Essa perícope, dirigida inicialmente aos apóstolos,
anunciava que o destino que
os aguardava não seria diferente daquele do mestre:
perseguição e martírio. Por isso
Jesus recomenda como virtudes, a prudência e cautela das
serpentes e a simplicidade
das pombas.
Aqui há ecos dos relatos da paixão de Cristo. A redação
certamente é posterior
ao ano 70. Fala de perseguições, de interrogatórios “diante
de reis e governadores”
tal como Jesus. Tudo indica que o redator estava
justificando o que os discípulos já
estavam passando na época em que a redação foi concluída.
Essa justificativa é
encontrada no fato de serem fiéis a Cristo. Se ele passou
por tudo isso, seus
Além disso, o versículo 17 traz “sinédrios” (“tribunais)” no
plural. Não se trata
aqui do Grande Sinédrio de Jerusalém, pois esse já havia
sido destruído à época da
redação final. Esses são os pequenos sinédrios localizados
em cidades onde havia
sinagogas. Eram formados de vinte e três pessoas escolhidas
dentre os
freqüentadores da sinagoga e adquiriram grande importância
após a destruição do
Grande Sinédrio de Jerusalém.
A idéia do martírio também está presente. Na época da
redação já havia vários
mártires cristãos, desde Estevão. É importante lembrar dos
discursos de Pedro e João
perante o Sinédrio e de Estevão perante seus algozes. Mesmo
em situações adversas,
sempre há a oportunidade do testemunho. Principalmente se a
motivação maior é a
justiça do Reino.
Os vers. 26 e 27 recorrem a um dito popular, alterando-o. A ideia básica é a
ênfase na missão da Igreja: chegou a hora de proclamar a
todos o que até então
Jesus revelara em segredo. Anunciar a boa nova da justiça do
Reino de modo mais
abrangente possível (eirados ou telhados, plataformas,
lugares altos, de onde muita
gente poderia ouvir o que estava sendo anunciado)
v. 28 - Fala em “psykhé” (alma). Mas não se trata aqui de
uma realidade
dissociada do corpo, e sim do princípio que mantém a pessoa
em relação com Deus.
v. 29 a 31 - Mostra
que Deus não está indiferente ao martírio e morte dos seus
discípulos. A figura dos “cabelos contados por Deus” é uma
hipérbole para realçar que
Deus está atento às nossas menores preocupações. Se há
pessoas que morrem
devido ao testemunho de Cristo, deve ficar claro que sua
morte não é fortuita ou sem
significado.
Finalmente, a perícope encerra com o pacto do testemunho:
Quem o confessar
diante dos homens, receberá de Cristo o mesmo bom testemunho
diante do Pai. É um
versículo que pode
ser ligado ao tema da confirmação ou da renovação dos votos
batismais.
Novamente, vale a pena perguntar: o que aconteceu com os
discípulos de Cristo que
antes causavam tantas perturbações aos poderosos? Por que
hoje, ao invés de
perseguidos, muitos se tornam perseguidores, acusadores e
condenadores?
(Rev. Carlos Eduardo B. Calvani)
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