Minhas ovelhas ouvem a minha voz,
eu as conheço, e elas me seguem. Eu dou a elas vida eterna, e elas nunca
morrerão. Ninguém vai arrancá-las da minha mão. O Pai, que tudo entregou a mim,
é maior do que todos. Ninguém pode arrancar coisa alguma da mão do Pai. O Pai e
eu somos um.
A festa da Páscoa, sob cuja luz
ainda vivemos, prolonga seus ecos para dentro deste domingo, conhecido como o
domingo do Bom Pastor, figura na qual se apresenta o Ressuscitado.
Para compreender a riqueza do
pequeno texto do evangelho de hoje, temos que situá-lo no contexto do capítulo
10 de João.
O evangelista apresenta Jesus passeando
pelo templo (23), na festa de sua consagração, quando é abordado pelas
autoridades dos judeus, querendo saber se ele é verdadeiramente o Messias.
Para responder a essa pergunta, o
evangelista volta a usar a alegoria do Bom Pastor com a qual tinha iniciado o
capítulo.
Esta vez o que ressalta é a
estreita relação entre o Pastor e as ovelhas, entre Jesus e seus discípulos e
discípulas: "Minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço, e elas me
seguem".
O que está na origem é a palavra
de Jesus, quem a acolhe, quem experimenta seu amor incondicional, se converte
em seu amigo, amiga, seu seguidor/a.
Essa experiência de comunhão que
os discípulos vivem com Jesus, desencadeia no seguimento dele, e é nesse
seguimento que cresce a amizade e a intimidade com seu Mestre.
Como nós podemos viver essa
relação com Jesus de Nazaré? O homem de carne e osso, com quem fisicamente se
podia falar e a quem se podia escutar, a quem se podia ver e tocar, com quem se
podia comer, já não existe; morreu há mais de dois mil anos!
No entanto, é possível viver uma
relação real hoje, porque assim como é verdade que Jesus morreu, também é certo
que ressuscitou. Está vivo!
O bom Pastor é o Ressuscitado:
"O Deus da Paz, que ressuscitou a Jesus nosso Senhor, que é o pastor
supremo das ovelhas..." (Hb 13, 20) continua fazendo ouvir sua voz,
conhecendo por amor a cada um/a, através da ação do Espírito.
Como os primeiros amigos e
amigas, cada cristão/ã de hoje e de todos os tempos pode viver uma relação
direta, de intercâmbio pessoal, de conhecimento vivo de amor e amizade com
Jesus (cfr.Jo 14, 13-15) .
O teólogo espanhol Queiruga expressa
claramente esta igualdade de condição com os primeiros cristãos: "Como
eles estamos privados da presença física de Jesus, morto na história, como
eles, encontramo-nos situados na presença transcendente, mas real, do
Ressuscitado... Como Cristo glorioso identificado com o Pai, o Nazareno tem
agora um novo modo de existência; contudo, continua sendo o mesmo: com idêntico
amor e idêntica ternura, com o mesmo cuidado e entrega".
Não vemos nem escutamos Cristo,
mas na fé, sabemos que mais do que nunca está conosco! Iluminados pela sua ressurreição,
somos convidados/as a viver como viveu Jesus antes de sua morte, sentindo-O
como companhia viva, com quem convivemos e quem nos impulsiona a seguir seus
passos no mundo de hoje.
Por isso, o seguimento de Jesus
não é imitação, senão um estilo de vida que está interiormente impregnado dos
sentimentos, pensamentos, atitudes de Jesus.
Essa é a obra do Espírito, que
continua cobrindo com sua sombra a história para que homens e mulheres de todos
os tempos façam presente, na sua fragilidade, o Emanuel, Deus conosco!
Essa é a vida eterna, que o Bom
Pastor promete dar a seus amigos/as. É participar, já nesta terra, da comunhão
com Ele e com seu Pai, porque aqueles que acolhem sua palavra serão morada do
Pai, do Filho e do Espírito!
E essa vida de comunhão é mais
forte que qualquer sofrimento, poder, e até da própria morte, como canta o
apóstolo em sua carta aos romanos: "quem nos poderá separar do Amor de
Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a
espada?" (Rom 8,35).
Cientes desta certeza, os
seguidores de Jesus sabiam também, que assumir a causa do Mestre como própria,
colocaria em risco sua vida, (Jo 15,18).
E assim, ao longo da história,
surgiram diferentes "lobos" para roubar, matar, destruir, e foram
milhões as ovelhas que se converteram em pastores porque deram livremente sua
vida em fidelidade ao Pai e ao seu projeto, alcançando, assim, para sempre a
vida eterna, da qual tinham recebido as primícias nesta terra!
Por isso, não deixa de chamar a
atenção que uma das primeiras pinturas cristãs, de que se tem notícia, e que
se encontra numa catacumba romana, representa Jesus como o Pastor que carrega
sobre seus ombros a ovelha sã e salva. A imagem expressa uma segurança e é
garantia de uma alegria que nada, nem as perseguições, nem as maiores
calamidades podem afetar.
Cada um/a de nós somos
convidados/as a viver esta experiência de comunhão de Jesus com o Pai, a vida
eterna. Desse modo, elevemos nosso olhar para Jesus Bom Pastor e deixemos que
ele nos carregue sobre seus ombros. Só assim teremos forças para oferecer
nossos ombros, nossa vida aos nossos irmãos e irmãs. Só assim seremos pastores
como Jesus.
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