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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Torre de Babel é interrompida pela dispersão (a Milton Schwantes) - Tereza Cavalcanti



Carta de Tereza Cavalcanti a Milton Schwantes. Escrita há cerca de 4 anos, ao voltar de um encontro da Bolívia. Nessa carta, afirma a autora, ficou refletida a contribuição desse meu mestre para meu trabalho como teóloga e para minha vida de fé"

            Tereza Cavalcanti é biblista e colaboradora no CEBI-RJ. 
Caro Milton,
Lembrei-me muito de você num encontro latino-americano e caribenho de CEBs que aconteceu recentemente em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. É que logo na nossa chegada ao local de alojamento, as conversas entre o povo foram sobre a diversidade dos alimentos,  e os costumes no modo de servi-los. Por exemplo, o que nós chamamos de banana, na Bolívia e outros países chamam de plátanos. Banana para eles, só as que são comidas cozidas.
O pessoal que veio do Panamá disse que estava espantado porque tínhamos água normalmente, o que lá é raro. Sentiram-se num "hotel 5 estrelas", apesar de estarmos em quartos de 2 por 3 metros, com 3 pessoas dividindo beliches.  Na celebração inicial, foi uma explosão de cores, com a indumentária indígena variadíssima e belíssima, somada às bandeiras de cada país e aos painéis com os símbolos das comunidades. O som dos cânticos ritmados e a alegria estampada nos rostos nos fazia sentirmos como num pequeno paraíso.
Em seguida, veio a exposição da situação de cada região e país, enriquecida pelos depoimentos dos delegados, sempre trazendo a luta pela sobrevivência e contra as grandes mineradoras estrangeiras, os grandes projetos de hidrelétricas e de agro-negócio, com suas desastrosas consequências ecológicas, etc..

Diversidade cultural é coisa de pobre!

Juntando tudo aquilo na minha cabeça, quando me pediram pra participar de um painel de "iluminação teológica", me veio muito clara a sua contribuição sobre o texto do Gn 11, 1-9, onde a torre de Babel é interrompida pela dispersão. A dispersão foi, como você muito bem observou, a solução da luta de  resistência contra o império. Juntei essa sua idéia com uma frase que o Téo (meu marido) ouviu de um banqueiro: "quem cria diversidade cultural são os pobres. Os ricos não criam diversidade".
Então a minha palavra no painel foi essa: eu vi naquela imensa diversidade das culturas dos pobres a melhor forma de resistência contra um império que impõe uma única língua, um único modelo de vida, um único pensamento: o império é a reprodução indefinida do MESMO. Não tolera a diversidade. Você pode ir visitar um shoppíng center em qualquer país do mundo, é tudo igual. Mesmas marcas, mesmas comidas, mesmos cheiros, mesmas roupas...
Então a saída está na recusa de reproduzirmos o mesmo! Mantenhamos nossa diversidade, que  dela virá o outro mundo possível, que aliás já está aí!
Algumas pessoas vieram após o painel me perguntar de onde eu tirei essa interpretação de Babel (especialmente os teólogos homens fazem esse tipo de perguntas às teólogas mulheres) e eu tive um grande prazer em me referir a você!
Bem, eu queria apenas partilhar com você essa experiência e te agradecer por sua constante "iluminação" em meu trabalho!
Um grande abraço pra você e pra Rose. E muito obrigada por ser quem você é!

Tereza

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