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quarta-feira, 31 de agosto de 2016





IGREJA EPISCOPAL ANGLICANA DO BRASIL - DIOCESE ANGLICANA DO PARANÁ
PARÓQUIA SÃO LUCAS – LONDRINA - PR
Rua Mossoró, 678, Centro, Londrina – PR
Fone: (43) 33473616

Londrina 31 de agosto de 2016.
NOTA DE APOIO
 "Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, ou seja, aos que creem no seu Nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus". (João 1:11-13).

A Paróquia São Lucas de Londrina, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil vem a público declarar seu total apoio, elogiar e prestar nossa solidariedade à peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” interpretada pela atriz transexual Renata Carvalho e a toda equipe de produção.
É sabido de todos/as que este grupo sofreu tentativa de censura por parte de movimentos cristãos e de um candidato a vereador da cidade, pelo fato dela inicialmente ser apresentada na réplica da primeira Igreja Católica Romana no Campus da UEL, sendo a mesma, uma capela ecumênica. As críticas são reproduções do preconceito, pois antes mesmo da apresentação, já havia julgamento de valor e condenação de falta de ética e falta de respeito, fato que não foi constatado. Ao assistir à peça, pude presenciar um imenso respeito à mensagem de Jesus Cristo, nenhuma ofensa ou ridicularizarão. Nada que ofenda ou venha ferir o Jesus Nazareno, os Cristãos e Cristãs ou alguma Instituição Religiosa.
A peça é uma releitura dos ensinamentos do Evangelho de Jesus à luz dos problemas, dilemas e dores da atualidade, encarnada na vida das pessoas sofridas e marginalizadas que a sociedade e, por vezes, muitas Igrejas as excluem. Uma releitura contemporânea da mensagem profética de Jesus, onde houve uma contextualização de parábolas do Evangelho para denunciar o preconceito, a hipocrisia e estimular a prática do amor fraterno, justiça, aceitação e inclusão daqueles que são considerados à margem. A peça demonstra cenicamente o melhor da Teologia Cristã ao reivindicar a “Encarnação” do Cristo frente às dores deste mundo, frente as rejeições, exclusões, julgamentos e assassinatos de pessoas homossexuais, bissexuais e transgêneros, pelo simples fato de sua sexualidade. A peça é profética no sentido em que revela a hipocrisia e denuncia os discursos de morte. A peça é ecumênica no sentido em que apresenta um Jesus desvinculado das tradições religiosas. A peça é kerigmática no sentido em que é proclamação de amor, do acolhimento e um chamado para a Vida. É Mensagem de Cristo. Entendemos que a sexualidade humana é plural e, como tal, sagrada a Deus.
“[...] lutamos por mudança de pensamento, comportamento e ações em relação às pessoas excluídas, marginalizadas ou discriminadas por sua orientação sexual e etnia, para que sejam eliminadas as barreiras que as impedem do direito à justiça e à igualdade. [...]” (Livro de Oração Comum - Pg. 759)
Quando em nosso Livro de Oração oramos o que está acima, não podemos ficar calados/as diante do que vimos e ouvimos.

