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terça-feira, 10 de abril de 2012

Diante do sepulcro, a ressurreição - Mesters e Lopes

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DIANTE DO SEPULCRO, A RESSURREIÇÃO

Marcos 16,1-8

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as mulheres aparecem como testemunhas privilegiadas da morte, do enterro e da ressurreição de Jesus. Participantes de todo o processo da prisão, condenação, paixão, morte e ressurreição de Jesus, elas mesmas, por assim dizer, tiveram uma experiência de morte e ressurreição e, agora, dão testemunho do que viram e viveram. O testemunho nasce da experiência. A gente testemunha o que vive.

SITUANDO

Tudo se passa diante do sepulcro. As figuras centrais são as mulheres. Elas são testemunhas não só da morte de Jesus (Mc 15,40-41), mas também do lugar onde Jesus foi enterrado (Mc 15,42-47). E de madrugada, saindo de casa para ungir o corpo de Jesus (Mc 16,1-2), são testemunhas também da sua ressurreição (Mc 16,3-6) e são enviadas para testemunhar e anunciar a ressurreição aos outros (Mc 16,7-8).

Aqui, a fé na ressurreição brota dos próprios acontecimentos através do testemunho das mulheres e revela o desafio permanente que esta fé representa para nós no dia-a-dia da nossa vida. O que significa crer na ressurreição para quem vive ameaçado de morte ou para quem vive totalmente sem futuro? E para quem vive desanimado numa depressão permanente, sem possibilidade de cura, desenganado pelos médicos, é fácil crer na ressurreição? Como crer na ressurreição numa sociedade violenta, marcada pela exploração, onde o povo vive desempregado, ou numa terra onde muitos passam fome e onde, em vez de melhorar, as coisas pioram? Este é o grande desafio da nossa fé!

COMENTANDO

Marcos 16,1-3: Elas saem de madrugada para ungir o corpo

Novamente, Marcos oferece uma informação com muitos detalhes: hora, lugar, pessoas, dificuldade para tirar a pedra. Estes detalhes sugerem que as mesmas três mulheres são pessoas de confiança para testemunhar a ressurreição. A fé na ressurreição não foi fruto da fantasia, mas algo totalmente inesperado. Elas estavam convencidas de que Jesus estava morto, pois iam para o túmulo para ungi-lo.

Marcos 16,4-6: Elas testemunham a ressurreição e a vida nova

Quando chegam, vêem que a pedra já tinha sido retirada. Entrando dentro do sepulcro, encontram um jovem que lhes anuncia que Jesus está vivo. Ouvindo a notícia da ressurreição de Jesus, elas mesmas ressuscitam por dentro. Tudo isto reflete a profunda experiência de morte e ressurreição pela qual elas mesmas passaram e que era a experiência das comunidades: "Jesus está vivo! Ele ressuscitou!" Elas se tornam testemunhas qualificadas da ressurreição de Jesus.

Marcos 16,7-8: Elas são enviadas para testemunhar a ressurreição

Elas recebem a ordem ou a ordenação de levar a Boa Notícia da Ressurreição para os discípulos que tinham fugido. O anjo dizia: "Vão dizer aos seus discípulos e a Pedro que ele vai na frente deles na Galiléia. Lá vocês vão vê-lo como ele mesmo tinha dito". Na Galiléia, à beira do lago, onde tudo tinha começado, é lá que vai recomeçar tudo de novo. É Jesus que convida! Ele não desiste, nem mesmo diante da desistência dos discípulos! Marcos diz que elas não contaram nada a ninguém pois tinham medo. No que segue (Mc 19,9-14), transparece que elas não se calaram. Testemunharam e falaram, mas não foram levadas a sério pelos discípulos.

Aparecendo às mulheres e dando-lhes a ordem ou a ordenação de anunciar a ressurreição aos discípulos (Mt 28,9-10), Jesus subverte o sistema de vida da época. Numa sociedade onde as mulheres eram marginalizadas da vida pública e nem podiam depor como testemunhas nos tribunais, Jesus pede a todos para crer no testemunho de ressurreição dado pelas mulheres.

Como vimos na introdução, o Evangelho de Marcos foi escrito para ser lido, todo inteiro, na noite de Páscoa por ocasião do batizado dos novos membros da comunidade. O ambiente era de alegria e de ressurreição, onde não havia espaço para medo e temor. Os cristãos iam escutando a narração da Boa Nova, que, de propósito, terminava com esta frase: "Saindo elas, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e de assombro, e de medo, não disseram nada a ninguém" (Mc 16,8). Era a frase final, a última, com que Marcos terminava a sua narração sobre Jesus. Naquele ambiente alegre e ressuscitado da noite de Páscoa, a reação espontânea da comunidade era esta: "Medo de que, agora que Jesus ressuscitado está aqui no nosso meio?" Muito provavelmente, terminada a leitura, todos devem ter iniciado um canto de louvor e de agradecimento, como costumamos fazer até hoje, quando termina a leitura do Evangelho.

ALARGANDO

As discípulas de Jesus: SEGUIR, SERVIR, SUBIR

Marcos deixa entrever de forma surpreendente, as mulheres que seguiam e serviam a Jesus enquanto ele esteve na Galiléia e que houve ainda muitas outras que subiram com ele até Jerusalém. A presença das mulheres no grupo que seguia Jesus, vivendo o seguimento em igualdade de condições, nem sempre foi vista com clareza. Talvez porque nossos olhos estavam opacos, como os dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). No entanto, o despertar da mulher e sua busca para abrir espaços de participação na sociedade e nas igrejas nos ajudam a enxergar esse fato com clareza. Com a luz que nos vem da luta das mulheres, hoje, conseguimos perceber as discípulas que seguiram Jesus desde quando ele estava na Galiléia e percebemos este fato como um sinal do Reino de Deus presente naquela realidade, como uma pequenina luz que anuncia um tempo novo e denuncia a sociedade patriarcal excludente.

Marcos usa três palavras para definir o relacionamento das mulheres com Jesus: Seguir! Servir! Subir! Elas "seguiam e serviam" a Jesus e, junto com "muitas outras, subiram com ele para Jerusalém" (Mc 15,41). São as três palavras que definem o discípulo ou a discípula ideal. Elas são modelo para os outros discípulos que tinham fugido!

SEGUIR: descreve o chamado de Jesus e a decisão dos discípulos (Mc 1,18). Esta decisão implica deixar tudo e correr o risco de ser executado (Mc 8,34;10,28).

SERVIR: mostra que elas são verdadeiras discípulas, pois o serviço é a característica principal do discipulado e do próprio Jesus (Mc 10,42-45).

SUBIR: mostra que elas são testemunhas qualificadas da morte e ressurreição de Jesus, pois, como os discípulos, elas o acompanharam desde a Galiléia até Jerusalém (At 13,31).

Testemunhando a ressurreição de Jesus, testemunham também o que elas mesmas viram e experimentaram: a morte e a ressurreição. É a experiência do nosso batismo. "Pelo batismo fomos sepultados com Jesus na morte, para que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos por meio da glória do Pai, assim também nós possamos caminhar numa vida nova" (Rm 6,4). Pelo batismo, todos nós participamos da morte da ressurreição de Jesus.

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