Menu

sábado, 9 de novembro de 2013

SÃO SEMELHANTES A ANJOS

Domingo 10/11/2013 – Lc 20,27-38
Entender melhor o Evangelho deste 32º Domingo Comum (Lc 20,27-38) é um desafio que, com muita simplicidade, desejo encarar. Para isso, vou procurar ver de perto os personagens, depois situar o texto em seu contexto sócio religioso, literário e nas Sagradas Escrituras para aproxima-lo mais da nossa vida, hoje.
Situando
No capítulo 19 do seu Evangelho, Lucas nos informa sobre a chegada Jesus em Jerusalém, indo diretamente para o Templo. Ao entrar, ele expulsa os cambistas e comerciantes, dizendo-lhes: fizestes da Casa de Oração um covil de ladrões(19,46). Quer acabar com o sistema do templo como espaço ideológico de dominação das consciências e de exploração em nome de Deus (Lc 19,45-48). Esta atitude de Jesus acirra a oposição dos escribas e chefes dos sacerdotes, que procuravam prende-lo, mas não o faziam porque tinham medo do povo (Lc 20,19). Eles ficam à espreita e colocam olheiros para pegar Jesus em alguma atitude que pudesse justificar sua prisão e assassinatos.
Mas Jesus não tinha medo deles e todos os dias ensina o povo no Templo (19,45). Os chefes dos sacerdotes, os escribas e anciãos entram continuamente em discussão com Jesus, fazendo-lhe perguntas capciosas. Lucas narra uma série de controvérsias entre Jesus e as autoridades do templo que vai de 19,45 até 21,37-38, onde este evangelista  repete: “durante o dia ele ensinava no Templo, mas passava as noites ao relento, no monte das Oliveiras. E todo o povo madrugava junto com ele no Templo, para ouvi-lo”. Esta repetição faz uma moldura para mostrar a atitude profética e corajosa de Jesus e a admiração que ele causava no povo.
No texto deste domingo, aparece outro grupo de adversários de Jesus: são ossaduceus. Um grupo formado por gente rica, ligada aos romanos, que não acreditam na ressurreição. Para colocar em ridículo Jesus e também os fariseus, eles inventam um caso divertido, baseado em Dt 25,5: Uma mulher se casa com sete irmãos em seguida, com o objetivo de cumprir a lei do levirato. Depois de morta e ressuscitada, de qual deles ela será esposa? O povo que escutava deve ter dado muita risada. O caso é divertido, ma Jesus leva a sério a pergunta. Ele aproveita todas as oportunidades para ajudar seu povo a ter uma visão de Deus e da vida mais aberta e menos discriminadora. Suas respostas também se baseiam na Bíblia e ele recebe o aplauso dos fariseus. Aqueles que estão brigando, discutindo, armando ciladas para Jesus reconhecem sua sabedoria. Vejamos mais de perto esta contradição:
Comentando
Lc 20,27-33 – Desejo de saber ou de fazer gozação?
Em meio às controvérsias entre Jesus e os chefes do sistema do Templo, talvez como uma retaliação pela expulsão dos comerciantes e cambistas, aproximam-se de Jesus alguns saduceus. Ora, este grupo já tinha neste mundo tudo o que desejava. Por isso, não acreditavam em vida depois da morte. Baseando-se em uma lei que se encontra em Dt 25,5 onde se ordena que uma viúva sem filho deva se casar com o irmão do seu marido falecido para dar-lhe descendência, os saduceus inventam uma pergunta como forma de ridicularizar e desacreditar a ideia da ressurreição.
Lc 20,34-38 – Jesus apela para a força da Vida.
Como serenidade e firmeza, Jesus responde também a partir das Escrituras. Faz memória do Ex 3,6.15-16: Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abrão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. Então, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos. De certa forma Jesus afiança que seus antepassados estão vivos. Ele não entra em uma discussão teórica sobre imortalidade da alma. Quer mostrar um Deus presente na história, com poder de libertar e de dar vida. Ao afirmar a ressurreição, Jesus resgata textos recentes, que estão na memória de seus ouvintes, como Dn 12,2; 2 Mc 7,9; Sb 5,15-16. São textos que falam sobre a ressurreição das pessoas justas, que lutam pela vida digna e feliz de todos. Depois de mortas, estas pessoas serão semelhantes aos anjos; são filhas de Deus, pois serão ressuscitadas (Lc 20,36).
Lc 20,39-40 – Um elogio que não convence.
Ao contrário dos saduceus, os fariseus acreditavam na ressurreição, só que eles achavam que essa ressurreição somente iria acontecer no final dos tempos, no fim do mundo, como se diz. Sobre este tema havia longas discussões entre saduceus e fariseus. Por isso, os fariseus elogiam Jesus: Mestre, falaste bem. No fundo, eles pegam carona na fala de Jesus para afirmar-se na disputa com os saduceus. Agora, já não interrogam Jesus, mas irão buscar outro jeito de eliminá-lo. Estiveram perto, bem perto, mas não aproveitaram a chance!
Alargando: Vive como ressuscitado quem luta pela vida!
A situação difícil do povo, dominado e explorado pelo império romano, levou as primeiras comunidades a valorizar, aprofundar e defender a vida. Isto transparece em todo os quatro evangelhos, onde a palavra vida aparece 36 vezes. No evangelho de João, Jesus se define como Vida: “Eu sou a ressurreição e a vida!” (Jo 11,25). “Eu sou o caminho, a verdade e a vida!” (Jo 14,6). O projeto de Jesus é que “todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Ele se entrega pela vida do mundo (Jo 6,51). Seus seguidores e suas seguidoras encontrarão nele a vida (Jo 6,40) e quem o rejeitar não terá a vida (Jo 5,40). Tanto no começo como no final do evangelho, Jesus aparece como fonte de vida para todos. No começo, João diz a respeito da Palavra de Deus que é Jesus: “O que foi feita nela era a vida, e a vida era a luz da humanidade” (Jo 1,4). No final, o redator do evangelho de João indica claramente o seu objetivo: “Estes sinais foram escritos para que vocês possam crer que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que acreditando nele, tenham a vida em seu nome!” (Jo 20,31). O mesmo objetivo transparece na primeira carta que João escreveu para as comunidades: “A vida manifestou-se: nós a vimos e lhes damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna que estava voltada para o Pai e que nos apareceu” (1Jo l,l-2).

Nenhum comentário:

Postar um comentário