Dom Naudal Alves Gomes
Bispo da Diocese Anglicana do Paraná

Reverenda Lucia Dal Ponte Sirtoli

Reitora da Paróquia da Paróquia São Lucas - Londrina - PR

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Lucas 24,36-49: Jesus e um bom peixe assado!
Foto de Paróquia São Lucas.Algumas correntes dos cristianismos originários espiritualizaram muito cedo a pessoa e a proposta de Jesus. Para esses grupos, as chagas do Crucificado desapareceram e passando a cultuar uma religião que negava a encarnação. Muitos afirmavam que Jesus morreu na cruz aparentemente, seu corpo era apenas um corpo aparente (docetismo). Tal negação teórica tinha uma implicação prática: para ser uma boa pessoa cristã, bastava buscar conhecer (gnose) de verdade esse espírito e a ele chegar pelo esforço intelectual/espiritual.
Por essa razão, as comunidades joaninas, já no convívio com correntes de influência gnóstica, são enfáticas em afirmar: "o Verbo se fez carne e acampou no nosso meio" (João 1,14). Se, por um lado, a fala de Tomé é expressão de sua dúvida, por outro, é sinal de que acredita em um Deus encarnado e sofredor: "Se eu não vir nas suas mãos os sinais dos cravos, e ali não puser o meu dedo, e não puser a minha mão no seu lado, de modo algum acreditarei" (João 20,25).
No texto de Lucas 24,36-49, Jesus chega desejando a paz, fazendo uso de um cumprimento que todo judeu gosta de ouvir: shalom! (24,36). O susto é grande e o grupo pensa que é um espírito. "Um espírito não tem carne e osso", lembra Jesus, "vede minhas mãos e meus pés, sou eu" (24,39). Não há como negar, afirmam as comunidades lucanas: nosso Deus não é só um espírito, o Cruficidado/Ressuscitado permanece entre nós! Erra quem prega um Deus desencarnado. Não entende a proposta quem imagina que é suficiente louvar um espírito, muitas vezes até distante, outras vezes apenas doce e virtual.
O Ressuscitado é carne, é gente de verdade e continua com mãos, pés e o lado marcados por ferimentos. Cabe a nós tratar desses ferimentos, como fez o samaritano em outro texto narrado exclusivamente por Lucas (10,29-37). Cabe a nós não fugir e testemunhar por nossos atos: o Ressuscitado é o mesmo Crucificado a contar conosco também hoje, nos pobres e necessitados, os crucificados deste mundo. A fé em Jesus é algo mais exigente: é preciso continuar reconhecendo sua pessoa sofredora, encarnada nas pessoas sofredoras de ontem e de hoje.
Primeiro comer para depois "abrir a mente"
Depois de saborear um bom peixe assado, Jesus convida o seu grupo a ler a Bíblia: "era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. E abriu-lhes a mente para que entendessem as Escrituras" (Lucas 24,44-45). Como tinha feito no caminho de Emaús (24,27), Jesus retoma a Bíblia: a Lei (a Torah, o Pentateuco), os Profetas (os Nebiin, livros históricos e proféticos) e os Salmos (que representam os Ketubin, os outros Escritos).
Nesse sentido, a experiência com Jesus ressuscitado é uma luz que ilumina todas as Escrituras. Dá um novo sabor a textos antigos. Talvez o inverso tenha sido mais decisivo: a memória de tradições de Israel ajudou as comunidades a interpretar a Cruz à luz da profecia e da esperança na vinda do libertador. A releitura de textos como Oséias 6,2 ("Depois de dois dias nos fará reviver; no terceiro dia nos levantará e nós viveremos em sua presença") e da figura do servo em Isaías, especialmente do cântico de Isaías 52,13-53,12, ajuda o grupo que seguiu Jesus pelo caminho a reconhecer nele a realização dessa esperança popular. À luz destes textos, as comunidades passaram a compreender a Cruz, de modo que, em vez de sinal de morte, passou a ser sinal de ressurreição e de vida. É a vitória da vida sobre a morte. Nasceu uma nova esperança e, com entusiasmo e movidas pelo dinamismo do Espírito, testemunharam a Boa Nova da justiça do Reino a todas as nações.
Entretanto, parece que mais uma vez Jesus quer nos apresentar um método de evangelização: a mesa da partilha e o ato de matar a fome vêm em primeiro lugar em nossos trabalhos pastorais e sociais. Nenhuma doutrina pode ser usada como camisa de força para a Palavra, uma vez que esta não pode ser algemada por aquela (cf. 2Timóteo 2,9). Muito menos, a Bíblia e as normas das diferentes igrejas podem ser usadas para doutrinar a vida, mas para iluminá-la. Despertar a consciência é algo que não se faz com a barriga vazia! Partilhar o peixe (e o pão, e a dignidade) é algo que se faz como prioridade.
Ressurreição acontece ao redor da mesa
O tema da mesa (comensalidade) é um dos mais caros ao evangelho de Lucas. Jesus come com publicanos (Lc 5,29-32); à mesa, na casa de um fariseu, é ungido pela mulher pecadora; (7,36-50; 11,37-54); também na casa de um fariseu desmascara a hipocrisia e o legalismo de quem o acolhia (10,38-42); janta na casa de Zaqueu e o ensina a repartir; faz-se ele mesmo pão repartido (22,14-2); e se dá a conhecer, em Emaús, ao redor da mesa (Lc 24,13-35). Ao todo, por doze vezes Jesus se senta à mesa no evangelho de Lucas. E ainda convida a quem permanecer fiel a sentar-se na mesa de seu Reino (22,28-30).
No evangelho de hoje, ele pede peixe e come com os seus (22,42). O peixe se tornou um forte símbolo do cristianismo primitivo. Era e ainda é comida de gente simples, que busca sobreviver como consegue, à margem de lagos, rios e mares. Ao mesmo tempo, um pouco de sal e algumas brasas são suficientes para que o banquete esteja pronto e apetitoso. A mesa é o chão da pesca, é a lida do dia-a-dia, a marmita do boia-fria, mas com o direito de estar quentinha, na brasa! E o Mestre come com eles, mais uma vez, um bom peixe assado!
[Edmilson Schinelo]

