A última versão do documento que será apresentado
para decisão na Rio+20 pelos representantes oficiais dos governos e que
será o documento final da Conferência apresenta uma fragilidade
conceitual preocupante. As quase setenta páginas da última versão - a
oficial deverá ter cerca de 30 a 40 - são resultado de várias rodadas de
negociação entre delegações internacionais que ainda não conseguiram
chegar a um consenso. Interesses políticos e econômicos interferem no
processo e o documento final pode se tornar uma colcha de retalhos sem
uma lógica adequada entre as propostas para o futuro da humanidade.
Os grandes limites para um documento mais proativo
são a falta de consenso entre os representantes das economias ricas,
emergentes e pobres e a pressão de grandes corporações que cada vez mais
asssumem a retórica da chamada economia verde.
Na versão do documento até o momento há um completo
silêncio acerca do clamor ecumênico de que a lógica do consumo e a
exclusão dos pobres devem ser superadas veementemente. Parece que a voz
das religiões não sensibiliza os poderosos deste mundo. Nas 16 vezes
que a palavra consumo aparece no documento não há nenhuma referência ao consumo justo e sustentável. Nas 23 vezes que a palavra crescimento
é citada no documento, deixa claro, mesmo com a adjetivação
"sustentável", que não nehuma crítica ao modelo de concentração
financeira e submissão cambial às moedas e países ricos.
O Banco Central Europeu acaba de aprovar um socorro
de 100 bilhões de euros para a Espanha, representando um desembolso
considerável para salvar instituições financeiras, como o próprio
governo espanhol reconhece. Enquanto isso, o desemprego cresce e o
governo acossado pelos bancos, corta despesas sociais. Isto é uma
repetição da metodologia aplicada em relação à Grécia e outros países
vulnerabilizados pelas regras coercitivas de um sistema injusto.
No Brasil, se assiste a euforia de um crescimento
econômico que, para além da propaganda oficial, já revela que não é tão
estável assim. O esforço da propaganda oficial de revelar o ingresso do
país no círculo das economias emergentes não consegue esconder as
enormes deficiências na qualidade de vida de nosso povo, expressas em um
sistema de saúde caótico, uma educação elitista e um infraestrutura
deficiente para garantir qualidade dos serviços públicos.
A Rio+20, se depender das delegações oficiais,
repetirá o fracasso de outras Cúpulas. É hora de nos mobilizarmos como
sociedade para exigir mais ação e menos discursos. Exigir o primado dos
direitos humanos e ambientais sobre os interesses excusos das grandes
corporações que avançam ávidas de lucro sobre os recursos naturais. É
hora de evitar o fiasco e acender a faísca da transformação. É hora de
fazer valer o direito a vivermos um outro mundo possível!
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