Menu

sábado, 10 de maio de 2014

Jo 10,1-18: Jesus é o Bom Pastor [Mesters, Lopes e Orofino)




 
Nessa reflexão, vamos meditar sobre a imagem do Bom Pastor.

Jesus é o Bom Pastor que veio para que todos tenham vida em abundância. O pastor era a imagem e o símbolo do líder. Jesus diz que muitos se apresentavam como pastor, mas na realidade eram ladrões e assaltantes. Hoje acontece a mesma coisa. Muitas pessoas se apresentam como líderes, mas na realidade são ladrões e assaltantes, pois, em vez de servir, buscam os seus próprios interesses. E, às vezes, têm uma fala tão mansa e fazem uma propaganda tão inteligente, que conseguem enganar o povo.

Situando
 
    1. O discurso sobre o Bom Pastor traz três comparações ligadas entre si:

a) pastor e assaltante (Jo 10,1-5);

b) comparação: Jesus é a porteira das ovelhas (Jo 10,6-10);

c) comparação: Jesus não é simplesmente um pastor, e sim o Bom Pastor

(Jo 10,11-18).

    2. Temos aqui outro exemplo de como foi escrito o Evangelho de João.

O discurso de Jesus sobre o Bom Pastor (Jo 10,1-18) é como um tijolo inserido numa parede já pronta. Com ele a parede ficou mais forte e mais bonita. Imediatamente antes, em Jo 9,40-41, João falava da cegueira dos fariseus. A conclusão natural desta discussão sobre a cegueira está logo depois, em Jo 10,19-21. Ora, o discurso sobre o Bom Pastor foi inserido aqui, porque, como veremos, ensina como tirar esse tipo de cegueira dos fariseus.

Comentando

    1. João 10,1-5: 1ª Imagem: entrar pela porteira e não por outro lugar

Jesus inicia o discurso com a comparação da porteira: “Quem não entra pela porteira, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante! Quem entra pela porteira é o pastor das ovelhas!” Para entender esta comparação, temos que lembrar o seguinte. Naquele tempo, os pastores cuidavam do rebanho durante o dia. Quando chegava a noite, levavam as ovelhas para um grande redil ou curral comunitário, bem protegido contra ladrões e lobos. Todos os pastores de uma mesma região levavam para lá o seu rebanho. Um porteiro tomava conta durante a noite. No dia seguinte, de manhã cedo, o pastor chegava, batia palmas na porteira e o porteiro abria. O pastor entrava e chamava as ovelhas pelo nome. As ovelhas reconheciam a voz do seu pastor, levantavam e saíam atrás dele para a pastagem. As ovelhas dos outros pastores ouviam a voz, mas não se mexiam, pois era uma voz estranha para elas. De vez em quando, aparecia o perigo de assalto. Ladrões entravam por um atalho ou derrubavam a cerca do redil, feita de pedras amontoadas, para roubar as ovelhas. Eles não entravam pela porteira, pois lá havia o guarda que tomava conta.

    2. João 10,6-10: 2ª Imagem: Jesus é a porteira

Os ouvintes, os fariseus (Jo 9,40-41), não entenderam o que significava “entrar

pela porteira”. Jesus então explicou: “Eu sou a porteira das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e assaltantes.” De quem Jesus está falando nesta frase tão dura? Provavelmente, se referia a líderes religiosos que arrastavam o povo atrás de si, mas que não respondiam às esperanças do povo. Não estavam interessados no bem do povo, e sim no próprio bolso e nos próprios interesses. Enganavam o povo e o deixavam na pior. Entrar pela porteira é o mesmo que agir como Jesus agia. O critério básico para discernir quem é pastor e quem é assaltante, é a defesa da vida das ovelhas. Jesus pede para o povo tomar a iniciativa de não seguir o fulano que se apresenta como pastor, mas não busca a vida do povo. É aqui que ele disse aquela frase que até hoje cantamos: “Eu vim para que todos tenham vida, que todos tenham vida plenamente!” Este é o critério.