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Mensagem de Quaresma do Bispo Primaz: “De quem somos anjos?”

“E os anjos o serviam” Mc 1,13
Minha última viagem a Londres tem me trazido a oportunidade de refletir sobre as pessoas que carregam consigo as marcas da rejeição e da exclusão. A Consulta sobre o tema da superação da violência sexual contra as mulheres e a experiência de assistir um morador de rua chorando por ajuda acompanhado de seu fiel cão de estimação numa das ruas do centro financeiro londrino me fizeram aprofundar ainda mais um senso de deserto que percebo em nossa sociedade. O deserto é solidão, carregada de temores e de dores. O próprio Jesus viveu a experiência do deserto e precisou ser confortado pelos anjos. Para ele, o teste da resiliência lhe exigiu a própria exaustão física e também espiritual. Sua fidelidade ao Pai, no entanto, foi compensada pela ajuda dos anjos (Mc 1,13).
Então aqui vai a pergunta que não quer calar: de quem temos sido anjos? Estamos cercados de tanta gente que vive um deserto pessoal, em meio aos desafios da sobrevivência, encalacrados num sistema que tudo consome e que pouco dá em troca; e quando dá, geralmente não é coisa perene.
O que temos feito diante disso? Estamos sendo anjos de verdade? Quando foi a última vez que tivemos a sensibilidade de nos incomodar com a injustiça? Estamos realmente prontos para o exercício da solidariedade para com as pessoas excluídas? Faz parte da cultura de nosso sistema as pessoas demonstrarem que estão bem, que são bem sucedidas, que estão sempre em ascensão….
No fundo a realidade não é assim. Nossas ruas e praças estão cheias de pessoas que vivem um terrível deserto. Eu não vou enumerar aqui os grupos porque são numerosos. Até os vemos, mas instintivamente não os enxergamos. Podemos ser anjos e levar conforto e autoestima a essas pessoas, lutar por seus direitos e ser voz para as pessoas silenciadas. Transmitir a elas o amor de Deus. Levar as Boas Novas.
Que esta Quaresma se converta em período de profunda avaliação de nossa missão no mundo. Que possamos entender o verdadeiro significado da Cruz assinalada em nossa testa com cinzas. Que possamos nos sentir a inequívoca interdependência com nossos semelhantes e que possamos servi-los e confortá-los como sempre desejamos que nos façam a nós quando vivemos os nossos próprios desertos.
A Igreja existe para servir o mundo. Vamos nos tornar anjos?
++Francisco
Bispo Primaz da IEAB