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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

BÍBLIA E MISSÃO! TRABALHO APRESENTADO NO SÍNODO DA IEAB 2010 - Por Revda Lucia Dal Pont Sirtoli


MISSÃO, CHAMADO PARA ALGO EXTRAORDINÁRIO

O extraordinário o especial foge do ordinário da vida, daquilo que faço todos os dias.

O ORDINÁRIO – Existem pessoas que estendem tanto o ordinário da vida que desenvolvem de formas gigantescas muros, casa, carros...

MISSÃO É TESTEMUNHO - AS NAÇÕES SE EMCAMINHARÃO PARA A TUA LUZ, E OS REIS, PARA O RESPLENDOR QUE DE TI NASCEU. LEVANTA EM REDOR OS OLHOS E VÊ: TODOS ESSES SE AJUNTAM E VÊM TER COMIGO; TEUS FILHOS CHEGAM DE LONGE, E TUAS FILHAS SÃO TRAZIDAS NOS BRAÇOS... Is 60: 3-4.

Is 60: 1-7 convite a erguer-se e olhar. Is 60: 8-11,22 Iahweh fala anunciando os tempos messiânicos. Is 61:1-9,
A missão se realiza pela ação do Espírito de Iahweh que age no seu ungido. 61:10-11: A realização da missão suscita júbilo. Is 62: As imagens de esposa e da cidade aberta afirmam que o povo universal reunido é sinal dos tempos messiânicos (O terceiro Isaías anuncia o esperado) . O texto não fala de Israelitas indo aos povos, mas de povos se reunindo no “ventre” da terra, no centro do mundo, Jerusalém, pela ação de Deus na história. Mas quem é esse Israel? Aquela que foi ferida machucada, rejeitada, oprimida... é sujeita e destinatária da ação de Iahweh? Mas se a porção de Israel que não tem valor é testemunha da ação de Iahweh, qual é sua missão?

MISSÃO DE ISRAEL! A missão de Israel é de ser testemunha, Luz para as nações. Ser povo de Deus sinal visível da promessa universal de salvação.

ISRAEL É INFIEL À SUA MISSÃO! Israel em sua cegueira, em sua surdez, não reconheceu sua missão. Quis ser como os outros povos...O desterro foi o preço que Israel pagou por não ser ferramenta dócil da missão de Deus.

Uma voz profética se elevou clara: o povo de Deus deve ser somente povo de Deus. Is 40:1ss. Clama, É por isso que a ele é anunciado o Servo do Senhor. Is 49 e 50, Ele é o servo que sofre por muitos, cujo o testemunho traz o julgamento para as nações, humilhado ferido, desprezado... Verá a luz, trará a luz as nações...Is 52:13-53.

A MISSÃO ANUNCIADA PELOS PROFETAS FOI UMA MISSÃO DE TESTEMUNHO!

Em nossas comunidades quando falamos de missão, muitas vezes, acentuamos muito o movimento de ir. Esquecemos a consciência profética de ser testemunho onde estamos: de ética, justiça, compromisso, escuta e responsabilidades...

“O que eu faço grita tão alto, que falo e ninguém me escuta”!

ESCUTAR DEUS! Para escutar Deus é necessário assumirmos nossa humanidade, nossas fraquezas e limites, também nossas possibilidades, seguindo o exemplo... Deus encarnou tornou-se carne, como gente, como ser humano. Não é pecado ser gente. As fraquezas são só fraquezas, não “defeitos de fábrica” que precisam ser ‘consertados’. Fazem parte da nossa humanidade, do nosso jeito de estar no mundo. E é só assumindo esta realidade que vamos poder falar de uma realidade transcendental.

SEGUIR JESUS É MOVER-SE EM MISSÃO - A espiritualidade não pode ser algo que aliena da realidade que nos rodeia mas, ao contrário, vincula -se estreitamente a ela. Deus sempre toma a iniciativa. Toma a iniciativa de “descer” e de “desempoderar-se” da sua condição divina (Fl 2:5-11). Deus vem visitar o seu povo e depor os poderosos dos seus tronos (Lc 1:46-55,67,79). Escolheu falar com o povo diretamente e do jeito do povo.

O “poder” de Deus é a sua capacidade de relacionar-se e transformar novas todas as coisas (Is 12; Ap 21). Deus é amor, é relação transgressora de amor. É nesta relação de amor, que podemos perceber e entrar no mistério da sua presença e graça.

AÇÃO DE CRISTO - A missão é a ação de Cristo, é uma ação de amor. Ama teu próximo como a ti mesmo (Mt 22:39). O amor é o elemento central da missão. "E se tivesse a profecia e entendesse todos os mistérios e toda a ciência, e se tivesse toda a fé, de tal maneira que transladasse os montes, e não tiver amor, nada sou" (1 Cor.13:2).

É URGENTE FAZER MISSÃO - A palavra de Deus tem “poder”. Nossa palavra tem “poder” criador de realidades. "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (João, 10:10). Esta foi a missão de Jesus, que venha o Reino de Deus e que se faça sua vontade na terra. Essa é ainda sua missão; é o que Cristo está fazendo através do Espírito Santo na humanidade, e nós somos chamadas e chamados a tomar parte nesta obra de Deus. Vontade de Deus na terra é vida, dignidade, Aqui entra os movimentos de ação sociais.

A MISSÃO É DADA POR DEUS - Existem pessoas que não só tem missão, mas “atração para cuidar da dor alheia”, e não pertence a nem uma Igreja. (isso na psicologia se chama “pulsão”, movimento interno para ajudar, quase que uma “intromissão” da dor da outra pessoa). O que fizestes a um destes... (Mt 25:40), Paulo foi um grande intrometido da dor alheia... Jesus teve uma pulsão forte para ajudar, entregou sua vida para dar vida. Acolheu quem não tinha nome, Brigou com o poder excludente.

Nós (que estamos aqui) assumimos compromisso em nome de Cristo, mas não queremos nos comprometer com seu projeto de vida.

O chamado vem das pessoas que clamam... Nós estamos aqui como Igreja porque, nos sentimos chamados e chamadas para missão de Deus dentro deste mundo cheio de contradições. Sabemos que a missão de Deus foi manifestada por Jesus, através de sua ação de partilha, serviço e liberdade.

Por que em nossas Igrejas falamos tanto em democracia, mas temos medo da partilha de poder?

Por que em nossas Igrejas temos tanta competição pelo poder e não para o serviço?

A VIDA ME CONVIDA TODOS OS DIAS A SAIR DE MINHA ONIPOTÊNCIA E NÃO PENSAR QUE MEU JEITO DE VER O MUNDO É O MELHOR. HÁ MUITOS CONFLITOS DE DIREÇÕES. ESTE É O MUNDO QUE SOMOS CONVIDADOS E CONVIDADAS A AMAR, A PARTIR DE JESUS. É UM MUNDO COM MUITAS CORRUPÇÕES MENTIRAS...
(Ivone Gebara)


PRECISAMOS MUITO DA FORÇA DO ESPÍRITO PARA SERMOS TESTEMUNHA E ASSUMIRMOS A MISSÃO! (Tea Frigerio)

Sem o Espírito Santo, Deus estaria distante; o Cristo permaneceria no passado; o evangelho se tornaria letra morta; a Igreja seria uma simples organização; a autoridade se converteria em poder; a missão se tornaria uma propaganda; o culto se converteria em arcaísmo e a ação moral se tornaria uma ação de escravos. Mas, no Espírito Santo, o cosmos é enobrecido pela geração do Reino; o Cristo ressuscitado se faz presente; o evangelho se faz força do Reino; a Igreja realiza a comunhão trinitária; a autoridade se transforma em serviço; a liturgia é memorial e antecipação e a ação humana se diviniza”.
(Patriarca Atenágoras)

Reverenda Lucia Dal pont

Comitê de Diversidade Religiosa é instalado pela Ministra Maria do Rosário


Terça-feira, 29 de novembro de 2011 - 13h49min A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), instala nesta quarta-feira (30), em Brasília, o Comitê de Diversidade Religiosa. Na ocasião, também será lançada a Campanha de Combate à Intolerância Religiosa. A abertura da solenidade, que ocorre durante o Seminário Diversidade Religiosa, promovido pela SDH, será às 9h30, na sede da SDH. O Comitê tem o objetivo de pensar metodologias, estratégias e referenciais epistemológicos para o diálogo, tanto entre pessoas sem religião, quanto com representantes de diversas religiões. A meta é que essas entidades religiosas possam tornar-se promotoras de paz, justiça e cidadania e busquem a superação da intolerância religiosa. O seminário será aberto pela secretária Nacional de Promoção dos Direitos Humanos, Nadine Borges. Segundo a coordenadora-geral de diversidade religiosa da SDH, Marga Strhöher, a intolerância religiosa se dá pela não aceitação do diferente. "Partimos de uma concepção de uma sociedade homogênea, que desconsidera a diversidade, em que determinada cultura, que também é forjada pela religião, se colocou como cultura universal no percurso histórico brasileiro," acredita. Com o slogan "Democracia, Paz, Religião - Respeite", a campanha de Combate à Intolerância Religiosa tem o objetivo de promover o respeito à diversidade religiosa, eliminando todas as formas de intolerância. A relatora da Conferencia Mundial Contra o Racismo, Xenofobia e Intolerância Correlatas de Durban, Edna Roland, fará palestra sobre as implicações da conferência para a diversidade religiosa. Também estará presente o pesquisador do Centro Universitário Metodista Sul, Clemildo Anacleto da Silva, que falará sobre Diversidade Religiosa e os desafios para o combate à intolerância religiosa no contexto brasileiro.

Uma voz clama no deserto: Fé na ousadia de Deus! (Mc 1,1-8 II Domingo do Advento) - Odete Adriano


Esta reflexão é sobre o segundo domingo do Advento. Advento é tempo de reflexão diante do plano de Deus para a humanidade. É tempo de refletir como estamos orientando nossas vidas em relação ao propósito de Deus. Advento também é vinda, chegada. Ele vem. Jesus vem! É um período especial, pois antecede o Natal, e traz nada menos que três desafios à cristandade. Esse período (1) quer nos lembrar do Advento histórico, passado. (2) Quer nos lembrar do Senhor que quer ser, hoje, nosso hóspede, portanto, o aspecto presente. (3) Finalmente, quer nos remeter ao futuro: o aspecto escatológico do mesmo.

O Advento é época de recuperar os grandes feitos de Deus. Eles são fundamentais para a nossa fé cristã e orientadores para a nossa convivência na comunidade e no mundo, em testemunho e serviço. Recuperar os fatos, no Advento, significa, conforme Isaías, novo fascínio, força e vigor para superar nossos cansaços, desesperanças, desânimo, vontade de desistir e cultivar nossa fé - esperança no Senhor. Advento é esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas. É esperança que nos forma na paciência diante das dificuldades e tribulações da vida, diante de tantas coisas que afligem nossa alma e ferem nosso corpo.

