E tarefa nossa levar adiante o Reino de Deus que se mostra no Amor praticado.
Assim está escrito
O texto que conclui o Evangelho de Lucas convida para
uma visão de conjunto de todo o evangelho, ressaltando que o testemunho
da boa-nova é movido pela experiência de encontro com o Cristo vivo e
ressurreto, celebrado em torno do partilhar do pão, da leitura das
Escrituras e da missão que permanece para os discípulos e as discípulas:
"pregar em seu nome (Cristo Jesus) o arrependimento para remissão dos
pecados a todas as nações, começando por Jerusalém".
Portanto, ser testemunha de Jesus é estar
comprometido com a construção da paz, de uma profunda conversão diária,
não só pessoal, mas também estrutural. Por isso, a importância de
começar por Jerusalém. Jesus ressurreto anuncia: "Eis que envio sobre
vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto
sejais revestidos de poder". A cidade de Jerusalém não é mero registro
geográfico, mas é o lugar messiânico onde o evangelho inicia e desde
onde as nações o receberão. Portanto, o medo será vencido pelo poder
que virá do alto. Aqui o autor do Evangelho de Lucas já aponta para o
acontecimento de Pentecostes, o qual podemos ler no capítulo 2 de Atos
dos Apóstolos.
Jesus abençoa e se despede
Jesus leva os discípulos e as discípulas até Betânia.
Jesus se retira da presença de seus amigos e amigas em Betânia. Ali,
acontecem momentos muito significativos e importantes na vida de Jesus.
Em Betânia, ele tem duas amigas, Marta e Maria (Lucas 10.38-42), e o
amigo Lázaro (João 11.1). Em Betânia, Jesus é ungido (Marcos 14.3-9).
Dali, ele parte para a sua entrada triunfal em Jerusalém (Lucas
19.29-37). O momento da Ascensão de Jesus é reservado aos que
testemunharam e acompanharam a sua tarefa e que deverão, de agora em
diante, levar a sua mensagem de amor ao mundo todo. Jesus despede-se
carinhosamente com a bênção. A bênção de Jesus, desta forma, é única.
Jesus abençoa porque se cumpriu o tempo de servir, chegou o tempo de ser
glorificado (Lucas 24.50): "Jesus erguendo as mãos os abençoou". O
gesto de erguer as mãos lembra o servir. E a bênção transmitida por
Jesus é a força presente para a caminhada e a ação daqueles e daquelas
que vão levar adiante a sua tarefa.
Jesus abençoa e se despede. A despedida de Jesus pode
ser comparada com a visita de uma pessoa muito amiga e especial.
Fica-se acenando até que se perca de vista a pessoa amada. Assim, penso
que foi com a despedida de Jesus. Enquanto abençoava, afastava-se dos e
das suas queridas. O tempo de Jesus na terra está encerrado, mas temos
uma promessa: ele voltará. Porém, não estamos sós, pois nos enviou o
poder do alto (realização de Pentecostes). O céu significa a
participação plena de Jesus na vida de Deus. A Ascensão de Jesus,
portanto, é descrita como um momento de enlevo também para os/as
discípulos/as. Não há nada que descreva espanto, desorientação ou medo. A
reação deles/as é de alegria e de louvor a Deus. Pareciam compreender
perfeitamente o que estava acontecendo.
Ascensão: leva ao louvor a Deus e encaminha para um novo viver
Nos versículos 52 e 53 lemos: "Então, eles,
adorando-o, voltaram para Jerusalém, tomados de grande júbilo; e estavam
sempre no templo, louvando a Deus". Não somente Deus merece adoração,
mas também Jesus Cristo é adorado, glorificado. Depois do momento de
bênção e despedida de Jesus, e como resposta dos/as discípulos/as o
momento de adoração a Jesus, eles voltam a Jerusalém, cheios de alegria e
júbilo. A alegria dos/as discípulos/as não é uma alegria qualquer,
cotidiana. É uma alegria profética, intimamente ligada à confirmação de
que Jesus é o Messias. Tudo aquilo que ele viveu, fez e anunciou é
verdade. A superação de todos os males da condição humana e planetária é
possível. Outro mundo é possível! A alegria é a alegria pela
libertação: Jesus, o Cristo, venceu a morte, ressuscitou e agora está
junto de Deus. Conclui-se o que o evangelista já tinha anunciado em
Lucas 1.14: o anúncio do nascimento de Jesus foi motivo de alegria para
todo o povo. De agora em diante, Jesus não está mais conosco como ser
humano, mas vive-se da fé naquele que viveu e anunciou o Reino de Deus e
que, erguendo-se da terra, confirma o seu poder alicerçado no amor. O
louvor a Deus é consequência da vida, morte, ressurreição e ascensão de
Jesus, que encaminha para um novo viver em comunhão na espera do
cumprimento da promessa do envio do Espírito Santo (Atos 2.42,47).
