Menu

sábado, 5 de outubro de 2013

SABER CUIDAR! – DIACONIA - DIOCESE ANGLICANA DO PARANÁ


Olá, esta é a segunda edição do “Saber Cuidar”, este mês particularmente trabalharemos o tema Diaconia, palavra grega que quer dizer serviço. A igreja é dotada de vários ministérios delegados pelo próprio Cristo, entre eles os ministérios diaconal, presbiteral e episcopal. Estes ministérios não são de uma pessoa senão da Igreja. A Igreja deve exercê-los em sua plenitude. A Igreja deve ser apostólica e missionária, e nas mãos e pés de seus bispos e bispas, ordena sacerdotes e sacerdotisas para cuidarem das gentes. A Igreja deve viver a realidade misteriosa dos sacramentos em uma viva fé e Tradição, e nas mãos e pés de seus presbíteros e presbíteras, estender o convite do Senhor a todas as gentes. A Igreja deve protagonizar sua atuação misericordiosa e amorosa na sociedade, e através das mãos e pés de seus diáconos e diáconas, jogar-se para as periferias do mundo. Entretanto, os ministérios não são deste ou daquele, como já dissemos, senão da Igreja, isso quer dizer que DIACONIA não é um luxo de igrejas com mais ou menos condições financeiras, senão o próprio ser da Igreja. Uma igreja sem ação diaconal é uma igreja que não vive a plenitude de sua vocação e ministério no mundo. Como igreja anglicana, temos como fundamento de nosso ethos a liturgia que é fonte de nossa doutrina e princípio de nossa espiritualidade, por isso convido-os a debruçarmos sobre ela e meditarmos sobre a importância deste ministério (diaconal) para nossa vida cristã e saber cuidar dos que de nós precisam.