Advento é, por isso, época de não só pensar em doces e presentes, mas, acima de tudo, é convite para olhar em direção ao que realmente importa, ou seja, a oferta da vida com esperança, em Cristo Jesus. É tempo de encontrar o novo. O "evangelho" de Jesus não vem dos palácios Os primeiros versos do Evangelho segundo Marcos retomam a profecia do Antigo Testamento e a conduzem ao Novo, ao evento do Espírito. O Espírito perfaz o novo! Marcos ressalta que Jesus Cristo, o Filho de Deus, é a Boa Nova da salvação para a humanidade. Como o mensageiro antigo (Isaías 52,7), João Batista proclama o alegre anúncio, que culmina em Jesus (Marcos 1,14-15) e ressoa nas comunidades cristãs como apelo a anunciar a mensagem de libertação no mundo inteiro (Marcos 13,10; 14,9). Sabe-se que, para o evangelista, as palavras e ações de Jesus são "evangelho".

"Evangelho" é uma palavra que era utilizada pelas autoridades para anunciar as suas ações. Contudo, para o evangelista Marcos, o "evangelho" de Jesus não vem dos palácios, mas da periferia de Nazaré (W. Marxen). O evangelho é alegria, não é imposto, como o evangelho imperial. Aqui nos é apresentado Jesus Cristo como "Filho de Deus", uma expressão que é central para o Evangelho segundo Marcos (cf. Marcos 1,11; 15,39). Em seguida, Marcos 1,2-8 apresenta o precursor, João Batista. Jesus está na linha da profecia! João Batista é o profeta anunciado em Isaías. Restaura Israel a partir do deserto, como Moisés o fez com o povo que saiu do Egito, como tinha sido a prática de Elias no Horebe. João Batista, o profeta, tem seu foco no deserto. Para a história de Israel, o deserto é símbolo de vida, de resistência, vida restaurada, nova. A profecia de João Batista apela à conversão, ao arrependimento. Isso é antiga tradição profética. O arrependimento é o eixo da renovação. Fé na renovada ousadia de Deus e olhos fixos no futuro O povo de Deus sempre teve os olhos fixos no futuro, com esperança na vinda definitiva do Senhor (Isaías).

Marcos nos chama a olhar à nossa volta e enxergar dentro de nossa história a vinda de Deus: João é o novo Elias (1 Reis 1,8), isto é, a profecia que volta a ser proclamada, o povo se reúne e se organiza para recomeçar como nos tempos do "deserto", enquanto os poderosos se abalam por se sentirem desmascarados (Mateus 3,7). Em Jesus de Nazaré, é Deus mesmo quem opera a restauração das pessoas. Assim como se deu com Elias, João foi perseguido e morto covardemente, mas a palavra ressurge em Jesus (Marcos 1,14-15; 6,16). Também Jesus foi perseguido e assassinado, mas a caminhada da Palavra prossegue com seus discípulos e discípulas. Ouvir de Elias, de João, de Jesus... é ouvir falar da renovada ousadia de Deus, a ousadia da liberdade, que não aceita calar-se nunca, nem teme os poderosos do mundo. Sempre de novo a Palavra ressurge para anunciar que são possíveis "novos céus e nova terra" (2 Pedro 3,13; Marcos 1,9-13; 9,2-13). A Palavra volta a levantar-se para denunciar os obstáculos que se antepõem ao propósito de Deus e proclamar que só há uma maneira de viver nessa nova realidade: "endireitar" os caminhos, reconhecer os erros pessoais e coletivos, refazer as relações pelo perdão, a igualdade e a partilha (Lucas 3,10-14). Aí, sim, o "deserto" se transforma em larga estrada, em jardim do Senhor.

O deserto era o lugar onde frequentemente se refugiava quem se sentia à margem do sistema e se punha na oposição. Lá estavam os essênios, pessoas que romperam com o templo e se consideravam vanguarda do novo povo. Para lá se dirigia quem se proclamava profeta ou messias e pretendia organizar a resistência popular. Por lá andavam guerrilheiros (sicários, zelotas) e bandidos. O movimento de João é de protesto e resistência, por isso foi preso e morto. Herodes o temia. Batismos e rituais de purificações eram práticas comuns no ambiente dos fariseus e dos essênios. No movimento de João não são os sacrifícios que purificam do pecado, mas a confissão e o arrependimento, a mudança de vida.

O povo não peregrina em direção ao templo, mas sai das cidades, como num êxodo, em direção ao deserto. É como se fosse preciso sair de novo do Egito, "a casa da servidão". E, pelo Jordão, entrar na Terra Prometida. Sob a expressão "remissão dos pecados" está escondida a antiga esperança da "remissão das dívidas" prevista para o Ano do Jubileu (Levítico 25). O novo tempo anunciado por João é a possibilidade, com Jesus, de restauração radical da convivência do povo em sociedade, segundo os ideais da igualdade e da justiça. Para isso é que se prevê a "imersão" (batismo) no Espírito Santo. Será como passar pelo fogo (Mateus 3,11; Malaquias 3,2) que purifica e destrói, para que algo novo possa surgir. Essa novidade era esperada desde o final do exílio na Babilônia e é dela que falavam profetas e profetisas no grupo de discípulos de Isaías (Is 40-66). Deus sabe o caminho que devemos andar João Batista, o precursor, propõe a conversão como meio para preparar o caminho do Senhor e acelerar a chegada de um mundo novo de justiça. Deus caminha pelo deserto da história, ensinando-nos a endireitar as veredas através de gestos solidários de amor e paz. Dietrich Bonhoeffer dizia: "Eu não entendo os Teus caminhos, Senhor.

Mas Tu sabes os caminhos que devo andar!" E é verdade! Deus sabe o caminho que devemos andar. Sabe, quanto mais procuro vivenciar e entender as coisas que Deus quer de mim, mais me surpreende o quanto Deus vem ao meu, ao nosso encontro nas áreas mais essenciais e carentes da vida: "significado, pertencimento, saúde, liberdade e comunidade". É que Deus - que é um Deus de amor e, consequentemente, de salvação - vem ao nosso encontro nas áreas mais necessitadas da existência humana e comunitária. Por isso, "Ficai atentos, preparem-se". Ficai Atentos! A Esperança não pode esmorecer, mas resistir. Esperança Teimosa! Nascida do discernimento. Construída mesmo no tempo de sofrimento e esmorecimento! O tempo que vivemos é tempo de resistir pela solidariedade ao egoísmo e ao individualismo que nos consomem. Ser sensível é ser humano! Olhar o mundo sem indiferença. Com compaixão e afeto que movam à transformação! Vivamos intensamente este Tempo do Advento! Pois o Advento nos ensina: Não canse de esperar, o que esperamos vai chegar!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

REALIDADE E MIRAGEM - Demétrio Valentini, Bispo de Jales, SP

Com este domingo, iniciamos um novo tempo litúrgico, que vai nos levar à celebração do Natal. Na verdade, para a liturgia, começa um novo ano, ao longo do qual celebramos os diferentes enfoques do mistério de Cristo. Na passagem de um ano para o outro, aparece com insistência o enfoque relativo ao fim dos tempos, culminando com a aparição gloriosa do Senhor julgando as nações de toda a terra. Como as cenas se referem a um tempo meta-histórico, para se referir a elas se usa um gênero literário próprio, denominado “escatológico”, pois trata dos “últimos tempos”, como sugere a palavra grega “éscaton”. Aí reside o desafio. Mesmo usando uma linguagem com evidente carga de fantasia, resulta uma descrição muito semelhante aos fatos reais, que a história pode comprovar. Então, precisamos discernir o que tem consistência histórica, e o que é “escatológico”, usado intencionalmente para se referir a fatos que não cabem dentro do contexto da realidade humana. Um exemplo bem claro encontramos nos evangelhos, quando trazem as profecias de Cristo sobre o fim do mundo. Usam a destruição histórica de Jerusalém, acontecida no ano 70 de nossa era, para com ela descrever, de maneira aproximada, a destruição final do mundo. Assim, um fato histórico, a destruição de Jerusalém por Tito, serve de moldura para imaginar o fim do mundo. O que devemos fazer? Separar os fatos das fantasias. Quando o evangelho relata o cerco de Jerusalém, se refere a fatos da história: “Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, ficai sabendo que sua destruição está próxima.. Então, os que estiverem na Judéia, fujam para as montanhas, os que estiverem na cidade, afastem-se dela” (Lucas, 21, 20...). Esta parte tem clara conotação histórica, e aconteceu de fato, quando o exército romano devastou complemente a cidade de Jerusalém. . Mas logo em seguida, o evangelho envereda para o gênero literário escatológico, ao advertir que “haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas...(Lc 21, 25..). Aí já é fantasia. Por mais que imaginemos o bonito espetáculo da ciranda das estrelas dançando com o sol e a lua como prelúdio do fim do mundo, sabemos que é uma linguagem figurada, aliás muito solene e bonita, mas que remete para uma realidade que não conseguimos expressar adequadamente por palavras humanas. Talvez ajude uma comparação. Quando olhamos para uma cadeia de montanhas, as primeiras à nossa frente podem ser bem dimensionadas em seu tamanho real. As que estão no fundo, podem até parecer menores, mas se sobressaem às primeiras, é porque são maiores do que elas. Para falar de um assunto maior, usamos realidades menores. Como o assunto é tão recorrente nestes dias, até o fim do mundo nos ajuda a situar melhor as questões relativas ao Código Florestal. Há algumas “montanhas” à nossa frente, isto é, algumas constatações evidentes, que precisamos dimensionar bem, para termos uma idéia mais aproximada do tamanho da questão. Por exemplo: as terras usadas para agricultura, no Brasil, representam só 38% do território nacional. Portanto, 62% do território nacional nem é atingido pela agricultura! E mais: dos 38% das terras agricultáveis, só 27% são usadas pelos pequenos agricultores, que representam 88% dos estabelecimentos rurais. 12% das propriedades, neste país de histórica concentração fundiária, ocupam 73% das terras agricultáveis. Os que insistem em achar que provocamos o fim do mundo se o Código Florestal garante aos pequenos agricultores uma proteção especial, para viabilizar sua importante função de proteger o meio ambiente e de produzir alimentos, não está se dando conta da finalidade do Código Florestal, e demonstra não distinguir a realidade da fantasia. A sobrevivência dos pequenos agricultores não é um risco para o meio ambiente, mas uma garantia de que a natureza será bem cuidada, e a terra será fecunda para a vida de todos. ------------------------------.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Liturgia











ENCONTRO PARA REFLEXÃO DO ADVENTO – VIGILÂNCIA – Revda Lucia Dal Pont


TEMA: VIGILÂNCIA

AMBIENTE(coroa do advento, se for possível levar outros símbolos referentes ao nascimento de Jesus. A Idéia desses encontros é fazer o caminho de Maria e José pedindo pousada em nossas casas para que Jesus possa nascer).