    3. João 10,11-15: 3ª Imagem: doar a vida pelas ovelhas

Jesus muda a comparação. Antes, ele era a porteira das ovelhas. Agora, diz que é o pastor. Todo mundo sabia o que era um pastor e como ele vivia e trabalhava. Mas Jesus não é um pastor qualquer, e sim o Bom Pastor! A imagem do bom pastor vem do  AT.  Dizendo  que  é  o  Bom  Pastor,  Jesus  se  apresenta  como  aquele  que vem  realizar  as  promessas  dos  profetas  e  as  esperanças  do  povo.  Há  dois pontos em que ele insiste. Na defesa da vida das ovelhas: o bom pastor dá a sua vida. No mútuo entendimento entre o pastor e as ovelhas: o pastor conhece as suas ovelhas e elas conhecem o pastor. Assim, para quem quer vencer sua cegueira é importante conferir a própria opinião com a do povo. Era isso que os fariseus não faziam. Eles desprezavam as ovelhas e chamavam-nas de povo maldito e ignorante (Jo 7,49; 9,34). Jesus, ao contrário, dizia que no povo há uma percepção infalível para saber quem era o bom pastor. Os fariseus pensavam ter o olhar certo para discernir as coisas de Deus. Na realidade eram cegos. O discurso sobre o Bom Pastor ensina duas regras de como tirar este tipo de cegueira. 1) Prestar muita atenção na reação das ovelhas, pois elas reconhecem a voz do pastor. 2) Prestar muita atenção na atitude daquele que se diz pastor para ver se o interesse dele é a vida das ovelhas, sim ou não, e se ele é capaz de dar a vida pelas ovelhas.

    4. João 10,16-18: A meta aonde Jesus quer chegar: um só rebanho e um só pastor

Jesus abre o horizonte e diz que tem outras ovelhas que não são deste redil. Elas ainda não ouviram a voz de Jesus, mas quando a ouvirem, vão perceber que ele é o pastor e vão segui-lo. Aqui transparece a atitude ecumênica das comunidades do Discípulo Amado, de que falamos na Introdução.

Alargando

A imagem do pastor na Bíblia

Na Palestina, a sobrevivência do povo dependia em grande parte da criação de cabras e ovelhas. A imagem do pastor guiando suas ovelhas para as pastagens era conhecida por todos, como hoje todos conhecem a imagem do motorista de ônibus. Era normal usar a imagem do pastor para indicar a função de quem governava e conduzia o povo. Os profetas criticavam os reis por serem maus pastores que não cuidavam do seu rebanho e não o conduziam para as pastagens (Jr 2,8; 10,21; 23,1-2). Esta crítica dos maus pastores cresceu na mesma medida em que, por culpa dos reis, o povo foi levado para o cativeiro (Ez 34,1-10; Zc 11,4-17).

Diante da frustração sofrida com os desmandos dos maus pastores, aparece a comparação com o verdadeiro pastor do povo, que é o próprio Deus: “O Senhor é meu pastor nada me falta!” (Sl 23,1-6; Gn 48,15). Os profetas esperam que, no futuro, Deus venha, ele mesmo, como pastor guiar o seu rebanho (Is 40,11; Ez 34,11-16). E esperam que, desta vez, o povo saiba reconhecer a voz do seu pastor: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz!” (Sl 95,7). Esperam que Deus venha como Juiz que fará o julgamento entre as ovelhas do rebanho (Ez 34,17). Surgem o desejo e a esperança de que, um dia, Deus suscite bons pastores e que o messias seja um bom pastor para o povo de Deus (Jr 3,15; 23,4).

Jesus realiza esta esperança e se apresenta como o Bom Pastor, diferente dos assaltantes que roubavam o povo. Ele se apresenta também como o Juiz do povo que, no final, fará o julgamento como um pastor que sabe separar as ovelhas dos cabritos (Mt 25,31-46). Em Jesus se realiza a profecia de Zacarias que diz que o bom pastor será perseguido pelos maus pastores, incomodados pela denúncia que ele faz: “Vão bater no pastor e as ovelhas se dispersarão!” (Zc 13,7). No fim, Jesus é tudo: é a porteira, é o pastor, é o cordeiro!

Nenhum comentário:

Postar um comentário