...nem a nosso próximo como a nós mesmos... (LOC, Oração Matutina, Confissão)
O Evangelho de Jesus Cristo insiste da difícil tarefa de AMAR nosso semelhante, o qual é chamado de ‘o próximo’ e, além disso, insiste em que a medida deste amor deverá ser a mesma que temos por nós mesmos. Num mundo cada vez mais narcisista, a difícil tarefa de amar o próximo estaria muito perto de ser alcançada se não fosse por nossa excentricidade e egocentrismo. Somos senhores entronizados em nosso próprio eu em busca sempre da satisfação de nossos desejos e da contemplação de nossa vida como se fossemos celebridades. Em uma de nossas orações de confissão do Livro de Oração Comum, pedimos perdão a Deus por não o amar de todo o nosso coração e nem a nosso próximo. Amar a Deus e Amar o Próximo são duas condições sine qua non do Sumário da Lei, ensinado pelo mestre Jesus quando perguntado sobre o que deveríamos fazer para herdar a vida eterna. Isso quer dizer que quanto mais amamos a Deus, mas nos tornamos seus servos, e quanto mais nos tornamos seus servos, mais o servimos no mundo.
‘Procurarás Cristo e O servirás em todas as pessoas, amando a teu próximo como a ti mesmo? Assim farei, com a ajuda de Deus.’ (LOC, Rito de Confirmação, Aliança Batismal)
Quando confirmamos nossa fé diante do bispo e de nossos irmãos e irmãs, devemos expressar que o fazemos por amor a Cristo e sua obra redentora. No batismo já nos
tornamos membros do corpo místico de Cristo, e fazer parte deste corpo é permitir que Cristo seja a cabeça deste corpo, e portanto possa nos dirigir com sua vontade, e a vontade de Cristo é alcançar os pequeninos, ou insignificantes, as ovelhas perdidas, ou esquecidas. Cristo, sendo Deus, está multiforme nas faces de muitas gentes, uma vez que somos suas feituras a sua imagem e semelhança, isso quer dizer que servir aos outros é servir ao próprio Cristo que se transfigura nos olhares tristes e amargurados daqueles que sofrem. No apocalipse de Jesus, o julgamento será fundado naquilo que fizemos ou deixamos de fazer ao próximo: tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, sendo estrangeiro, não me recolhestes, estando nu não me vestistes, e enfermo e na prisão não me visitastes (S. Mt. 25.42-43). Servir ao próximo está muito além de fazer algo por nós mesmos visando uma vida boa no além. Servir ao próximo está intimamente ligado com o servir o próprio Cristo.
‘... o pão nosso de cada dia nos dá hoje...’ (Pai-Nosso)
Quando nos relacionamos com Deus, e o permitimos que seja Senhor de nossa vida, começamos a viver debaixo de sua soberana e boa vontade para conosco. Colocar-se em sua dependência e providência é algo que foge a busca de controle e instinto de sobrevivência humana, que antes de se conformar com o necessário para subsistir, acumula em torno de si tudo de desnecessário, de excesso, de supérfluo. O Bom Senhor ensina seus discípulos a rezar e em suas palavras, a pedir o necessário. O povo de Deus no deserto, reclamou pelo maná de Deus, enviado para suas necessidades diárias, sob a orientação de que não juntassem excedentes, mas que confiassem que Ele iria mandar mais. O mestre Jesus também ensinava que devíamos mirar para a natureza, os lírios do campo, os passarinhos, que Deus sempre os adornava e os alimentava. Nossa preocupação excessiva com o futuro, com o amanhã, com o depois, com herança para os filhos nos cega de uma realidade subjacente do propósito evangélico, o estar debaixo da soberania de Deus. E acumulando, buscando muito mais além do pão de cada dia, deixamos os mais vulneráveis e frágeis sem ter o que comer.
‘... não sejam os necessitados esquecidos...’ (LOC, Oração Matutina, Litania)
A questão do que necessitamos é dinâmica. Como diz uma velha canção dos Titãs: “- a gente não quer só comida...” O que necessitamos vai muito além de itens de sobrevivência física, pois somos seres tão complexos que necessitamos de arte, de literatura, de cultura, etc. O ser humano não vive apenas trabalhando para se alimentar. As recentes manifestações de rua mostram que a sociedade em geral queixa-se da vandalização de seus direitos que foram esquecidos por nossos representantes parlamentares. Nós, na microdimensão de nossos relacionamentos com as pessoas também reproduzimos o esquecimento e abandono fruto de nossa indiferença com as necessidades das pessoas. Sentir-se esquecido é ter a clara sensação de que nossa existência não tem qualquer sentido. Ser lembrado recoloca o ser na história, no acontecimento da vida, nos trilhos do dia-a-dia, recuperando a dignidade e o papel de ator social que todos devemos protagonizar. Mas muito além de perceber o outro, ou o próximo, devemos em uma cadeia de união, fortalecermo-nos mutuamente em nossas necessidades.
...os famintos encheu de bens... (Magnificat)
A fome, seja ela do que for, é sempre um escândalo num mundo com tanta prosperidade e profusão de bens. Admitir a fome sem escassez é permitir a miséria dentro de nós mesmos. Sabemos que nossa cultura absorveu o desperdício como elemento central de seu sistema econômico, ou seja, temos a clara sensação de que se não desperdiçarmos, estamos obsoletos no mundo. Por isso, rapidamente tornamos obsoleto tudo o que temos para logo consumirmos mais, nos assoberbamos de bens e deixamos os milhares de famintos na miséria humana e existencial, sem o que comer, ainda que estejamos desperdiçando alimentos, sem ter o que vestir, ainda que nossos guarda-roupas nada mais caibam, sem ter como ir e vir, ainda que nossas garagens não mais agreguem a quantidade de veículos que dispomos, etc.
‘O que vem a mim, jamais terá fome, o que crê em mim, jamais terá sede’. S. João 6.35
O convite do Senhor de aproximarmo-nos de sua Mesa não é o convite de nossa satisfação pessoal senão para a partilha e comunhão com todos. À medida que a igreja transcende suas práticas sacramentalistas para uma prática comprometedora, a Mesa do Senhor deixa de ser a mesa de alguns para tornar-se a mesa de todos e a Eucaristia passa a torna-se uma Ação de Graças pela satisfação dos famintos e sedentos, a Eucaristia deixa os altares e toma espaço nas mesas de nossas casas, a Eucaristia transcende os templos e toma lugar nos becos e vielas, a Comunhão ultrapassa os limites de nossa eclesialidade para irmanar-se ao mundo incondicionalmente. Quando nos encontramos na Mesa do Senhor, os milagres de partir e repartir o pão acontecerão e ninguém jamais sairá com fome e sede desta santa Mesa.
“Socorre, Senhor, os pobres e oprimidos”. (LOC, Intercessões I)
Sabemos e não somos ingênuos para achar que nossas ações por si só salvarão o mundo em sua miserável história. Sabemos que nossas ações apenas estancam as sangrias da vida de algumas pessoas, mas que não curam a ferida aberta desta sociedade, mesmo assim, não devemos descansar nossos braços. Uma de nossas heranças teológicas é a Lex Orandi, Lex Credendi, ou seja, nossas crenças são fundadas em nossa tradição espiritual rezada semanalmente em nossos templos. Quando rezamos, ouvimos Deus falar conosco, mas também falamos com Deus, e uma das mais ricas experiências de transcendência de nosso ego é a prática da intercessão, que é quando a Igreja olha para o mundo e apresenta-o em suas orações. Nossa prática misericordiosa deve ser retroalimentada por nossa vida de oração. Quanto mais intercedemos pelo mundo, mais participantes dele nos tornamos.
Convido todos e todas a pensarem sobre a realidade ministerial de sua comunidade. O que de fato eu faço para cuidar das necessidades dos que sofrem? O que minha comunidade tem feito para ser testemunho e sinal de luz para os que estão oprimidos? Abaixo segue uma oração para fazermos juntos durante este momento de reflexão.
Oração pela Justiça Social
Onipotente Deus, que criaste a humanidade à tua própria imagem; concede-nos a graça de lutar sem temor contra o mal e jamais nos conformarmos com a opressão; e, para que usemos com reverência a nossa liberdade, ajuda-nos a empregá-la na manutenção da justiça entre as pessoas e as nações, à glória de teu santo Nome; por Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
(LOC, Coletas, adaptado)
Fonte de Pesquisa: Livro de Oração Comum e Bíblia Sagrada
Texto: Revdo. Josué Soares Flores
Apoio: Comissão Diocesana de Comunicação
Comissão Diocesana de Liturgia e Música
Realização: Comissão Diocesana de Educação Cristã e Teologia

Nenhum comentário:

Postar um comentário