ORAÇÃO INICIAL Animador(a) – Graça e paz nesta casa, da parte de Deus nosso Pai e Mãe, e do Senhor Jesus Cristo! Em Nome do Pai e do Filho do Espírito Santo, Amém!

Todos – Graças a Deus que nos dá a vitória por meio de Nosso Senhor Jesus cristo! Vem ó Luz da Vida, Vem Cristo Jesus! Um Salvador nasceu para nós! Que todos os povos caminhem para a claridade da Luz!

A – Deus se fez carne e veio morar no meio de nós, e hoje Ele quer nascer entre nós.

ASCENDER A PRIMEIRA VELA DA COROA.

A – As velas se ascendem para o caminho iluminar, preparemos nossas casa, é Jesus que vai chegar.

T – No advento a tua vinda nós queremos preparar. Vem, Senhor, que é teu natal. Vem nascer em nosso lar.

ORAÇÃO
T – Ó vem, Senhor, não tardes mais! Vem saciar nossa sede de paz! Como chega a brisa do vento, trazendo aos seus justiça e bom tempo! Vem como chega a chuva no chão, trazendo fartura de vida e de pão! Como chega a luz que faltou. Só tua palavra nos salva, Senhor! Bendito o cordeiro do reino da vida! Caminha conosco, Jesus bem-amado! Vem Ó libertador Esperado! Amém.

CANTO – Tu vens, tu vens eu já escuto teus sinais (2x)

L 1 – Hoje iniciaremos a preparação para o Natal. Nós queremos celebrar o natal, com todas as irmãs e irmãos, promovendo a paz, a solidariedade e testemunhar com palavras e ações, como as primeiras comunidades Cristãs dos Atos dos Apóstolos.

T – Jesus nasce onde se vive o amor e a partilha

L 2 - Toda a Igreja se veste de esperança. Os profetas de todos os tempos seguem dizendo, anunciando que o Senhor é fiel, não falha ao encontro marcado. É hora de nos animar, rever nossa vida estar vigilantes, abrir nossos olhos, abrir nosso coração e gritar bem alto: Ele está aí, é nosso irmão é nossa irmã.

A – Vamos abrir a nossa casa e o nosso coração para acolher Jesus, que vem trazer paz e alegria para as pessoas!

T – É preciso reconhecer Jesus no irmão e na irmã, acolher e amar, alimentando a esperança e criando solidariedade.

CANTO.

Texto Bíblico Mc 13; 33-37

• O que Jesus diz no texto?
• Que fez o homem?
• Qual a palavra forte do texto?

L 1 – Precisamos estar atentas e atentos, pois não sabemos o dia e nem a hora em que o Senhor virá, e não importa saber, o importante é perceber a presença Dele nascendo nas pessoas, nas organizações, nas famílias, nos jovens e nas crianças.

L 2 – Só acontece Natal, quando as pessoas não se sentirem estranhas, mas irmãs e irmãos e não terem medo de serem Acolhedoras e viverem o amor.

T – A vida é ato criador de Deus e missão de Jesus.

L 2 – Jesus se fez humano e veio para o meio de nós e se fez um de nós para termos vida e vida em abundância.

L 1 – Vida é um direito sagrado e mostra o amor do Criador, pois fomos feitos à imagem e semelhança do Deus da vida.

T – Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos. (Mt 11,25).

L 2 – Os sonhos de Deus se concretizam através dos nossos sonhos, quando nossos sonhos se encontram nos sonhos de Deus.

L 1 – O ser humano nem sempre acerta o caminho. Mesmo assim nossa prioridade é estarmos vigilantes.

A – ORAÇÃO - Senhor, neste momento, queremos oferecer a vida de tantas pessoas que sabem estar vigilantes e dão testemunho de solidariedade, de partilha e de paz.

T – Vem Senhor Jesus o mundo precisa de ti....

Senhor Deus, faze que exemplo da família de Nazaré, nossas famílias vivam o amor, cresçam na fé, no perdão e na oração. T – Vem Senhor Jesus, o mundo precisa de ti....

T– Vem Senhor Jesus, o mundo precisa de ti....

Acolhe, Senhor, as pessoas de nossa comunidade que estão doentes, que encontrem alívio. Os que já partiram que encontrem a tua glória. Oremos.

T – Vem Senhor Jesus o mundo precisa de ti....

T. Pai Nosso, que estás nos céus, Santificado seja o teu nome, venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dá hoje. E perdoa-nos as nossas dívidas, Assim como nós também perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal; pois teu é o Reino, e o poder, e a glória para sempre. Amém

CANTO.
BÊNÇÃO FINAL.
A – COMBINAR O PRÓXIMO ENCONTRO

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Carta Pastoral do Advento 2011


Queridos irmãos e irmãs, nós bispos e pastores da Igreja, queremos trazer à Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, uma mensagem de esperança neste novo tempo que se avizinha no Calendário Cristão. O Advento tem um caráter preparatório, apontando e nos preparando para celebrar o mistério da encarnação, em Cristo Jesus.

Os eventos resgatados neste período nos falam de um Deus que acompanha bem de perto a jornada da humanidade, “Deus conosco” (Mateus 1:23). Apresentando essa mesma perspectiva, uma narrativa do Êxodo nos conta que Deus disse: “Eu tenho visto como o meu povo está sendo maltratado no Egito; tenho ouvido o seu pedido de socorro por causa de seu feitores. Sei que estão sofrendo. Por isso desci para libertá-los do poder dos egípcios e para levá-los do Egito para uma terra grande e boa” (Êxodo 3:7-8). Esse trecho das Escrituras nos mostra um Deus sensível, comovido com o sofrimento humano, que está disposto a descer das alturas das montanhas para cuidar da sua criação. Essa imagem deveria guiar sempre a atuação daqueles e daquelas que se dedicam ao pastoreio do povo de Deus.

Olhos atentos ao contexto no qual estamos inseridos, ouvidos sensíveis para escuta do clamor das pessoas que sofrem, dispostas a experimentar o desafio da alteridade, se colocando no lugar do outro, movidas pela compaixão, reviradas nas entranhas. Nesse diálogo com o outro a pastoral vai adquirindo sentido. Apesar dos limites humanos, como bispos da Igreja temos procurado refletir essa prática em nossas vidas, por isso tantas vezes temos nos lançado na defesa de grupos e pessoas injustiçadas e marginalizadas pela sociedade, os “pequeninos” mencionados por Jesus de Nazaré (Mateus 10:42; 25:40; Lucas 10:21). Por causa dos desafios assumidos, acolhendo demandas que nenhuma outra ousou encampar, por causa da mudança de alguns paradigmas éticos, sabemos que a nossa Igreja tem pago um alto preço. Na condição de pastores precisamos estar atentos ao consenso de fé dos fiéis, sensus fidelium, pois a Igreja não é apenas uma instituição social, mas uma comunhão de discípulos e discípulas de Jesus Cristo. Dentro dessa comunhão existe uma pluralidade de opiniões, valores, comportamentos, que precisam ser considerados e respeitados com o propósito de “que todos sejam um” (João 17:21). Temos consciência de que existe uma série de assuntos em debate na comunhão anglicana que precisam ser considerados com muita seriedade, todavia precisamos evitar o voluntarismo dos vanguardismos e procurar caminhar juntos, a narrativa dos discípulos na estrada de Emaús é a certeza do Cristo que “segue ao lado” (Lucas 24:13-31). Precisamos seguir em frente na nossa jornada com paciência e suportando-nos uns ao outros em amor, como ensina o apóstolo Paulo (Efésios 4:2). Quando discípulos de João Batista procuraram Jesus para saber se ele era realmente o Messias, o prometido de Deus, não teve como resposta outra coisa senão os elementos reveladores da vida: “Ide, e contai a João o que tendes visto e ouvido: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho” (Lucas 7:22).

Da mesma forma, ficamos felizes ao constatar que muitas das nossas comunidades enfrentam sem alarde a prática de acolhimento das diferenças, transformando-se assim em novos espaços de relações onde se realizam as propostas do reino de Deus. Que o Espírito Santo continue a produzir no nosso meio “o amor, a alegria, a paz, a paciência, a delicadeza, a bondade, a fidelidade” (Gálatas 5:22-23), nos conduzindo a toda verdade, nos levando a práticas concretas que manifestem o reino divino e nos preparando adequadamente para receber em nossos corações o menino Deus que não se prendeu a sua divindade, mas esvaziou a si mesmo, assumindo a condição humana (Filipenses 2:7).

São Paulo, 24 de novembro de 2011 - Dia Nacional de Ação de Graças Dom Mauricio Andrade, Primaz, Brasília
Dom Orlando Santos de Oliveira, Porto Alegre
Dom Naudal Alves Gomes, Curitiba
Dom Sebastião Armando, Recife
Dom Filadelfo Oliveira, Rio de Janeiro
Dom Saulo de Barros, Belém
Dom Renato Raatz, Pelotas
Dom Roger Bird, São Paulo
Dom Francisco de Assis da Silva, Santa Maria
Dom Clóvis Erly Rodrigues, Emérito
Dom Glauco Soares de Lima, Emérito
Dom Celso Franco, Emérito
Dom Almir dos Santos, Emérito
Dom Jubal Pereira Neves, Emérito

Vigiai e orai - Elaine Neuenfeldt


Bíblia - Vigiai e orai

Esta é uma fórmula que fica guardada na memoria ao ler este texto bíblico. Estar atentos combinado com a oração. É este a principal mensagem do que se guardou na memória em relação a este texto. E muitas vezes já se afirmou que oração sem ação ou igualmente ação sem oração se torna vazio de sentido na prática cristã.

O texto do evangelho de Marcos a ser refletido no primeiro domingo de Advento reflete uma linguagem apocalíptica, ou um jeito de dizer profecia em tempos de perseguição e perigo. O contexto do texto na época reflete o período conturbado da destruição do Templo de Jerusalém pelos romanos e a subsequente perseguição, morte e violência sofrida neste período. Vigiar constantemente, em todos os momentos - à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo, pela manhã engloba todas as horas do dia. Não há tempo de deixar cair a guarda, de cochilar. Estas são recomendações que se encaixam no período litúrgico celebrado: o Advento. Advento é tempo de espera, de esperança; mas não uma espera passiva, de cruzar os braços. Esperança ativa que se desenvolve em ações que concretizam os anseios da oração feita é o que envolve o período do ad-vento - do tempo que já vem.

