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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O novo, o que será: 2012 - Selvino Heck, Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República, Adital


Escreveu Delfim Netto estes dias (olha eu, quem diria, citando Delfim Netto, que abominávamos nos anos setenta por todas as razões do mundo): "Como disse Santo Tomás de Aquino, ‘os homens não podem conhecer o futuro... a não ser por revelação divina'. Parece pouco provável que Deus escolha um economista para fazê-lo!”. Como não sou economista, muito menos profeta, arrisco alguns comentários sobre 2012. Mais para partilhar sentimentos e impressões, anunciar desejos, menos para dizer verdades ou proclamar certezas. 2012 tende a ser, por todos os títulos, um ano interessante. 2011 forneceu elementos para esta perspectiva. Os jovens e trabalhadores estiveram na rua em todos os cantos do mundo e deverão continuar. Não há razão previsível para que assim não seja. A crise econômica deverá aprofundar-se na Europa e nos países ricos. Ruim, muito ruim para os trabalhadores, para aqueles que dependem de salário e emprego. Não tão ruim ou nada ruim para a banca, que mantém seus lucros à base do arrocho do povo e dos prepostos que colocou no poder nos países mais encalacrados na crise, como Grécia e Itália, e pelo voto na Espanha. O lado bom, se é que pode haver ou se pode esperar lado bom, é que crise é oportunidade, segundo sempre dizem. Por ora, a oportunidade está sendo aproveitada e usufruída pelo mercado financeiro, mesmo com os protestos do povo na rua. Cresce, no entanto, a consciência de que desenvolvimento não é apenas crescimento econômico; que o consumismo das últimas décadas é incompatível com qualidade de vida e com respeito ao meio ambiente; que outros valores devem dominar as relações econômicas e sociais que não apenas o lucro e o enriquecimento; que o neoliberalismo e seus ajustes fiscais beneficiam apenas alguns e deixam de fora do banquete a grande maioria; que a política deve ser assumida por todos na democracia não apenas do voto, mas também nas ruas, nas praças e na mobilização social; que sonhos e utopias de igualdade, fraternidade, solidariedade ainda têm sentido; que o mundo não pode e não deve ter apenas um único pensamento e ser unipolar, mas multipolar e multilateral, onde os do Sul têm vez e voz. 2012 pode ser isso ou caminhar neste rumo. A América do Sul deverá aprofundar seu caminho de mudanças, sua estrada alternativa em 2012. Não sem tensões, não sem dúvidas, não sem impasses. Não há um único trilho. A Bolívia não é o Equador, que não é a Venezuela, que não é a Argentina, que não é o Peru, que não é o Paraguai, que não é o Uruguai, que muito menos é o Brasil. Mas a urgente e necessária integração latino-americana poderá se aprofundar, no esforço de construir um projeto de desenvolvimento com distribuição de renda e espaço para todos e todas, reconhecimento de indígenas, quilombolas, catadores e recicladores, mulheres, jovens e trabalhadores como fundantes de um projeto de mudança, onde os laços culturais se aproximam, assim como a vontade e a determinação de buscar ‘um outro mundo possível'. Aliás, 2012 começa com o Fórum Social Mundial Temático em janeiro em Porto Alegre, na preparação da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio + 20, em junho, no Rio de Janeiro. Será um momento sem igual para pensar o futuro, mobilizar governos e sociedade. O governo Dilma, em especial através da Secretaria Geral da Presidência da República, vai ampliar o debate e a relação com a sociedade, os movimentos sociais, igrejas e pastorais, ONGs e organizações populares. Não será sempre um diálogo fácil e sem tensões. Mas será transparente, olho no olho. O Brasil já está e estará cada vez mais no centro dos debates mundiais e da esperança. O ‘gigante adormecido' está acordando do sono que as elites lhe impuseram por séculos. Há um (re)despertar de movimentos sociais, de organizações de base, de pensamentos e idéias, da educação popular libertadora, ainda longe do necessário, porém mais próximo e à frente do torpor das últimas décadas. É o desafio de propor o novo, de juntar as experiências da economia solidária, da educação popular, das mobilizações de massa, das ocupações, das greves, das lutas contra a fome e a miséria e, criativamente, a partir de baixo, construir um projeto de desenvolvimento com inclusão social, distribuição de renda, participação social e popular, "tendo como utopia a construção de sociedades sustentáveis por meio da ética do cuidar e de proteger a bio e a sócio-biodiversidade” (Carta Aberta de educadores e educadoras por um mundo justo e feliz – http://www.tratadodeeducacaoambiental.net/). 2012 pode ser tudo isso e mais um pouco. Como diria o cantor ou o poeta, depende de nós.

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