Ascensão e Dia das Mães
Duas datas importantes e queridas em nossas
comunidades no Brasil e em todo o mundo. Aqui na Alemanha, Ascensão é
feriado nacional e acontecem muitas celebrações e cultos. No Brasil, a
celebração da Ascensão muitas vezes é um tanto esquecida. Como não é uma
data comercial, não se pode vender muita coisa. Então, trata-se de
esquecer esta data tão importante para nós que cremos em Jesus Cristo. A
despedida de Jesus, a sua glorificação diante dos discípulos e das
discípulas, fortalece a esperança e a luta pela superação dos mecanismos
de opressão, marginalização e morte. Jesus dá esta tarefa a nós seus
seguidores e seguidoras. A Ascensão é o sinal definitivo de que Deus
pode mudar a realidade, vencendo as limitações humanas e os poderes
deste mundo.
Essa esperança leva a celebrar. A celebração dá-se
pelo ouvir a Palavra, partir do pão, louvor, agradecimento,
reconhecimento, adoração, bênção, despedida. Assim, podemos também nós
celebrar a Ascensão daquele que amamos e seguimos, Jesus Cristo. As
comunidades que seguem a Cristo são também comunidades radicalmente
acolhedoras e inclusivas, ecumênicas e comprometidas, pois, assim como
os discípulos e as discípulas após a ressurreição, também entenderam que
Deus põe-se do lado da Vida.
Quando celebramos Ascensão, lembramos também que, no
segundo domingo de maio, celebramos o Dia das Mães. Assim, lembramo-nos
de todas as mães de nosso Brasil, do continente latino-americano e do
mundo. A celebração é um momento central na vida e na luta contra todas
as violências e sofrimentos que também muitas mães enfrentam em seu
cotidiano. Jesus sempre esteve acompanhado de sua mãe em todos os
momentos importantes do seu ministério, da sua vida, morte e
ressurreição. Portanto, as mães acompanham com fé e amor a vida de seus
filhos e filhas, sofrem com suas dores e sonham esperançosas com um
futuro bonito para eles e elas. A memória da Ascensão lembra-nos da vida
toda de Jesus e acende em nós a chama do compromisso de construir um
mundo de paz, justiça e amor, em harmonia com toda a natureza e todos os
povos. Agradecemos às nossas mães na fé que nos transmitiram estes
ensinamentos e pedimos ao Trino Deus: Ajuda-nos, como mães, a transmitir
adiante às futuras gerações: nossos filhos e filhas e aos filhos e
filhas de nossos filhos e filhas, a alegria da Ascensão de Jesus: ele
ressuscitou, venceu a morte, foi elevado aos céus e está junto com Deus.
E nós não estamos sós, porque em 10 dias, será Pentecostes!
(*) Claudete Beise Ulrich, pastora luterana
Atualmente resido em Hamburgo, Alemanha, e lembro que
iniciou no dia 01 de maio, dia do trabalhador e da trabalhadora, mais
um Dia da Igreja Evangélica na Alemanha, com o tema "quanto você precisa
para viver", baseado no texto de Êxodo 16.18 ("cada um recolhia quanto
necessitava"). O dia da Igreja Evangélica na Alemanha realiza-se de dois
em dois anos e reúne muitas pessoas (mais de 100.000), num colorido e
numa diversidade impressionantes. Serão oferecidos mais de 2500
programas com temas de uma Igreja a Caminho, ecumênica, comprometida e
solidária com a promessa de Vida abundante e justa para todas as pessoas
e para nossa Terra.
Lembro este importante evento, pois o Dia da Igreja
Evangélica aqui na Alemanha realiza-se num período muito importante no
calendário cristão, entre as celebrações da Ascensão e de Pentecostes.
Um tempo especial na vida de cristãos e cristãs, onde somos lembrados de
que Jesus ressuscitado, glorificado, ausenta-se e deixa para nós a
tarefa de levar adiante em palavras e ações a tarefa do Reino de Deus.
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