Este primeiro domingo de advento será celebrado este ano (2011) num momento que se outorgará no dia 10 de dezembro, em Oslo, Noruega, o premio nobel de paz a tres mulheres: a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, a militante Leymah Gbowee, também liberiana, e a jornalista e ativista iemenita Tawakkul Karman. É de destacar que em 111 anos, apenas 12 mulheres haviam recebido o Nobel da Paz. Considerando todas as categorias do prêmio, até agora apenas 44 mulheres haviam sido agraciadas.

É a história de vida de uma delas que se faz presente neste contexto de reflexão sobre a espera ativa de oração e ação em tempo de advento. Leymah Gbowee teve um papel importante como ativista durante a segunda guerra civil liberiana, em 2003. Ela mobilizou as mulheres no país pelo fim da guerra, organizando inclusive uma "greve de sexo" em 2002.Também organizou as mulheres acima de suas divisões étnicas e tribais no país, ajudando a garantir direitos políticos para elas. Estas são as informações que são destacadas na imprensa em geral, de Leymah Gbowee. O que quero trazer aqui são detalhes um pouco mais amplos que ajudam a entender de onde vem a motivação desta mulher.

Leymah é cristã, e sua prática de fé se insere na Igreja Luterana da Liberia, que é membro da Federação Luterana Mundial. No início de sua militância ela foi presidente da organização de mulheres da Igreja Luterana St. Peter, na capital Monrovia. Junto com outra mulher, Comfort Freeman, organizaram o "Programa Mulheres Construindo a Paz". Esta organização foi plataforma ativa de mulheres engajadas na superação da violência, pelo fim da guerra na Liberia.

"O povo da Liberia tem esperança", dizia Gbowee naquela época, se referindo às mulheres que iniciaram os seus dias sentando por paz em meados de abril, na capital Monrovia. Sob sol ou chuva as mulheres da Liberia se reuniam para afirmar seu compromisso pela paz. Elas se reuniam para protestar contra as açoes de todos que perpetuavam a violenta guerra civil "Nossa visao é pela unidade de nossas familias e a eliminacao da fome e das doencas. Nos cremos que as maos poderosas de Deus nos acolhem neste esforço. Deus voltou seus ouvidos para nos."

O que elas faziam? Elas se reuniam pra sentar e orar juntas! Mas, sua oração era uma oração que juntava em si o que o texto de Marcos recomenda - vigiai e orai. A oração ativa e engajada destas mulheres lideradas por Laymah se dava nos mais diferentes lugares na igreja, nas casas, nas ruas, ou em pontos estratégicos, como na frente dos portões do exército onde os caminhões de guerra saíam com os soldados prontos para as batalhas na guerra sangrenta que assolou o país. As mulheres superaram barreiras culturais que as prendiam a ser donas de casas expectadoras da violencia, ou limites religiosos - elas reuniram cristãs e muçulmas em suas ações de paz. Elas firmemente pronunciaram com suas palavras que basta! Chega de violência e guerra! Queremos paz! E tomando o rumo de suas vidas e de suas famílias em suas mãos, juntaram as mãos em oração por paz. Seu movimento foi juntando mais adeptas e com a pressão de serem muitas, em redes, em grupos, foram forjando os rumos do fim da guerra no país.

De1989 a 2003, Liberia enfrentou uma das piores e mais violentas Guerra civil na África; grupos rebeldes e forças governamentais se enfrentaram em batalhas pelo poder, em conflitos étnicos e políticos.

Em 2008, eu tive a oportunidade de visitar a igreja Luterana da Liberia e conhecer o trabalho das comunidades e dos grupos de mulheres que seguem firmes no testemunho de ser igreja inserida no contexto de pobreza, testemunhando com ações diaconais a presença do Evangelho libertador neste mundo. As mulheres seguem reunindo-se em oração, que são momentos de memória que está vigilante para que a guerra não volte, para que a paz, mesmo que frágil, siga regendo a vida desta sociedade tao sofrida. As mulheres guardam na memória que a oração é capaz de parar os tanques de guerra. A história de vida e testemunho de fé desta mulher que foi reconhecida internacionalmente laureada pelo premio nobel da paz ajuda na reflexão neste tempo de advento, inspirada pelo evangelho de Marcos, que exorta a vigiar e orar. A oração militante destas mulheres da Liberia é um exemplo concreto de como esta exortação se transforma em prática.

Elaine Neuenfeldt - pastora da IECLB, trabalhando na Federação Luterana Munidal repsonsavel pela oficina de Mulheres na Igreja e na Sociedade.

Presença ecumênica na cerimônia de assinatura da lei que cria a Comissão Nacional da Verdade e a lei


por Luiz Alberto Barbosa e Marcelo Schneider No último dia 18, a Presidenta Dilma Rousseff sancionou o projeto de lei que cria a Comissão Nacional da Verdade e a Lei de Acesso a Informações Públicas durante uma cerimônia realizada no Palácio do Planalto, em Brasília. O secretário-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), o reverendo anglicano Luiz Alberto Barbosa, representou o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) no evento.

Barbosa declarou que a assinatura da presidenta ajuda a escrever mais um capítulo da história democrática do país. "Apenas conhecendo a verdade sobre os processos de tortura, morte e perseguição política ocorridos no Brasil nos períodos de ditadura e exceção poderemos olhar para diante, sem cometer os mesmos erros", afirmou. A Comissão da Verdade será formada por sete pessoas de atuação relevante na defesa dos direitos humanos. O grupo terá dois anos para trabalhar, ouvindo depoimentos e analisando documentos que ajudem a esclarecer fatos que geraram violações de direitos humanos entre 1946 e 1988.

Ao dirigir-se aos presentes na cerimônia, a Presidenta Dilma Roussef disse acreditar que "a entrada em vigor da lei do acesso à informação e a criação da Comissão da Verdade ficarão para sempre como marcos da história e colocam o país num patamar de maior subordinação do Estado aos direitos humanos". "Com a vigência das leis, o cidadão ganha mais poder perante o Estado, mais poder de controle, o que será benéfico para a sociedade e para o fortalecimento da democracia", concluiu a presidenta.

O CMI ofereceu sua larga experiência em acompanhar os processos de reconciliação nacional em diversos países do mundo à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. O trabalho de pesquisa e análise não vai partir do zero. Serão aproveitadas as informações produzidas, há quase 16 anos, pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e, há dez anos, pela Comissão de Anistia. Além disso, parceiros estratégicos na defesa dos direitos humanos no Brasil, como o CONIC, o Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI) e o CMI, estão sendo chamados a colaborar.

Há cerca de duas semanas, o reverendo luterano Walter Altmann, moderador do Comitê Central do CMI, teve audiência com a Ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e sua equipe, em Brasília, para discutir e planejar o apoio mais direto do CMI e do movimento ecumênico ao trabalho da Comissão da Verdade no Brasil. Impossibilitado de comparecer à cerimônia em Brasília por motivo de estada no exterior, Altmann foi representado por Barbosa. "A constituição de uma Comissão da Verdade, apesar das limitações em seus termos de referência, é uma oportunidade e um passo significativo no campo dos direitos humanos", destacou Altmann. E acrescentou: "Era inconcebível que o Brasil, tendo nos últimos anos avançado na área econômica e desenvolvido importante programas de alcance social, não pudesse encarar de frente as graves infrações aos direitos humanos em sua história recente.

O resgate pleno da memória desses fatos é indispensável para que fatos iguais nunca mais venham a acontecer." Para o metodista Anivaldo Padilha, ativo defensor da criação da Comissão da Verdade, a lei que garante o direito de acesso a toda e qualquer informação constante em qualquer esfera de poder do Estado é um passo importante para se estabelecer a transparência nas relações entre o Estado e os cidadãos e cidadãs. "Para mim, o ponto mais importante da lei é o que estabelece que documentos relacionados a violações de direitos humanos não poderão jamais ser catalogados como sigilosos, confidenciais ou ultra-secretos", destacou Padilha, uma das vítimas dos abusos da força repressiva militar nos anos 70.

"A Comissão só conseguirá atingir seus objetivos de forma eficiente se contar com o apoio organizado da sociedade civil, incluindo as igrejas e o movimento ecumênico, pois ela se defrontará com grande oposição quando iniciar a identificação das instituições que apoiaram a ditadura, especialmente empresários e suas organizações, e as principais empresas de comunicação", concluiu.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Paróquia São Lucas

Dia 20 de movembro, a comunidade da Paróquia São Lucas fez um resgate da cultura Japonesa através da culinária. Foram confeccionadas bandejas de Harumaki, conhecido também como rolinho primavera. Após a celebração "acontecu uma santa bagunça", as famílias querendo levar para casa sua bandeja de harumaki. Foi emocionante perceber no semblante das pessoas mais antigas da comunidade a alegria de ver sua culinária sendo valorizada.

Negras e negros na Bíblia? - Por Edmilson Schinelo

Domingo, 20 de novembro de 2011 Os evangelhos sinóticos são unânimes em afirmar que um certo Simão de Cirene ajudou Jesus a carregar a cruz, a caminho do Calvário (Mt 27.32; Mc 15.21; Lc 23, 26).


Ora, Cirene fica no norte da África, mas alguma vez você ouviu em prédica ou sermão, na catequese, na escola dominical ou no ensino confirmatório, que um africano ajudou Jesus a carregar a cruz? Estudiosos dirão que se trata de um judeu da diáspora, visto que no norte da África havia várias colônias judaicas. Mas com que argumentos ou intenções fazem esta escolha na interpretação?

Por contrariar os interesses da corte de Jerusalém, pouco antes da destruição da cidade pelas tropas babilônicas, o profeta Jeremias foi preso e lançado numa cisterna. Um africano, funcionário do rei (seu nome, Ebed-Melec, significa "ministro do rei"), liderou um movimento para libertar Jeremias (Jr 38,1-13). Quantas vezes você se lembra de ter estudado este texto, dando atenção a este "detalhe"?

Moisés, conta-nos Nm 12, casou-se com uma africana, da região de Cush - Etiópia. Na verdade, quase toda a historia do êxodo se passa na África. Uma simples leitura do Canto de Miriã (Ex 15,19-21), com certeza um dos textos mais antigos de toda a Bíblia, nos permite notar a proximidade da cena com a rica cultura dos povos negros: canto e dança ao redor dos tambores. Você já parou para pensar nisso?

O missionário Filipe, ao "aceitar a carona" na carruagem do negro e alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, tem uma grata surpresa: o africano já tem em suas mãos o livro do profeta Isaías (At 8, 26-40). E há quem continue afirmando que os foram os europeus que levaram a Bíblia para a África!

