continuar enchendo as carteiras dos financistas e tecnocratas que infelizmente se adonaram dos estados nacionais. 
Economia verde é quase como se ter papel reciclado nos extratos bancários mas para o que cobram autoritariamente o que querem de seus clientes em termos de taxas e juros. 
Ou então é o mesmo que utilizar sacolas plásticas biodegradáveis mas sem mexer com os atravessadores que compram dos produtores o mais barato possível e lucram com preços exorbitantes na prateleira do supermercado. Não mexe com a monocultura que produz óleos e combustíveis vegetais, reduzindo a área de produção de alimentos. E aqui se poderia apontar inúmeros exemplos de como a fachada bonitinha apresenta um cordeiro, mas que por traz dela existe o mesmo lobo de sempre!
A Igreja e os movimentos sociais são desafiadas a mostrar a sua força na Rio+20. Precisam questionar os poderosos deste mundo a respeito de seus acordos de cavalheiros para continuar fomentando uma economia que destrói o meio-ambiente, escraviza as pessoas, e mantém uma diferença vergonhosa entre privilegiados e excluídos

sexta-feira, 1 de junho de 2012

ANEL DE TUCUM

"Mais que uma aliança, um compromisso contínuo!"

Quando me pediram para escrever sobre o “anel preto”, meu Deus, lembrei logo de Dom José Gomes e de tanta gente querida comprometida com o Reino de Deus!
Há quatro anos, quando Dom Pedro Casaldáliga completou 80 anos de vida, Dom Tomás Balduíno escreveu: “Pedro foi sagrado bispo em 1971, na cidade de São Félix, circundado pelo povo pobre de toda aquela região. Ele recebeu os símbolos litúrgicos que foram inculturados nas culturas dos povos indígenas e camponeses. A mitra era um chapéu de palha, o báculo um remo tapirapé e o anel era feito de tucum, tornando-se, em seu dedo e no de muitos agentes de pastoral, um sinal do empenho pela caminhada da libertação.”
É bom lembrar que na época do império, quando o ouro era usado em grande escala entre os opressores, principalmente nos anéis, os negros e os índios, não tendo acesso ao ouro, criaram um anel alternativo para o pacto matrimonial, símbolo de amizade entre si e também de resistência na luta por libertação. Era um sinal clandestino e apocalíptico, cuja linguagem somente eles sabiam. Ele agregava os oprimidos, em busca de vida, mesmo no meio de tanta opressão.
O anel de tucum, desde os tempos do CIMI e da CPT, até hoje, sempre é usado por aqueles/as que acreditam no Deus da vida e tem um engajamento, na perspectiva da educação popular, com as pessoas excluídas da sociedade. Representa a solidariedade que está nas mãos de muita gente que luta pela justiça e se engaja em pastorais sociais e em diversas entidades que lutam a favor dos que são explorados pelo capitalismo selvagem. O objetivo é denunciar as causas da pobreza e apoiar as iniciativas de outro mundo, que é possível!
Este é o compromisso simbolizado nesta aliança, já que, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, os profetas e apóstolos afirmam a fidelidade de Deus aos pobres e oprimidos. A aliança de tucum é o sinal desta fidelidade. Além da Bíblia, a opção pelos pobres é testemunhada por toda a tradição da Igreja, a partir do Concílio Vaticano II e das Conferências latino-americanas de Medellín e Puebla. Nossa Diocese de Chapecó caminha nesse rumo.
Quem usa o anel como enfeite ou porque está na moda é bom saber disso! No filme “Anel de Tucum”, Dom Pedro Casaldáliga explica assim o sentido desta aliança: “Este anel é feito a partir de uma palmeira da Amazônia (Bactris setosa). É sinal da aliança com a causa indígena e com as causas populares. Quem carrega esse anel significa que assumiu essas causas. E, as suas consequências. Você toparia usar o anel? Olhe, isso compromete, viu? Muitos, por causa deste compromisso foram até a morte”.

(Texto de Pe. Cleto Stülp - Publicado no Encarte Voz da Juventude/PJ Diocese de Chapecó de Jun. 2012 - Jornal Diocesano/Diocese de Chapecó)
*Foto de Dom José Gomes, na 5ª Assembleia Diocesana de Pastoral - 1996