Pois bem, os exemplos acima são suficientes para nos provocar ao desafio: olhar a Bíblia na perspectiva da negritude!

Em primeiro lugar, porque seguimos acreditando que o Deus da Bíblia faz opção pelas pessoas e pelos grupos mais marginalizados. Em nossa sociedade, as mulheres, as pessoas negras e indígenas continuam sendo as maiores vítimas da gritante exclusão social. Com elas aprendemos a resistir. Em segundo lugar, porque queremos e podemos descobrir as raízes negras do povo hebreu e de toda a Bíblia. De fato, antes de ser européia, a Bíblia é afro-asiática. Não negamos a contribuição européia ao nosso continente, queremos seguir trocando saberes com o chamado "Velho Continente". Mas denunciamos o cristianismo branco e opressor, com teologias que chegaram ao absurdo de justificar a escravidão negra (feita pelos brancos) e que continuam, muitas vezes, negando nossas raízes.

Não queremos fazer isso apenas pinçando textos bíblicos nos quais apareçam personagens africanas. Este até pode ser o primeiro passo, um exercício necessário e interessante. Mas é preciso mais do que isso, é preciso olharmos toda a Bíblia na perspectiva da negritude. Porque essa é nossa experiência, ainda que negada: vivemos num país onde metade da população é afro-descendente. "Coincidentemente", é a metade mais pobre.

Que aceitemos o desafio de mergulharmos na Bíblia e na vida com nosso olhar afro-descendente. Afinal, por muitos séculos, fizemos isso apenas com o olhar europeu. Erramos e acertamos, agora vemos que é preciso mais. Ou manteremos a opção, muito mais cômoda e bem menos questionadora para nossa sociedade preconceituosa e racista, de continuar enxergando apenas um Jesus loiro, de olhos azuis e cabelos cacheados?

Extraído de Bíblia e Negritude - Pistas para uma leitura afro-descendente. São Leopoldo: CEBI/EST, 2005. Para adquirir, acesse: http://www.cebi.org.br/publicacoes-

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Ser gay é pecado? A evangélica opinião de lideranças cristãs


Transcrevemos a matéria publicada na Revista Carta Capital, publicada em 11 de novembro de 2011. A reprodução foi autorizada pela Redação da Revista. Ser gay é pecado? (Cynara Menezes)


A representação de São Sérgio e São Baco, símbolos da causa LGBT.


Em seu programa de tevê e nos cultos, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, um dos maiores porta-vozes do conservadorismo religioso no País, costuma repetir a ladainha: "Homossexualidade na Bíblia é pecado. Pode tentar, forçar, mas é pecado". Mas será mesmo pecado ser gay? Não, contestam, baseados na interpretação da mesma Bíblia, sacerdotes cristãos, tanto católicos quanto evangélicos. Para eles, a mensagem de Jesus era de inclusão: se fosse hoje que viesse à Terra, o filho de Deus teria recebido os homossexuais de braços abertos.


tação sexual não é o que vai definir a nossa salvação "Orientação sexual não é o que vai definir a nossa salvação", afirma o bispo primaz da Igreja Anglicana no Brasil, dom Maurício Andrade. "É muito provável que as pessoas homoafetivas fossem acolhidas por Jesus. O Evangelho que ele pregou foi de contracultura e inclusão dos marginalizados", opina. Segundo o bispo, ao mesmo tempo que não há nenhuma menção à homossexualidade no Novo Testamento, há várias passagens que demonstram a pregação de Jesus pela inclusão. Não só o conhecido "quem nunca pecou que atire a primeira pedra" à adúltera Maria Madalena. No Evangelho de João, capítulo 4, Jesus está a caminho da Galileia, partindo de Jerusalém. Cansado, decide descansar ao lado de um velho poço, em plena região da Samaria, cujos habitantes eram desprezados pelos judeus. E inicia conversação com uma mulher samaritana que vinha buscar água, e lhe oferece a salvação da alma, para espanto de seus próprios apóstolos, que a consideravam ímpia.
Também quando Jesus vai à casa de Zaqueu, o coletor de impostos decidido a passar a noite lá, os discípulos murmuram entre si que se hospedaria "com homem pecador". Mas Jesus não só o faz como também oferece a Zaqueu, homem rico tido como ladrão, a salvação. "Hoje veio a salvação a esta casa, por este ser também filho de Abraão." "Jesus inaugura o momento da Graça, os Evangelhos atualizam vários trechos do Velho Testamento. Ou alguém pode imaginar apedrejar pessoas hoje em dia?", questiona dom Maurício, para quem a interpretação da Bíblia deve se basear no tripé tradição, razão e experiência cotidiana. "Quem interpreta que a Bíblia condena a homoafetividade está sendo literalista. Cada texto bíblico está inserido num contexto político, histórico e cultural, não pode ser transportado automaticamente para os dias de hoje. Além disso, a Igreja tem de dar resposta aos anseios da sociedade, senão estaremos falando com nós mesmos." Também anglicano, o arcebispo Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz em 1984, lançou em março deste ano o livro Deus Não É Cristão e Outras Provocações, que traz um texto sobre a inclusão dos cidadãos LGBT à Igreja e à sociedade. Para Tutu, a perseguição contra os homossexuais é uma das maiores injustiças do mundo atual, comparável ao apartheid contra o qual lutou na África do Sul. "O Jesus que adoro provavelmente não colabora com os que vilipendiam e perseguem uma minoria já oprimida", escreveu. "Todo ser humano é precioso. Somos todos parte da família de Deus. Mas no mundo inteiro, lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros são perseguidos. Nós os tratamos como párias e os fazemos duvidar que também sejam filhos de Deus. Uma blasfêmia: nós os culpamos pelo que são." Nos Estados Unidos, a Igreja Anglicana foi a primeira a ordenar um bispo homossexual, em 2004. "Não por ser gay, mas porque a Igreja reconheceu o serviço e o ministério dele", alerta dom Maurício. Foi com base na demanda crescente de respostas por parte dos fiéis homossexuais ou com -parentes e amigos gays que os anglicanos começaram a rever suas posturas, a partir de 1997. No ano seguinte, foi feita uma recomendação para que os homoafetivos fossem escutados, embora a união de pessoas do mesmo sexo ainda fosse condenada e que se rejeitasse a prática homossexual como "incompatível" com as Escrituras. No Brasil, onde possui mais de 60 mil seguidores, a Igreja Episcopal Anglicana realizou em 2001 a primeira consulta nacional sobre sexualidade, quando seus fiéis decidiram rejeitar "o princípio da exclusão, implícito na ética do pecado e da impureza", e fazer uma declaração pública em favor da inclusividade como "essência do ministério encarnado de Jesus". Em maio deste ano, os anglicanos divulgaram uma carta de apoio à decisão do Supremo Tribunal Federal de permitir a união civil entre pessoas do mesmo sexo, baseados não só na defesa da separação entre Estado e Igreja como no reconhecimento de que as relações homoafetivas "são parte do jeito de ser da sociedade e do ser humano". Com o reconhecimento pelo Superior Tribunal de Justiça, em 25 de outubro, da união civil de duas lésbicas, é possível que a intolerância religiosa contra os homossexuais volte a se acirrar.


No Twitter, Malafaia atiçava os seguidores a enviar e-mails aos juízes do Tribunal pedindo a rejeição do recurso. Em vão: a união entre as duas mulheres gaúchas, juntas há cinco anos, gan
hou por 4 votos a 1.

Homossexual, o padre Alison não tem função como pároco. Foto: Olga Vlahou.
A partir da primeira decisão do STF, foi criada, informalmente até agora, uma frente religiosa pela diversidade sexual, que reúne integrantes de diversas igrejas: batistas, metodistas, anglicanos, luteranos, presbiterianos, católicos e pentecostais. Coordenador do grupo, o metodista Anivaldo Padilha (pai do ministro da Saúde, Alexandre Padilha) diz que a homossexualidade é hoje um dos temas que mais dividem as igrejas, tanto evangélicas quanto católicas. "Quem alimenta o preconceito são as lideranças. Os fiéis manifestam dificuldade em obter respostas, porque no convívio com amigos, colegas ou mesmo parentes que sejam homossexuais não veem diferença." Mais: segundo Padilha, a proporção de homossexuais entre os evangélicos é bastante similar à da sociedade brasileira como um todo. Sua convicção vem da pesquisa O Crente e o Sexo, do Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã, entidade que possui o maior banco de dados com e-mails de evangélicos brasileiros - mais de 1,6 milhão. Na pesquisa, foram ouvidos pela internet 6.721 solteiros evangélicos de todo o País, entre 16 e 60 anos. Os resultados, divulgados em junho deste ano: 5,02% dos evangélicos tiveram uma experiência homossexual e 10,69% disseram desejar experimentar ter relações com pessoas do mesmo sexo. Uma pesquisa feita em 2009 pelo Ministério da Saúde com os brasileiros em geral apontou que 7,6% das pessoas- entre 15 e 64 anos haviam tido relações com o mesmo sexo na vida. Quer dizer, a diferença entre os hábitos sexuais dos crentes e do resto da população é quase nula. "A questão não é teológica", argumenta Padilha. "O que existe é que esse tema tem sido utilizado politicamente pela direita brasileira. Como não existe mais o comunismo, conseguem manipular a opinião pública assim. Eles têm o direito de expressar opiniões, mas não se pode impor ao Estado conceitos de pecado que não dizem respeito aos que professam outras religiões, ou nenhuma." De acordo com historiadores, a posição religiosa em relação à homossexualidade mudou ao longo dos séculos: de mais tolerante para menos. O americano John Boswell, pesquisador da Universidade Yale que morreu de Aids- aos 47 anos em 1994 e que dedicou a vida acadêmica a investigar a homossexualidade relacionada ao cristianismo, afirmava que a Igreja Católica não condenou as relações entre o mesmo sexo até o século XII. Ao contrário: o historiador, contestado por alguns e aclamado por outros, revelou no livro O Casamento entre Semelhantes - Uniões entre pessoas do mesmo sexo na Europa pré-moderna (1994) a existência de manuscritos que comprovam a celebração de rituais matrimoniais religiosos durante toda a Idade Média por sacerdotes católicos e ortodoxos para consagrar uniões homossexuais. Nos 80 manuscritos descobertos por Boswell sobre as bodas gays entre os primeiros cristãos, invocava-se como protetores os santos católicos Sérgio e Baco, tidos como homossexuais. Celebrados no dia 7 de outubro, São Sérgio e São Baco aparecem juntos em toda a iconografia religiosa a partir do século IV depois de Cristo e atualmente são objeto de homenagem de vários artistas plásticos ligados ao movimento LGBT. Soldados do imperador romano Maximiano, foram ambos martirizados por se recusar a entrar em um templo e adorar Júpiter. Baco, flagelado com chicotadas, morreu primeiro. Uma crônica, provavelmente do século- X, conta que Sérgio "com o coração enfermo pela perda de Baco, chorava e gritava: ‘te separaram de mim, foste ao Céu e me deixaste só na Terra, sem companhia nem consolo'". Em fevereiro deste ano, o pesquisador e professor de Literatura Carlos Callón, da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, foi premiado pelo ensaio Amigos e Sodomitas: A configuração da homossexualidade na Idade Média, onde conta a história de Pedro Díaz e Muño Vandilaz, protagonistas do primeiro matrimônio homossexual da Galícia, em 16 de abril de 1061. No documento, o casal compromete-se a morar juntos e se cuidar mutuamente "todos os dias e todas as noites, para sempre". Segundo Callón, há muitos relatos semelhantes, inclusive com rituais religiosos similares aos heterossexuais, com a diferença de que as bênçãos faziam alusão ao salmo 133 ("Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos"), ao amor de Jesus e João ou a São Sérgio e São Baco.

Sem dogmatismo: Gondim, evangélico contra os excessos neopentecostais. Foto: Olga Vlahou

"Trato também na pesquisa de como na lírica ou na prosa galego-portuguesa medievais aparecem alguns exemplos de relações entre homens", diz o professor. "As relações homossexuais são documentáveis em todas as épocas, o que houve foi um processo de adulteração, de falsificação da história, para nos fazer pensar que não." Outro dado importante ressaltado pelo pesquisador é que a perseguição contra os homossexuais vem originalmente do Estado. Só mais tarde a Igreja se converteria na principal fonte do preconceito. "Os traços básicos do preconceito contra a homossexualidade tiveram sua origem na Baixa Idade Média, entre os séculos XI e XIV. É nessa altura que emerge a intolerância homofóbica, desconhecida na Antiguidade. Inventa-se o pecado da sodomia, inexistente nos mil primeiros anos do cristianismo, a englobar todo o sexo não reprodutivo, mas tendo como principal expoente as relações entre homens ou entre mulheres. Com o tempo, passará a ser o seu único significado", explica Callón. De fato, a palavra "sodomia" para designar o coito anal em geral e as relações homossexuais em particular, e ao que tudo indica foi introduzida na Bíblia por seu primeiro tradutor ao inglês, o britânico John Wycliffe (1320-1384). Wycliffe traduziu o termo grego arsenokoitai como "pecado de Sodoma". Daí a utilização da palavra "sodomita" para designar os gays, o que acabou veiculando-os para sempre com o relato bíblico das pecadoras cidades de Sodoma e Gomorra, destruídas por Deus com fogo e enxofre para punir a imoralidade de seus habitantes. Mas o significado real de arsenokoitai (literalmente, a junção das palavras "macho" e "cama") é ainda hoje alvo de controvérsia. O próprio termo "homossexual" para designar as pessoas que preferem se relacionar com outras do mesmo sexo é recente: só passou a existir a partir do século XIX. A versão revisada em inglês da Bíblia, de 1946, é a primeira a utilizá-lo. Isto significa que as menções à "homossexualidade", "sodomia" e "sodomitas" nas escrituras seriam mais uma questão de interpretação do que propriamente de tradução. "A Bíblia, infelizmente, tem sido usada para defender quaisquer posicionamentos, desde a escravidão (sobram textos que legitimam a escravatura) ao genocídio", opina o pastor Ricardo Gondim, da Igreja Betesda de São Paulo, protestante. "Como o sexo é uma pulsão fundamental da existência, o controle sobre essa pulsão mantém um fascínio enorme sobre quem procura preservar o poder. Assim, o celibato católico e a rígida norma puritana não passam de mecanismos de controle. O uso casuístico das Escrituras na defesa de posturas consideradas conservadoras ou ‘ortodoxas' não passam, como dizia Michel Foucault, de instrumentos de dominação."


"Um teólogo que eu admiro muito, Carlos Mesters, costuma dizer que a Bíblia é uma flor sem defesa. Dependendo da mão e da intencionalidade de quem a usa, a posição mais castradora ou a mais libertadora pode ser defendida usando-a", concorda a pastora Odja Barros, presidente da Aliança de Batistas do Brasil, espécie de dissidência da Igreja Batista que aceita homossexuais entre seus integrantes - são seis igrejas no País. Tudo começou há cinco anos, conta Odja, quando se colocou diante de sua igreja, em Maceió, o desafio: um homossexual converteu-se e não queria abrir mão de seu gênero. Foi uma pequena revolução. Alguns integrantes deixaram a Igreja, outros se juntaram a ela, e houve fiéis que, animados, também resolveram se revelar homossexuais. "Em todas as comunidades evangélicas existem gays, mas são reprimidos", afirma a pastora. Um dos pontos principais para a compreensão da questão à luz da Bíblia, de acordo com Odja Barros, é desconstruir as leituras mais hegemônicas, patriarcais, que afetam a vida não só dos gays, como das mulheres. Há trechos, por exemplo, que justificam a submissão e a violência contra a mulher. A própria Odja só se tornou pastora graças a essa releitura. "As pessoas vêm me dizer que sou feminista, que sou moderna, mas me sinto muito fiel a algo -muito -antigo, que é a defesa da dignidade do ser humano sobre todas as coisas. O Evangelho tem a ver com esses valores", argumenta. "A sociedade caminhou mais rápido e é um desafio à Igreja, quando deveria ser o contrário.



" Entre os católicos, curiosamente, a homossexualidade não é vetada a partir da Bíblia, mas a partir da concepção de que seria antinatural, ou seja, fora do objetivo da procriação. É assim, até hoje, que prega a Igreja, daí a condenação também ao uso de contraceptivos como a camisinha. Tudo isso vem de uma época em que se conhecia muito pouco de biologia. A descoberta do clitóris como fonte do prazer feminino, por exemplo, é do século XVI. O ovário, que sacramentou a diferença entre homem e mulher, só foi descoberto no século XVIII. Até então, pensava-se que a mulher era um homem em desvantagem, um corpo masculino "castrado". "Além disso, hoje temos conhecimento de uma gama impressionante de comportamentos sexuais entre os animais, o que inclui homossexualidade e hermafroditismo", defende o padre católico James Alison, britânico radicado em São Paulo. Homossexual assumido, Alison conta que se situa numa espécie de "buraco negro" em que se encontram, segundo ele, muitos padres católicos gays: sem função como párocos, não estão subordinados a bispos e, por isso mesmo, escapam de sanções da Igreja. O padre, que vive como teólogo, compara a homossexualidade a ser canhoto. Ou seja, um porcentual- da população nasceria -homossexual, assim como nascem pessoas que escrevem com a mão esquerda. "Aproximadamente 9,5% das pessoas são canhotas e isso também já foi considerado uma patologia." Alison conta que a Igreja Católica faz um malabarismo ideológico para sustentar a proibição de ser homossexual-, pois no ensino teológico do Vaticano o fato em si não é considerado pecado. "Eles dizem que ‘enquanto a inclinação homossexual não seja em si um pecado, é uma tendência para atos intrinsecamente maus', uma coisa confusa e insustentável a essa altura." O padre acredita, porém, que a aceitação da homossexualidade pelos católicos melhorou sob Bento XVI. "Neste tema, os prudentes calam e os burros gritam. João Paulo II promovia os gritões. Hoje a tendência é prudência. Já não se veem bispos falando publicamente que é uma patologia. Se a Igreja reconhecer que não há patologia, será natural reconhecer a homossexualidade. É um lado bom de Ratzinger, mas tudo isso ocorre caladamente, nos bastidores da Igreja." Para o padre, a falta de discussão no catolicismo sobre a homossexualidade "emburreceu" as pessoas para o debate em torno da pedofilia, que tanto tem causado danos à imagem da Igreja nos últimos anos. Daí a reação lenta diante das denúncias. E também se tornou um obstáculo à evangelização. "A homofobia instintiva já não é mais realidade, há cada vez mais solidariedade fraterna concreta. Muitos jovens são por natureza gay friendly. E se perguntam: por que seguir Jesus se tenho de odiar os gays?"

domingo, 20 de novembro de 2011

Perfis dos corruptos


"Enquanto os corruptos não vão para a cadeia, ao menos nós, eleitores, ano que vem podemos impedi-los de serem eleitos para funções públicas", escreve Frei Betto, escritor, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 15-11-2011. Eis o artigo.


Manifestações públicas em várias cidades exigem o fim do voto secreto no Congresso, o direito de o Conselho Nacional de Justiça investigar e punir juízes, a vigência da Ficha Limpa nas eleições de 2012 e o combate à corrupção na política. Por que há tanta corrupção no Brasil? Temos leis, sistema judiciário, polícias e mídia atenta. Prevalece, entretanto, a impunidade - mãe dos corruptos. Você conhece um notório corrupto brasileiro? Foi processado e está na cadeia? O corrupto não se admite como tal. Esperto, age movido pela ambição de dinheiro. Não é propriamente um ladrão. Antes, trata-se de um requintado chantagista, desses de conversa frouxa, sorriso amável, salamaleques gentis. Anzol sem isca, peixe não belisca. O corrupto não se expõe; extorque. Considera a comissão um direito; a porcentagem, pagamento por serviços; o desvio, forma de apropriar-se do que lhe pertence; o caixa dois, investimento eleitoral. Bobos aqueles que fazem tráfico de influência sem tirar proveito. Há vários tipos de corruptos. O corrupto oficial se vale da função pública para extrair vantagens a si, à família e aos amigos. Troca a placa do carro, embarca a mulher com passagem custeada pelo erário, usa cartão de crédito debitável no orçamento do Estado, faz gastos e obriga o contribuinte a pagar. Considera natural o superfaturamento, a ausência de licitação, a concorrência com cartas marcadas. Sua lógica é corrupta: "Se não aproveito, outro sai no lucro em meu lugar". Seu único temor é ser apanhado em flagrante. Não se envergonha de se olhar no espelho, apenas teme ver o nome estampado nos jornais e a cara na TV. O corrupto não tem escrúpulo em dar ou receber caixas de uísque no Natal, presentes caros de fornecedores ou patrocinar férias de juízes. Afrouxam-no com agrados e, assim, ele relaxa a burocracia que retém as verbas públicas. Há o corrupto privado. Jamais menciona quantias, tão somente insinua. É o rei da metáfora. Nunca é direto. Fala em circunlóquios, seguro de que o interlocutor sabe ler nas entrelinhas. O corrupto "franciscano" pratica o toma lá, dá cá. Seu lema: "quem não chora, não mama". Não ostenta riquezas, não viaja ao exterior, faz-se de pobretão para melhor encobrir a maracutaia. É o primeiro a se indignar quando o assunto é a corrupção. O corrupto exibido gasta o que não ganha, constrói mansões, enche o pasto de bois, convencido de que puxa-saquismo é amizade e sorriso cúmplice, cegueira. O corrupto cúmplice assiste ao vídeo da deputada embolsando propina escusa e ainda finge não acreditar no que vê. E a absolve para, mais tarde, ser também absolvido. O corrupto previdente fica de olho na Copa do Mundo, em 2014, e na Olimpíada do Rio, em 2016. Sabe que os Jogos Pan-Americanos no Rio, em 2007, orçados em R$ 800 milhões, consumiram R$ 4 bilhões. O corrupto não sorri, agrada; não cumprimenta, estende a mão; não elogia, incensa; não possui valores, apenas saldo bancário. De tal modo se corrompe que nem mais percebe que é um corrupto. Julga-se um negocista bem-sucedido. Melífluo, o corrupto é cheio de dedos, encosta-se nos honestos para se lhe aproveitar a sombra, trata os subalternos com uma dureza que o faz parecer o mais íntegro dos seres humanos. Enquanto os corruptos brasileiros não vão para a cadeia, ao menos nós, eleitores, ano que vem podemos impedi-los de serem eleitos para funções públicas.

sábado, 19 de novembro de 2011

Encontro de Reflexão Grupo Lerroville

Dia 18 de novembro o grupo de mulheres de Lerroville reuniu-se para refletir e Rezar juntas. Foi um momento de grande descoberta da força e de fé de algumas mulheres em defesa da vida, Inspiradas pelo texto bíblico de Ex 1;15-22. Encerramos o encontro com um momento de celebração e partilha.












Entre nós está e não o conhecemos (Mt 25,31-46) - Mesters, Lopes e Orofino


QUEM ESTÁ AÍ? SOU EU! ENTRE NÓS ESTÁ E NÃO O CONHECEMOS MATEUS 25,31-46 Texto extraído no livro "Travessia - Quero misericórdia e não sacrifício" - Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Mateus. Autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino.

SITUANDO O Sermão da Montanha, o primeiro livro da Nova Lei, abriu com as oito bem aventuranças. O Sermão da Vigilância, o quinto e último livro da Nova Lei, encerra com a parábola que descreve o juízo final. As bem-aventuranças descrevem o portão de entrada para o Reino, enumerando oito categorias de pessoas: os pobres em espírito, os mansos, os aflitos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os de coração limpo, os promotores da paz e os perseguidos por causa da justiça. A parábola do juízo final conta o que devemos fazer para poder tomar posse do Reino, a saber, acolher os famintos, os sedentos, os estrangeiros, os sem roupa, os doentes e os prisioneiros. No começo e no fim da Nova Lei estão os excluídos e marginalizados, estão os que procuram acabar com a exclusão. No fim do século I, as comunidades cristãs eram uma minoria. Vistas do lado de fora, pareciam grupos dissidentes dentro do mundo judeu. Ainda não tinham lideranças próprias organizadas. Seus superiores jurídicos ainda eram os escribas e os fariseus. O que havia eram missionários e missionárias ambulantes que passavam pelas comunidades para animá-las a continuar firmes na nova maneira de viver a Lei de Deus. Estes missionários eram pessoas simples, leigas, sem muita instrução. Por isso, eram desprezadas e perseguidas pelas lideranças dos judeus. Passavam fome e sede e, muitas vezes, eram jogadas na prisão. Esta situação é o pano de fundo da parábola do juízo final.

2. COMENTANDO Mateus 25,31-33: Abertura do julgamento final Chegou a hora do julgamento. O Filho do Homem aparece e reúne ao seu redor todas as nações do mundo. Separa as pessoas como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. O pastor sabe discernir. Ele não erra: ovelhas à direita, cabritos à esquerda. Jesus não erra. Ele sabe discernir bons e maus. Jesus não julga, nem condena. Ele apenas separa. É a pessoa que se julga e se condena pelo seu relacionamento com os pequenos. Mateus 25,34-36: Sentença para os que estiverem à sua direita Os que estão à sua direita são chamados "Benditos de meu Pai!", isto é, recebem a bênção que Deus prometeu a Abraão e à sua descendência (Gn 12,3). Eles são convidados a tomar posse do Reino, preparado para eles desde a fundação do mundo. O motivo da sentença é este: "Tive fome e sede, era estrangeiro, nu, doente e preso, e vocês me ajudaram!" A parábola tem um suspense. Até agora não se disse quem são as ovelhas que ficam à direita do Juiz. Sabemos apenas que elas acolheram o Juiz quando este estava faminto, sedento, estrangeiro, nu, doente e preso. E, pelo jeito de falar, "meu Pai" e "Filho do Homem", sabemos também que o Juiz é Jesus. Mateus 25,37-40: O esclarecimento do Juiz - O vigário de Cristo é o pobre Os que acolheram os excluídos são chamados "justos". Isto significa que a justiça do Reino não se alcança observando normas e prescrições, mas sim acolhendo os necessitados. Mas os próprios justos não sabem quando foi que acolheram Jesus necessitado. Jesus responde: "Toda vez que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes!" Quem são estes "meus irmãos mais pequeninos"? Em outras passagens do Evangelho de Mateus, as expressões "meus irmãos" e "pequeninos" indicam os discípulos (Mt 10,42; 12,48-50; 18,6.10.14; 28,10). São os membros mais abandonados da comunidade, os desprezados que não recebem lugar e não são bem recebidos (Mt 10,40). Jesus se identifica com eles. Mas não é só isto. Aqui no contexto tão amplo desta parábola final, a expressão "meus irmãos mais pequeninos" se alarga e inclui todos aqueles que na sociedade não têm lugar. Indica todos os pobres. E os "justos" e os "benditos de meu Pai" são todas as pessoas que acolhem o outro na total gratuidade, independentemente do fato de ser cristão ou não. Mateus 25,41-43: Sentença para os que estiverem à sua esquerda Os que estão do outro lado do Juiz são chamados de "malditos" e são destinados ao fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Jesus usa a linguagem simbólica comum daquele tempo para dizer que estas pessoas não entram no Reino. E aqui também o motivo é um só: não acolhem Jesus faminto, sedento, estrangeiro, nu, doente e preso. Não é Jesus que nos impede de entrar no Reino, mas sim a nossa prática de não acolher o outro, a cegueira que nos impede de ver Jesus nos pequeninos. Mateus 25,44-46: Pedido de esclarecimento e resposta do Juiz O pedido de esclarecimento mostra que se trata de gente comportada, pessoa que têm a consciência em paz. Estão certas de terem praticado sempre o que Deus pedia delas. Por isso estranham quando o Juiz diz que não o escolheram. O Juiz responde: "Todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizeram!" A omissão! Não fizeram coisas más! Apenas deixaram de praticar o bem aos pequeninos e de acolher os excluídos. E segue a sentença final: estes vão para o fogo eterno, e os justos para a vida eterna. Assim termina o quinto livro da Nova Lei!

3. ALARGANDO Os quatro evangelhos são o álbum de fotografias do novo povo de Deus. Neles os primeiros cristãos conservaram para nós as fotos mais bonitas de Jesus. Eles conservavam as palavras de Jesus não como palavras de alguém do passado. Para eles, Jesus não era uma pessoa falecida de saudosa memória, mas sim alguém bem vivo no meio deles. Quando liam ou ouviam as palavras do Evangelho, não as escutavam como se fossem palavras de 20 ou 30 anos atrás, gravadas numa fita, mas sim como palavras que este Jesus, vivo e presente, diria a eles naquele momento. Assim, no texto de hoje, este mesmo Jesus aponta os pobres e os excluídos e nos diz: "SOU EU!"

CEBI realiza Assembleia Nacional


Entre os dias 11 e 14 de novembro de 2011, o CEBI realizou sua 19ª Assembleia Nacional. Realizado a cada três anos, o evento congrega representantes de todo os estados do Brasil que, além de avaliar a caminhada e planejar o próximo triênio, também elegem a nova direção da entidade. Foto: Marcelo Porto - CEBI/DF Ampliar imagem Frei Carlos Mesters ao final da celebração Esta Assembleia também foi marcada pela comemoração dos 80 anos de vida do biblista Carlos Mesters, um dos fundadores do CEBI, o que permitiu um tom muito mais festivo e carregado de emoções em diversos momentos. Veja aqui vídeo de 9 minutos lembrando a história de Mesters) Temas de destaque Na medida do possível, considerado o caráter da Assembleia, foram avaliados os avanços e as dificuldades em relação aos temas definidos como prioridade na última Assembleia Nacional, realizada em novembro de 2008 (Juventude, Saúde, Mundo Urbano e Temas de Fronteira, como descriminalização do aborto, direitos reprodutivos, homoafetividade e homossexualidade). Para a Assembleia, esses eixos devem permanecer, uma vez que a consolidação de direitos mínimos aos grupos e populações mais afetados por questões ligadas a esses temas é processo lento. Outras temáticas também podem receber maior atenção, como a desconstrução da imagem monoteísta para reconstruir um imaginário religioso mais plural, mais inclusivo. Lembrou-se também da necessidade de confirmar as linhas transversais da Leitura Popular da Bíblia (espiritualidade, cidadania, ecumenismo, gênero e ecologia). A Assembleia delegou ao Conselho a tarefa de definir quais dos temas terão maior destaque no próximo triênio. Reestruturação Ampliar imagem A Assembleia foi também o ponto de chegada de dois anos de avaliação de todas as instâncias organizativas do CEBI. Depois de mais de 30 anos de existência, fazia eco a necessidade de adaptação das estruturas à realidade atual e às necessidades das comunidades e grupos que praticam a Leitura Popular da Bíblia estimulada pelo Centro de Estudos Bíblicos. Conforme passou a constar no próprio Estatuto da entidade, "As pequenas comunidades são o lugar privilegiado de realização das atividades do CEBI". Este princípio orientou a constituição de uma nova estrutura organizacional, mais voltada às necessidades formativas locais de cada Estado. Pela avaliação das pessoas participantes, chegou-se a uma estrutura mais leve, mais ágil e mais democrática. Delegação de observadores/as Foto: Marcelo Porto - CEBI/DF Ampliar imagem Grupo de visitantes estrangeiros Além de várias pessoas visitantes, uma delegação estrangeira, fez-se presente durante toda a Assembleia, apresentando suas contribuições e, muitas vezes, ajudando a enxergar pontos nem sempre vistos "por quem é de dentro". Ailed Villalba e Izett Samá representaram o Centro Memorial Martin Luther King, de Cuba, organismo com o qual o CEBI possui atividades de intercâmbio. Alessandro Esposito representou a Igreja Valdense, da Itália, e Dario Vaona representou os grupos de Leitura Popular da Bíblia presentes em solo italiano. Gente nova na direção do CEBI A Assembleia foi precedida por seis assembleias regionais, que fizeram a indicação das candidaturas para a Assembleia Nacional, as representações no Conselho Nacional e para o Conselho Fiscal. Foto: Marcelo Porto - CEBI/DF Ampliar imagem Direção Nacional Para a Direção Nacional, de uma lista de sete nomes, foi eleita Adeodata dos Anjos como diretora (centro da foto). Adeodata é leiga católica integrante do CEBI-PI e animadora de comunidades que fazem da Leitura Popular da Bíblia uma maneira de aprender a conviver com o Semi-árido Nordestino. Odja Barros e Luiz Dietrich foram eleitos como diretora e diretor adjuntos. Odja é pastora batista e integrante do CEBI-AL e Luiz é leigo católico do CEBI-SC.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Somos sete bilhões - Marcelo Barros,


Deu nos jornais: na semana passada, exatamente na 2ª feira, 31 de outubro, nasceu a criança que nos fez completar sete bilhões de seres humanos no planeta terra. Não adianta especular quem foi essa criança e onde nasceu. Simbolicamente, foi escolhida uma menina que nasceu a zero hora do dia 31 nas Filipinas, mas é um dado simbólico e aproximativo. Entretanto, a ONU garante: somos sete bilhões. Basta dizer isso e surgem perguntas: a terra cabe tanta gente? Há alimento para tantas bocas? Como fica a ecologia? Evidentemente há problemas e a humanidade terá de tomar decisões importantes. Sem dúvida, o maior problema é que a população mundial cresce, principalmente, em países empobrecidos e onde a situação de alimentação, saúde e condições de vida são precárias. Enquanto no Japão e na França a média de vida ultrapassa os 80 anos, na Uganda, Nigéria e em outros países da África não chega a 48. Neste mundo, mais de um bilhão de pessoas passa fome ou não tem segurança alimentar. Quase um bilhão não tem acesso à água potável suficiente. Dois cidadãos norte-americanos ricos acumulam uma riqueza maior do que quase todos os países da África possuem para produzir, alimentar e cuidar de suas populações. A Terra sofre com o tipo de organização humana que lhe pede de mais a mais recursos para sobreviver e preencher suas aspirações ao consumo. Por quanto tempo, a terra poderá sobreviver como sistema de vida ao modelo de progresso tecnológico do mundo atual? Os estudiosos garantem que, sem recorrer a sementes transgênicas e à produção desumana de carne com hormônios, a terra pode alimentar e dar de beber a onze bilhões de pessoas. Já em seu tempo, o Mahatma Gandhi dizia: "A terra tem riquezas naturais suficientes para alimentar a humanidade e todos os seres vivos, mas não basta uma terra inteira para saciar a ganância dos que só visam o lucro pessoal e a ambição”. Em termos de espaço, um cálculo de cientistas revela que se colocássemos os sete bilhões de humanos um junto do outro, todos caberiam na ilha de São Luiz no Maranhão ou na área urbana da cidade de Los Ángeles (Cf. Folha de São Paulo, 30/10/2011). Temos a consciência de que pertencemos a uma única família humana. Asiáticos, africanos, latino-americanos, europeus ou norte-americanos, temos o mesmo tipo de organismo, as mesmas fragilidades e uma necessidade comum a todos: a de amar e sermos amados. Muitos propõem um programa rígido de limitação de nascimentos. Entretanto, isso não é suficiente e profundo. O mais urgente é refazer as regras da convivência social, reformar a ONU para lhe dar poder de defender a justiça internacional e garantir o direito e a dignidade dos países pobres, assim como conceber um modelo de desenvolvimento baseado na justiça eco-social e no respeito à natureza. Formamos com todos os seres vivos uma só comunidade terrena. Quem pertence a alguma tradição espiritual e todas as pessoas comprometidas com a paz e a justiça se sentem chamados/as a colaborar para a construção desse mundo renovado, no qual o direito, a justiça e a paz possam brotar como flores de um jardim bem cultivado. -----------------------.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Para que servem os dons? (Mt 25, 14-30) - Mesters, Lopes e Orofino

TODOS RECEBEMOS ALGUM DOM DE DEUS Texto extraído da obra "Travessia:

Evangelho de Mateus. Autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino. Centro de Estudos Bíblicos. Saiba mais: .

1. SITUANDO A "parábola dos talentos" (Mt 25, 14-30) faz parte do 5º Sermão da Nova Lei. Ela está situada entre a parábola das dez moças (Mt 25, 1-13) e a parábola do juízo final (Mt 25, 31-46). As três parábolas orientam as pessoas sobre a chegada do Reino. A parábola das dez moças insiste na vigilância: o Reino pode chegar a qualquer momento. A parábola dos talentos orienta sobre como fazer para que o Reino possa crescer. A parábola do juízo final diz que para tomar posse do Reino se devem acolher os pequenos. Uma das coisas que mais influi na vida da gente é a ideia que nós fazemos de Deus. Entre os judeus da linha dos fariseus, alguns imaginavam Deus como um Juiz severo que os tratava de acordo como mérito conquistado pelas observâncias. Isto produzia medo e impedia as pessoas de crescer. Sobretudo, impedia que elas abrissem um espaço dentro de si para acolher a nova experiência de Deus que Jesus comunicava. Para ajudar a estas pessoas, Mateus conta a parábola dos talentos.


2. MENTANDO Mateus 25, 14-15: A porta de entrada na história da parábola A parábola conta a história de um homem que, antes de viajar, distribuiu seus bens aos empregados, dando 5, 2 ou 1 talento, conforme a capacidade de cada um. Um talento corresponde a 34 quilos de ouro, o que não é pouco! No fundo, cada um recebeu igual, pois recebeu "de acordo com a sua capacidade". Quem tem copo grande, recebe o copo cheio. Quem tem copo pequeno, recebe copo cheio. Em seguida, o patrão viajou para o estrangeiro e lá ficou por muito tempo. A história tem um certo suspense. Você não sabe com que finalidade o proprietário entregou o seu dinheiro aos empregados, nem sabe como vai ser o fim. Mateus 25, 16-18: O jeito de agir de cada empregado Os dois primeiros trabalham e fazem duplicar os talentos. Mas o que recebeu 1 enterrou o dinheiro no chão para guardar bem e não perder. Trata-se dos bens do Reino que são entregues às pessoas e às comunidades de acordo com a sua capacidade. Todos e todas recebem algum dom do Reino mas nem todos respondem da mesma maneira! Mateus 25, 19-23: Prestação de contas do primeiro e do segundo empregado, e a resposta do Senhor Depois de muito tempo, o proprietário voltou. Os dois primeiros dizem a mesma coisa: "O Senhor me deu 5/2. Aqui estão outros 5/2 que eu ganhei!" E o senhor dá a mesma resposta: "Muito bem, servo bom e fiel. Sobre pouco foste fiel, sobre muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!" Mateus 25, 24-25: Prestação de contas do terceiro empregado Ele chega e diz: "Senhor, eu sabia que és um homem severo que colhes onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste. Assim, amedrontado, fui enterrar teu talento no chão. Aqui tens o que é teu!" Nesta frase transparece uma ideia errada de Deus que é criticada por Jesus. O empregado vê Deus como um patrão severo. Diante de um Deus assim, o ser humano sente medo e de esconde atrás da observância exata e mesquinha da lei. Ele pensa que, assim, a severidade do legislador não vai poder castigá-lo. Assim, pensava alguns fariseus. Na realidade, uma pessoa assim já não crê em Deus, mas crê apenas em si mesma e na sua observância da lei. Ela se fecha em si, desliga-se de Deus e já não consegue preocupar-se com os outros. Torna-se incapaz de crescer como pessoa livre. Esta imagem falsa de Deus isola o ser humano, mata a comunidade, acaba com a alegria e empobrece a vida. Mateus 25, 26-27: Resposta do Senhor ao terceiro empregado A resposta do senhor é irônica. Ele diz: "Empregado mau e preguiçoso! Você sabia que eu colho onde não plantei, e que recolho onde não semeei. Então você devia ter depositado meu dinheiro no banco, para que, na volta, eu recebesse com juros o que me pertence!" O terceiro empregado não foi coerente com a imagem severa que tinha de Deus. Se ele imaginava Deus severo daquele jeito, deveria ao menos ter colocado o dinheiro no banco. Ou seja, ele sai condenado não por Deus, mas pela ideia errada que tinha de Deus e que o deixou mais medroso e mais imaturo do que devia ser. Nem seria possível ele ser coerente com aquela imagem de Deus, pois o medo desumaniza a paraliza a vida. Mateus 25, 28-30: A palavra final do Senhor que esclarece a parábola O senhor manda tirar o talento e dar àquele que tem 10, "pois a todo aquele que tem será dado, mas daquele que não tem até o que tem lhe será tirado". Aqui está a chave que esclarece tudo. Na realidade, os talentos, o "dinheiro do patrão", os bens do Reino, são o amor, o serviço, a partilha. É tudo aquilo que faz crescer a comunidade e revela a presença de Deus. Quem se fecha em si com medo de perder o pouco que tem, este vai perder até o pouco que tem. Mas a pessoa que não pensa em si e se doa aos outros, esta vai crescer e receber de volta, de maneira inesperada, tudo que entregou e muito mais. "Perde a vida quem quer segurá-la, ganha a vida quem tem coragem de perdê-la".
3. LARGANDO A MOEDA DIFERENTE DO REINO Não há diferença entre os que recebem mais e os que recebem menos. Todos têm o seu dom de acordo com a sua capacidade. O que importa é que este dom seja colocado a serviço do Reino e faça crescer os bens do Reino que são amor, fraternidade, partilha. A chave principal da parábola não consiste em fazer render e produzir talentos, mas sim em relacionar-se com Deus de maneira correta. Os dois primeiros não perguntam nada, não procuram o próprio bem-estar, não guardam para si, não se fecham, não calculam. Com a maior naturalidade, quase sem se dar conta e sem procurar mérito, começam a trabalhar, para que o dom dado por Deus renda para Deus e para o Reino. O terceiro tem medo e, por isso, não faz nada. De acordo com as normas da antiga lei ele estava correto. Manteve-se dentro das exigências. Não perdeu nada e não ganhou nada. Por isso, perdeu até o que tinha. O Reino é risco. Quem não quer correr risco, perde o Reino!